– Normalmente, dizem, as
visões são uma
continuação, é um
Espírito que voltou e se
lembra ainda do seu
passado e mais tarde se
esquece. Essas duas
situações passaram-se
consigo?
Raul Teixeira:
As duas coisas
aconteciam, mas eram
muito mais as de
visualizar pessoas que
não eram do meu passado,
mas que tinham sido do
meu presente, vizinhos
que entretanto haviam
falecido. Eu sabia que
tinham falecido e, de
repente, via-os passar
pelas portas fechadas,
pelas paredes, a descer
dos telhados... e
perguntava à minha mãe
quem eram, quando não
conhecia ou por quê. A
minha mãe respondia-me
de uma forma muito
simples para ela, mas
que eu não conseguia
compreender: São
nossos amigos da luz. Um
dia eles também virão
falar com você.
Os anos passaram, a
minha mãe faleceu,
quando eu tinha quatro
anos, e na minha
adolescência comecei
novamente a ver as
pessoas a descerem dos
telhados... Essas
pessoas abordavam-me na
rua, o que me deixava
muito confuso, pois
tinha dificuldade em
distinguir quem era
gente de fato. Muitas
vezes fui surpreendido a
falar sozinho, porque
para as outras pessoas
eu estava a falar
sozinho. Aquilo
deixou-me numa situação
muito conflituosa.
Perguntava ao meu
sacerdote o que seria
aquilo e ele
respondia-me que eram
trampas do demônio,
trapaças demoníacas.
– E tentou fazer alguma
magia para tentar
afastar o demônio?
Raul Teixeira:
O sacerdote ensinou-me a
escrever o Credo em
papel e a queimá-lo
todas as vezes que visse
essas pessoas, só que
quanto mais queimava as
orações mais os via. Aí,
passei a ficar com mais
medo da oração, do que
propriamente dos
demônios. Até que
conheci o Espiritismo
aos 16 anos. Um amigo de
estudos convidou-me a
conhecer a sua
instituição, onde um
grupo de jovens se
reunia para estudar a
Doutrina Espírita. Tinha
muito medo, porque as
minhas referências sobre
o Espiritismo eram muito
negativas, mas fui
conhecer para
desencantar a coisa. O
que aconteceu foi que,
no primeiro dia que
visitei a instituição
espírita, deparei-me com
um grupo de jovens da
minha idade, sentados
normalmente numa sala de
aula a estudarem e a
debaterem questões da
vida, e foi ali a minha
primeira fala.
Dada a minha timidez, a
professora abordou-me
sobre o meu conhecimento
do tema que era tratado
naquela tarde, Moisés. A
figura de Moisés
agradava-me muito e,
então, fiz uma abordagem
sobre ela durante 20
minutos. A aula acabou
ali... Ao sair da
reunião, já era um
espírita. Nunca mais
voltei à Igreja, às
atividades que tinha,
embora mantenha um
respeito e um carinho
muito grandes por ela e
pelos meus irmãos que
tanto me ensinaram. O
sacerdote que era meu
orientador continuou a
ser meu amigo. A minha
relação com a Igreja
continuou muito
fraterna, mas encontrei
uma resposta que me
satisfez e que atende à
sede de explicações que
tinha sobre a vida e,
especialmente, sobre a
minha.
Extraído de entrevista
concedida em 1996 ao
jornal O Norte
Desportivo, de
Portugal.
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