Questões preliminares
A. Como Kardec via a
disseminação do
materialismo no Velho
Mundo?
Segundo Kardec, o
materialismo era uma consequência da época de
transição por que o
planeta passava. Não era
bem um progresso, mas um
instrumento de
progresso, e
desapareceria, provando
a sua insuficiência para
a manutenção da ordem
social e para a
satisfação dos espíritos
sérios. A humanidade,
que necessita crer no
futuro, jamais se
contentaria com o vazio
que o materialismo deixa
após si e procuraria
algo de melhor para o
combater.
(Revue Spirite de 1868,
pág. 307.)
B. A transformação da Terra e sua elevação na hierarquia dos mundos
fazem parte das leis da
Natureza?
Sim. Em face disso, quando se diz que a
humanidade chegou a um
período de transformação
e que a Terra deve
elevar-se na hierarquia
dos mundos, não se deve
ver nessas palavras nada
de místico, mas, ao
contrário, a realização
de uma das grandes leis
fatais do Universo,
contra as quais é
impotente toda a má
vontade humana. A
humanidade já se
transformou em outras
épocas, e cada
transformação é marcada
por uma crise que é,
para o gênero humano, o
que são as crises da
crescimento para os
indivíduos.
(Obra citada, pág. 309 a 314.)
C. Como entender os
chamados flagelos
naturais?
Diz Kardec que a cada dia entramos no período
transitório que deve
trazer a transformação
orgânica da Terra e a
regeneração de seus
habitantes. Os flagelos
são instrumentos de que
se serve o grande
cirurgião do Universo,
para extirpar do mundo,
destinado a marchar para
a frente, os elementos
gangrenados que nele
provocam desordens
incompatíveis com o seu
novo estado. Cada órgão
desse corpo doente,
melhor dizendo, cada
região do planeta será,
passo a passo, batida
por flagelos diversos.
Aqui, a epidemia; ali, a
guerra: acolá, a fome.
Algumas regiões já foram
provadas, mas seus
habitantes estariam em
completo erro se se
fiassem na era de calma
que sucede à tempestade,
para recair nos seus
antigos erros.
(Obra citada, pp. 322 a
325.)
Texto para leitura
130. A Revue
reproduz carta publicada
no Fígaro na qual
o Sr. A. Regnard faz uma
autêntica profissão de
fé no materialismo, uma
corrente de ideias que
crescia e revelava uma
intolerância
inimaginável típica da
Igreja de tempos atrás.
Os excessos que eles
cometiam tinham,
contudo, a sua utilidade
e sua razão de ser:
amedrontavam a
sociedade, e o bem
sempre sai do mal. É
preciso, diz Kardec, o
excesso do mal para se
sentir a necessidade de
coisa melhor, sem o que
o homem não sairia de
sua inércia. (Págs.
306 e 307.)
131. A causa primeira do
desenvolvimento da
incredulidade estava,
diz Kardec, na
insuficiência das
crenças religiosas e na
sua imobilidade. Se, em
lugar de ficar para
trás, as religiões
tivessem seguido o
movimento progressivo do
espírito humano,
mantendo-se sempre no
nível da ciência, a fé,
em vez de se extinguir,
teria crescido com a
razão, porque é uma
necessidade para a
humanidade. Não se
teria, então, aberto a
porta à incredulidade
que vinha sapar o que
delas restava. As
religiões colhiam, desse
modo, o que haviam
semeado. (Pág. 307.)
132. O materialismo era,
segundo Kardec, uma
consequência da época de
transição por que o
planeta passava. Não era
bem um progresso, mas um
instrumento de
progresso, e
desapareceria, provando
a sua insuficiência para
a manutenção da ordem
social e para a
satisfação dos espíritos
sérios. A humanidade,
que necessita crer no
futuro, jamais se
contentaria com o vazio
que o materialismo deixa
após si e procuraria
algo de melhor para o
combater. (Pág. 307.)
