ÂNGELA MORAES
anjeramoraes@hotmail.com
Bauru, São Paulo
(Brasil)
Ninguém pode ver
o Reino de Deus
se não nascer de
novo
“Disse-lhe
Nicodemos: “Como
pode nascer um
homem já velho?
Pode retornar a
entrar no ventre
de sua mãe, para
nascer segunda
vez?
Retorquiu-lhe
Jesus: “Em
verdade, em
verdade,
digo-te: Se um
homem não
renasce da água
e do Espírito,
não pode entrar
no reino de
Deus. O que é
nascido da carne
é carne e o que
é nascido do
Espírito é
Espírito”.
(João, cap.
III.)
Fred aguardava,
na
Espiritualidade,
oportunidade de
voltar a
integrar sua
família
espiritual,
agora imersa na
carne. Ana
Cristina, irmã
muito amada de
Fred de outras
vidas, seria
nesta encarnação
sua mãe, para
que ele pudesse
continuar o
trabalho de
auxílio a ela
iniciado na
vivência
anterior,
ocorrida em
meados do século
XVIII.
Naquela época, a
Europa ainda
revelava
resquícios da
obscuridade e da
violência que as
Cruzadas
impuseram ao
povo,
incentivando-os
à ignorância, em
obediência aos
dogmas da
Igreja. No plano
material, a
extrema pobreza
imperava nas
imediações dos
castelos,
enquanto que
espiritualmente
a grande batalha
dos mentores era
reverter o
desejo de
vingança ainda
muito forte na
cultura geral.
Nesse contexto
foi que cresceu
Ana Cristina,
tendo por irmão
Fred. Órfãos de
mãe e pai com
pouca idade,
foram acolhidos
pela família
vizinha, que
lhes devotava os
cuidados
amorosos de
verdadeiros
pais. Fred, o
mais velho,
passou a
trabalhar no
comércio de seu
pai adotivo
desde cedo,
nutrindo por ele
vivo amor e
gratidão. A
jovem, no
entanto,
Espírito pouco
maduro e
rebelde,
tratava-os com
malcriação e
descaso,
enquanto sua
mente
inteligente
arquitetava
maneiras de
fugir da vida
que considerava
miserável.
Em seus planos
ambiciosos, usou
todas as armas
que tinha a seu
alcance: com sua
beleza, tentara
extorquir jovens
da nobreza em
frias e
calculadas
gestações. Vendo
que os nobres
pouco se
preocupavam,
acabava
provocando o
aborto com chás
e preparados
venenosos, para
então tentar
nova investida
assim que se
recuperasse.
O irmão, Fred,
Espírito mais
experiente e
dócil, de tudo
fazia para
tentar remover
da cabeça da
irmã suas ideias
absurdas e sua
ambição
desmedida,
tentando mostrar
a ela que a vida
simples que
levavam não era
de todo ruim, se
cultivassem o
amor recíproco e
a alegria
doméstica. Mais
que isso, havia
ainda outras
crianças
carentes e
abandonadas na
vila, que eles
poderiam então
ajudar, na vida
adulta. Mas
qual! Alegria
para Ana eram os
bailes da Corte!
Vida era o luxo
da nobreza.
Satisfação era o
poder das
senhoras e do
Clero! Dessa
maneira, Ana
Cristina
intoxicou seu
corpo físico e
astral com os
venenos
abortivos,
enquanto seu
próprio Espírito
se intoxicava de
ilusões,
frustrações e
ódio. Aos
quarenta anos,
foi recolhida
pelo irmão
gravemente
enferma, com
vírus venéreos
infectando todo
o corpo. Cuidada
pacientemente
por ele,
desencarnou
meses depois.
Naquela
vivência, Fred
ainda
desempenhou
trabalho árduo
em favor dos
miseráveis
abandonados de
sua vila, por
quase trinta
anos, vindo a
falecer em idade
avançada.
