A Revue Spirite
de 1868
Allan Kardec
(Parte
8)
Continuamos a apresentar
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1868. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Existe mediunidade ao
abrigo dos maus
Espíritos?
Segundo Kardec, não
existe. E inexiste
também um processo
material capaz de os
afastar. O melhor meio,
o único preservativo
está no indivíduo mesmo,
pois é por sua depuração
que se pode afastar os
maus Espíritos, do mesmo
modo que pela limpeza do
corpo a pessoa se
preserva contra os
insetos nocivos.
(Revue Spirite de 1868,
pág. 249.)
B. São Francisco Xavier
alguma vez se referiu à
reencarnação?
Conforme uma história
contada pelo Padre
Bouhours, sim. Segundo
ele, Francisco Xavier,
então missionário no
Japão, manteve certa vez
contato com um bonzo
japonês chamado
Tucarondono. O bonzo,
que recordava com
clareza suas existências
passadas, perguntou a
Francisco se ele o
reconhecia. Ele disse
que jamais o havia
visto. Rindo muito, o
bonzo explicou-lhe então
que 15 séculos atrás
eram ambos negociantes
em Frénasona, dando-lhe,
em seguida, uma lição
sobre as vidas
sucessivas.
(Obra citada, pp. 249 a
251.)
C. Que significa a
expressão alma da
Terra?
Como a Terra não tem,
como os homens, uma
alma, a expressão
alma da Terra não é
exata, embora usada por
alguns Espíritos. Por
alma da Terra, diz
Kardec, deve-se entender
a coletividade dos
Espíritos encarregados
da elaboração e da
direção de seus
elementos constitutivos,
ou, melhor ainda, o
Espírito ao qual é
confiada a alta direção
dos destinos morais e do
progresso de seus
habitantes. Esse
Espírito não está nela
encarnado; ele é o
chefe, preposto à sua
direção, como um general
é preposto à condução de
um exército.
(Obra citada, pp. 259 e
260.)
Texto para leitura
98. Segundo o Duque de
Saint-Simon, na casa do
Duque de Orléans a
mediunidade de vidência
pelo copo d’água já era
conhecida em 1706. Um
homem – provavelmente o
sensitivo – dizia algo
baixinho sobre o copo
cheio d’água e logo as
pessoas ali viam
imagens. Para
certificar-se da
veracidade da vidência,
o Duque ordenou a um de
seus servidores que
fosse imediatamente à
casa da Sra. Nancré e
ali examinasse quem
estava, o que faziam, a
posição e o mobiliário
da sala e a situação de
tudo quanto lá se
passava e depois, sem
perder um instante, vir
dizer-lhe ao ouvido. Em
seguida, viu-se no copo
a reprodução exata do
que o servidor
descrevera. (Págs.
244 a 246.)
99. Comentando o
assunto, Kardec menciona
outro fato, ocorrido 15
anos antes, numa época e
numa região da Espanha
onde o Espiritismo era
desconhecido. Nesse
caso, algumas pessoas
podiam ver imagens numa
garrafa de cristal cheia
d’água. Em Palermo
(Sicília), a filha de um
dos assinantes da
Revue que estivera
recentemente em Paris,
ao ler no número de
junho o artigo sobre a
vidência pelo copo d’água,
quis experimentar ver
seu pai. Não o viu, mas
pôde ver várias ruas
que, pela descrição
feita a seu pai, este
facilmente reconheceu
como sendo as ruas por
onde ele andara na
capital francesa. Por
que ela viu as ruas e
não o pai? Os Espíritos
disseram a Kardec que as
coisas se passaram assim
para lhe dar uma prova
irrecusável de que em
nada a imaginação havia
entrado no caso.
(Págs. 247 e 248.)
100. Com ou sem água,
observa Kardec, tanto o
copo quanto a garrafa de
cristal evidentemente
representam, nesse
fenômeno, o papel de
agentes hipnóticos.
A concentração da
visão e do pensamento em
um ponto provocam um
maior ou menor
desprendimento da alma
e, por conseguinte, o
desenvolvimento da visão
psíquica.
(Consulte-se a respeito
a Revue de
janeiro de 1860, págs. 6
a 11: relações entre o
magnetismo e o
hipnotismo.) (Págs. 248
e 249.)
101. Concluindo, lembra
o Codificador que o copo
d’água não é uma
garantia contra a
imisção dos maus
Espíritos, pois a
experiência já provou
que os Espíritos
mal-intencionados se
servem desse meio como
de outros para induzir
as pessoas em erro e
abusar de sua
credulidade. “Não há –
explica Kardec –
mediunidade ao abrigo
dos maus Espíritos, e
não existe nenhum
processo material para
os afastar. O melhor, o
único preservativo está
em si próprio; é por sua
própria depuração que se
pode afastá-los, como
pela limpeza do corpo se
preserva contra os
insetos nocivos.”
(Pág. 249.)
102. Na história de São
Francisco Xavier,
contada pelo Padre
Bouhours, existe uma
curiosa passagem que
reproduz um diálogo
travado por Francisco
Xavier, então
missionário no Japão, e
um bonzo japonês chamado
Tucarondono. O bonzo,
que recordava com
clareza suas existências
passadas, perguntou a
Francisco Xavier se ele
o reconhecia. Este disse
que jamais o havia
visto. Rindo muito, o
bonzo explicou-lhe então
que 15 séculos atrás
eram ambos negociantes
em Frénasona, dando-lhe,
em seguida, uma lição
sobre as vidas
sucessivas. Como é
improvável que São
Francisco Xavier tivesse
inventado essa história,
o fato mostra que a
doutrina da reencarnação
era conhecida no Japão
naquela época, em
condições parecidas às
que são hoje ensinadas
pelos Espíritos.