133. Em carta publicada
pela Petite Presse,
a 20 de setembro de
1868, o Sr. Ponson du
Terrail, que tempos
atrás havia criticado o
Espiritismo, declarou
publicamente sua
convicção de ter vivido
anteriormente, ao tempo
da Liga, sob o governo
de Henrique III e
Henrique IV. Kardec,
comentando o caso, disse
que o conhecido escritor
talvez não soubesse que
a reencarnação é um dos
princípios fundamentais
da doutrina que outrora
ele ridicularizara.
(Págs. 308 e 309.)
134. Duas comunicações
recebidas na Sociedade
Espírita de Paris,
assinadas pelos
Espíritos de Arago e do
doutor Barry, em
resposta a uma consulta
feita pelo Dr. Ignácio
Pereira, médico e
fundador do Instituto
Homeopático dos Estados
Unidos da Colômbia,
examinam a questão da
influência dos planetas
nas perturbações físicas
que se verificam em
nosso globo. Eis, de
forma resumida, os
ensinamentos contidos
nas referidas mensagens:
I – Não há na natureza
um único fenômeno que
não seja regulado pelas
leis universais que
regem a criação. Os
fenômenos estão, desse
modo, sujeitos a uma lei
de periodicidade, que
provoca o seu retorno em
certas épocas, nas
mesmas condições, ou
seguindo, quanto à
intensidade, uma lei de
progressão geométrica
crescente ou
decrescente, porém
contínua. II – Nenhum
cataclismo pode nascer
espontaneamente e, se
seus efeitos parecem
tal, as causas que o
provocam são postas em
ação desde um tempo mais
ou menos longo. III –
Cada corpo celeste, além
dos movimentos
conhecidos que definem o
dia, a noite e as
estações, sofre
revoluções que demandam
milhares de séculos para
a sua perfeita
realização. IV – Num
mesmo sistema
planetário, todos os
corpos que dele dependem
reagem uns sobre os
outros; as influências
físicas são aí
solidárias, e não há um
só dos efeitos que não
seja a consequência das
influências de todo esse
sistema. V – Os sistemas
planetários reagem
também uns sobre os
outros, como as
nebulosas reagem sobre
as nebulosas e os
planetas reagem sobre os
planetas. VI – A
efervescência que por
vezes se manifesta numa
população, entre os
homens de uma mesma
raça, não é uma coisa
fortuita, nem resultado
de um capricho. Ela tem
sua causa nas leis da
natureza. VII – Assim,
quando se diz que a
humanidade chegou a um
período de transformação
e que a Terra deve
elevar-se na hierarquia
dos mundos, não se deve
ver nessas palavras nada
de místico, mas, ao
contrário, a realização
de uma das grandes leis
fatais do Universo,
contra as quais é
impotente toda a má
vontade humana. VIII – A
humanidade já se
transformou em outras
épocas, e cada
transformação é marcada
por uma crise que é,
para o gênero humano, o
que são as crises da
crescimento para os
indivíduos. IX – Uma
coisa que parecerá
estranho, mas que é
rigorosamente
verdadeiro, é que o
mundo dos Espíritos
sofre o contragolpe de
todas as comoções que
agitam o mundo dos
encarnados, ou melhor,
ele toma aí uma parte
ativa. Quando uma
revolução social se
realiza na Terra, ela
abala igualmente o mundo
invisível. X – O período
da transformação
anunciada se iniciou. É
nesse período que se
verá florescer o
Espiritismo, que dará
então os frutos que dele
se esperam. É, pois,
para o futuro, mais que
para o presente, que
trabalhamos; mas era
preciso que esses
trabalhos fossem
elaborados previamente,
porque preparam as vias
da regeneração pela
unificação e a
racionalidade das
crenças. (Págs. 309 a
314.)