Durante todo
esse tempo, no
entanto, Ana
errara no
Umbral,
atormentada
pelos Espíritos
que havia
prejudicado,
extorquido e os
assassinados
ainda em seu
ventre. Seu
corpo espiritual
exibia profundas
feridas e denso
material, fluido
viscoso e
escuro, nos
órgãos sexuais,
que sangravam e
exalavam mau
cheiro
constante. Quase
dementada pelas
acusações
constantes e as
dores que sentia
como se fossem
físicas, acabou
socorrida por
Fred, o único
Espírito que
sensibilizava o
seu, já depois
de mais de
quarenta anos se
arrastando pelo
Umbral.
Mas, como Deus é
misericordioso
com todos os
seus filhos, não
houve benfeitor
que não se
comovesse com o
profundo
sofrimento
daquele
Espírito. Ana
foi cuidada em
cidade
espiritual como
filha muito
querida, e pôde
então sentir,
depois de quase
um século, o
amor filial
novamente. Seu
coração, no
entanto, não
conseguia
perdoar o
Criador por
tê-la feito órfã
em tão tenra
idade. Almejava
rever a mãezinha
da Terra.
- Filha –
apresentou o
Espírito
materno, em
oportunidade
bendita – eu e
seu pai também
sofremos muito
por deixar vocês
no mundo. Nós
tornamos nossos
caminhos muito
espinhosos pelas
decisões erradas
que tomamos, e
todos pagamos o
preço – disse,
remetendo-se a
seus débitos
pessoais com a
Providência. Mas
eu só fiquei
realmente mais
tranquila quando
soube que nossos
queridos
vizinhos iriam
tomar conta de
vocês. Que
fizera do amor
deles, minha
joia?
Ana chorou.
Conseguia agora
enxergar a
extensão da sua
ingratidão e do
seu egoísmo.
Relembrou as
figuras que
tentaram lhe
oferecer o amor
perdido e
sentiu-se
envergonhada.
Almejou
pedir-lhes
perdão, e assim
a
espiritualidade
lhe proporcionou
a oportunidade.
Vendo os pais
adotivos, sua
rogativa se fez
de pranto mudo e
sufocante,
aconchegada no
colo daqueles
que fizeram tudo
o que puderam
por ela.
Fred, por sua
vez, estivera ao
lado da irmã em
todos os
momentos, até o
dia em que se
despediram para
novo mergulho na
carne. Ana só
teve coragem de
ir porque sabia
que o irmão a
ajudaria na vida
física, como
valioso filho.
Sentia-se sempre
mais forte tendo
ele por perto,
por isso, agora
Fred aguardava
seu momento de
reencarnar. A
irmã, então
casada e na vida
adulta, tentava
agora a
gravidez.
O que ocorreu,
no entanto, é
que, apesar dos
anos de
recuperação na
cidade
espiritual, os
danos causados
ao perispírito
de Ana, na
região sexual,
não puderam ser
alijados. Era
necessário que
migrassem deste
para o corpo
físico, para que
finalmente o
corpo astral
ficasse livre
daqueles fluidos
deletérios.
Assim foi que,
ao tentar a
gravidez, Ana
descobriu
extrema
fragilidade nos
órgãos
reprodutores.
Sofreu dois
abortos
espontâneos,
para desespero
daquela alma que
começava a
desejar
profundamente
ser mãe, de
verdade, sem
interesse
material.
Entendeu-se, por
fim,
impossibilitada
de engravidar. O
marido,
simpático àquele
Espírito frágil,
aceitou a
sugestão mental
da
espiritualidade:
- Querida, já
pensou em
adotarmos?
E assim foi que
Fred voltou ao
convívio da
irmã, na forma
de precioso,
amoroso e muito
querido filho
adotivo. Ana
pôde verificar,
enfim, na
própria pele,
que o amor vai
muito além do
corpo físico,
conforme Jesus
havia dito: “O
que é nascido da
carne é carne e
o que é nascido
do Espírito é
Espírito”.