MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Nos Domínios da
Mediunidade
André Luiz
(Parte
39 e final)
Concluímos nesta edição o
estudo da obra
Nos Domínios da
Mediunidade,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1954 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Que pensar da ideia
de que devemos cultivar
tão-somente o convívio
com os gênios superiores
da Espiritualidade?
Os que assim pensam
sugerem que releguemos
as manifestações
mediúnicas vulgares à
fossa da obsessão e da
enfermidade, isto é, que
as deixemos entregues a
si mesmas. "Isso é
comodismo sob o rótulo
de cultura", afirma
Aulus. "Os gênios
realmente superiores da
Espiritualidade jamais
abandonam os sofredores
e os pequeninos. À
maneira do Sol que
clareia o palácio e a
furna, com o mesmo
silencioso devotamento
auxiliam a todos, em
nome da Providência."
(Nos Domínios da
Mediunidade, cap. 29,
pp. 276 e 277.)
B. O Espiritismo age
erradamente abrigando os
desequilibrados e os
enfermos?
Há quem pense assim
dizendo que, agindo
dessa forma, o
Espiritismo fornece a
impressão de uma
Doutrina que, à força de
ombrear com a loucura
para socorrê-la, vai
convertendo seus templos
de oração em vastos
refúgios de alienados
mentais. "Simples
disparate dos que
desertam do serviço ao
próximo", diz Aulus. "A
Medicina não sofre
qualquer diminuição por
prestar auxílio aos
enfermos." Segundo
Aulus, o nosso escopo é
reviver o Evangelho em
suas bases simples e
puras e que o Senhor não
nos concede o tesouro da
fé apenas para que
possamos orar e falar,
mas também para que
estejamos habilitados a
estender o bem,
começando de nós mesmos.
(Obra citada, cap. 29,
pp. 276 e 277.)
C. Como entender os que
acham que não devemos
interferir nos casos de
mediunidade atormentada?
Segundo André Luiz, os
que dizem isso afirmam
que em todos os
processos da obsessão
funciona, implacável, a
lei de causa e efeito, e
que, por isso, não vale
interferir nesses casos.
"Mera argumentação do
egoísmo bem nutrido",
afirma Aulus. "Isso
seria o mesmo que
abandonar os doentes,
sob o pretexto de que
são devedores perante a
Lei. Todos lutamos por
ressarcir compromissos
do pretérito,
compreendendo que não há
dor sem justificação; e
se sabemos que só o amor
puro e o serviço
incessante são capazes
de garantir-nos a
redenção, uns à frente
dos outros, como
desprezar o companheiro
que sofre, em nome de
princípios a cujo
funcionamento estamos
submetidos por nossa
vez?"
(Obra citada, cap. 29,
pp. 278 e 279.)
Texto para leitura
126. A
sinceridade no bem é que
vale
- De volta ao lar de
Aulus, André
perguntava-se
intimamente por que
motivo existe tanto
embaraço verbalístico
em sucessos comuns a
todos, quando a
simplificação seria bem
mais interessante. Os
metapsiquistas, por
exemplo, chamavam
"criptestesia" à
sensibilidade oculta,
críptica, e batizaram o
conhecimento de fatos
sem o concurso dos
sentidos carnais com a
palavra "metagnomia".
Por que não aplainar
tais dificuldades de
expressão? Afinal –
refletia André –, a
mediunidade interessa,
na essência, à
Humanidade inteira. O
instrutor, observando
tais pensamentos,
considerou: "A
mediunidade,
indubitavelmente, é
patrimônio comum a
todos, entretanto, cada
homem e cada grupo de
homens no mundo
registram-lhe a
evidência a seu modo. De
nossa parte, é possível
abordá-la com a
simplicidade
evangélica, baseados nos
ensinamentos claros do
Mestre, que esteve em
contacto incessante com
as potências invisíveis
ao homem vulgar, curando
obsidiados, levantando
enfermos, conversando
com os grandes
instrutores
materializados no Tabor,
ouvindo os mensageiros
celestiais em Getsêmani
e voltando Ele próprio a
comunicar-se com os
discípulos, depois da
morte na cruz,
entretanto, a ciência
terrestre, por agora,
não pode analisá-la sem
o rigor da
experimentação". Após
ligeira pausa, o
Assistente prosseguiu:
"Não importa que os
aspectos da verdade
recebam vários nomes,
conforme a índole dos
estudiosos. Vale a
sinceridade com que nos
devotamos ao bem. O
laborioso esforço da
Ciência é tão sagrado
quanto o heroísmo da fé.