135. A Revue
reproduz notícia
divulgada pelo Écho
de Fourvière, a
respeito do exemplo de
verdadeira caridade
praticada por um pobre
homem, o Sr. Ginet, que
recolheu na própria casa
uma mendiga coberta de
chagas infectas que,
tomada de um
enfraquecimento súbito,
teria sucumbido na rua,
não fosse a ajuda
recebida. Se o Sr. Ginet
era espírita, não se
sabe, mas seu ato, sim,
foi um ato genuinamente
espírita, visto que a
caridade é a suprema lei
do Espiritismo, que,
segundo palavras
textuais de Kardec, “não
reivindica em seu
proveito a ação desse
homem, mas se glorifica
de professar os
princípios que o levaram
a praticá-la”.
Encerrando a nota, o
Codificador do
Espiritismo lamenta que
os jornais tenham menos
interesse em divulgar as
boas ações do que os
crimes e os escândalos.
Como o exemplo é
contagioso, por que não
pôr antes aos olhos das
massas o exemplo do bem
que o do mal? (Págs.
314 a 316.)
136. Ch. Pereyra, de São Petersburgo, relata um
curioso fato que se
passou com um velho
general húngaro, muito
conhecido por sua
coragem e que, no
entanto, tremeu de medo
ao verificar que o
castelo por ele
adquirido era,
efetivamente, assombrado
por Espíritos, como o
seu intendente avisara.
Sozinho na biblioteca do
castelo, o general ouve
um ruído no salão. Em
seguida, o ruído redobra
e é acompanhado do
movimento de uma gaveta
de uma cômoda, que se
abriu. Convencido de que
eram ladrões que estavam
na casa, ele chamou o
enorme cão que o
acompanhava. O cachorro
se aproximou, mas pôs-se
a tremer, voltando para
o canapé onde dormia. O
general também começou a
tremer e se ocultou na
biblioteca. Mais tarde,
confessou: “Eu não tive
medo senão duas vezes:
há dezoito anos, quando,
no campo de batalha, uma
bomba estourou aos meus
pés; a segunda, quando
vi o medo apoderar-se de
meu cão”. (Págs. 316
e 317.)
137. Na seção de livros,
a Revue noticia a
publicação da
Correspondência de
Lavater com a Imperatriz
Maria da Rússia, uma
iniciativa da Livraria
Internacional, tendo em
vista o interesse que a
divulgação das cartas
pela Revue havia
despertado na França.
(Pág. 318.)
138. O número de
novembro da Revue
transcreve duas cartas
enviadas por confrades
residentes na Ilha
Maurícia (antiga Ilha de
França), onde nos
últimos dois anos
ocorrera uma epidemia
tão séria que devastou a
região e vitimou
sessenta mil pessoas. A
maior parte dos membros
do grupo espírita de
Port-Louis, que
funcionava tão bem,
foram atingidos pela
moléstia e, por causa
disso, as reuniões foram
suspensas. (Págs. 319
e 320.)
139. A moléstia que se
abateu sobre a população
da Ilha tomou múltiplas
formas, o que fez com
que os médicos jamais
chegassem a um acordo.
Somente o jovem Dr.
Labonté conseguiu de
certo modo definir a
moléstia, que, depois de
tantos estragos, parecia
estar chegando ao seu
término, quase dois anos
depois que os habitantes
da Ilha assistiram a uma
impressionante chuva de
estrelas cadentes caída
na noite de 13 para 14
de novembro de 1866. As
estrelas cadentes foram
tão numerosas que
fizeram tremer e
impressionaram os que as
observaram. O espetáculo
ficará para sempre
gravado na memória
daquele povo, porque foi
precisamente depois do
fato que a moléstia
tomou um caráter
aflitivo, tornando-se
geral e mortal.
(Págs. 320 e 321.)
140. Depois de breves
comentários de Kardec, a
Revue reproduz
duas comunicações
recebidas na Sociedade
Espírita de Paris, onde
as cartas foram lidas.
Firmadas pelos Espíritos
de Clélie Duplantier e
do doutor Demeure, as
mensagens esclarecem
pontos importantes
relacionados com a
epidemia que acometeu a
Ilha Maurícia e os
flagelos em geral. Eis,
de forma resumida, o que
dizem as mencionadas
comunicações: I – As
crises e os flagelos que
dizimam passo a passo as
diferentes regiões do
globo não ocorrem por
acaso; são eles a
consequência das
influências dos mundos e
dos elementos.
