A Revue Spirite
de 1867
Allan Kardec
(Parte
7)
Continuamos a apresentar
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1867. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 16
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Por que, às vezes,
parece que falta o
socorro de Deus aos seus
mensageiros encarnados?
A explicação desse fato
foi dada pelo Espírito
daquele que na Terra foi
conhecido como Cura
d´Ars. Diz ele que “cada
grau da hierarquia
celeste se compra pelo
mérito, pelo
devotamento” e que os
mensageiros do Senhor
“são sustentados
enquanto dura sua obra
humanitária, enquanto
trabalham pelo homem e
para Deus, mas, quando
só eles estão em jogo,
quando sua prova se
torna individual, o
socorro visível se
afasta”. Isso é que
explica o aparente
abandono que parece
acometer, às vezes, os
missionários encarnados
na Terra. “Não penseis –
diz o Cura d’Ars – que
Deus abandone jamais a
sua criatura por
capricho ou impotência;
não, mas no interesse de
seu adiantamento, ele a
deixa às suas próprias
forças, ao completo
emprego de seu
livre-arbítrio.”
(Revue Spirite de 1867,
pp. 162 e 163.)
B. Como explicar a
existência dos gênios?
Um instrutor espiritual
assim respondeu: “O
gênio, caros filhos, é a
radiação das conquistas
anteriores”. Essa
radiação é o estado do
Espírito no
desprendimento ou nas
encarnações superiores.
Duas são as situações. O
gênio mais comum é
simplesmente o estado de
um Espírito, do qual uma
ou duas faculdades
ficaram descobertas e em
condições de agir
livremente. A outra
espécie de gênio é a do
Espírito que vem de
mundos felizes e
adiantados, onde as
faculdades da alma
atingiram um grau
eminente e desconhecido
na Terra. Esta espécie
de gênio distingue-se da
primeira por uma
excepcional aptidão para
todas as áreas, todos os
estudos. São pessoas de
outras terras.
(Obra citada, pp. 163 e
164.)
C. Como o Espiritismo vê
os privilégios de raça?
Diz Kardec que esses
privilégios têm sua
origem na abstração que
os homens fazem do
princípio espiritual. Da
força de uns, da
diferença de cor em
outros, da opulência em
que alguns nascem e da
filiação considerada
nobre de certas
famílias, os homens
concluíram por uma
superioridade natural
sobre a qual
estabeleceram suas leis
e privilégios, que não
têm razão de ser, visto
que o corpo constitui
simples invólucro
transitório. Os
Espíritos, ensina o
Espiritismo, podem
revestir invólucros
diversos e nascer nas
mais diferentes posições
sociais. Por isso, a
abolição dos privilégios
de raça e a igualdade
dos direitos sociais de
todas as criaturas
humanas são a
consequência natural do
progresso.
(Obra citada, pp. 165 a
168.)
Texto para leitura
77. Em 1867, quando a
França se envolvia em
mais uma guerra
sangrenta, o Cura d’Ars
(Espírito),
comunicando-se no grupo
espírita de Douay,
escreveu: “Meus filhos,
é preciso que o sangue
depure a Terra. (...)
quando tudo se prepara
para apertar os laços
dos povos de um a outro
extremo do mundo! quando
na aurora da
fraternidade material se
veem as linhas de
demarcação de raças,
costumes e linguagem
tender para a unidade,
a guerra chega, a guerra
com seu cortejo de
ruínas, de incêndios, de
divisões profundas, de
ódios religiosos. Sim,
tudo isto porque nada,
em nosso progresso, não
foi segundo o Espírito
de Deus; porque vossos
laços nem foram
apertados pela bondade,
nem pela lealdade, mas
apenas pelo interesse;
porque não é a
verdadeira caridade que
impõe silêncio aos ódios
religiosos, mas a
indiferença; porque as
barreiras não foram
baixadas em vossas
fronteiras pelo amor de
todos, mas pelos
cálculos mercantis;
enfim, porque as vistas
são humanas e
instintivas e não
espirituais e caridosas;
porque os governantes só
buscam os seus
proveitos, e cada um,
entre os povos, faz o
mesmo”. (Pág. 162.)
