ORSON PETER
CARRARA
orsonpeter@yahoo.com.br
Matão, São Paulo
(Brasil)
Velórios
Muitas vezes
falei em
velórios para
exaltar a vida e
dizer da
continuidade da
vida, baseado
nos ensinos que
recebi da
Doutrina
Espírita.
A circunstância
sempre me comove
intensamente.
Fico a pensar na
dor dos que
ficam, atingidos
pela separação.
Fico a pensar na
transformação
natural da vida
de quem parte
para novas
experiências e
continuidade da
própria vida.
O conforto do
pensamento
espírita,
todavia, sempre
foi fonte de
inspiração e
fortaleza nesses
instantes de dor
para todos,
inclusive para
aqueles que
usamos a
palavra. Sabemos
da imortalidade,
mas o sentimento
do momento,
envolvido pelo
clima de comoção
igualmente nos
atinge.
Vivi uma
experiência
inesquecível
quando da
desencarnação de
meu pai, Roberto
Pasqual Carrara.
Eu e meu pai
somos muito
amigos. E digo
somos porque a
vida continua. É
que nunca
brigamos, nunca
discutimos e não
tivemos qualquer
motivo de
arrependimento
ou remorso no
relacionamento
entre pai e
filho. Quando
ele partiu,
minhas reflexões
se acentuaram
durante o
velório.
Percebi o quanto
foi importante
não termos
guardado
qualquer mágoa
um do outro, o
quanto foi vital
para ambos – ele
naquele instante
partindo e eu
permanecendo
para novas
experiências –,
seguirmos cada
qual seu caminho
e mantendo no
mesmo nível de
amizade,
carinho,
respeito e amor,
a experiência
vivenciada na
presente
existência da
condição de pai
e filho.
Claro que ele
levou consigo
seus
questionamentos
interiores, como
eu permaneço com
os meus,
necessitados
ambos de novos
aprendizados,
como qualquer
Espírito em
evolução, mas no
tocante ao
relacionamento
entre mim e ele,
nos sentimos
livres e em
plena sintonia
de entendimento
e afinidade
espiritual.
Isso é que
determina, pelo
menos no que se
refere ao meu
caso – tenho
outros irmãos e
não sei aferir o
nível de
relacionamento
espiritual deles
com meu pai –,
uma situação de
tranquilidade e
equilíbrio no
plano
espiritual, face
à sintonia que
mantemos. Mas,
claro, que há
outras questões
individuais
próprias dele
mesmo que
desconheço –
como ocorre com
qualquer um de
nós – e que
igualmente
determinam,
nesse conjunto
de fatos e
situações, a
experiência
feliz ou infeliz
no plano
espiritual.
Mas,
referindo-nos
especificamente
aos velórios,
nossas atitudes
humanas em
velórios são de
lamentar.
Diálogos
improdutivos,
anedotas,
desrespeito com
o cadáver etc.
O escritor
Richard
Simonetti, de
Bauru, no livro
Quem tem medo
da Morte?,
cita a
experiência de
Bauru onde foi
distribuído
durante algum
tempo o texto de
autoria do mesmo
escritor com o
título Em
favor dele,
referindo-se ao
respeito ao
desencarnante.
Referido texto,
de muita
utilidade e
grande reflexão,
consta
igualmente do
livro em
referência, que
conclui com o
significativo
parágrafo:
“(...) Lembra-te
de que um dia
também estarás
de pés juntos,
deitado numa
urna mortuária
e, ainda preso
às impressões da
vida física,
desejarás,
ardentemente,
que te respeitem
a memória e não
conturbem teu
desligamento,
amparando-te com
os valores do
silêncio e da
oração, da
serenidade e da
compreensão, a
fim de que
atravesses com
segurança os
umbrais da Vida
Eterna...”
Nada mais a
acrescentar.