A inteligência, com a
balança e com a
retorta, também vive
para servir ao Senhor.
Esmerilhando os
fenômenos mediúnicos e
catalogando-os, chegará
ao registro das
vibrações psíquicas,
garantindo a dignidade
da Religião na Era
Nova". André
lembrou-lhe, porém, que
nas próprias correntes
do Espiritualismo vemos
a mediunidade
atormentada pelas mais
diversas interpretações.
Há os que acoimam os
médiuns de insanos e
loucos e propõem a sua
segregação em templos
de iniciação, longe dos
sofredores e dos
ignorantes que deles
precisam... Aulus,
reconhecendo que todo
santuário de iniciação
religiosa, qualquer que
seja, é sempre venerável
como posto avançado de
distribuição da luz
espiritual, asseverou
que os que, dentro dele,
fogem à lei da
cooperação, isolam-se na
torre de marfim do
orgulho que lhes é
próprio e, por isso,
fixam-se em discussões
brilhantes mas estéreis.
"Tais companheiros –
comparou o instrutor –
assemelham-se a
viajantes agrupados em
perigosa ilha de
repouso, enquanto os
nautas corajosos do bem
suam e sofrem na
descoberta de rotas
seguras para o
continente da
fraternidade e da paz.
Descansam sob o
arvoredo, confortados
pela caça abundante e
pela água refrescante,
pesquisando a grandeza
do céu ou filosofando
sem proveito, mas sempre
chega um dia em que a
maré brava lhes invade o
provisório domicílio,
arrebatando-os ao mar
alto, para que recomecem
a experiência que lhes é
necessária." (Cap. 29,
págs. 273 a 276)
127. Nosso objetivo é
reviver o Evangelho
- André aproveitou o
ensejo para propor a
Aulus diversas questões
relacionadas com a
prática da mediunidade
na Crosta. A primeira:
Há os que acham seja
lícito cultivar
tão-somente o convívio
com os gênios superiores
da Espiritualidade,
relegando as
manifestações mediúnicas
vulgares à fossa da
obsessão e da
enfermidade, que, na
opinião deles, devem ser
entregues a si mesmas.
"Isso é comodismo sob o
rótulo de cultura",
respondeu o instrutor.
"Os gênios realmente
superiores da
Espiritualidade jamais
abandonam os sofredores
e os pequeninos. À
maneira do Sol que
clareia o palácio e a
furna, com o mesmo
silencioso devotamento
auxiliam a todos, em
nome da Providência." A
segunda: Existem
companheiros que não
suportam qualquer
manifestação
primitivista no terreno
mediúnico. Se o médium
não lhes corresponde à
exigência, revelando-se
em acanhado círculo de
compreensão ou
competência, afastam-se
dele, agastadiços,
categorizando por
fraude ou mistificação
valiosas expressões da
fenomenologia. O
instrutor sorriu: "Serão
esses, provavelmente, os
campeões do menor
esforço. Ignoram que o
sábio não dispensou a
alfabetização no começo
da existência e,
decerto, amaldiçoam a
criancinha que não saiba
ler. Semelhantes amigos,
André, olvidaram o
socorro que receberam da
escola primária e,
solicitando facilidades,
à maneira do morfinômano
que reclama
entorpecentes, viciam-se
em atitudes deploráveis
à frente da vida, de vez
que tudo exigem para si,
desrespeitando a
obrigação de ajudar aos
que ainda se encontram
na retaguarda". A
terceira: Há quem diga
que o Espiritismo age
erradamente, abrigando
os desequilibrados e os
enfermos, porque, com
isso, oferece a
impressão de uma
Doutrina que, à força de
ombrear com a loucura
para socorrê-la, vai
convertendo seus templos
de oração em vastos
refúgios de alienados
mentais. "Simples
disparate dos que
desertam do serviço ao
próximo", respondeu
Aulus. "A Medicina não
sofre qualquer
diminuição por prestar
auxílio aos enfermos."
