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Seminário relembra o
médium português
Fernando
de Lacerda
Realizado no domingo
passado, o evento
procurou resgatar o
trabalho de um médium e
um espírita notável cuja
influência extrapolou os
limites da nação
portuguesa
A União Espírita da
Região de Lisboa (UERL)
realizou o Seminário Fernando
de Lacerda, Médium
Português – um vulto do
movimento espírita. Cerca
de 230 pessoas
inscreveram-se no evento
que decorreu a 27 de
março de 2011, no
Auditório da Faculdade
de Medicina Dentária de
Lisboa (fotos abaixo). |
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Público
presente |
Fernando de Lacerda
é, até hoje, o maior
médium português de
psicografia mecânica,
tendo recebido mensagens
de grandes vultos
nacionais e
estrangeiros. No
entanto, é um ilustre
desconhecido de muitos
espíritas. A UERL
procurou resgatar o
trabalho extraordinário
de um homem que, no
início do século XX e no
seio de grandes
convulsões políticas,
teve a coragem em
assumir publicamente a
realidade do Espírito
imortal, num marco
histórico de divulgação
do Espiritismo em
Portugal. O seminário
comprovou a importância
de valorizar os
espíritas da primeira
hora e seu contributo à
história do movimento
espírita português, que
deve ser estudada para
que aprendamos com os
seus testemunhos e bons
exemplos.
Com apresentação de
Isabel Piscarreta e Nuno
Cruz, a cerimônia se
iniciou com um momento
cultural do Jogral
Espírita de Lisboa.
Foram declamados 3
poemas da obra
psicografada por
Fernando de Lacerda -
“Do País da Luz” (4
volumes): Plus
Ultra de
Antero de Quental (vol.
4), Deus (vol.
4) e Fábula
Rã e o Sapo (com
encena- |
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Jogral Espírita Lisboa |
|
ção - vol. 3), ambos de
João de Deus. |
A mesa de abertura foi
constituída por Vitor
Féria (presidente da
Federação Espírita
Portuguesa), Rui Marta
(presidente da UERL e da
Comissão organizadora do
Seminário), Manuela
Vasconcelos e Elda Silva
(dupla que fez a
primeira apresentação).
O Comandante Acácio
Severino representou os
Bombeiros Voluntários de
Loures, Associação que
Fernando de Lacerda
fundou.
História, Biografia e
Filantropia
A prece de abertura foi
proferida por Vitor
Féria, após a qual foi
exibido um vídeo de
“Contextualização
histórica”, com texto de
Judite Calisto e imagens
de Sara Barros. Foi uma
viagem mental à época de
Fernando Lacerda, com
breves traços da sua
vida.
A “Biografia de Fernando
de Lacerda” foi
apresentada por Elda
Silva (presidente da
Associação de Cultura
Espírita Fernando de
Lacerda, de Loures) e
Manuela Vasconcelos
(presidente da Comunhão
Espírita Cristã de
Lisboa). Elda sintetizou
dados biográficos, desde
a juventude, com o
início da prática
mediúnica, a perseguição
ideológica e o
autoexílio, até o seu
desencarne no Brasil.
Falou da intensa
campanha de calúnia e
difamação que lhe foi
movida pelo advogado e
jornalista Fernão
Botto Machado.
Fez referência a
“Memórias de um suicida”
(Yvonne do Amaral
Pereira), em que o
Espírito de Camilo
Castelo Branco fala de
“Fernando”, um homem que
em desdobramento
espiritual ampara
suicidas. Como médium
espírita, fez também
reuniões de desobsessão
espiritual. Como
Espírito, comunicou-se
no livro “Falando à
Terra”, psicografado por
Francisco Cândido
Xavier.
Manuela Vasconcelos
é autora da excelente
obra “Fernando de
Lacerda: o médium
português” (1992,
352 p). Durante o seu
árduo trabalho de
pesquisa – na Torre do
Tombo e na Biblioteca
Nacional – ela recebeu,
como médium, uma
mensagem de Botto
Machado. Numa extensa
carta lida com profunda
emoção durante o evento,
o inimigo de Lacerda faz
um ato de contrição
pelas suas atitudes na
Terra. Relata a sua
chegada ao plano
espiritual e como se foi
apercebendo da presença
de uma voz e de uns
olhos que lhe pediam
para rezar e pedir
auxílio a Deus. Para sua
surpresa, era Fernando
de Lacerda, que não só
lhe dá a notícia do seu
desencarne como o perdoa
de tudo o que fez.
