Augusto Elias da Silva,
o pioneiro que não
podemos esquecer
Uma breve história de
Augusto Elias da Silva,
pioneiro do Espiritismo
no Brasil e fundador da
revista espírita
“Reformador” e da
Federação Espírita
Brasileira
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Augusto Elias da Silva
reencarnou em Portugal
em 1848 (1),
justamente no ano em que
uma onda de renovação
espiritual, como fogo em
palha seca, se
irradiaria de Hydesville
para o mundo todo. Como
sabemos, em 31 de março
de 1848 registraram-se
no pequeno povoado
americano os fenômenos
que dariam, anos depois,
origem à Doutrina
Espírita.
Elias da Silva estava
destinado, como
aconteceu a inúmeros
ilustres compatriotas do
outro lado do Atlântico,
a grandiosos
empreendimentos em
terras brasileiras. Para
aqui se transportavam
intuitivamente, ou eram
trazidos pelo chamado
acaso, a fim de
|
atenderem
às
solicitações
da
Espiritualidade. |
Foi assim que ele veio
para o Brasil,
desembarcando no Rio de
Janeiro em data que
ignoramos, trazendo um
coração generoso e
simples e um cérebro
esclarecido, resoluto e
empreendedor.
Fotógrafo, Elias da
Silva despertou para o
Espiritismo aos 33 anos
de idade, como ele mesmo
contou pelas páginas da
revista “Reformador“ de
1º de setembro de 1891:
“Em 1881, fui convidado
a assistir a uma sessão
na sala da Sociedade
Acadêmica Deus, Cristo e
Caridade, à rua da
Alfândega nº 120. As
minhas convicções nesta
época eram as do mais
lato indiferentismo
religioso, não tendo a
menor parcela de dúvida
sobre a não existência
da alma. Não admitindo
os fenômenos das
diversas religiões, só
via nelas agrupamentos
de ociosos e amigos de
dominar, explorando a
ignorância das massas,
geralmente
supersticiosas e
inclinadas ao
sobrenatural.
Foi-me aconselhada a
leitura das obras do
imortal Kardec. Pela
leitura, despertou-se-me
o desejo de verificar
experimentalmente as
teorias que ia bebendo,
e comecei a frequentar
as sessões dos grupos e
sociedades então
existentes, onde
gradativamente fui
recebendo as provas mais
robustas da manifestação
dos que eu chamava
mortos”.
De início, as sessões
lhe causaram dolorosa
impressão
Na citada sessão,
segundo Elias da Silva,
participavam umas
cinquenta pessoas e
entre elas algumas de
reconhecida capacidade
científica. Dos
trabalhos que
presenciou, ficou-lhe,
porém, inicialmente, a
mais dolorosa impressão.
O desejo de desmascarar
os membros da Sociedade,
se os reconhecesse
especuladores, ou então
convencê-los do seu
erro, se fossem
visionários, levou-o a
solicitar que lhe
permitissem continuar
frequentando as
reuniões.
Na segunda sessão de que
participou, trabalhou
como médium sonâmbula a
esposa do confrade
Monteiro de Barros, a
qual, não tendo nessa
ocasião produzido
trabalho algum
intelectual, caiu, em
estado sonambúlico,
ajoelhada da cadeira em
que se achava e nessa
posição ficou mais de
vinte minutos, com os
braços erguidos, na mais
absoluta imobilidade.
Pelos trabalhos de sua
profissão como
fotógrafo, Elias da
Silva conhecia a
dificuldade de se manter
tal posição no estado
normal e a esse fato,
embora longe de
modificar suas ideias,
devia ele o
despertamento do desejo
de investigar as leis
que o determinaram.
Entre os fatos que então
observou, ele mencionou
alguns que, embora
comuns, muito o
impressionaram.
Em um grupo solicitou
fosse evocado um parente
e amigo falecido havia
muito tempo. Um médium
psicógrafo,
completamente estranho,
foi o encarregado de
obter a comunicação, a
qual nada conteve de
particular, limitando-se
a conselhos morais, mas
continha uma assinatura
idêntica à que o evocado
apresentara, quando
encarnado.
Em outra sessão
manifestou-se
espontaneamente um amigo
solicitando que orasse
por ele e dizendo que
sofria muito por ter
cometido atos que Elias
ignorava completamente.
