LEDA MARIA
FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
Servidores
imperfeitos
“Como se conhecerá o que
se toca com a flauta ou
com a cítara?”
–
Paulo. (I Coríntios,
17:7.)
O dicionário define a
palavra instrumento como
sendo um objeto qualquer
que é utilizado na
execução de uma tarefa.
Em sentido figurado,
também coloca como sendo
um intermediário. A
Doutrina Espírita afirma
que somos instrumentos
espirituais –
intermediários -,
através dos quais Deus
promove o progresso da
Humanidade, seja do
ponto de vista material
ou espiritual, mesmo
que, aparentemente,
possa parecer o
contrário.
Em Sua misericórdia, o
Pai, também, nos fornece
recursos pessoais
(instrumentos) para que
possamos,
individualmente,
promover esse progresso
em nosso próprio
benefício ou em
benefício de tudo e de
todos que estejam ao
nosso redor. E um dos
mais importantes
recursos que temos é o
livre-arbítrio que,
associado à inteligência
e à vontade, pode
transformar-se em
elemento de elevação ou
de paralisação – se bem
que temporária – da
nossa marcha evolutiva.
Para entendermos melhor
essa ideia, tomemos os
instrumentos de uma
orquestra como exemplo.
Divididos em diferentes
tipos, categorias e
naipes, produzem,
também, sons diferentes.
Se os ouvirmos,
separadamente, tocando a
mesma melodia, seremos
capazes de
identificá-la, porque
todos eles estão
devidamente afinados e
as notas saem limpas,
perfeitas. Mas, se o
instrumento não estiver
bem cuidado, em ordem,
para tal execução,
certamente essas notas
soarão dissonantes e a
melodia não poderá ser
identificada.
Por outro lado, temos,
ainda, a qualificação
daquele que irá usar o
instrumento. Se for bom
músico e tiver em suas
mãos um bom material, a
beleza da música será
sentida por todos. Se
for um instrumento mal
cuidado ou de qualidade
duvidosa, ele poderá
tirar algum som, mas
será com muita
dificuldade e bastante
desagradável. O oposto
também aparece quando
temos um mau músico,
utilizando um
instrumento precioso e
não conseguindo, por
mais que se esforce,
fazê-lo produzir bela
melodia. Estamos, hoje,
na condição de músicos,
tendo à nossa disposição
vários instrumentos para
transmitir o luminoso
sentido dos ensinamentos
de Jesus. É
imprescindível, diante
dessa realidade,
perguntarmos: “O que
fazemos com os recursos
na nossa condição de
divulgadores desses
ensinamentos?”
Podemos administrar
conselhos aos que nos
procuram ou nos ouvem, e
não temos, na maioria
das vezes, condição de
encontrar nossa própria
direção e nem de
indicá-las aos outros;
mas é, justamente, essa
tarefa que nos mostrará
– no seu devido tempo,
somando-se os nossos
esforços – por onde ir,
apesar de todas as
pedras do caminho.
Temos condição de
levantar tribunas com o
verbo brilhante da
pregação, entretanto,
longe dela, contamos
piadas menos dignas e
comentamos, através de
juízos menos caridosos,
as escolhas alheias, ao
invés de nos
esclarecermos para a
educação dos nossos
sentimentos. Perdemos
nosso tempo,
ocupando-nos do que
compete aos outros.
Todavia, é na repetição
da lição evangélica que
vamos aprendendo a
disciplina da caridade e
o entendimento do que
Jesus quis dizer com: “Ama
teu próximo como a ti
mesmo”.
A capacidade de
escrevermos páginas que
expressam as diretrizes
dos ensinos do Cristo
não nos falta, mas
caluniamos ou criticamos
quem não pensa como nós,
na prática ostensiva da
intolerância, negando os
princípios benditos da
doutrina que Jesus nos
trouxe – e que abraçamos
como forma de vida: a
doutrina da afabilidade,
da mansuetude, da doçura
e da compreensão.
Entretanto, precisamos
continuar escrevendo
para que ampliemos a
nossa cultura espírita.
E por assim agir é que
não conseguimos, ainda,
compartilhar da
intimidade do Cristo em
nossa vida. Por quê? Por
falta de coerência entre
os ensinamentos Dele,
que nos propomos a
divulgar, e as nossas
atitudes. Na nossa
condição de servidores
imperfeitos necessitamos
aprender a ouvir a
música celeste que emana
de Deus e que tem Jesus
como seu grande maestro.
Ainda não conseguimos
compreendê-la, mas,
quando pudermos,
permitiremos que ela
toque os nossos
corações.
No Evangelho de João,
Capítulo 21, versículo
17, Jesus perguntou a
Pedro pela terceira vez:
“Simão, filho de Jonas,
amas-me?” Tão
significativa essa
pergunta... Em nenhum
momento Ele questionou o
entendimento que o
discípulo tão amado
tinha sobre o que
deixava para ser
espalhado ao mundo.
Somente queria saber se
ele O amava, deixando
perceber, nessa
pergunta, o entendimento
que, com o amor, as
demais dificuldades se
resolveriam.
Assim, se o aprendiz da
Boa Nova possui uma
migalha que seja dessa
essência divina, sua
tarefa, por mais árdua
possa parecer,
converte-se em
apostolado de bênçãos
promissoras, como
recorda Emmanuel.¹ Expor
o pensamento de Jesus –
salvaguardando nossa
limitação evolutiva – é
tarefa abençoada, não
importa se no
aconselhamento, na
tribuna, nas aulas ou na
escrita, informando e
esclarecendo, consolando
e reconfortando
estaremos comprometidos
com o Mestre em difundir
as verdades evangélicas
com caridade, equilíbrio
e limpidez de intenção.
Se somos flautas ou
cítaras pouco importa,
porque o que conta,
realmente, é estarmos
afinados com o mesmo
diapasão, sob a regência
do Grande Maestro, Nosso
Senhor Jesus Cristo,
para a execução da
Divina Sinfonia do
Amor.
Bibliografia:
1- EMMANUEL (Espírito). Caminho
Verdade e Vida;
[psicografado por]
Francisco Cândido
Xavier. 17 ed. Rio de
Janeiro/RJ, Federação
Espírita Brasileira,
1997, lição 97.
2 - __________________ - Fonte
Viva; [psicografado
por] Francisco Candido
Xavier. 31 ed., Rio de
Janeiro/RJ, Federação
Espírita Brasileira,
2005, lição 84.
3 - __________________ . Palavras
de Vida Eterna;
[psicografado por]
Francisco Candido
Xavier. 20 ed.,
Uberaba/MG, Comunhão
Espírita Cristã, 1995,
lições 135 e 175.
4 - KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o
Espiritismo –
Cap. 17, item 4.