(Págs. 249 a 251.)
103. O jornal La
Mahouna, de Guelma
(Argélia), publicou no
dia 26 de junho carta
enviada pelo Sr. Jules
Monico em que este
protesta contra crítica
aos espíritas veiculada
no Indépendant,
de Constantina. Na
carta, diz o missivista
que o Espiritismo sucede
aos feiticeiros como a
astronomia sucedeu aos
astrólogos, ou seja, ele
vem destruir os erros
dos feiticeiros e
revelar uma ciência nova
à humanidade. Afirmando
que o Espiritismo tem
por inimigos apenas os
que não o estudaram, o
Sr. Monico diz que a
opinião espírita na
França era representada
por cinco revistas ou
jornais, assim como na
Inglaterra, na Alemanha,
na Itália, na Rússia e
até nos Estados Unidos
da América, por
numerosos jornais ou
revistas, e os adeptos
do Espiritismo ali se
contavam por milhões de
pessoas. (Págs. 251 a
253.)
104. Nascido a 15 de
fevereiro, continuava
com sucesso o curso de
sua publicação o jornal
O Espiritismo em
Lyon, que podia
agora ser vendido na via
pública, graças à
autorização que lhe fora
concedida pelo Sr.
senador prefeito do
Ródano. (Págs. 253 e
254.)
105. Tendo Kardec
escrito em seu livro
A Gênese que o globo
terrestre, em sua
origem, não continha um
átomo a mais nem a menos
do que hoje, um
correspondente da
Revue em Sens
suscitou uma dúvida
sobre essa assertiva, o
que obrigou o
Codificador a escrever o
artigo intitulado
Aumento e diminuição do
volume da Terra, que
abre o número de
setembro da Revue.
No artigo, Kardec admite
que possam ocorrer
modificações no volume
da Terra, mas não em sua
massa, ou seja, a massa
do globo – a soma das
moléculas que compõem o
conjunto de suas partes
sólidas, líquidas e
gasosas – é
incontestavelmente a
mesma desde a sua
origem. (Págs. 255 e
256.)
106. O artigo é
complementado por uma
comunicação assinada
pelo Espírito de
Galileu, transmitida na
Sociedade Espírita de
Paris em julho de 1868,
na qual o eminente
Espírito trata do
assunto e afirma que, em
sua opinião, a
existência dos mundos
pode dividir-se em três
períodos. No primeiro,
verifica-se a
condensação da matéria;
o volume do globo
diminui, mas a massa
continua a mesma; é o
período da infância. No
segundo período, há a
contração, a
solidificação da crosta,
o surgimento dos germes
e o desenvolvimento da
vida até o aparecimento
do tipo mais
perfectível. É a idade
da virilidade; o globo
está em toda a sua
plenitude e perde, mas
muito pouco, seus
elementos constitutivos.
À medida que seus
habitantes progridem
espiritualmente, o
planeta passa ao período
de diminuição material.
Essa perda se dá não
apenas por causa do
atrito, mas também pela
desagregação das
moléculas, como uma
pedra dura que,
consumida pelo tempo,
acaba por virar poeira.
Em seu duplo movimento
de rotação e de
translação, o globo
deixa no espaço parcelas
fluidificadas de sua
substância, até o
momento em que sua
destruição for completa.
Dessa forma, nascimento,
vida e morte; infância,
virilidade e
decrepitude, tais são as
fases pelas quais passa
toda aglomeração de
matéria orgânica ou
inorgânica. “Só o
espírito, que não é
matéria, é
indestrutível.”(Págs.
257 e 258.)
107. A Terra não tem,
como os homens, uma
alma, de modo que a
expressão alma da
Terra não é exata.
Esse assunto é comentado
por Kardec em um artigo
em que o Codificador faz
várias observações
importantes: I –
Admitido que o princípio
da vida tenha sua fonte
no movimento molecular,
não se poderá contestar
que seja ainda mais
rudimentar no mineral do
que na planta. II – O
desenvolvimento orgânico
está sempre em relação
com o desenvolvimento do
princípio inteligente. O
organismo se completa à
medida que se
multiplicam as
faculdades da alma. III
– A escala orgânica
segue sempre, em todos
os seres, a progressão
da inteligência, desde o
pólipo até o homem; e
não poderia ser
diferente, desde que à
alma é necessário um
instrumento apropriado à
importância das funções
que deve desempenhar. De
que serviria à ostra ter
a inteligência do
macaco, sem os órgãos
necessários à sua
manifestação? IV – Por
alma da Terra
pode entender-se, mais
racionalmente, a
coletividade dos
Espíritos encarregados
da elaboração e da
direção de seus
elementos constitutivos,
ou, melhor ainda, o
Espírito ao qual é
confiada a alta direção
dos destinos morais e do
progresso de seus
habitantes. V – Esse
Espírito não está nela
encarnado; ele é o
chefe, preposto à sua
direção, como um general
é preposto à condução de
um exército. (Págs.
259 e 260.)
(Continua no próximo
número.)