Lacerda conta-lhe que
Botto foi apenas o
instrumento para ele
expiar uma |
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|
Livros de Fernando Lacerda |
|
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|
Livros de Manuela Vasconcelos |
|
conduta
errada do pretérito, e
que eles já se conheciam
de séculos passados. No
final, Lacerda abraça-o
e choram os dois. Foi
também em lágrimas que
Manuela concluiu esse
testemunho. |
|
|
António Mendonça
(Associação Cultural
Espírita de Santarém)
falou de Fernando de
Lacerda como
“Filantropo”. Destacou a
sua honradez de caráter
e autenticidade
filantrópica. Era um
homem benevolente e
alegre, mas de têmpera
forte. “A sua vida foi
de conduta digna,
generosa e sacrificial,
de homem no mundo.”
Exemplificou casos como:
o apoio real que
conseguiu para a jovem
Maria Filipa (que salvou
seus
irmãos
de
incêndio),
a
criação
do
Patronato
|
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António Mendonça |
|
de
Infância
(instituição
de
beneficência
para
crianças
carentes),
o seu
trabalho
como
subinspetor
da
Polícia
em
prisões
na
recuperação
dos
presidiários,
o amparo
que dava
a jovens
meretrizes,
a ajuda
aos
bombeiros
voluntários
de
Loures,
entre
outras
ações “anônimas”.
Com o
seu
magnetismo,
fazia
terapia
com
passe e
água
fluidificada. |
Estilo de Camilo
(homem/espírito) e
Escrita dos Espíritos
O convidado (foto ao
lado) João Santos
(espírita, esperantista,
professor de português,
latim e grego antigo)
elaborou um estudo sobre
o “Estilo literário de
Camilo Castelo Branco
como encarnado e
desencarnado.” O seu
trabalho abordou
assuntos como:
contextualização
histórica sobre Camilo e
Silva Pinto; o trabalho
da |
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espiritualidade
superior; provas
diversas da identidade
de Camilo-espírito
(honorabilidade e
opinião do médium;
opinião de Silva Pinto e
de outras
individualidades
reencarnadas à época;
comparação de elementos
biográficos de
Camilo-espírito nas 2
obras mediúnicas “Do
País da Luz” e “Memórias
de um suicida”; acerca
da análise grafológica
das mensagens;
comparação da
personalidade de Camilo
antes e depois de
desencarnar). Fez uma
análise literária da 1ª
carta de Camilo ao seu
amigo Silva Pinto.
Realçou que por trás
destas comunicações dos
Espíritos há uma equipe
de Espíritos superiores
a coordenar e organizar
as suas manifestações. |
Após o almoço,
constituiu-se a mesa da
tarde com Rui Marta
(presidente do Centro
Espírita Casa do
Caminho) e António
Aveiro (trabalhador do
CE Perdão e Caridade,
também de Lisboa). Rui
Marta fez uma “Breve
análise de estilos - O
Espírito e a Escrita.”
Iniciou com a
codificação de Allan
Kardec, analisando
depois excertos de
mensagens dos Espíritos
de Eça de Queiroz, Silva
Pinto, Júlio César
Machado (suicida),
Antero de Quental
(suicida, semelhanças em
mensagens psicografadas
por Fernando de Lacerda
e Chico Xavier), Carlos
Lobo d´Ávila, Fialho
d´Almeida (“O Estilo é o
Homem”), Marcellin
Berthelot, Francisco
Ferraz de Macedo, Hintze
Ribeiro, Júlio Diniz,
Latino Coelho, Alves
Mendes, Padre António
Vieira, Teresa d´Ávila,
Leão Tolstoi, Victor
Hugo e Allan Kardec.
Nessa sequência de
mensagens há uma ordem
crescente de
espiritualidade no seu
conteúdo e diminuição do
personalismo das
entidades comunicantes.
