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Estudando as obras de Kardec
Ano 4 - N° 180 - 17 de Outubro de 2010

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

A Revue Spirite de 1867

Allan Kardec 

(Parte 7)

Continuamos a apresentar o estudo da Revue Spirite correspondente ao ano de 1867. O texto condensado do volume citado será aqui apresentado em 16 partes, com base na tradução de Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

Questões preliminares

A. Por que, às vezes, parece que falta o socorro de Deus aos seus mensageiros encarnados?

A explicação desse fato foi dada pelo Espírito daquele que na Terra foi conhecido como Cura d´Ars. Diz ele que “cada grau da hierarquia celeste se compra pelo mérito, pelo devotamento” e que os mensageiros do Senhor “são sustentados enquanto dura sua obra humanitária, enquanto trabalham pelo homem e para Deus, mas, quando só eles estão em jogo, quando sua prova se torna individual, o socorro visível se afasta”. Isso é que explica o aparente abandono que parece acometer, às vezes, os missionários encarnados na Terra. “Não penseis – diz o Cura d’Ars – que Deus abandone jamais a sua criatura por capricho ou impotência; não, mas no interesse de seu adiantamento, ele a deixa às suas próprias forças, ao completo emprego de seu livre-arbítrio.” (Revue Spirite de 1867, pp. 162 e 163.) 

B. Como explicar a existência dos gênios?

Um instrutor espiritual assim respondeu: “O gênio, caros filhos, é a radiação das conquistas anteriores”. Essa radiação é o estado do Espírito no desprendimento ou nas encarnações superiores. Duas são as situações. O gênio mais comum é simplesmente o estado de um Espírito, do qual uma ou duas faculdades ficaram descobertas e em condições de agir livremente. A outra espécie de gênio é a do Espírito que vem de mundos felizes e adiantados, onde as faculdades da alma atingiram um grau eminente e desconhecido na Terra. Esta espécie de gênio distingue-se da primeira por uma excepcional aptidão para todas as áreas, todos os estudos. São pessoas de outras terras. (Obra citada, pp. 163 e 164.)

C. Como o Espiritismo vê os privilégios de raça?

Diz Kardec que esses privilégios têm sua origem na abstração que os homens fazem do princípio espiritual. Da força de uns, da diferença de cor em outros, da opulência em que alguns nascem e da filiação considerada nobre de certas famílias, os homens concluíram por uma superioridade natural sobre a qual estabeleceram suas leis e privilégios, que não têm razão de ser, visto que o corpo constitui simples invólucro transitório. Os Espíritos, ensina o Espiritismo, podem revestir invólucros diversos e nascer nas mais diferentes posições sociais. Por isso, a abolição dos privilégios de raça e a igualdade dos direitos sociais de todas as criaturas humanas são a consequência natural do progresso. (Obra citada, pp. 165 a 168.)

Texto para leitura 

77. Em 1867, quando a França se envolvia em mais uma guerra sangrenta, o Cura d’Ars (Espírito), comunicando-se no grupo espírita de Douay, escreveu: “Meus filhos, é preciso que o sangue depure a Terra. (...) quando tudo se prepara para apertar os laços dos povos de um a outro extremo do mundo! quando na aurora da fraternidade material se veem as linhas de demarcação de raças, costumes e linguagem tender  para a unidade, a guerra chega, a guerra com seu cortejo de ruínas, de incêndios, de divisões profundas, de ódios religiosos. Sim, tudo isto porque nada, em nosso progresso, não foi segundo o Espírito de Deus; porque vossos laços nem foram apertados pela bondade, nem pela lealdade, mas apenas pelo interesse; porque não é a verdadeira caridade que impõe silêncio aos ódios religiosos, mas a indiferença; porque as barreiras não foram baixadas em vossas fronteiras pelo amor de todos, mas pelos cálculos mercantis; enfim, porque as vistas são humanas e instintivas e não espirituais e caridosas; porque os governantes só buscam os seus proveitos, e cada um, entre os povos, faz o mesmo”. (Pág. 162.)