"O Espiritismo não pode
responsabilizar-se pelos
desequilíbrios que lhe
pedem amparo, tanto
quanto não podemos
imputar ao médico a
autoria dos males que
lhe requisitam a
intervenção. Aliás,
temos nele o benfeitor
da mediunidade torturada
e da mente doentia,
propiciando-lhes o
bálsamo e o
esclarecimento
indispensáveis ao
reajuste." Dito isso, o
instrutor lembrou que,
felizmente, os
espiritualistas
conscientes e sensatos
"estão aprendendo que o
nosso escopo é reviver o
Evangelho em suas bases
simples e puras e que o
Senhor não nos concede o
tesouro da fé apenas
para que possamos orar e
falar, mas também para
que estejamos
habilitados a estender o
bem, começando de nós
mesmos". (Cap. 29, págs.
276 e 277)
128. O bem é o
alicerce de nossa
vitória - André
mencionou também os que
afirmam que em todos os
processos da obsessão
funciona, implacável, a
lei de causa e efeito, e
que, por isso, não vale
interferir em favor da
mediunidade
atormentada... "Mera
argumentação do egoísmo
bem nutrido",
respondeu-lhe Aulus.
"Isso seria o mesmo que
abandonar os doentes,
sob o pretexto de que
são devedores perante a
Lei. Todos lutamos por
ressarcir compromissos
do pretérito,
compreendendo que não há
dor sem justificação; e
se sabemos que só o amor
puro e o serviço
incessante são capazes
de garantir-nos a
redenção, uns à frente
dos outros, como
desprezar o companheiro
que sofre, em nome de
princípios a cujo
funcionamento estamos
submetidos por nossa
vez?" Outra questão
proposta por André
referiu-se aos que
entendem não devamos
atender a qualquer
problema de mediunidade
complexa, porque cada
criatura, segundo eles,
deve procurar a verdade
por si, admitindo, além
disso, que as religiões
não passam de muletas e
que a ninguém assiste a
faculdade de socorrer-se
de instrutores em
assuntos da própria
orientação. "Isso seria
suprimir a escola e
vilipendiar o amor
imanente na Criação
Inteira. A religião
digna, qualquer que seja
o templo em que se
expresse – respondeu
Aulus –, é um santuário
de educação da alma, em
seu gradativo
desenvolvimento para a
imortalidade."
"Imaginemos – propôs o
instrutor – um país
imenso, em que milhões
de crianças fossem
relegadas ao abandono
pelos pais e mestres,
sob a alegação de que
lhes cabe o dever de
procurar a virtude e a
sabedoria por si,
furtando-se-lhes toda
espécie de apoio moral e
cultural... Imaginemos
um campo enorme
superlotado de enfermos,
aos quais eminentes
médicos recomendassem
procurar a saúde por si
mesmos, confiando-os à
própria sorte... Onde
estaria a lógica de
semelhantes medidas? A
interdependência mora na
base de todos os
fenômenos da vida. O
forte é tutor do fraco.
O sábio
responsabilizar-se-á
pelo ignorante. A
criancinha na Terra não
prescinde do concurso
dos pais." Lembrando que
nem todos possuem
idêntica idade
espiritual e que a
Humanidade Terrestre, em
seu conjunto, se
encontra muito longe da
angelitude, o instrutor
elucidou: "É muito cedo
para que o homem se
arrogue o direito de
apelar para a Verdade
Total... Por agora, é
imprescindível trabalhe
intensivamente, com
devoção ardente e
profunda ao bem, para
atingir mais amplo
discernimento das
realidades fragmentárias
ou provisórias que o
cercam na vida física
e, considerada a questão
nesse aspecto, estejamos
convictos de que a
ausência de escolas do
espírito ou a supressão
dos instrutores
constituiriam a
multiplicação dos
hospícios e o
rebaixamento do nível
moral, porque sem o
apelo à dignificação da
individualidade, em
processo de crescimento
mental e de sublimação
no tempo, não poderíamos
contar senão com a
estagnação nas linhas
inferiores da
experiência". E,
concluindo a lição,
propôs: "Trabalhemos com
bom ânimo; o tempo
conjugado com o serviço
no bem é o alicerce de
nossa vitória". (Cap.
