LEDA MARIA
FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
Herdeiros da Terra
“Bem-Aventurados os
mansos porque eles
herdarão a Terra.” (Mt,
5:4.)
“Bem-Aventurados os
pacificadores porque
serão chamados filhos de
Deus.” (Mt, 5:9.)
“O homem deve progredir.
Sozinho, ele não pode
porque não tem todas as
faculdades; é-lhe
preciso o contato dos
outros homens. No
isolamento, ele se
embrutece e se
debilita.”
(O Livro dos Espíritos,
questão 768.)
Toda Criação divina, não
importa qual seja ela,
depende da colaboração
do outro e até mesmo do
sacrifício de uns para a
sobrevivência dos
outros.
É assim na Natureza,
pois, entre as espécies,
algumas precisam servir
de alimento para que
outras possam continuar.
Uma árvore, por exemplo,
precisa do Sol, do
vento, da chuva para se
desenvolver. A terra
serve de recurso para
que as formas que vivem
sobre o solo e sob ele
possam continuar
existindo. Algumas
espécies de animais são
predadores de outras
para que, nos dizem as
Ciências, aconteça o
equilíbrio entre elas.
Da mesma forma que
existem recursos na
Natureza para que o
equilíbrio se faça,
também entre nós eles
existem. É sobre esses
recursos que Jesus nos
fala nessa
bem-aventurança,
convidando-nos a
praticá-los em sua
plenitude.
Percebemos, então, que
em toda a Criação não
existe isolamento entre
seus indivíduos.
Portanto, para
progredir, crescer
material e
espiritualmente, o homem
necessita viver em
sociedade, e contar com
a bondade e o carinho do
outro. Assim é quando
nascemos, enquanto
estamos sobre o planeta
e quando morremos.
Tantas vezes, enfermiços
e aflitos, precisamos
encontrar o equilíbrio
para suportar as lutas
diárias... E onde
encontrá-lo senão junto
das pessoas que estejam
dispostas a nos ajudar?
Mas a quais recursos
Jesus se refere nesse
ensinamento? Fala-nos do
recurso da simpatia que
ajuda e compreende
aquele que erra. Diz-nos
da bondade que
concede essa ajuda e
perdoa, porque somos tão
devedores quanto o que
erra, amplia a
misericórdia no mundo e
fortalece a fraternidade
entre todas as
criaturas.
Quase sempre falamos em
paz e não a praticamos;
falamos em fraternidade
e pouco a exercitamos; e
quando nos predispomos a
isso, não nos damos
conta de que deve ser
iniciada em nosso lar,
através da bondade para
com todos os que nos
cercam, tratando os
companheiros que nos
acompanham, no cadinho
doméstico, como tratamos
nossos amigos ou
convidados.
Muito falamos e pouco
fazemos, e não
conseguimos realizar
quase nada daquilo que
dizemos, porque nos
falta paciência, virtude
que é base de todas as
outras. Falta-nos
paciência para ensinar
os outros, aprender com
os outros, ouvir e
compreender a todos que,
assim como nós, caminham
com as mesmas
dificuldades e, às
vezes, até maiores que
as nossas, em direção ao
Pai.
Nem sempre damos ao
outro o direito de
pensar, agir e
experimentar as
oportunidades que a vida
oferece, de forma
diferente de nós. Poucas
vezes, respeitamos cada
pessoa e cada coisa em
seu tempo, lugar e
condição, procurando
equilibrar nosso corpo e
alma.
Nesse ensinamento,
convite amoroso à
mansidão e à doçura,
Jesus sintetiza todos os
sentimentos contrários à
violência e todo desejo
do homem que luta pela
paz.
Mas onde está essa paz
tão desejada pelos
homens de bem? Joanna de
Ângelis lembra a todos
nós que a paciência pode
ser considerada a ciência
da paz, porque ela
representa a sua
exteriorização e utiliza
instrumentos não
violentos para atingir
seus objetivos. Assim, o
homem que possui um
coração manso traz essa
paz dentro de si, porque
a tem na sua
consciência, pois sabe
ser justo e tolerante
com o justo e o injusto;
com o bom e o mau; com
quem acerta e com quem
erra, pensando e agindo
com coerência,
procurando exercer a não
violência no trato com
os outros e com tudo
aquilo que estiver ao
seu redor. Para esse
homem, qualquer
dificuldade que surja em
sua vida é tolerável,
pois sabe esperar com
paciência a chegada da
solução. Não fica
inerte, ocioso, mas
compreende que se
estiver fazendo a sua
parte, Deus também
estará fazendo a Dele.
Entretanto, para que
essa paz se instale,
definitivamente, em
nossos corações,
é preciso ir buscá-la e
revelá-la ao mundo
através de atitudes de
amor para com todos.
Quando somos violentos
com os outros ou com
aquilo que nos cerca,
estamos sendo violentos,
certamente, conosco em
primeiro lugar, e não
conseguiremos a paz
interior que tanto
almejamos, como se fosse
possível apenas ter
desejo, sem lutar para
conquistá-la.
Por que Jesus disse que
“herdarão a Terra
aqueles que forem
mansos”? Porque os que
hoje assim procedem, já
estão vivendo nela.
Vivendo em plenitude os
ensinamentos do Cristo,
Suas promessas se
cumprem ao herdarmos a
Terra, agora
transformada pelo
sentimento de amor para
com todos.
“Do alto do monte,
tomado de tristeza pelas
desventuras humanas, o
Senhor ensinava às
multidões os meios de
conquistar, com o
trabalho por que
passavam, o Reino de
Deus. E a todos
recomendava resignação
na adversidade, mansidão
nas lutas da vida,
misericórdia no meio da
tirania e higiene de
coração para que
pudessem ver Deus.” (5)
Bibliografia:
1 - EMMANUEL (Espírito)
– Palavras
de Vida Eterna [psicografado
por F.C. Xavier] –
Edição CEC, 20ª ed.,
1955, lições 55, 67 e
77.
2 - Espíritos diversos – O
Espírito da Verdade –
[psicografado por F.C.
Xavier e Waldo Vieira],
Editora FEB, 10ª ed.,
lições 4 e 80.
3 - KARDEC, Allan – O
Evangelho segundo o
Espiritismo – Capítulo
9.
4 - Joanna de Ângelis
(Espírito) – Jesus
e o Evangelho - à luz da
psicologia profunda,
[psicografado por
Divaldo P. Franco], LEAL
Editora, 1ª ed., 2000,
pág. 69.
5 - SCHUTEL, Cairbar – Parábolas
e Ensinos de Jesus –
Casa Editora O Clarim,
14ª ed., Segunda Parte,
pág. 130.