78. Após recordar que “cada grau da hierarquia celeste se compra pelo mérito, pelo devotamento”, o Cura d’Ars afirmou que os mensageiros do Senhor “são sustentados enquanto dura sua obra humanitária, enquanto trabalham pelo homem e para Deus, mas, quando só eles estão em jogo, quando sua prova se torna individual, o socorro visível se afasta”. Essa é a explicação do aparente abandono que parece acometer, às vezes, os missionários encarnados na Terra. “Não penseis – concluiu o Cura d’Ars – que Deus abandone jamais a sua criatura por capricho ou impotência; não, mas no interesse de seu adiantamento, ele a deixa às suas próprias forças, ao completo emprego de seu livre-arbítrio.” (Págs. 162 e 163.)

79. Como se explica o gênio? Um instrutor espiritual respondeu: “O gênio, caros filhos, é a radiação das conquistas anteriores”. Essa radiação é o estado do Espírito no desprendimento ou nas encarnações superiores. Duas são as situações: I) O gênio mais comum é simplesmente o estado de um Espírito, do qual uma ou duas faculdades ficaram descobertas e em condições de agir livremente. II) A outra espécie de gênio é a do Espírito que vem de mundos felizes e adiantados, onde as faculdades da alma atingiram um grau eminente e desconhecido na Terra. Esta espécie de gênio distingue-se da primeira por uma excepcional aptidão para todas as áreas, todos os estudos. São pessoas de outras terras. (Págs. 163 e 164.)

80. O instrutor espiritual esclareceu, por fim, que as provas que o homem deve sofrer podem velar, atenuar algumas de suas faculdades, e até adormecê-las. Mas, se tiverem chegado a um alto grau, o Espírito não perde inteiramente a sua posse e exercício. (Pág. 164.)

81. O artigo de abertura do número de junho de 1867 versou sobre a emancipação da mulher nos Estados Unidos. Eis alguns fatos nele mencionados: I) A senhorita Françoise Lord, de Nova York, pediu para ser enviada como cônsul ao estrangeiro. O presidente esperava que o Senado aprovasse o pedido e vários jornais defendiam o pleito da srta. Lord. II) O Estado de Wisconsin (Estados Unidos) estendeu o direito de votar às mulheres de mais de 21 anos. III) Na Inglaterra, o mesmo direito foi negado à mulher pela Câmara dos Comuns, por 196 votos contra 73. Analisando o assunto, Kardec observa que chegara a hora de os direitos da mulher serem reconhecidos, o que, segundo ele, era questão que não tardaria a ser resolvida. (Págs. 165 a 167.)

82. Os privilégios de raça, diz Kardec, têm sua origem na abstração que os homens fazem do princípio espiritual. Da força de uns, da diferença de cor em outros, da opulência em que alguns nascem e da filiação considerada nobre de certas famílias, os homens concluíram por uma superioridade natural sobre a qual estabeleceram suas leis e privilégios, que não têm razão de ser se se levar em conta a natureza espiritual da criatura humana, cujo corpo constitui simples invólucro transitório. Os Espíritos, ensina o Espiritismo, podem revestir invólucros diversos e nascer nas mais diferentes posições sociais. Por isso, a abolição dos privilégios de raça e a igualdade dos direitos sociais de todas as criaturas humanas são a consequência natural do progresso. (Págs. 167 e 168.)

83. Kardec adverte, no entanto, que seria abusivo da igualdade dos direitos concluir pela igualdade de atribuições, porque Deus dotou cada ser com um organismo apropriado ao papel que deve desempenhar na natureza. O da mulher é traçado por sua organização. Há atribuições bem caracterizadas deferidas a cada sexo pela própria natureza e essas atribuições implicam deveres especiais. (Pág. 169.)

