VALCI SILVA
valcipsi@terra.com.br
Tupã, São Paulo
(Brasil)
Saudades de
Jesus
Em se tratando
do querido
Francisco
Cândido Xavier,
relativo a
tantos episódios
narrados por
interlocutores
que com ele
conviveram e
puderam se
deleitar com sua
doce presença e
momentos felizes
e alegres, há um
destes, que é
narrado pelo
confrade Adelino
da Silveira.
Narra ele que se
encontravam na
residência de
Chico Xavier
numa daquelas
fases em que seu
estado de saúde
não lhe permitia
deslocar-se até
o Centro... No
entanto uma
multidão se
comprimia lá na
rua em frente,
quando o portão
se abriu, a fila
de pessoas tinha
alguns
quarteirões.
Como de hábito,
foram passando
uma a uma em
frente ao Chico.
Eram pessoas de
todas as idades,
de todas as
condições
sociais e dos
mais distantes
lugares do País.
Algumas diziam:
- Eu só queria
tocá-lo...
- Meu maior
sonho era
conhecê-lo...
- Só queria
ouvir sua voz e
apertar sua mão.
Muitos queriam
notícias de
familiares
desencarnados,
espantarem uma
idéia de
suicídio. Outros
nada diziam e
nada pediam, só
conseguiam
chorar.
Bastava uma
simples palavra
do Chico, seus
semblantes se
transfiguravam,
saíam
sorridentes.
Adelino da
Silveira, diante
do cortejo
inigualável, e
especialmente
pela maneira
como Chico
atendia a todos
ficou a pensar:
"Meu Deus, a
aura do Chico é
tão boa... Seu
magnetismo é tão
grande, que
parece que
pulveriza nossas
dores e ameniza
nossas
ansiedades".
Instantaneamente
a este
pensamento Chico
se dirige ao
confrade e lhe
diz: – Comove-me
a bondade de
nossa gente em
vir visitar-me.
Não tenho mais
nada para dar.
Estou quase
morto. Por que
você acha que
eles vêm?
A pergunta
inesperada
deixa-o perplexo
e
momentaneamente
emudecido e
pensando: Meu
Deus, frente a
um homem desses,
a gente não pode
mentir nem dizer
qualquer coisa
que possa vir
ofender a sua
humildade
(embora ele
sempre diga que
nunca se
considerou
humilde) e, logo
recobrado do
estupor, diz ao
Chico: “Quando
Jesus esteve
conosco, onde
quer que
aparecesse, a
multidão o
cercava. Eram
pessoas de todas
as idades, de
todas as classes
sociais e dos
mais distantes
lugares. Muitos
iam esperá-lo
nas estradas,
nas aldeias ou
nas casas onde
Ele se
hospedava. Onde
quer que
aparecesse, uma
multidão o
cercava. Tanto
que Pedro lhe
disse certa vez:
‘Bem vês que a
multidão te
comprime’.
Zaqueu chegou a
subir numa
árvore somente
para vê-lo. Ver,
tocar, ouvir era
só o que queriam
as pessoas. Tudo
isso passou pela
minha cabeça com
a rapidez de um
relâmpago. E
como ele
continuava
olhando para
mim, concluí o
raciocínio
dizendo-lhe:
Acho que eles
estão com
saudades de
Jesus”.
Conta Adelino
que estas
palavras foram
tiradas do fundo
do seu coração
diante de um
homem tão doce e
amável que era,
pois acreditava
que elas não
ofenderiam a sua
modéstia.
Enquanto isso a
multidão
continuava
desfilando à
frente dele e
todos lhe
beijavam a mão e
ele beijava a
mão de todos. Lá
pelas tantas da
noite, quando a
fila havia
diminuído
sensivelmente, o
confrade Adelino
percebe que os
lábios de Chico
estavam
sangrando, pois
ele havia
beijado a mão de
centenas de
pessoas. Adelino
da Silveira fica
com tanta pena
daquele homem,
que já contava
com oitenta e
oito anos, mais
de setenta
dedicados ao
atendimento de
pessoas, e lhe
pergunta: Chico,
por que você
beija a mão
deles?
A resposta que
recebeu o deixou
ainda mais
estupefato e
admirando-o mais
do que nunca,
pois declara que
a resposta
marcou sua alma
para a
eternidade: -
Porque não posso
me curvar para
beijar-lhes os
pés.