Confidência
Paulo Machado
Senhor,
O carpinteiro
Trouxe a madeira pobre
ao banco de talhar
E, manejando a enxó, o
serrote e o formão,
Cortou-a sem piedade...
Ninguém lhe ouviu
reclamação alguma.
Findos alguns instantes,
Era coluna simples.
Dentro de pouco tempo,
Ei-la peça lavrada,
Em caminhão barulhento,
E levada a servir nas
construções dos homens,
Sem perguntar sequer
Pelo próprio destino:
Se devia brilhar no teto
de um palácio
Ou pisada no chão de
cabana esquecida...
Ajuda-me, Senhor,
A entender a lição dessa
coluna humilde!...
Que eu saiba agradecer
A dor que me depura
E depois receber
A mercê de servir-te,
Quando e quanto
quiseres,
Como e seja onde for...
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