ANGÉLICA
REIS
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Londrina, Paraná
(Brasil)
|
Socialismo e Espiritismo
Léon Denis
(Parte
2)
Continuamos a apresentar o
estudo do clássico
Socialismo e Espiritismo,
de Léon Denis, com base
na tradução
de
Wallace Leal V.
Rodrigues, publicada
pela Casa Editora O
Clarim.
Questões preliminares
A. Segundo Léon Denis,
assistia-se a um começo
de desagregação da
sociedade. Quem seria o
responsável por isso?
Léon Denis lembra que o
cimento que liga os
elementos do edifício,
isto é, o espírito de
família, a disciplina
social, o patriotismo, o
sentimento religioso
etc. se enfraqueciam e
se decompunham. A quem
imputar a
responsabilidade por
esse estado de coisas?
“Em grande parte à
Igreja e à Escola”, diz
ele. A Igreja, porque –
petrificada em seus
dogmas – ela se tornou
impotente para comunicar
ao corpo social essa fé
viva que é a grande
força, a alma das
nações. Seu catecismo,
incompreensível e
incompreendido, era
notoriamente
insuficiente para
esclarecer e guiar as
crianças do povo nos
caminhos difíceis da
existência.
(Socialismo e
Espiritismo, pág. 42.)
B. Em que sentido a
Escola tinha
responsabilidade sobre
tais fatos?
Léon Denis diz, no
tocante à Escola, que
fora ela uma reação
contra a escola
congregacionista,
imbuída de prejuízos
dogmáticos e de
doutrinas seculares. Os
promotores da escola
laica tinham um programa
impregnado do ideal
espiritualista. Os
manuais de Paul Bert, de
Compayrè, ensinavam a
existência de Deus, a
imortalidade do ser, e
procuravam reacender o
fogo sagrado nas almas
francesas. Seus
sucessores, entretanto,
em sua política
terra-a-terra,
eliminaram de pouco em
pouco estas noções de
idealismo e a escola
caiu sob a influência
materialista. Desde
então, a instrução
laica, desprovida de
elevação, desenvolveu o
sentimento pessoal. Ora,
do orgulho ao egoísmo
não vai mais que um
passo, e, trinta anos
depois, este cresceu
graças ao bem-estar
procurado por uma
civilização
materialista, porque
quando a instrução é
desprovida de freio
moral, de sanção, e nela
se imiscui a paixão
material, ela não faz
senão superexcitar os
apetites, os desejos de
gozos e se traduz por um
egoísmo desenfreado.
(Obra citada, pág. 43.)
C. A fé religiosa
perdera, então, a força
necessária para se
contrapor a essas
influências?
Sim. Naquela época,
sobretudo na França –
observa Denis –, a fé
religiosa não tinha mais
intensidade para servir
de base a uma
transformação social ou
a uma organização
econômica, porquanto os
ensinamentos nebulosos
das igrejas sobre as
condições da vida
futura, seu dogmatismo
estreito, suas ameaças
pueris, relativas a
castigos imaginários,
tudo isto terminou por
semear, até mesmo entre
seus fiéis, o ceticismo
ou a indiferença.
(Obra citada, pp. 52 e
53.)
Texto para leitura
13. Foi somente em 1880
– Denis contava 34 anos
– que ele abordou franca
e publicamente os temas
espíritas. As plateias
eram então pouco
favoráveis e foi
preciso, mais de uma
vez, suportar os
escárnios, as objeções
pueris e sobretudo o
alarido dos ouvintes.
(Pág. 38)
14. O Socialismo
professado naquela
ocasião por Volders e
Beck estava
profundamente imbuído
das teorias
materialistas. Os
operários eram, contudo,
tomados individualmente,
isolados, pouco
acessíveis às doutrinas
subversivas: o comunismo
e o anarquismo. Eles
guardavam, sem dúvida,
dos séculos de servidão
uma espécie de atavismo
intuitivo que os tornava
hostis a todas as formas
de opressão e possuíam
no fundo de si mesmos o
sentimento da realidade,
o amor pela justiça e
pelo progresso.