29, págs. 278 e 279)
129. A
mediunidade está em toda
a parte
- Ante o Sol renascente,
o campo terrestre
brilhava em plena manhã
clara. Foi quando,
apontando um homem do
campo manobrando a
enxada, Aulus falou:
"Vejam! A mediunidade
como instrumentação da
vida surge em toda a
parte. O lavrador é o
médium da colheita, a
planta é o médium da
frutificação e a flor é
o médium do perfume. Em
todos os lugares, damos
e recebemos, filtrando
os recursos que nos
cercam e moldando-lhes a
manifestação, segundo as
nossas possibilidades".
Um pouco além, o grupo
defrontou singela
oficina de carpinteiro,
em que o operário
aplainava enorme peça.
"Possuímos no artífice o
médium de preciosas
utilidades", asseverou
Aulus. "Da devoção com
que se consagra ao
trabalho, nasce elevada
percentagem de
reconforto à
Civilização." E assim o
instrutor se referiu ao
escultor, ao singelo
varredor incumbido da
limpeza das ruas e ao
juiz, "o médium das
leis". "Todos os homens
em suas atividades,
profissões e
associações – disse
Aulus – são instrumentos
das forças a que se
devotam. Produzem de
conformidade com os
ideais superiores ou
inferiores em que se
inspiram, atraindo os
elementos invisíveis que
os rodeiam, conforme a
natureza dos sentimentos
e ideias de que se
nutrem." (Cap. 30,
págs. 281 e 282)
130. Os pais são
médiuns da própria vida
- O grupo chegara a uma
casa em que Hilário e
André prestariam socorro
a uma criança doente.
Aulus seguiu-os. Na
intimidade doméstica, um
cavalheiro maduro e a
esposa tomavam café em
companhia de três
crianças. O instrutor
fixou os olhos no quadro
à sua frente e exclamou:
"A família consanguínea
é uma reunião de almas
em processo de evolução,
reajuste,
aperfeiçoamento ou
santificação. O homem e
a mulher, abraçando o
matrimônio por escola de
amor e trabalho,
honrando o vínculo dos
compromissos que assumem
perante a Harmonia
Universal, nele se
transformam em médiuns
da própria vida,
responsabilizando-se
pela materialização, a
longo prazo, dos amigos
e dos adversários de
ontem, convertidos no
santuário doméstico em
filhos e irmãos. A
paternidade e a
maternidade, dignamente
vividas no mundo,
constituem sacerdócio
dos mais altos para o
Espírito reencarnado na
Terra, pois, através
delas, a regeneração e o
progresso se efetuam com
segurança e clareza.
Além do lar, será
difícil identificar uma
região onde a
mediunidade seja mais
espontânea e mais pura,
de vez que, na posição
de pai e de mãe, o homem
e a mulher, realmente
credores desses
títulos, aprendem a
buscar a sublimação de
si mesmos na renúncia
em favor das almas que,
por intermédio deles, se
manifestam na condição
de filhos". "A família
física pode ser
comparada a uma reunião
de serviço espiritual no
espaço e no tempo,
cinzelando corações para
a imortalidade." Em
seguida, o Assistente
leu o mostrador de um
relógio e observou:
"Quem caminha com a
responsabilidade não
deve esquecer as
horas". Era chegado o
momento da separação, o
que se fez após
comovente prece feita,
em plena praça, à luz do
Sol, por André Luiz e
expressa nestes termos:
"Senhor Jesus!
Faze-nos dignos daqueles
que espalham a verdade e
o amor! Acrescenta os
tesouros da sabedoria
nas almas que se
engrandecem no amparo
aos semelhantes.
Ajuda aos que se
despreocupam de si
mesmos, distribuindo em
Teu Nome a esperança e a
paz... Ensina-nos a
honrar-te os discípulos
fiéis com o respeito e o
carinho que lhes
devemos.
Extirpa do campo de
nossas almas a erva
daninha da indisciplina
e do orgulho, para que a
simplicidade nos
favoreça a renovação.
Não nos deixes confiados
à própria cegueira e
guia-nos o passo, no
rumo daqueles
companheiros que se
elevam, humilhando-se, e
que por serem nobres e
grandes, diante de Ti,
não se sentem
diminuídos, em se
fazendo pequeninos, a
fim de auxiliar-nos...
Glorifica-os, Senhor,
coroando-lhes a fronte
com os teus lauréis de
luz!..."
(Cap. 30, págs. 283 a
285)
Fim