Além da noite
José Félix Alves Pacheco
Dos corações clamando
agonia e desterro,
Desce o orvalho do
pranto em fel de
desventura...
A saudade a chorar dita
a rota do enterro,
Mas o túmulo em si é
breve noite escura...
A alma, divino sol no
corpo – escrínio perro
(1)
–
Joia viva a brilhar além
da sepultura,
Lucila a esmorecer, sob
as tênebras
(2)
do erro,
Ou cresce a refulgir, se
ascende bela e pura.
Onde vá, todo ser
caminha lado a lado
Da luz cantando sempre o
amor profundo e ardente
Ou da sombra transfeita
em pavoroso mito;
A deixar cada dia o
crisol do passado,
Vai e vem, a sofrer, no
esmeril do presente,
Para estampar-se, enfim,
nos troféus do Infinito!
(1) Perro:
Adj. Difícil de abrir e
fechar; emperrado;
resistente: portão
perro. Fig. Obstinado,
teimoso, pertinaz.
(2)
Tênebras:
S.f. Trevas.
Jornalista emérito,
historiador, ensaísta,
deputado federal,
senador e Ministro das
Relações Exteriores do
Brasil, José Félix Alves
Pacheco, que pertenceu a
inúmeras associações e
ocupou a cadeira n° 16
da Academia Brasileira
de Letras, nasceu em
Teresina, Piauí, em 2 de
agosto de 1879 e faleceu
no Rio de Janeiro, RJ,
em 6 de dezembro de
1935. O soneto acima
integra o livro
Antologia dos Imortais,
psicografia de Francisco
Cândido Xavier e Waldo
Vieira.
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