A Revue Spirite
de 1869
Allan Kardec
(Parte
1)
Iniciamos nesta edição
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1869. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Quais são os
indivíduos mais
refratários às ideias
espíritas?
Segundo Kardec, depois
dos fanáticos, os mais
refratários às ideias
espíritas são os
sensualistas e as
pessoas cujos únicos
pensamentos estão
concentrados nas posses
e nos prazeres
materiais. Em resumo,
observa Kardec, o
Espiritismo é
considerado um benefício
pelas pessoas que ele
ajuda a suportar o fardo
da vida, e é repelido ou
desdenhado por aqueles a
quem prejudicaria nos
gozos da vida.
(Revue Spirite de 1869,
págs. 8 e 9.)
B. Como Kardec
considerava o
magnetismo?
O Codificador, que
conhecia profundamente o
trabalho e as ideias de
Mesmer, dizia que o
magnetismo e o
Espiritismo são duas
ciências gêmeas, que se
completam e explicam uma
pela outra. Segundo ele,
se nem todos os
magnetistas são
espíritas, todos os
espíritas, sem exceção,
admitem o magnetismo e
fazem-se seus defensores
e baluartes.
(Obra citada, págs. 10 e
11.)
C. A quem o Espiritismo
reconhece como adeptos?
O Espiritismo só
reconhece como adeptos
os que põem em prática
os seus ensinamentos, ou
seja, que trabalham a
sua própria melhora
moral, porque esse é o
sinal característico do
verdadeiro espírita.
(Obra citada, págs. 17 a
20.)
Texto para leitura
1. Este volume apresenta
os escritos finais de
Allan Kardec, que, como
sabemos, desencarnou a
31 de março de 1869. Os
números de janeiro a
março foram publicados
quando o Codificador
ainda estava encarnado.
O número de abril ele
havia deixado redigido e
em fase de preparação
gráfica. Essa é a razão
pela qual a Revue
de abril de 1869 não
registra sequer o seu
passamento. Os números
de maio e junho, embora
não redigidos por
Kardec, integram também
o volume do ano de 1869
porque trazem notícias
sobre a sua
desencarnação e suas
primeiras comunicações
mediúnicas. O segundo
semestre de 1869
pertence a outra fase da
Revue. (Pág.
1)
2. Com a morte do
Codificador, a direção
da Sociedade Espírita de
Paris e do movimento
doutrinário passou à
responsabilidade da
Comissão Central de
Espiritismo, presidida
desde então pelo Sr.
Malet. (Pág. 1)
3. O número de janeiro
de 1869 da Revue
se inicia com uma
mensagem de Kardec
dirigida aos seus
correspondentes, na qual
diz haver recebido
numerosas cartas de
felicitações e
testemunhos de simpatia
a propósito da
publicação no número
anterior do projeto de
constituição do
Espiritismo, que teve
boa acolhida por parte
dos grupos espíritas,
como o de Toulouse, cuja
correspondência foi ali
transcrita. (Págs. 3
e 4)
4. A Revue de
janeiro apresenta, na
sequência, uma matéria
intitulada “Estatística
do Espiritismo”, da qual
extraímos, de forma
resumida, os seguintes
pontos: I – A enumeração
exata dos espíritas
seria coisa impossível,
por uma razão muito
simples: o Espiritismo
não é uma associação nem
uma congregação e seus
aderentes não estão
inscritos em nenhum
registro oficial. II –
Não se pode avaliar o
número dos espíritas
pela quantidade de
sociedades existentes,
frequentadas apenas por
minoria ínfima. III – O
Espiritismo é uma
opinião que não exige
qualquer profissão de fé
e pode estender-se ao
todo ou parte dos
princípios da doutrina.
Basta simpatizar com a
ideia, para ser
espírita. IV – Dentro
deste ponto de vista
pode-se dizer que pelo
menos três quartos da
população de todos os
países possuem o germe
das crenças espíritas,
que são encontrados até
mesmo entre os que lhe
fazem oposição. V – A
oposição feita ao
Espiritismo vem, em sua
maioria, da ideia falsa
que fazem da doutrina
espírita. Não o
conhecendo senão pelas
descrições ridículas que
dele faz a crítica
malévola, recusam com
razão a qualificação de
espíritas. (Págs. 4 a
6)
5. A matéria é
complementada por uma
curiosa estatística que
aponta os Estados Unidos
como sendo a nação mais
espírita do planeta, com
cerca de aproximadamente
4 milhões de adeptos. A
Europa teria 1 milhão,
dos quais 600 mil na
França. “Em geral,
afirma Kardec, é nas
classes médias que o
Espiritismo conta mais
adeptos.” (Págs. 6 a
8)
6. Do levantamento
publicado pela Revue
resultam, de acordo
com o Codificador, as
seguintes consequências:
1o. – Há
espíritas em todos os
graus da escala social.
