AYLTON GUIDO
COIMBRA PAIVA
paiva.aylton@terra.com.br
Lins, São Paulo
(Brasil)
O poder da fé
O mais terrível
genocídio de que
se tem notícia,
após a segunda
guerra mundial,
foi o corrido em
Ruanda, em 1994,
no qual, segundo
posteriores
estimativas do
governo ruandês,
cerca de um
milhão de
pessoas foram
mortas, em cem
dias.
É um episódio
terrível na
história da
humanidade.
Por trás dele
estão os
interesses
políticos e
econômicos das
nações, chamadas
civilizadas, da
Europa.
Essas potências,
em seu domínio
nefando,
aproveitaram-se
de divergências
tribais da
região, entre
tutsi, minoria,
e hutus,
maioria, para
semear o ódio.
A eclosão dessa
loucura coletiva
dos hutus na
caça e morte dos
tutsis é de uma
selvageria
indescritível.
Os tutsis eram
caçados como
“baratas” e
“serpentes”,
assim, os hutus
os denominavam e
assim eram
mortos; não
importava se
eram velhos,
crianças,
jovens, homens
ou mulheres.
É dantesco o
cenário de como
essa onda de
ódio,
perseguição e
morte se alastra
pelo país e como
pessoas amigas e
vizinhas passam
a ser encaradas
como inimigos
que precisam ser
aniquilados, de
qualquer forma e
sem a mínima
piedade.
Nesse terrível
cenário, porém,
sobrelevam
pessoas
admiráveis por
seus pensamentos
e condutas
calcadas em
valores éticos
emergidos dos
valores
cristãos, fossem
eles vistos ou
expressos pelas
óticas
religiosas do
catolicismo ou
protestantismo.
Dentre essas
pessoas
encontramos
Immaculée
Ilibagiza, jovem
da etnia tutsi.
Seus pais,
pessoas
profundamente
cristãs, pela
formação
católica eram
admirados e
reconhecidos
pela comunidade
de Mataba.
Ao irromper a
perseguição dos
hutus aos
tutsis, o pai de
Immaculée
encaminhou-a à
casa do seu
amigo hutu, o
pastor Murinzi.
Embora um pouco
impregnado pela
discriminação
aos tutsis, o
pastor,
evidenciando
seus valores
cristãos pela
formação
protestante,
acolheu, sob
risco da própria
vida, a tutsi
Immaculée.
Tempos
dolorosamente
difíceis.
Immaculée e mais
seis jovens e
mulheres tutsis
ficaram
escondidas em um
banheiro da casa
do pastor por
alguns meses,
com o mínimo de
alimentação e
sem condições de
tomar banho. Não
podiam nem
conversar, para
não denunciarem
a presença delas
naquela casa.
Por várias vezes
a casa do pastor
foi revistada e
revirada pelas
milícias hutus,
que caçavam
tutsis como
“baratas” e
“serpentes” para
aniquilá-las.
Nesses momentos,
Immaculée orava
fervorosamente
não só para
sobreviver,
como, também,
para não ser
dominada pelo
ódio aos
perseguidores.
Embora o
inenarrável
sofrimento nessa
prisão, ela se
robustecia na fé
para trabalhar,
se não fosse
morta, para
eliminar ou
aplacar o ódio
entre os
descendentes das
tribos tutsi e
hutus, que
compunham o povo
do seu país.
Seus pais e
irmãos foram
bárbara e
impiedosamente
mortos.
Não obstante,
Immaculée, pelo
poder da sua fé,
não desistiu de
trabalhar contra
o ódio e semear
a paz e o amor
entre as
pessoas.
Hoje trabalha na
ONU, é
palestrante
sobre temas do
amor e do perdão
e tem uma
fundação de
apoio às
crianças órfãs
de Ruanda, que
ela prometera
fazer quando
ainda
enclausurada.
Lendo essa
exemplar
história de vida
do livro:
“Sobrevivi Para
Contar”, de
Immaculée,
relatada pelo
jornalista e
escritor Steven
Erwin (Ed.
Objetiva Ltda.),
eu concluí:
“Para ser
proveitosa, a fé
tem que ser
ativa; não deve
entorpecer-se”;
“A esperança e a
caridade são
corolários da fé
e formam com
essa a trindade
inseparável. Não
é a fé que
faculta a
esperança na
realização das
promessas do
Senhor? Se não
tiverdes fé, que
esperareis? Não
é a fé que dá o
amor? Se não
tendes fé, qual
será o vosso
reconhecimento
e, portanto, o
vosso amor?” (O
Evangelho
segundo o
Espiritismo,
Allan Kardec,
Cap.XIX, item
11.)
Sim, essa é a fé
de Immaculée.
Como a
humanidade está
necessitando
dela!