ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, Minas Gerais (Brasil)
Pecado original ou
“arquétipos”?
Heranças
ancestrais propelem o
ser para as diferentes
atitudes comportamentais
“O ser humano é herdeiro
das suas próprias
realizações através dos
tempos, que permanecem
armazenadas nos refolhos
do ser eterno que é.”
- Joanna
de Ângelis.
Todos nós temos:
personalidade e
individualidade. À
feição de um
“iceberg”, a
personalidade seria
representada pela parte
menor, visível acima da
linha d`água, e a
individualidade a parte
maior, submersa, ambas,
porém, formando um bloco
só, monolítico...
Assim, a personalidade é
a nossa “vitrina”,
o escaparate com o
qual estabelecemos o
relacionamento
interpessoal. Sem
embargo, a personalidade
é abastecida com os
elementos depositados
nas profundezas da
individualidade,
elementos esses que Jung
chamou de
“arquétipos”.
Segundo os lúcidos
assertos de Joanna de
Ângelis1,
“A palavra “arquétipo”
se origina do grego “arke”,
que significa: marca,
cunho, modelo; sendo,
por isso mesmo, as
marcas ou modelos
primordiais, iniciais,
que constituem o
arcabouço psicológico do
indivíduo, facultando a
identificação da
criatura humana. Existem
no ser como herança,
como parte integrante do
seu processo de
evolução”.
Compreendemos assim,
segundo nosso
insuperável Mestre
Lionês,
“ser muito antigo o
Espírito vinculado ao
corpo de uma criança que
nasce e traz,
reencarnando para a vida
corporal, as
imperfeições de que não
se tenha despojado em
suas precedentes
existências”.
Fazemos, assim, uma
releitura da antiga
lenda do
“pecado original”
cometido por “Adão e
Eva”, agora transformada
em realidade científica
e facilmente
compreendida à luz da
razão plena.
Não nos pode ser
imputada a culpa do
“erro”
daquele casal (que na
verdade nem existiu),
caracterizando o que em
linguagem jurídica é
conhecido por
“resgate vicário”,
isto é: um inocente
pagando pela falta de
outrem. Aliás, Jesus já
havia deixado esta
questão muito clara ao
afirmar:
“a cada um será dado de
acordo com as suas
obras”.
Kardec esclarece ainda:
“Ao aproximar-se-lhe a
encarnação, o Espírito
entra em perturbação e
perde pouco a pouco a
consciência de si mesmo,
ficando, por certo
tempo, numa espécie de
sono, durante o qual
todas as suas faculdades
permanecem em estado
latente. Sobre ele, no
entanto, reage o
passado
(arquétipos).
É assim que renasce
maior, mais forte, moral
e intelectualmente,
sustentado e secundado
pela intuição que
conserva da experiência
adquirida. A partir do
nascimento, suas ideias
tomam gradualmente
impulso, à medida que os
órgãos se desenvolvem,
pelo que se pode dizer
que, no curso dos
primeiros anos, o
Espírito é
verdadeiramente criança,
por se acharem ainda
adormecidas as ideias
que lhe formam o
fundo do caráter
(arquétipos).
Durante o tempo em que
seus instintos se
conservam amodorrados,
ele é mais maleável e,
por isso mesmo,
acessível às impressões
capazes de lhe
modificarem a natureza e
de fazê-lo progredir, o
que torna mais fácil a
tarefa que incumbe aos
pais”.
Voltando às elucidações
de Joanna de Ângelis1,
conseguiremos
compreender melhor toda
essa nuança do processo
evolutivo. Vejamos o que
esse Espírito Amigo
chama de Processo de
individuação:
“As multifárias
experiências da
reencarnação deixam no
ser profundo infinitas
características, que
poderíamos denominar
como sendo os
arquétipos
junguianos. Heranças
ancestrais, que se
transformam em material
volumoso no
Inconsciente, ditando os
processos de evolução
das ocorrências no ser e
que o propelem para as
diferentes atitudes
comportamentais.
Todos os indivíduos são
os somatórios de suas
existências transatas,
em que as diversas
personalidades constroem
a sua realidade
pensante, com toda a
carga de conflitos e
lutas vivenciados que os
assinalaram
profundamente. Poder
mergulhar nesse oceano
tumultuado de atividades
vividas é a proposta em
favor da sua
conscientização.
A fim de lograr o êxito,
cada qual se deve
considerar único,
diferente, não obstante
com todas as analogias
que são comuns aos
demais membros da imensa
família humana.
Normalmente, o indivíduo
toma como padrões e
procura assemelhar-se
àqueles que lhe parecem
melhores, verdadeiros
modelos, esquecendo-se
que se torna impossível
conseguir resultados
positivos, nesse
tentame, porque, à
medida que imita outros,
perde a sua identidade,
o seu caráter,
amoldando-se a fórmulas
e ídolos falsos, que
também lutam e disfarçam
as suas necessidades na
exteriorização da
personalidade.