Preparadas de longa
data, sua causa é, por
conseguinte,
perfeitamente normal. II
– A saúde é o resultado
do equilíbrio das forças
naturais. Se uma doença
epidêmica devasta
qualquer parte, não pode
ser senão a consequência
de uma ruptura desse
equilíbrio. III – Os
meteoros conhecidos pelo
nome de estrelas
cadentes são compostos
de elementos materiais,
como tudo o que cai sob
os nossos sentidos; não
aparecem senão graças à
fosforescência desses
elementos em combustão e
cuja natureza especial
por vezes desenvolve no
ar respirável
influências deletérias e
morbíficas. IV – As
estrelas cadentes eram,
para a Ilha Maurícia,
não o presságio, mas a
causa secundária do
flagelo. V – Os que
sobreviveram, em
contacto forçado com os
doentes e os
agonizantes, foram
testemunhas de cenas que
a princípio não
perceberam, mas cuja
lembrança lhes voltará
mais tarde. VI – Os
casos de aparição, de
comunicação com os
mortos e as previsões
têm sido ali muito
comuns. Apaziguado o
desastre, a memória
desses fatos surgirá e
provocará reflexões que,
pouco a pouco, levarão
muitos a aceitar nossas
crenças. VII – Maurícia
vai renascer! O ano novo
verá extinguir-se o
flagelo de que foi
vítima, não por efeito
dos remédios, mas porque
a causa terá produzido o
seu efeito, enquanto
outras regiões sofrerão,
por sua vez, o ataque de
um mal da mesma ou de
qualquer outra natureza,
determinando os mesmos
desastres e conduzindo
aos mesmos resultados.
VIII – Uma epidemia
universal teria semeado
o espanto da humanidade
inteira e detido por
muito tempo a marcha do
progresso. Uma epidemia
restrita, atacando passo
a passo e sob múltiplas
formas cada centro de
civilização, produz os
mesmos efeitos salutares
e regeneradores. IX – Os
que morrem são feridos
de impotência, mas os
que veem a morte à sua
porta buscam novos meios
de a combater. Quando
todos os meios materiais
estiverem esgotados,
cada um será
constrangido a pedir a
salvação aos meios
espirituais. X – Esses
flagelos, para o
materialista, trazem
apenas a morte horrível
e o nada em
consequência; para o
espiritualista e, em
particular, para o
espírita, pouco importa
o que pode acontecer,
porquanto, se escapar do
perigo, a prova o
encontrará inabalável, e
se morrer, o que conhece
da outra vida fá-lo-á
encarar a passagem sem
medo. XI – É preciso
que, sejam quais forem a
hora e a natureza do
perigo, nos
compenetremos desta
verdade: a morte não é
senão uma palavra vã e
não há nenhum sofrimento
que as forças humanas
não possam dominar. XII
– Cada dia entramos no
período transitório que
deve trazer a
transformação orgânica
da Terra e a regeneração
de seus habitantes. Os
flagelos são
instrumentos de que se
serve o grande cirurgião
do Universo, para
extirpar do mundo,
destinado a marchar para
a frente, os elementos
gangrenados que nele
provocam desordens
incompatíveis com o seu
novo estado. XIII – Cada
órgão desse corpo
doente, melhor dizendo,
cada região do planeta
será, passo a passo,
batida por flagelos
diversos. Aqui, a
epidemia; ali, a guerra:
acolá, a fome. Algumas
regiões já foram
provadas, mas seus
habitantes estariam em
completo erro se se
fiassem na era de calma
que sucede à tempestade,
para recair nos seus
antigos erros. Há um
período de mora, que
lhes é concedido, para
entrarem num caminho
melhor. Se não o
aproveitarem, novas
vicissitudes virão para
trazê-los ao
arrependimento.
(Págs. 322 a 325.)
(Continua no próximo
número.)