Elas dirigem-se depois
para o próprio médium e
as finais são para a
Humanidade. A vida e
obra de Lacerda
associam-se no princípio
“bom médium equivale a
homem bom” (Espírito
Emmanuel). As belíssimas
mensagens que
psicografou são de
leitura escorreita como
as do médium Chico
Xavier.
O Médium Lacerda e a sua
Mediunidade com Kardec
António Aveiro focou-se
em “Fernando de Lacerda
- o Médium”, tendo
destacado a grande
responsabilidade com que
exerceu a Mediunidade e
os vários tipos que
possuía: psicografia
mecânica, com mensagens
especulares,
clariaudiência,
clarividência e
curadora. “Eça de
Queiroz – póstumo” é a
obra do Espírito que
mais vezes por ele se
comunicou, com 147
mensagens. Opúsculo com
tratado espírita sobre
suicídio de Camilo C.
Branco. De forma
inspirada contou-nos
várias histórias: cura à
distância do filho do
amigo Sousa Couto; caso
de médium italiana
(Eusápia Paladino)
conduzida por Fernando
de
Lacerda
e que
avisou a
Rainha
D. Maria
Pia da
morte do
Rei
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Livraria
do
evento |
D.
Carlos;
caso de
zoantropia
do
“homem-macaco”
Albano
Jesus (subjugação).
Fenômenos
curiosos:
em 4m15s
recebeu
5
comunicações
de: Eça
de
Queiroz,
João de
Deus (em
verso),
Camilo
C.
Branco,
Júlio
Diniz e
Feliciano
Castilho
(escrita
para
cegos em
ponto
Balu);
em 1
hora
escreveu
237
versos
de João
de Deus. |
A mesa de encerramento
foi constituída por
Vitor Féria, Rui Marta e
Maria Emília Barros
(presidente da
Fraternidade Espírita
Cristã, Lisboa) que
apresentou uma palestra
ilustrada original sobre
“Allan Kardec e a
Mediunidade de Fernando
de Lacerda.” Com
ilustrações fez
analogias entre diversos
temas de estudo de “O
Livro dos Médiuns” (que
completa 150 anos) e o
percurso e conduta do
médium português. Disse
que seria interessante
recuperar os originais
dos 3 volumes (pela FEP)
e do 4º (pela FEB), da
obra “Do País da Luz”,
para que se pudesse
estudar as caligrafias
dos Espíritos
comunicantes. Agradeceu
“a Fernando de Lacerda,
a Kardec, a Jesus, aos
médiuns portugueses
encarnados e
desencarnados, e a todos
os homens e mulheres que
se doaram para que
através da doutrina
espírita possamos
compreender melhor o
caminho a seguir para
sermos felizes”.
Sob a orientação de
Paulo Fregedo, o Coro
Espírita da Região de
Lisboa interpretou 4
temas: Divina
Vontade, A
Flauta da Alegria (arranjo
musical do Hino da
Alegria de Beethoven +
Flauta Mágica de Mozart), Benedictus e Além
do Horizonte. Rui
Marta proferiu a prece
de encerramento e
dirigiu palavras finais
de agradecimento pela
presença e convívio dos
participantes,
relembrando o
compromisso abraçado por
todos na causa espírita
e na seara de Jesus.
Notas:
1.
A livraria espírita LIVRESP montada
no local, sob a
responsabilidade da FEP
e UERL, teve à venda
diversos livros, dos
quais destacamos: Do
País da Luz (4
volumes), Eça
de Queiroz - póstumo,
psicografias de Fernando
de Lacerda. De Manuela
Vasconcelos: Fernando
de Lacerda, o médium
português; História
do Movimento Espírita
Português (MEP); Grandes
Vultos do MEP. De
Hermínio C. Miranda e
Carlos Baccelli: Fernando
Lacerda – o precursor de
Chico Xavier. Nos
intervalos, foram
projetadas frases
exclusivas da obra “Do
País da Luz”, por
Espíritos diversos, para
se evidenciar a riqueza
e beleza das mensagens.
2.
A organização anunciou,
ao final, a edição do
seminário em DVD.
3. As fotos que ilustram
esta reportagem são de
autoria de Manuel Costa
e Nuno Emanuel.
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