O grande trabalho
psicológico de
crescimento do ser
reside na busca de si
mesmo. Embora parecido
com outros, qual ocorre
com o material físico
que a todos constitui,
cada pessoa é diferente
da outra.
Psicologicamente,
existem no Inconsciente
todos os símbolos das
diferentes culturas, que
se mesclam, formando a
realidade
individual. Todavia, é
indispensável buscar a
individuação,
isto é, a sua
legitimidade,
construindo-se
idealmente e
assumindo-se com os
valores que lhe são
peculiares e
intransferíveis. Nesse
processo, deve operar a
transformação moral do
Si, descobrindo tudo
aquilo que lhe é
perturbador e tentar
superar, por eliminação,
sem que esse esforço
gere trauma ou
insatisfação, assim
diluindo as condensações
das vivências
anteriores, através da
conscientização da sua
integridade interior em
harmonia com as suas
manifestações
exteriores. Esse
processo pode durar toda
a existência, o que é
muito saudável, porque o
ser se descobre em
constante renovação para
melhor, liberando-se das
cargas negativas que lhe
ditavam as reações e lhe
produziam problemas em
forma de distúrbios
íntimos, afetando-lhe a
conduta.
Tornar-se um ser total,
original, único, é a
proposta da
individuação, que
liberta a consciência
das constrições mais
vigorosas do
Inconsciente dominador.
É indispensável, dessa
forma, enfrentar o
Inconsciente com
serenidade,
descobrindo-o e
integrando-o à
consciência atual, pelos
melhores caminhos que
estejam ao alcance.
Cada ser encontra a sua
própria rota, que deve
seguir confiadamente,
trabalhando-se sempre,
sem culpa, sem
ansiedade, sem receios
injustificáveis, sem
conflitos responsáveis
por remorsos...
Buscando a
individuação,
percebe-se que as
contribuições do mundo
exterior imprimem, no
ser, valores que não são
verdadeiros para o seu
nível de maturidade, e
que somente possuem
legitimidade aqueles que
lhe procedem do âmago,
do seu Inconsciente,
agora em sintonia com a
consciência lúcida. Isso
oferece muita
tranquilidade, porque
permite identificar que
não se torna necessário,
para obter o triunfo,
ser igual a ninguém,
símile de outrem ou
cópia dos modelos que se
exibem na mídia, nos
sucessivos festivais da
ilusão e dos tormentos
generalizados. Cada ser
possui uma infinita
riqueza no seu mundo
interior, que é a
herança divina nele
jacente, que agora
desperta e toma-lhe a
consciência,
libertando-o dos
atavismos perturbadores.
A psique humana, que se
constrói como resultado
dos símbolos universais
existentes, dilata-se na
individuação que aguarda
ser alcançada por todos
os seres pensantes, por
outro lado, meta da
reencarnação: a
conquista do Si, a
elevação do Espírito,
pairando sobre os
destroços das
experiências malogradas,
transformadas em
edificações de paz.
Em se considerando a
universalidade dos
arquétipos, há uma
grande variedade de
símbolos que foram
classificados por Jung,
e posteriormente pelos
seus discípulos e
sucessores. No entanto,
não podem ter um número
fixo porque estão sempre
a apresentar-se com
características
individuais, em
variações naturais,
decorrentes de padrões e
sinais de cada
personalidade.
Quando alguém se refere
a outrem, exaltando-lhe
o estoicismo ou citando
a covardia, está
identificando o
arquétipo que vive no
seu próprio inconsciente
e tem um caráter geral,
comum a todos os demais.
Assim sendo, sempre é
encontrado nos outros
aquilo que jaz na
própria pessoa, o que
lhes facilita o
reconhecimento.
As criaturas são todas
multidimensionais,
possuindo
características comuns,
resultado da perfeita
reunião dos
arquétipos que
constituem cada
individualidade.
O processo da
reencarnação explica a
presença dos
arquétipos no ser
humano, porque ele é
herdeiro das suas
próprias realizações
através dos tempos,
adquirindo, em cada
etapa, valores e
conhecimentos que
permanecem armazenados
nos refolhos do ser
eterno que é.
Podemos, portanto, em
uma visão transpessoal
dos acontecimentos,
associar os
arquétipos a outro
tipo de realidade vivida
e ínsita no Inconsciente
profundo, ditando os
comportamentos da
atualidade, que são as
experiências
espirituais,
parapsíquicas e
mediúnicas.
Aprofundar a busca no
oceano do Inconsciente
para eliminar os
conflitos decorrentes
das várias ocorrências
passadas – as atuais e
as reencarnações
anteriores –, conseguir
a individuação,
eis a meta que aguarda
aquele que deseja estar
desperto, consciente da
sua realidade e que luta
em favor da sua
iluminação interior e
felicidade total”.
- KARDEC, Allan.
O Evangelho
seg. o
Espiritismo.
125. ed. Rio:
FEB, 2006, cap.
VIII, item 3.
- KARDEC, Allan.
O Evangelho
seg. o
Espiritismo.
125. ed. Rio:
FEB, 2006, cap.
VIII, item 4.