(Págs. 39 a 41)
15. Era sobretudo nos
grandes centros
industriais que os
agentes excitadores
tinham mais acesso sobre
as massas operárias e
que a palavra dos
oradores inflamados
melhor as alcançava,
propelindo-as para os
excessos, embora
tivessem estes pouca
duração. A França lhe
parecia um país de bom
senso, refratário às
teorias bolchevistas. “O
que se chama de ‘luta de
classes’ – afirma Léon
Denis – não existe senão
no papel. Em realidade,
não há mais classes
desde a Revolução, não
há mais entre elas
limites precisos, pois
há penetração recíproca
e contínua.” Todo
trabalhador poderia
tornar-se patrão. A
burguesia tem suas
raízes no povo e nele se
recruta incessantemente.
(Pág. 41)
16. Assistia-se, diz
Denis, “a um começo de
desagregação da
sociedade”. “O cimento
que liga os elementos do
edifício, isto é, o
espírito de família, a
disciplina social, o
patriotismo, o
sentimento religioso
etc. se enfraquecem e se
decompõem.” A quem
imputar a
responsabilidade por
esse estado de coisas?
“Em grande parte à
Igreja e à Escola”,
explica Denis. A Igreja,
porque – petrificada em
seus dogmas – ela se
tornou impotente para
comunicar ao corpo
social essa fé viva que
é a grande força, a alma
das nações. Seu
catecismo,
incompreensível e
incompreendido, era
notoriamente
insuficiente para
esclarecer e guiar as
crianças do povo nos
caminhos difíceis da
existência. (Pág. 42)
17. Quanto à Escola,
então ampla e
obrigatória, fora ela
uma reação contra a
escola congregacionista,
imbuída de prejuízos
dogmáticos e de
doutrinas seculares. Os
promotores da escola
laica tinham um programa
impregnado do ideal
espiritualista. Os
manuais de Paul Bert, de
Compayrè, ensinavam a
existência de Deus, a
imortalidade do ser, e
procuravam reacender o
fogo sagrado nas almas
francesas. Seus
sucessores, entretanto,
em sua política
terra-a-terra,
eliminaram de pouco em
pouco estas noções de
idealismo e a escola
caiu sob a influência
materialista. Desde
então, a instrução
laica, desprovida de
elevação, desenvolveu o
sentimento pessoal. Ora,
do orgulho ao egoísmo
não vai mais que um
passo, e, trinta anos
depois, este cresceu
graças ao bem-estar
procurado por uma
civilização
materialista, porque
quando a instrução é
desprovida de freio
moral, de sanção, e nela
se imiscui a paixão
material, ela não faz
senão superexcitar os
apetites, os desejos de
gozos e se traduz por um
egoísmo desenfreado.
(Pág. 43)
18. É preciso, pois,
combater o egoísmo por
um ensino idealista
regenerador. Vencido o
egoísmo, será mais fácil
extinguir as outras
paixões que corroem o
coração humano. A escola
neutra representa, hoje
em dia, um conjunto de
conhecimentos privados
do bem moral necessário
para constituir uma
educação, uma direção
eficaz. Ela reencontrará
o seu prestígio, o seu
poder benéfico,
assimilando uma doutrina
espiritualista
independente, suscetível
de substituir todos os
ensinamentos
confessionais. Essa
doutrina, só o
Espiritismo pode
fornecê-la. Aguardando
essa fusão necessária,
qual é o papel de nós
espíritas? É o de criar,
de multiplicar o exemplo
de nossos irmãos
lioneses: as escolas
dominicais onde a
doutrina e a moral
espíritas são ensinadas
às crianças, assim como
aos adultos. (Págs.
