– O que o Espiritismo
nos indica quando a
pessoa não se acostuma
com a perda de um ente
querido?
Raul Teixeira:
Quando nós pensamos como
gente grande, nós
sabemos que a morte
física não é privilégio
de ninguém; é uma lei da
natureza pela qual todos
nós passamos. Morrem os
minerais, morrem os
vegetais, morrem os
animais e morremos nós,
os seres humanos, e
morrer para nós
significa sair do corpo
orgânico e não sair da
vida. E se é uma lei
divina, se é uma lei da
natureza, por que razão
nós imaginamos que
somente os parentes dos
outros é que vão morrer
e não os nossos? Por que
a gente vai imaginar que
os outros possam morrer
e nós não? E se é uma
lei, por que é que a
gente entra nesse quadro
de desespero? Quando no
mundo civil as
autoridades criam uma
legislação, elas não
querem saber se os
cidadãos são bem ou mal
informados sobre essa
lei; a lei existe e
passa a vigorar, e se a
gente cometer alguma
atitude que se opõe a
essa lei, essa lei vem e
nos enquadra. Sejamos
nós advogados, ou
sejamos pessoas simples
do campo do interior, se
cometermos aquele
delito, a lei vai e nos
apanha.
Daí então a
desencarnação, a morte,
como quisermos chamar, é
uma lei divina, à qual
todos nós estamos
submetidos. Então, o que
dizer das pessoas que se
rebelam, que se
angustiam diante da
questão da morte? Que
elas estão perdendo um
grande tempo. Ao invés
de vibrar em favor do
ente querido que se foi
para o mundo verdadeiro,
para a casa verdadeira,
para o mundo espiritual,
elas estão se batendo
contra uma lei que elas
não vão conseguir
modificar, porque no
mundo onde nós estamos
morre o miserável da
rua, o mendigo, e morre
o rei, o príncipe, a
rainha... Ninguém escapa
da morte, então por que
é que eu vou entrar
nesse pânico?
É obvio que todos nós,
quando nos despedimos de
um amigo, de um ser
querido que vai viajar,
seja na rodoviária, seja
no aeroporto, nós nos
emocionamos, nós
choramos, mas saímos
dali, o outro foi embora
e a gente engrena a
vida. Ninguém passa 6
meses chorando porque os
filhos foram para os
Estados Unidos. Então,
quando nós vemos nossos
seres queridos viajando
para a imortalidade
também nós choramos,
também nos sentimos
tristes, nós nos
abatemos, mas, passada
essa fase inicial da
separação, temos o dever
moral de retornar à
nossa vida comum, porque
senão estaremos dando
demonstrações de
rebeldia às leis criadas
pelo nosso Criador, e,
afinal de contas, quem
somos nós para dizer a
Deus como é que ele tem
que fazer a nossa vida,
pois isso reflete apego
e rebeldia e essas são
características da
criança, que diz: ”o
boneco é meu!” e ela não
o larga, não o deixa
pra ninguém... O dia que
esse boneco se acaba nós
ficamos enlouquecidos
porque somos crianças,
mas depois que nós
crescemos nós temos a
obrigação de entender
que boneco é feito de
pano, ou de plástico, ou
de tecido e daqui a
pouco ele vai se romper,
ele vai ruir...
Obviamente que nossos
corpos também são de
tecido, eles também vão
ruir, vão se acabar, nós
vamos envelhecendo,
vamos murchando e daqui
a pouco o Espírito não
tem mais como usar esse
corpo, ou as doenças vão
consumindo nossa
vitalidade a tal ponto
que daqui a pouco o ser
espiritual não tem mais
como viver nesse corpo
orgânico e teremos que
sair. Daí o Espiritismo
vem nos ensinar que nos
casos naturais a morte é
o esgotamento dos
órgãos. Quando nós
ouvimos dizer que houve
uma falência múltipla
dos órgãos, o sujeito
morreu, porque é assim
que a vida funciona,
esse fluido vital, essa
vitalidade vai se
consumindo pelo tempo,
pelos nossos trabalhos,
pelo que realizamos. Nós
vamos perdendo essa
vitalidade, basta olhar
o corpo de uma criança,
de um jovem, de um
maduro e de um idoso, a
desvitalizarão aparente
que a gente vai
percebendo. Ora, vai
chegar o dia em que o
ser eterno, o ser
espiritual, não tem mais
como viver nesse corpo,
e aí nós dizemos: “é a
morte”; para o
Espiritismo,
simplesmente
desencarnação. Nós
desencarnamos, saímos da
carne, mas, repito, não
saímos da vida. Para
aqueles que viram os
seus entes queridos
viajando para o mais
além, o Espiritismo traz
essa certeza de que eles
não estão mortos, eles
estão somente
desencarnados, morto
ficou o corpo, como
boneco velho, que já não
pode ser usado pela
criança, de maneira que
vale a pena nós termos
essa visão madura diante
das leis de Deus. Nós
sofremos, sentimos
saudades, choramos,
nenhuma criatura tem no
lugar do coração uma
pedra, mas o bom senso,
a lucidez, a disciplina
moral, nos farão
entender que, como é uma
lei, nenhum de nós
escapa, não há exceções
na lei divina, de
maneira que desencarnar
é o reverso da medalha
do viver. Vida e morte
são verso e reverso de
uma mesma moeda, de uma
mesma medalha.
Extraído de entrevista
concedida à Rádio
Transamérica, de São
Miguel do Oeste, SC, publicada
no site -
http://www.garanhunsespirita.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=714
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