Cativar
“[...] –
Eu não
posso
brincar
contigo
– disse
a
raposa.
– Não me
cativaram
ainda.
– [...]
Que quer
dizer
‘cativar?’.
[...] –
É algo
quase
esquecido
– disse
a
raposa.
–
Significa
‘criar
laços’...
[...] –
Que é
preciso
fazer? –
perguntou
o
pequeno
príncipe.
– É
preciso
ser
paciente
–
respondeu
a
raposa.
– Tu te
sentarás
um pouco
longe de
mim,
assim,
na
relva.
Eu te
olharei
com o
canto do
olho e
tu não
dirás
nada. A
linguagem
é uma
fonte de
mal-entendidos.
Mas,
cada
dia, te
sentarás
mais
perto...”
[...]
(Trecho
do
diálogo
entre a
raposa e
o
Pequeno
Príncipe.
In:
SAINT-EXUPÉRY,
Antoine
de. O
pequeno
príncipe.
48. ed.
Rio de
Janeiro:
Agir,
2009, p.
64-67.
Tradução
de Dom
Marcos
Barbosa.)
Na
parábola
de “O
Pequeno
Príncipe”
(Capítulo
XXI), de
Antoine
de
Saint-Exupéry,
o
menininho
se
aproxima
devagar,
percebido
é por
ela – a
senhora
raposa.
Faceiramente,
munida
de
experiências
marcantes
da sua
vida,
ela se
esconde,
tem medo
de ser
caçada.
Mais
passos
são
percebidos
e os
olhos da
tal
senhora
estão
ligados
naquela
criatura
que se
aproxima.
O menino
percebe
também
um
movimento
e
questiona
quem
seja.
Assim
começa o
diálogo
–
estrutura
de
comunicação
necessária
ao
estabelecimento
de
relações.
Em
passos
lentos,
entre a
necessidade
de se
esconder
e de se
mostrar,
a
permissão
ao
contato
acontece.
Um olhar
curioso,
um
sorriso
como
sinal de
intimidade
e a
capacidade
de
escolher
começar,
ou seja,
recomeçar,
de um
novo
começo
sobre o
conhecimento
aprendido.
Sempre é
tempo de
experimentar
novas
possibilidades
e novos
olhares.
Foi
assim
que a
raposa
medrosa
permitiu
ao
menino
curioso
se
aproximar.
O medo
dela se
torna o
prazer
de tê-lo
consigo
e a
curiosidade
dele se
torna o
princípio
fundante
para um
novo
olhar
sobre a
vida.
– Tu me
cativas,
menininho?
–
Cativar,
senhorinha?
– Sim,
pois te
esperarei.
Você
virá?
– Sim.
Quero
aprender
a arte
de
brincar
– disse
o
menino.
A
brincadeira
é um
jogo
simbólico
para a
compreensão
da vida.
Uma fala
representada
por
expressões
de uma
liberdade
diferente.
Brincar
de
conquistar,
brincar
de
cativar.
Olhos
brilham
e os
corações
se
tocam. A
respiração
individual
circunda
no mesmo
raio de
espaço,
tornando-se
uma
manifestação
de
relação.
Claro
que
preciso
do
outro.
Do outro
que
também
sou eu.
Do outro
que fui
e do
outro
que
serei.
A
importância
do outro
está
associada
ao ato
de
cativar,
de
aproximar,
de
compartilhar
vivências
e
florescer
afetos.
Uma vez
que o
coração
é tomado
pela
energia
da
presença
de
alguém,
jamais
terá o
mesmo
pulsar.
De
pulinhos,
esconderijos
e
aproximações,
senhora
raposa e
o
menininho
passaram
a se
amar.
Do ato à
vontade
ou será
da
vontade
ao ato?
É
preciso
movimento,
persistência
e a
permissão
do
nascimento
da
vontade
para se
estar
junto a
outrem.
Vontade
é o
combustível
para que
o ato se
torne
realidade.
De ato
em ato,
o amor,
que era
só um
desejo,
um
sonho,
torna-se
palpável,
singular.
Conquistar
é para
as
coisas.
Nós,
seres
humanos,
queremos
é ser
cativados!