A Revue Spirite
de 1869
Allan Kardec
(Parte
3)
Damos prosseguimento nesta edição
ao
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1869. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Onde está a força do
Espiritismo?
Sua força está no seu
caráter moral. Eis por
que o Espiritismo só
teria a perder caso
apoiasse a exploração da
mediunidade. Ao
combatê-la, a doutrina
ficou preservada de um
perigo maior que a má
vontade de seus
antagonistas confessos,
porque, se agisse de
modo diferente, ela lhes
teria apresentado um
lado vulnerável, ao
passo que eles se
detiveram ante a pureza
dos seus princípios.
(Revue Spirite de 1869,
pp. 41 a 43.)
B. Pode o desespero
causar a loucura?
Sim. Foi o que aconteceu
na Borgonha, onde uma
jovem viúva, mãe de
várias crianças, ao
perder o marido, a quem
adorava, perdeu por
completo a razão. Um
espírita da região,
vendo aquela família
lançada à miséria,
condoeu-se da sua
situação e procurou
ajudá-la. A consolação
que lhe foi dada pela
doutrina espírita,
acrescida das mensagens
do falecido, que o
citado confrade
psicografava, levou-a,
em poucos meses, a uma
cura completa. A pobre
viúva pôde então
entregar-se ao trabalho
e, dessa maneira,
alimentar a si e aos
filhos. Comentando o
caso, disse Kardec: “O
que havia causado a
(...) loucura daquela
mulher? O desespero. O
que lhe havia restaurado
a razão? As consolações
do Espiritismo”.
(Obra citada, pp. 43 a
45.)
C. Por que há Espíritos
que ignoram a própria
morte do corpo e, por
isso, se julgam
encarnados?
O fato, diz Kardec, é
bastante comum.
Espíritos há que se
julgam encarnados porque
seu corpo fluídico lhes
parece tangível como o
corpo físico. Esse seria
um dos motivos.
(Obra citada, pp. 45 a
49.)
Texto para leitura
22. Segundo o jornal
La Solidarité, se
pelo termo espírita se
entendem as pessoas que
creem na vida de
além-túmulo e nas
relações dos vivos com
as almas das pessoas
mortas, há que contá-los
por centenas de milhões,
visto que os seguidores
do budismo, de Confúcio
e de Lao-Tseu também
creem na existência dos
Espíritos. Kardec
concordou com as
observações feitas pelo
periódico francês e
acrescentou ao assunto
outras considerações.
(Págs. 34 a 38)
23. O Espírito de Sonnet,
em mensagem transmitida
em Paris, a 6 de janeiro
de 1869, revela o que,
em sua opinião, leva
certas pessoas a se
tornarem espíritas. “São
as mil perseguições que
sofrem em suas
profissões.” (Págs.
38 e 39)
24. O poder destruidor
do ridículo é o título
de um artigo que Kardec
escreveu ao ler esta
frase publicada num
jornal francês: “Na
França o ridículo sempre
mata”. O
Codificador, não
concordando com a frase,
disse que, para que o
adágio referido fosse
verdadeiro, seria
preciso dizer: “Na
França o ridículo sempre
mata o que é ridículo”.
O que realmente é
verdadeiro, bom e belo
jamais é ridículo, o que
explica por que o
ridículo, derramado em
profusão sobre o
Espiritismo, não o
matou. (Págs. 39 a
41)
25. Ao combater o
charlatanismo e a
exploração da
mediunidade, a doutrina
ficou preservada de um
perigo maior que a má
vontade de seus
antagonistas confessos,
porque, se agisse de
modo diferente, ela lhes
teria apresentado um
lado vulnerável, ao
passo que eles se
detiveram ante a pureza
dos seus princípios.
(Págs. 41 e 42)
26. O Espiritismo nada
tem a ganhar, e só
poderia perder,
apoiando-se na
exploração. Sua força
está no seu caráter
moral. É necessário,
pois, que seja forte por
si mesmo e, para isso, é
preciso que seja
respeitável. Cabe aos
seus adeptos dedicados
fazê-lo respeitar,
inicialmente, pregando-o
pela palavra e pelo
exemplo, e depois, em
nome da doutrina,
desaprovando tudo quanto
possa prejudicar a
consideração de que deve
ser rodeado. (Pág.
43)
27. Num lugar da
Borgonha, uma jovem
viúva, mãe de várias
crianças, ao perder o
marido, a quem adorava,
perdeu por completo a
razão. Um espírita da
região, vendo aquela
família lançada à
miséria, condoeu-se da
sua situação e procurou
ajudá-la. A consolação
que lhe foi dada pela
doutrina espírita,
acrescida das mensagens
do falecido, que o
citado confrade
psicografava, levou-a,
em poucos meses, a uma
cura completa. A pobre
viúva pôde então
entregar-se ao trabalho
e, dessa maneira,
alimentar a si e aos
filhos. (Págs. 43 e
44)
28. O padre da região,
inconformado com o rumo
dessa história, fez a
viúva ir à sacristia e
começou a lançar a
dúvida à sua alma, a
ponto de dizer que o
confrade era um súdito
de Satã e que agia em
nome deste. O sacerdote
agiu tão bem que a pobre
mulher, enfraquecida por
tantas emoções, recaiu
num estado pior que da
primeira vez. Sua
loucura era completa e
seu destino, um hospital
de alienados. (Págs.
44 e 45)
29. Comentando o caso,
observa Kardec: “O que
havia causado a primeira
loucura daquela mulher?
O desespero. O que lhe
havia restaurado a
razão? As consolações do
Espiritismo. O que a fez
recair numa loucura
incurável? O fanatismo,
o medo do diabo e do
inferno”. É triste,
conclui o Codificador,
“ver a Igreja fazer
dessa crença uma pedra
angular da fé”.
(Pág. 45)
30. Várias vezes, diz
Kardec, têm sido vistos
Espíritos que ainda se
julgam encarnados,
porque seu corpo
fluídico lhes parece
tangível como o corpo
físico. O fato é
bastante comum. A
Revue apresenta, no
entanto, um caso
bastante curioso de um
Espírito profundamente
materialista, em crença
e em gênero de vida, que
julgava estar sonhando.
Ao comunicar-se na
Sociedade de Paris, ele
insistiu nessa ideia e
pretendeu explicar pelo
estado de sonho todas as
objeções e perguntas que
lhe foram feitas. Uma
única pergunta o
embaraçou: Se ele usava
o corpo de um médium,
bem mais magro que ele,
onde estava o seu
verdadeiro corpo?
(Págs. 45 a 49)
31. Não é raro – ensina
Kardec – que um Espírito
atue e fale pelo corpo
de um outro. Não é
difícil entender o
fenômeno quando se sabe
que o Espírito pode
retirar-se com o seu
perispírito para longe
de seu corpo material.
Quando isto se dá, sem
que nenhum desencarnado
o aproveite, ocorre
catalepsia. Quando o
Espírito deseja aí
entrar para agir e tomar
por um instante sua
parte na encarnação, une
o seu perispírito ao
corpo adormecido,
desperta-o e desse modo
dá movimento à máquina
corpórea. Os movimentos
e a voz não são os
mesmos, porque os
fluidos perispirituais
não mais afetam o
sistema nervoso da mesma
maneira que o verdadeiro
ocupante. (Págs. 48 e
49)
Continua no próximo
número.)