A Revue Spirite
de 1868
Allan Kardec
(Parte
13 e final)
Concluímos nesta edição
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1868. O texto condensado
do volume citado foi
aqui apresentado com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Na próxima edição
iniciaremos o estudo da
Revue Spirite de
1869.
Questões preliminares
A. Ante a pergunta “É o
Espiritismo uma
religião?”, qual foi a
resposta de Kardec?
“Ora, sim, sem dúvida,
senhores”, disse Kardec.
“No sentido filosófico,
o Espiritismo é um
religião, e nós nos
glorificamos por isso,
porque é a doutrina que
funda os elos da
fraternidade e da
comunhão de pensamentos,
não sobre uma simples
convenção, mas sobre
bases mais sólidas: as
mesmas leis da
natureza.” Essas
palavras integram o
discurso proferido pelo
Codificador na Sociedade
Espírita de Paris em 1o
de novembro de 1868, por
ocasião da sessão anual
comemorativa dos mortos.
O discurso é reproduzido
pela Revue na
abertura do número de
dezembro e contém
diversos ensinamentos.
(Revue Spirite de 1868,
págs. 351 a 357.)
B. Por que, ao longo de
sua obra, Kardec disse
que o Espiritismo não
era religião?
É que, explicou Kardec,
a palavra religião é
inseparável da de culto
e desperta uma ideia de
forma, que o Espiritismo
não tem. As reuniões
espíritas podem, pois,
ser feitas
religiosamente. Pode-se
mesmo aí fazer preces,
ditas em comum. O laço
que deve existir entre
os espíritas é todo
moral, todo espiritual,
todo humanitário: o da
caridade para todos, ou
seja, o amor do próximo,
que compreende os vivos
e os mortos.
(Obra citada, págs. 357
a 360.)
C. Podemos dizer que a
caridade é a alma do
Espiritismo?
Sim. Foi Kardec quem o
disse: “A caridade é a
alma do Espiritismo”.
Segundo ele, a caridade
resume todos os deveres
do homem para consigo
mesmo e para com os seus
semelhantes, mas seu
campo é muito vasto.
Compreende duas grandes
divisões que ele chamou
de caridade
beneficente e
caridade benevolente.
A primeira é
naturalmente
proporcional aos
recursos materiais
disponíveis, do mais
pobre ao mais rico. Para
praticar a caridade
benevolente é preciso
amar ao próximo como a
si mesmo. No amor ao
semelhante está a
verdadeira caridade
benevolente, a caridade
prática, sem a qual a
caridade é uma palavra
vã.
(Obra citada, págs. 357
a 360.)
Texto para leitura
152. Três notas fecham a
edição de novembro de
1868: I – Notícia sobre
o lançamento do livro
O Espiritismo na Bíblia,
de Henri Stecki, que fez
da Bíblia um estudo
aprofundado das
passagens que têm
relação com os
princípios espiritas. II
– Registro relativo ao
sucesso que vinha sendo
alcançado pelo jornal
Le Spiritisme à Lyon,
cujo primeiro número
aparecera a 15 de
fevereiro último. III –
Referência à reedição da
obra Des Destinées de
L’Âme, escrita pelo
sr. A. D’Orient. Embora
tenha sido lançada em
1845, antes do
aparecimento da doutrina
espírita, a obra se
apoia na pluralidade das
existências, no
progresso indefinido da
alma, na não-eternidade
absoluta das penas e
noutros princípios que
seriam, anos mais tarde,
confirmados e
desenvolvidos pelo
Espiritismo. (Págs.
347 a 349.)
153. É o Espiritismo uma
religião? “Ora, sim, sem
dúvida, senhores”,
afirma Kardec. “No
sentido filosófico, o
Espiritismo é um
religião, e nós nos
glorificamos por isso,
porque é a doutrina que
funda os elos da
fraternidade e da
comunhão de pensamentos,
não sobre uma simples
convenção, mas sobre
bases mais sólidas: as
mesmas leis da
natureza.” Essas
palavras integram o
discurso proferido pelo
Codificador na Sociedade
Espírita de Paris em 1o
de novembro de 1868, por
ocasião da sessão anual
comemorativa dos mortos.
O discurso é reproduzido
pela Revue na
abertura do número de
dezembro e contém
diversos ensinamentos,
adiante sintetizados: I
– Comunhão de
pensamentos significa
pensamento comum,
unidade de intenção, de
vontade, de desejo, de
aspiração. II – Ninguém
pode ignorar que o
pensamento seja uma
força. Ele é o atributo
característico do ser
espiritual; é o
pensamento que distingue
o espírito da matéria;
sem o pensamento o
espírito não seria
espírito. III – O
pensamento age sobre os
fluidos ambientes, como
o som age sobre o ar.