84. Tendo o assunto sido suscitado na Sociedade Espírita de Paris, todas as comunicações obtidas concluíram no mesmo sentido. Dentre elas, a Revue publicou a que foi transmitida pelo Sr. Morin, de forma oral, em sonambulismo espontâneo, de que extraímos os apontamentos seguintes: I) Os Espíritos não têm sexo; quem hoje é homem pode ser mulher amanhã. A emancipação da mulher interessa, pois, a todas as pessoas, que deveriam antes regozijar-se que afligir-se com isso. II) A igualdade do homem e da mulher tem vários aspectos positivos. Partilhando o fardo dos negócios da família com uma companheira capaz, esclarecida e devotada aos interesses comuns, o homem alivia sua carga e diminui sua responsabilidade. III) Destruindo as barreiras que seu amor-próprio opõe à emancipação feminina, o homem em breve verá a mulher tomar o seu voo, com grande vantagem para a sociedade. IV) “A mulher (concluiu o instrutor espiritual, dirigindo-se aos homens) tem a centelha divina absolutamente como vós, porque a mulher é vós, como vós sois a mulher.” (Págs. 169 a 172.)

85. A Revue transcreve carta dirigida a Kardec pelo dr. Charles Grégory, na qual este defende de forma ardorosa a influência da homeopatia no desenvolvimento das faculdades morais da criatura humana, assunto tratado anteriormente por Kardec no número de março de 1867 (págs. 67 e seguintes). Em que pese o brilhantismo das ideias desenvolvidas pelo dr. Grégory, Kardec manteve a opinião por ele emitida em março, porque as qualidades boas ou más são inerentes ao grau de adiantamento ou de inferioridade do Espírito, e não é com um medicamento qualquer que se poderá alterá-las. (Págs. 172 a 175.)

86. Certamente, diz Kardec, o estado patológico influi sobre o moral, mas as disposições são aí acidentais e não constituem o fundo do caráter do Espírito. Essas, não há dúvida, uma medicação apropriada pode modificar. E o Codificador acrescenta: “Um caso em que a homeopatia sobretudo nos pareceria particularmente aplicável com sucesso é o da loucura patológica, porque aqui a desordem moral é a consequência da desordem física”. Ora, a ação da homeopatia pode ser nesses casos tanto mais eficaz quanto age principalmente, pela natureza espiritualizada dos medicamentos, sobre o perispírito, que representa papel preponderante nessa afecção. (Págs. 175 e 176.)

87. Segundo o mesmo médico dr. Charles Grégory, Erasto teria enunciado em comunicação recente uma ideia que o chocou muito: o homem seria dotado de sete, não apenas cinco sentidos: audição, olfato, visão, paladar, tato e mais dois – o sentido sonambúlico e o sentido mediúnico. Kardec refutou tal ideia e disse ser um erro considerar sonambulismo e mediunidade como o produto de dois sentidos diferentes, porque eles não passam de dois efeitos resultantes de uma mesma causa. (Pág. 176.)

88. Essa dupla faculdade, entende o Codificador, é um dos atributos da alma e tem por órgão o perispírito, cuja radiação transporta a percepção além dos limites da ação e dos sentidos materiais. Esse sexto sentido é chamado por Kardec de sentido espiritual, que é, como os demais, mais ou menos desenvolvido, mais ou menos sutil, conforme os indivíduos, e todo o mundo o possui. Longe de ser a regra, sua atrofia é a exceção e pode ser considerada como uma enfermidade, assim como a má audição ou a vista fraca. É por ele que recebemos os eflúvios fluídicos dos Espíritos que nos inspiram e a intuição das coisas futuras. (Págs. 176 e 177.)

89. A vista espiritual, também chamada dupla vista ou segunda vista, é um fenômeno menos raro do que se pensa e muitas pessoas têm essa faculdade sem o suspeitar. Referindo-se a uma senhora de Paris que possuía a vista espiritual em caráter permanente, sem ser sonâmbula, Kardec indaga: “Como percebe ela, senão pelo sentido espiritual?”. (Págs. 177 e 178.)

90. Curiosamente, a vidente francesa tinha o hábito de examinar os sinais da mão quando consultada sobre supostas doenças. Dizia ela que via nas mãos o indício das enfermidades. Kardec explica que, em tais casos, a mão fazia apenas o papel de espelho mágico ou psíquico, numa analogia com o caso do vidente da floresta de Zimmerwald, tratado pela Revue  em outubro de 1865. (Pág. 178.) (Continua no próximo número.)



 


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