43 e 44)
19. O que foi dito da
escola primária
aplica-se ao ensino
superior e mesmo à
Ciência que um dia,
tornada integral e
homogênea, abraçará em
seus estudos os mundos
visível e invisível e
penetrará neste oceano
de vida oculta que nos
envolve. Graças à
descoberta das forças
radiantes e dos estágios
sutis da matéria, a
Ciência humana começou a
entrever a possibilidade
de uma vida invisível,
mas, antes de ter
analisado esse estágio
da vida por seus métodos
atuais, antes de ter
examinado as leis e suas
consequências morais,
podem escoar-se muitos
séculos! É por isso que
o ensinamento dos
Espíritos vem abrir ao
homem mais vastos
horizontes,
iniciando-nos nas leis
da harmonia universal em
um momento difícil em
que a Humanidade parecia
inclinar-se para um
abismo de trevas e de
dores. (Págs. 45 e
46)
20. O Socialismo
tornou-se uma força com
a qual é preciso contar.
Ele tem para si o
futuro; triunfará,
talvez, sob formas bem
diferentes daquelas sob
as quais tem sido
concebido e sua obra
será pacífica ou
sangrenta, conforme o
princípio, a ideia
mestra que a inspirará.
Faltava, contudo, aos
socialistas de então o
essencial, o cimento que
poderia reuni-los: a fé
elevada e o espírito de
sacrifício que ela
inspira. Faltava-lhes o
ideal poderoso que
aquece, fecunda e
vivifica. (Pág. 47)
21. Os socialistas que
se inspiravam em certas
teorias científicas
erigiram o materialismo
e o ateísmo à altura de
um princípio. Fez-se
tábua rasa de todas as
esperanças no Além, de
toda ideia de
imortalidade, de toda
concepção de um ideal
divino. E é esse estado
de espírito que o torna
estéril ou funesto.
(Pág. 48)
22. Pergunta-se se esse
sentimento elevado de
justiça e de
solidariedade, se este
ideal superior é
conciliável com o
conflito dos interesses
e a luta pela vida. Ora,
para pôr um freio às
paixões violentas, às
cobiças furiosas, a
todos os baixos
instintos que entravam o
progresso social, não é
preciso apelar para a
inteligência e a razão.
É preciso, sobretudo,
falar ao coração do
homem, ensiná-lo a
reconhecer a finalidade
real da vida, seus
resultados, suas
consequências, suas
responsabilidades, suas
sanções. Enquanto o
homem ignorar o alcance
de seus atos e sua
repercussão sobre o seu
destino, não haverá
melhoria durável na
sorte da Humanidade. O
problema social é,
sobretudo, um problema
moral, ou seja, o homem
será desgraçado enquanto
for mau. (Págs. 50 e
51)
23. É preciso lembrar
que é em sua fé
religiosa que as
comunidades cristãs do
Oriente e do Ocidente e,
na América, as
Sociedades dos Quakers,
encontraram as regras de
disciplina, o princípio
da associação e de
devotamento que assegura
o bem-estar, a
prosperidade dessas
instituições e de seus
membros. (Pág. 52)
24. Evidentemente, em
nossa época, sobretudo
na França – observa
Denis –, a fé religiosa
não tem mais intensidade
para servir de base a
uma transformação social
ou a uma organização
econômica, porquanto os
ensinamentos nebulosos
das igrejas sobre as
condições da vida
futura, seu dogmatismo
estreito, suas ameaças
pueris, relativas a
castigos imaginários,
tudo isto terminou por
semear, até mesmo entre
seus fiéis, o ceticismo
ou a indiferença. A
revelação dos Espíritos
vem, no entanto, aclarar
as condições da vida no
Além e o destino dos
seres e mostrar que a
lei da reparação se
impõe a todos, não mais
sob a forma de um
inferno ridículo, mas
por existências
terrestres que se
sucedem, nas quais as
pessoas resgatam um
passado de culpas e
conquistam um futuro
melhor. (Págs. 52 e
53)
(Continua no próximo
número.)