Uma assembleia é um foco
onde irradiam
pensamentos diversos;
como existem pensamentos
harmônicos e pensamentos
discordantes, se o
conjunto for harmônico,
a impressão será
agradável; se
discordante, a impressão
será penosa. IV – A
comunhão de pensamentos
produz, assim, uma
espécie de efeito
físico, que reage sobre
o moral. V – Todas as
reuniões religiosas são
fundadas na comunhão de
pensamentos. Há, no
entanto, criaturas que
negam a utilidade das
assembleias religiosas
e, por conseguinte, dos
edifícios consagrados a
elas. Ora, o isolamento
religioso, como o
isolamento social,
conduz ao egoísmo. VI –
O verdadeiro objetivo
das assembleias
religiosas deve ser a
comunhão de pensamentos;
é que, com efeito, a
palavra religião quer
dizer laço. Uma
religião é um laço que
religa os homens
numa comunidade de
sentimentos, princípios
e crenças. Esse laço é,
porém, um laço
essencialmente moral,
que liga os corações, e
seu objetivo é
estabelecer, entre as
pessoas que ele une, a
fraternidade e a
solidariedade, a
indulgência e a
benevolência
mútuas. (Págs.
351 a 357.)
154. Na sequência do
discurso, Kardec explica
por que havia declarado,
ao longo de sua obra,
que o Espiritismo não
era religião. É que,
observa ele, a palavra
religião é inseparável
da de culto e desperta
uma ideia de forma, que
o Espiritismo não tem.
As reuniões espíritas
podem, pois, ser feitas
religiosamente. Pode-se
mesmo aí fazer preces,
ditas em comum. O laço
que deve existir entre
os espíritas é todo
moral, todo espiritual,
todo humanitário: o da
caridade para todos, ou
seja, o amor do próximo,
que compreende os vivos
e os mortos. “A
caridade, assevera
Kardec, é a alma do
Espiritismo: ela resume
todos os deveres do
homem para consigo mesmo
e para com os seus
semelhantes.” Seu campo
é, porém, muito vasto:
compreende duas grandes
divisões que podemos
chamar de caridade
beneficente e
caridade benevolente.
A primeira é
naturalmente
proporcional aos
recursos materiais
disponíveis, do mais
pobre ao mais rico. Para
praticar a caridade
benevolente é preciso
amar ao próximo como a
si mesmo. No amor ao
semelhante está a
verdadeira caridade
benevolente, a caridade
prática, sem a qual a
caridade é uma palavra
vã. Eis aí a caridade do
verdadeiro espírita,
como do verdadeiro
cristão, aquela sem a
qual aquele que diz:
Fora da caridade não há
salvação pronuncia
sua própria condenação,
tanto neste quanto no
outro mundo. (Págs.
357 a 360.)
155. Depois do discurso
feito por Kardec, foi
lida uma comunicação
espontânea ditada pelo
Espírito de H. Dozon a 1o
de novembro de 1865,
sobre a solenidade de
Todos-os-Santos, que é
comemorada anualmente
pela Sociedade Espírita
de Paris. Na mensagem,
após afirmar que Deus
não é adorado apenas nos
templos, mas por toda a
parte, Dozon lembra que
aquele que pode dispor
de seu tempo o emprega
no alívio de seus irmãos
que sofrem. No fim da
mensagem, o amigo
espiritual aconselha aos
espiritistas: “Redobrai
de zelo; consolai os que
sofrem, porque há seres
que foram de tal modo
afligidos durante a sua
vida, que necessitam ser
amparados e ajudados na
luta. Sabeis quanto a
caridade é agradável a
Deus: praticai-a, pois,
sob todas as formas;
praticai-a em nome dos
Espíritos cuja memória
festejais nesse dia, e
eles vos bendirão!”
(Págs. 360 e 361.)
156. Em seguida, feitas
as preces de costume, 32
comunicações foram
obtidas pelos 18 médiuns
presentes na reunião. A
Revue publicou
parte dessas
comunicações, das quais
extraímos, de forma
resumida, os trechos que
se seguem: I – Não
devemos tremer diante da
vida nem diante da
morte, como ensinou La
Rochefoucauld, mas sim
por haver realizado um
trabalho estéril, por
ter tido uma existência
perturbada e
completamente falha.
Espíritos brilhantes,
engenhosos, instruídos
muitas vezes, faltam ao
objetivo profundo da
vida. Milhares de
Espíritos gostam da
lembrança e da
peregrinação que seus
amigos e parentes fazem
pelos cemitérios. É uma
baliza esse respeito aos
mortos, mas esses mortos
estão todos vivos e, em
vez de urnas funerárias
e epitáfios mais ou
menos verdadeiros, eles
pedem uma troca de
ideias, de conselhos, um
suave comércio de
espírito, essa
comunidade de ideias que
gera a coragem, a
perseverança, a vontade,
os atos de dedicação. (Guillaumin.)
