A lenda do
dinheiro
Neio
Lúcio
Conta-se que, no
princípio do
mundo, o Senhor
entrou em
dificuldades no
desenvolvimento
da obra
terrestre,
porque os homens
se entregaram a
excessivo
repouso.
Ninguém se
animava a
trabalhar. Terra
solta
amontoava-se
aqui e ali.
Minerais
variados
estendiam-se ao
léu. Águas
estagnadas
apareciam em
toda parte.
O
Divino
Organizador
pretendia erguer
lares e
templos,
educandários e
abrigos
diversos, mas...
com que braços?
Os homens e as
mulheres da
Terra,
convidados ao
suor da
edificação por
amor,
respondiam:
–
“Para quê?“ E
comiam frutos
silvestres,
perseguiam
animais para
devorá-los e
dormiam sob as
grandes árvores.
Após refletir
muito, o Celeste
Governador criou
o dinheiro,
adivinhando que
as criaturas,
presas da
ignorância, se
não sabiam agir
por amor,
operariam por
ambição.
E
assim aconteceu.
Tão logo surgiu
o dinheiro, a
comunidade
fragmentou-se em
pequenas e
grandes facções,
incentivando-se
a produção de
benefícios
gerais e de
valores
imaginativos.
Apareceram
candidatos a
toda espécie de
serviços. O
primeiro deles
pediu ao Senhor
permissão para
fundar uma
grande olaria.
Outro requereu
meios de
pesquisar os
minérios
pesados, de
maneira a
transformá-los
em utensílios.
Certo
trabalhador
suplicou
recursos para
aproveitamento
de grandes áreas
na exploração de
cereais. Outro,
ainda, implorou
empréstimo para
produzir fios,
de modo a
colaborar no
aperfeiçoamento
do vestuário.
Servidores de
várias
procedências
vieram e
solicitaram
auxílio
financeiro
destinado à
criação de
remédios.
O
Senhor a todos
atendeu com
alegria.
Em breve,
olarias e
lavouras, teares
rústicos e
oficinas
rudimentares se
improvisaram
aqui e acolá,
desenvolvendo
progresso amplo
na inteligência
e nas coisas.
Os homens,
ansiosamente
procurando o
dinheiro, a fim
de se tornarem
mais destacados
e poderosos
entre si,
trabalhavam sem
descanso,
produzindo
tijolos,
instrumentos
agrícolas,
máquinas, fios,
óleos, alimento
abundante,
agasalho,
calçados e
inúmeras
invenções de
conforto, e,
assim, a terra
menos proveitosa
foi removida, as
pedras
aproveitadas e
os rios
canalizados
convenientemente
para a
irrigação; os
frutos foram
guardados em
conserva
preciosa;
estradas foram
traçadas de
norte a sul, de
leste a oeste e
as águas
receberam as
primeiras
embarcações.
Toda gente
perseguia o
dinheiro e
guerreava pela
posse dele.
Vendo, então, o
Senhor que os
homens
produziam
vantagens e
prosperidade, no
anseio de posse,
considerou,
satisfeito:
–
Meus filhos da
Terra não
puderam servir
por amor, em
vista da
deficiência que,
por enquanto,
lhes assinala a
posição;
todavia, o
dinheiro
estabelecera
benéficas
competições
entre eles, em
benefício da
obra geral.
Reterão
provisoriamente
os recursos que
me pertencem e,
com a sensação
da propriedade,
improvisarão
todos os
produtos e
materiais de que
o aprimoramento
do mundo
necessita. Esta
é a minha Lei de
Empréstimo que
permanecerá
assentada no
Céu. Cederei
possibilidades a
quantos mo
pedirem, de
acordo com as
exigências do
aproveitamento
comum; todavia,
cada
beneficiário
apresentar-me-á
contas do que
houver
despendido,
porque a Morte
conduzi-los-á,
um a um, à minha
presença. Este
decreto divino
funcionará para
cada pessoa, em
particular, até
que meus filhos,
individualmente,
aprendam a
servir por amor
à felicidade
geral, livres do
grilhão que a
posse institui.
Desde então, a
maioria das
criaturas passou
a trabalhar por
dedicação ao
dinheiro, que é
de propriedade
exclusiva do
Senhor, da
aplicação do
qual cada homem
e cada mulher
prestarão contas
a Ele mais
tarde.
Do cap. 31 do
livro
Alvorada Cristã,
de Neio Lúcio,
obra
psicografada
pelo médium
Francisco
Cândido Xavier.