78. Após recordar que
“cada grau da hierarquia
celeste se compra pelo
mérito, pelo
devotamento”, o Cura d’Ars
afirmou que os
mensageiros do Senhor
“são sustentados
enquanto dura sua obra
humanitária, enquanto
trabalham pelo homem e
para Deus, mas, quando
só eles estão em jogo,
quando sua prova se
torna individual, o
socorro visível se
afasta”. Essa é a
explicação do aparente
abandono que parece
acometer, às vezes, os
missionários encarnados
na Terra. “Não penseis –
concluiu o Cura d’Ars –
que Deus abandone jamais
a sua criatura por
capricho ou impotência;
não, mas no interesse de
seu adiantamento, ele a
deixa às suas próprias
forças, ao completo
emprego de seu
livre-arbítrio.”
(Págs. 162 e 163.)
79. Como se explica o
gênio? Um instrutor
espiritual respondeu: “O
gênio, caros filhos, é a
radiação das conquistas
anteriores”. Essa
radiação é o estado do
Espírito no
desprendimento ou nas
encarnações superiores.
Duas são as situações:
I) O gênio mais comum é
simplesmente o estado de
um Espírito, do qual uma
ou duas faculdades
ficaram descobertas e em
condições de agir
livremente. II) A outra
espécie de gênio é a do
Espírito que vem de
mundos felizes e
adiantados, onde as
faculdades da alma
atingiram um grau
eminente e desconhecido
na Terra. Esta espécie
de gênio distingue-se da
primeira por uma
excepcional aptidão para
todas as áreas, todos os
estudos. São pessoas de
outras terras. (Págs.
163 e 164.)
80. O instrutor
espiritual esclareceu,
por fim, que as provas
que o homem deve sofrer
podem velar, atenuar
algumas de suas
faculdades, e até
adormecê-las. Mas, se
tiverem chegado a um
alto grau, o Espírito
não perde inteiramente a
sua posse e exercício.
(Pág. 164.)
81. O artigo de abertura
do número de junho de
1867 versou sobre a
emancipação da mulher
nos Estados Unidos. Eis
alguns fatos nele
mencionados: I) A
senhorita Françoise
Lord, de Nova York,
pediu para ser enviada
como cônsul ao
estrangeiro. O
presidente esperava que
o Senado aprovasse o
pedido e vários jornais
defendiam o pleito da
srta. Lord. II) O Estado
de Wisconsin (Estados
Unidos) estendeu o
direito de votar às
mulheres de mais de 21
anos. III) Na
Inglaterra, o mesmo
direito foi negado à
mulher pela Câmara dos
Comuns, por 196 votos
contra 73. Analisando o
assunto, Kardec observa
que chegara a hora de os
direitos da mulher serem
reconhecidos, o que,
segundo ele, era questão
que não tardaria a ser
resolvida. (Págs. 165
a 167.)
82. Os privilégios de
raça, diz Kardec, têm
sua origem na abstração
que os homens fazem do
princípio espiritual. Da
força de uns, da
diferença de cor em
outros, da opulência em
que alguns nascem e da
filiação considerada
nobre de certas
famílias, os homens
concluíram por uma
superioridade natural
sobre a qual
estabeleceram suas leis
e privilégios, que não
têm razão de ser se se
levar em conta a
natureza espiritual da
criatura humana, cujo
corpo constitui simples
invólucro transitório.
Os Espíritos, ensina o
Espiritismo, podem
revestir invólucros
diversos e nascer nas
mais diferentes posições
sociais. Por isso, a
abolição dos privilégios
de raça e a igualdade
dos direitos sociais de
todas as criaturas
humanas são a
consequência natural do
progresso. (Págs. 167
e 168.)
83. Kardec adverte, no
entanto, que seria
abusivo da igualdade dos
direitos concluir pela
igualdade de
atribuições, porque Deus
dotou cada ser com um
organismo apropriado ao
papel que deve
desempenhar na natureza.
O da mulher é traçado
por sua organização. Há
atribuições bem
caracterizadas deferidas
a cada sexo pela própria
natureza e essas
atribuições implicam
deveres especiais.
(Pág. 169.)
84. Tendo o assunto sido
suscitado na Sociedade
Espírita de Paris, todas
as comunicações obtidas
concluíram no mesmo
sentido. Dentre elas, a
Revue publicou a
que foi transmitida pelo
Sr. Morin, de forma
oral, em sonambulismo
espontâneo, de que
extraímos os
apontamentos seguintes:
I) Os Espíritos não têm
sexo; quem hoje é homem
pode ser mulher amanhã.
A emancipação da mulher
interessa, pois, a todas
as pessoas, que deveriam
antes regozijar-se que
afligir-se com isso. II)
A igualdade do homem e
da mulher tem vários
aspectos positivos.