Depois de proceder à
mais rigorosa
investigação desses
fatos, ele chegou à
conclusão de serem eles
verdadeiros.
Aos fatos seguiu-se o
estudo e depois a
vontade de servir
Um outro Espírito, que
se comunicou
espontaneamente,
declarou seu nome e a
casa em que morava,
quando desencarnou. No
dia imediato, uma
comissão, da qual ele
fez parte, dirigiu-se à
casa indicada, na qual
ainda morava a família
do falecido.
Aos fatos seguiu-se o
estudo e, a partir daí,
estudando com ardor as
obras de Kardec e todas
as demais que adquiriu
para aumentar seus
conhecimentos acerca da
Doutrina, em pouco tempo
Elias da Silva
manifestou firme vontade
de servir à Causa,
tornando-se ativo membro
da Comissão
Confraternizadora da
Sociedade Acadêmica
Deus, Cristo e Caridade.
Fundou, em seguida, o
“Grupo Espírita
Menezes“, nome dado em
homenagem a Antônio
Carlos de Mendonça
Furtado de Menezes, que
fora diretor da
Sociedade Acadêmica
Deus, Cristo e Caridade,
e cujo bondoso Espírito,
desencarnado em 11 de
dezembro de 1879,
dirigia então os
trabalhos do referido
Grupo. Essa Sociedade,
que muitos benefícios
espalhou, fundiu-se em
1885 à Federação
Espírita Brasileira,
para a qual se
transferiram seus
sócios.
Fundar e conservar um
órgão de propaganda
espírita no Brasil era,
naquela época, algo que
poucos conseguiriam
realizar, uma vez que
todas as baterias do
Catolicismo estavam
assestadas contra o
Espiritismo. Dos
púlpitos brasileiros,
principalmente na
Capital brasileira,
choviam anátemas sobre
os espíritas, os novos
hereges que, de acordo
com a Igreja, cumpria
abater.
Datada de 15 de junho de
1882, fora distribuída
ao Episcopado brasileiro
uma Pastoral do Bispo da
Diocese de S. Sebastião
do Rio de Janeiro, na
qual o Antigo Testamento
era astuciosamente
citado para contraditar
as comunicações
mediúnicas. Tão
anticristão e violento
era o zelo do mencionado
prelado que, com
naturalidade escreveu,
referindo-se aos
espíritas: “Devemos
odiar por dever de
consciência”.
Amparado e com o apoio
dentro do lar de duas
almas boas e valorosas,
sua sogra Maria Baldina
da Conceição Batista e
sua esposa Matilde Elias
da Silva, com quem teve
um filho também chamado
Augusto, ambas espíritas
convictas, Elias da
Silva lançou a revista
“Reformador” em 21 de
janeiro de 1883 (2),
com recursos tirados do
seu próprio bolso, sendo
a redação e as oficinas
instaladas em seu
atelier fotográfico na
Rua da Carioca, 120 – 2º
andar, onde também
residia com sua família.
Durante cinco anos a
revista funcionou na
casa de Elias
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Até o dia 1º de
fevereiro de 1888, a
revista “Reformador"
teve sua secretaria e
tesouraria no mencionado
endereço, quando então,
havendo necessidade de
mais espaço para o
desenvolvimento daquela
publicação, a Diretoria
da Federação Espírita
Brasileira resolveu
instalar a seção da
revista no prédio nº 17
(depois nº 25) da então
Rua do Clube Ginástico,
hoje Silva Jardim, para
onde também se
transferiu a sede da
entidade.
Em 27 de dezembro de
1883 (3)
Elias da Silva reuniu em
sua residência, como
sempre o fazia
|
semanalmente,
os
companheiros
que mais
de perto o auxiliavam na
revista “Reformador”.
Eram 12 pessoas ao todo,
um quarto das quais
pertencia ao sexo
feminino, “como a
indicar” – conforme
escreveu o saudoso Dr.
Guillon Ribeiro – “quão
importante viria a ser a
parte que caberia à
mulher na obra, que
então se encetava, de
evangelização”. |
Nesse memorável dia,
firmou-se entre os
presentes o ideal de
fundar-se uma Sociedade
nova, que federasse
todos os Grupos por meio
de “um programa
equilibrado ou misto” e
que difundisse por todos
os meios o Espiritismo,
principalmente pela
imprensa e pelo livro.