2o. – Há mais
homens que mulheres
espíritas. 3o.
– A grande maioria dos
espíritas se acha entre
pessoas esclarecidas. 4o.
– A aflição e a
infelicidade predispõem
às crenças espíritas, em
consequência das
consolações que
proporcionam. 5o.
– O Espiritismo tem mais
fácil acesso entre os
incrédulos em matéria
religiosa que entre os
que têm uma fé
assentada. 6o.
– Depois dos fanáticos,
os mais refratários às
ideias espíritas são os
sensualistas e as
pessoas cujos únicos
pensamentos estão
concentrados nas posses
e nos prazeres
materiais. 7o.
– Em resumo, observa
Kardec, o Espiritismo é
considerado um benefício
pelas pessoas que ele
ajudar a suportar o
fardo da vida, e é
repelido ou desdenhado
por aqueles a quem
prejudicaria nos gozos
da vida. (Págs. 8 e
9)
7. Entre os
profissionais liberais
que apresentavam a maior
proporção de adeptos do
Espiritismo a Revue
aponta os médicos
homeopatas: em cada 100
médicos espíritas, pelo
menos 80 eram
homeopatas. Isto se deve
a que o princípio do
tratamento homeopático
os conduz naturalmente
ao espiritualismo. Os
materialistas são muito
raros entre eles, se é
que existem homeopatas
materialistas, ao passo
que são numerosos entre
os alopatas. Melhor que
estes, os homeopatas
compreendem o
Espiritismo porque
acharam nas propriedades
fisiológicas do
perispírito, unido ao
princípio material e ao
princípio espiritual, a
razão de ser de seu
sistema. (Pág. 10)
8. Os magnetistas – nome
que se dá aos adeptos do
magnetismo – figuravam
na primeira linha, logo
após os homeopatas,
malgrado a oposição
persistente e por vezes
acerba de alguns, que
formavam, porém, uma
minoria ínfima. É que o
magnetismo e o
Espiritismo são duas
ciências gêmeas, que se
completam e explicam uma
pela outra. Em todos os
tempos os magnetistas se
dividiram em dois
campos: os
espiritualistas e os
fluidistas. Estes
últimos, muito menos
numerosos, estão quase
sempre em oposição de
princípios com os
espíritas. Assim,
pode-se concluir que: se
todos os magnetistas não
são espíritas, todos os
espíritas, sem exceção,
admitem o magnetismo e
fazem-se seus defensores
e baluartes. (Págs.
10 e 11)
9. A
Revue reporta-se
a um artigo publicado
pelo Sr. Robert de
Salles no jornal Le
Voyageur de Commerce
de 22-11-1868, no qual o
articulista tece algumas
considerações simpáticas
acerca da doutrina
espírita e afirma,
corretamente, que o
Espiritismo não é uma
descoberta moderna.
Embora tenha feito
alguns reparos ao
artigo, Kardec diz que
os espíritas não
poderiam senão aplaudir
o conjunto das reflexões
nele contidas e a
seriedade com que o
assunto foi tratado. “A
imprensa – observa o
Codificador – raramente
tem ouvido falar dele
num sentido tão sério.
Mas há começo para
tudo.” (Págs. 11 a
16)
10. O caso do ervanário
Joye, envolvido no
processo das
envenenadoras de
Marselha, é objeto de um
longo artigo publicado
por Kardec na Revue
de janeiro. A culpa
atribuída ao ervanário
tentou-se estender à
doutrina espírita,
porque Joye revelou que
se ocupava com a prática
espírita e interrogava
os Espíritos. De fato,
descobriu-se em sua casa
um registro que dá a
ideia do seu caráter e
de suas ocupações
habituais. O ervanário –
indivíduo que vende e/ou
conhece plantas
medicinais – recebia
dinheiro de seus
clientes por serviços
diversos: tratamento de
doentes, prática de
exorcismo, cartas,
malefícios e baqueta
divinatória, entre
outros. (Págs. 16 e
17)
11. Kardec observa que,
ainda que Joye fosse
espírita, o Espiritismo
não poderia ser
responsabilizado por
procedimentos que a
doutrina espírita não
propõe nem recomenda a
quem quer que seja. “O
Espiritismo – assevera
Kardec – só reconhece
como adeptos os que põem
em prática os seus
ensinamentos, isto é,
que trabalham a sua
própria melhora moral,
porque é o sinal
característico do
verdadeiro espírita.”
(Págs. 17 a 20)
(Continua no próximo
número.)