Partilhando o fardo dos
negócios da família com
uma companheira capaz,
esclarecida e devotada
aos interesses comuns, o
homem alivia sua carga e
diminui sua
responsabilidade. III)
Destruindo as barreiras
que seu amor-próprio
opõe à emancipação
feminina, o homem em
breve verá a mulher
tomar o seu voo, com
grande vantagem para a
sociedade. IV) “A mulher
(concluiu o instrutor
espiritual, dirigindo-se
aos homens) tem a
centelha divina
absolutamente como vós,
porque a mulher é vós,
como vós sois a mulher.”
(Págs. 169 a 172.)
85. A
Revue transcreve
carta dirigida a Kardec
pelo dr. Charles
Grégory, na qual este
defende de forma
ardorosa a influência da
homeopatia no
desenvolvimento das
faculdades morais da
criatura humana, assunto
tratado anteriormente
por Kardec no número de
março de 1867 (págs. 67
e seguintes). Em que
pese o brilhantismo das
ideias desenvolvidas
pelo dr. Grégory, Kardec
manteve a opinião por
ele emitida em março,
porque as qualidades
boas ou más são
inerentes ao grau de
adiantamento ou de
inferioridade do
Espírito, e não é com um
medicamento qualquer que
se poderá alterá-las.
(Págs. 172 a 175.)
86. Certamente, diz
Kardec, o estado
patológico influi sobre
o moral, mas as
disposições são aí
acidentais e não
constituem o fundo do
caráter do Espírito.
Essas, não há dúvida,
uma medicação apropriada
pode modificar. E o
Codificador acrescenta:
“Um caso em que a
homeopatia sobretudo nos
pareceria
particularmente
aplicável com sucesso é
o da loucura patológica,
porque aqui a desordem
moral é a consequência
da desordem física”.
Ora, a ação da
homeopatia pode ser
nesses casos tanto mais
eficaz quanto age
principalmente, pela
natureza espiritualizada
dos medicamentos, sobre
o perispírito, que
representa papel
preponderante nessa
afecção. (Págs. 175 e
176.)
87. Segundo o mesmo
médico dr. Charles
Grégory, Erasto teria
enunciado em comunicação
recente uma ideia que o
chocou muito: o homem
seria dotado de sete,
não apenas cinco
sentidos: audição,
olfato, visão, paladar,
tato e mais dois – o
sentido sonambúlico e o
sentido mediúnico.
Kardec refutou tal ideia
e disse ser um erro
considerar sonambulismo
e mediunidade como o
produto de dois sentidos
diferentes, porque eles
não passam de dois
efeitos resultantes de
uma mesma causa.
(Pág. 176.)
88. Essa dupla
faculdade, entende o
Codificador, é um dos
atributos da alma e tem
por órgão o perispírito,
cuja radiação transporta
a percepção além dos
limites da ação e dos
sentidos materiais. Esse
sexto sentido é chamado
por Kardec de sentido
espiritual, que é,
como os demais, mais ou
menos desenvolvido, mais
ou menos sutil, conforme
os indivíduos, e todo o
mundo o possui. Longe de
ser a regra, sua atrofia
é a exceção e pode ser
considerada como uma
enfermidade, assim como
a má audição ou a vista
fraca. É por ele que
recebemos os eflúvios
fluídicos dos Espíritos
que nos inspiram e a
intuição das coisas
futuras. (Págs. 176 e
177.)
89. A
vista espiritual, também
chamada dupla vista ou
segunda vista, é um
fenômeno menos raro do
que se pensa e muitas
pessoas têm essa
faculdade sem o
suspeitar. Referindo-se
a uma senhora de Paris
que possuía a vista
espiritual em caráter
permanente, sem ser
sonâmbula, Kardec
indaga: “Como percebe
ela, senão pelo sentido
espiritual?”. (Págs.
177 e 178.)
90. Curiosamente, a
vidente francesa tinha o
hábito de examinar os
sinais da mão quando
consultada sobre
supostas doenças. Dizia
ela que via nas mãos o
indício das
enfermidades. Kardec
explica que, em tais
casos, a mão fazia
apenas o papel de
espelho mágico
ou psíquico, numa
analogia com o caso do
vidente da floresta de
Zimmerwald, tratado pela
Revue em outubro
de 1865. (Pág.
178.)
(Continua no próximo
número.)