Foi assim que, no
primeiro dia de janeiro
de 1884, uma
terça-feira, reunidos na
residência de Elias da
Silva, um grupo de
espíritas, movidos pela
fé e pela coragem, entre
os quais, além da sogra
e da esposa do chefe da
casa, estavam os
confrades Francisco
Raimundo Ewerton
Quadros, Manuel
Fernandes Figueira,
Francisco Antônio Xavier
Pinheiro, João Francisco
da Silveira Pinto,
Romualdo Nunes Vitório,
Pedro da Nóbrega, José
Agostinho Marques Porto,
decidiu pela instalação
da Federação Espírita
Brasileira.
No princípio, as
reuniões ordinárias da
Diretoria, às quais
compareciam também
alguns sócios fundadores
mais chegados à
Sociedade, realizavam-se
na residência de Elias,
e só a partir de 17 de
dezembro de 1886
passaram a ser efetuadas
na casa de Santos
Moreira, numa sala
gentilmente por ele
cedida, já que Elias
estava prestes a
ausentar-se da Corte.
Foi por esse motivo que
Elias, reeleito para o
cargo de tesoureiro em
2-1-1885 e 5-1-1886,
pediu aos amigos, em
fins de 1886, que não o
incluíssem na chapa para
a eleição da nova
Diretoria de 1887. Foi
então substituído nas
funções da Tesouraria
pelo seu velho
companheiro F. A. Xavier
Pinheiro, mas a revista
“Reformador“ continuou
ainda na Rua da Carioca,
120.
Em 1903, devido a uma
tuberculose, Elias
desencarnou
De volta ao Rio de
Janeiro, Elias da Silva
voltou a ocupar o cargo
de tesoureiro, nas
eleições de 2-3-1888,
mas foi esse o último
ano em que exerceu
funções diretas na
Diretoria, por sua
própria deliberação, o
que não impediu que
continuasse a frequentar
as sessões da FEB, ombro
a ombro com os antigos
companheiros de lides
doutrinárias, com eles
estudando um sem-número
de questões e problemas
relacionados a pontos de
Doutrina e à orientação
geral do Espiritismo em
nossa terra, além de
propagar da tribuna os
princípios espiríticos.
Em face disso, pode-se
dizer que, quase até o
fim de sua existência, a
Federação Espírita
Brasileira foi para
Elias da Silva seu
segundo lar, lar a que
dedicou todo o seu amor
e seu trabalho.
Algum tempo depois,
minado seu organismo
pela tuberculose
pulmonar (4),
aguardou ele sobre uma
cama a hora em que
passaria deste para o
outro mundo, o que se
deu no dia 18 de
dezembro de 1903.
A diretoria da Sociedade
Propagadora das Belas
Artes, ao ser
cientificada, em 1903,
do falecimento de Elias
da Silva, que na ocasião
era membro do seu
Conselho Fiscal, mandou
cerrar as portas do
edifício e hastear, em
luto, o seu pavilhão,
decidindo ainda tomar
parte em todas as
manifestações fúnebres
que se realizassem.
A imprensa, ao noticiar
o falecimento, referiu,
entre outros trechos
elogiosos: "Era um bom
homem, como
habitualmente se costuma
dizer, esse ativo
trabalhador, cuja morte,
sem dúvida, causou
grande pesar a todos
quantos lhe conheceram
os dotes de coração."
(5)
Notas:
[1] Segundo a Guia de
óbito da Santa Casa da
Misericórdia e o Livro
de Registro do Cemitério
de S, Francisco Xavier,
Elias da Silva faleceu
aos 55 anos de idade em
18/12/1903, o que dá
para o seu nascimento o
ano de 1848.
[2] Nessa mesma data
desencarnava, em Paris,
a professora Amélie
Boudet, viúva do grande
missionário Allan
Kardec.
[3] “Reformador” de
1924, pág. 497.
[4] A tuberculose foi a
causa do falecimento,
segundo a Guia de óbito
da Santa Casa da
Misericórdia.
[5] Jornal do Brasil de
19 de dezembro de 1903.
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