II – O isolamento em
matéria religiosa e
social não gera senão o
egoísmo. O homem foi
criado para a
sociabilidade. Uni-vos,
pois, nos esforços e por
pensamentos; sobretudo,
amai, sede bons, suaves,
humanos; pregai pelo
exemplo dos vossos atos
os salutares efeitos da
vossa crença. Sede
espíritas de fato e não
somente de nome. O
Espiritismo,
compreendido e sobretudo
praticado, reformará
tudo, para vantagem dos
homens. (J. J.
Rousseau.) III – O
perfume que se exala de
todos os bons
sentimentos é uma prece
constante que se eleva
para Deus. (Sra
Victor Hugo.) IV – A
dedicação pelo
reconhecimento é um
impulso do coração; o
devotamento pelo amor é
um impulso da alma. (Sra
Dauban.) V – O
egoísmo é a paralisação
de todos os bons
sentimentos. O egoísmo é
a negação da sublime
sentença do Cristo que
nos manda fazer aos
outros o que queremos
que os outros nos façam.
(Plácido.) VI –
Qual é a ambição que não
impede a alma de se
elevar aos esplendores
do infinito? É a que vos
leva a fazer o bem.
Todas as outras vos
levam ao orgulho e ao
egoísmo. (Bonnefon.)
(Págs. 361 a 367.)
157. Kardec publica, na
sequência, um extenso
trabalho por ele
intitulado:
Constituição Transitória
do Espiritismo,
dividido em nove seções:
I – Considerações
preliminares. II –
Extrato do relatório de
caixa do Espiritismo
feito à Sociedade de
Paris a 5 de maio de
1865. III – Dos cismas.
IV – O chefe do
Espiritismo. V – Comitê
central. VI – Obras
fundamentais da
doutrina. VII –
Atribuições do Comitê.
VIII – Vias e meios. IX
– Conclusão. (Págs.
367 a 391.)
158. O objetivo do
Codificador do
Espiritismo, com a
proposta referida, foi
viabilizar uma forma de
dar continuidade ao seu
trabalho, com vistas aos
tempos futuros. Em
síntese, o que ele
propõe, no tocante à
direção do Espiritismo,
é o estabelecimento de
um comitê central
ou conselho superior
permanente, composto de
doze membros titulares e
um número igual de
conselheiros, ao qual
caberia a coordenação do
movimento. O comitê
central ou conselho
superior seria, pois, o
verdadeiro chefe do
Espiritismo, chefe
coletivo, que nada
poderia sem o
consentimento da maioria
e, em certos casos, sem
o assentimento de um
congresso ou assembleia
geral. Os congressos
seriam constituídos por
delegados das sociedades
particulares,
regularmente
constituídas e postas
sob o patrocínio do
comitê central por
adesão e pela
conformidade de seus
princípios. (Págs.
379 a 381.)
159. Ao comitê central
estariam afetos, ainda,
os seguintes serviços: I
– Uma biblioteca, onde
estariam reunidas todas
as obras de interesse do
Espiritismo. II – Um
museu. III – Um
dispensário destinado a
consultas médicas
gratuitas e ao
tratamento de certas
afecções, sob a direção
de um médico patenteado.
IV – Uma caixa de
socorro e previdência. V
– Uma casa de retiro. VI
– Uma sociedade de
adeptos com sessões
regulares. (Págs. 382
e 383.)
160. Para viabilizar os
recursos financeiros
necessários ao projeto,
Kardec propõe a
constituição de um fundo
financeiro inalienável
cujos rendimentos
assegurariam a
continuidade dos
serviços. “Regulando
suas despesas pelo
rendimento, a existência
da administração não
pode ser comprometida em
caso algum, pois sempre
terá meios para
funcionar”, asseverou o
Codificador do
Espiritismo. (Págs.
386 e 387.)
161. Duas notas encerram
a edição do ano de 1868.
A primeira diz respeito
à revista quinzenal
El Criterio Espiritista,
de Madri, a qual
readquiriu o direito de
usar esse título, que
havia sido interditado
pelo governo espanhol,
por influência direta da
autoridade eclesiástica
espanhola. A Revue
reproduz os
documentos relativos à
interdição da revista,
ocorrida em 6 de agosto
de 1867. Com a revolução
ocorrida na Espanha, que
depôs o governo
anterior, a revista
podia agora circular,
verificando-se a mesma
coisa com a Sociedade
Espírita Espanhola,
fundada em 1865, que
havia suspendido suas
sessões pelos mesmos
motivos. (Págs. 392 a
394.)
162. A nota derradeira,
que trata da renovação
da assinatura por parte
dos assinantes da
Revue, anuncia para
breve a publicação de um
índice geral alfabético
de todos os assuntos
tratados na Revue
Spirite, assim como
um catálogo das obras
que possam interessar
aos estudiosos da
doutrina espírita.
(Pág. 394.)
Fim