Arnaldo Rocha:
“Com Chico
Xavier, passei a
compreender a
beleza da
Doutrina
Espírita”
O confrade
mineiro, que foi
casado com
Meimei e amigo
bem próximo de
Chico Xavier,
fala sobre seu
convívio com o
saudoso médium e
diz que Chico e
a Srta. Japhet
são
reencarnações
do mesmo
Espírito
|
Experiência
aliada à
cordialidade e
simplicidade de
alma e
conselheiro da
União Espírita
Mineira nos
últimos 64 anos,
nosso
companheiro de
ideal espírita
Arnaldo Rocha
(foto)
nasceu em
Tiradentes (MG)
no dia
29/8/1922. Era
materialista e
ateu. Casou-se
em primeiras
núpcias com
Meimei, hoje
conhecida
trabalhadora da
espiritualidade.
Meimei
desencarnou em
outubro de 1946.
Depois Arnaldo
casou-se com
Neuza Tófani,
que também já
retornou aos
|
planos
espirituais. Um
dia tomou
conhecimento do
Espiritismo
através de uma
reunião de que
participou na
casa do seu
irmão Geraldo. A
partir daí teve
estreita ligação
com a doutrina e
com o médium
Chico Xavier.
Foi atleta e
depois vendedor
de ferro e aço
da Cia. Belgo
Mineira, onde se
aposentou.
Conversamos com
ele que,
solicitamente,
nos atendeu para
a presente
entrevista. |
Dentro de sua
relação com
Chico Xavier,
durante um
período muito
grande, o que
destacaria dessa
convivência?
Com aquele
convívio com a
nossa alma
querida Chico
Xavier, fui
aprendendo a ser
tolerante,
paciente, e
passei a
compreender a
beleza da
Doutrina
Espírita.
Ter estado ao
lado do médium
mineiro com
certeza é ter
aprendido muito
com a
espiritualidade.
Pode nos citar
fatos marcantes
daqueles
momentos de
convívio com
Chico Xavier?
Em toda e
qualquer
situação o Chico
Xavier era um
homem calmo,
tranquilo e
simples, e com
ele aprendi a
ser humilde e
tolerante e isto
marcou muito a
minha vida.
Quando e como
foi que o
Espiritismo
entrou em sua
vida?
Eu era ateu e
materialista.
Meus irmãos e
minha mãe eram
espíritas.
Convidavam-me
para as reuniões
de estudo
doutrinário e eu
não tinha menor
interesse pelo
assunto.
Casei-me aos 22
anos e fiquei
viúvo aos 24.
Meimei faleceu
em 1º de outubro
de 1946. No dia
11 do mesmo mês,
escondendo-me de
um temporal
violento, já que
estava nas
proximidades da
casa de meu
irmão Geraldo
Benício Rocha,
me encaminhei
para lá. Luíza,
minha cunhada,
me recebeu e vi
que eles e mais
algumas amigas
estavam se
preparando para
uma reunião
espírita. De
imediato, deu-me
uma vontade de
ir embora, mas o
carinho de Luíza
insistiu para
que eu ficasse.
Assentei-me ao
lado de uma
senhora de mais
de 60 anos, toda
enrugada, com um
sotaque italiano
muito forte.
Após a prece
inicial
diminuíram a
luminosidade do
ambiente e a
senhora ao meu
lado entrou em
transe
mediúnico, que
eu nunca havia
presenciado,
apresentando
reações de
alguém sofrendo
muito, sufocado,
como se
estivesse
vomitando
sangue. (Meimei
desencarnou
devido a uma
hemorragia
pulmonar intensa
por complicações
renais.)
Como se sentiu
naquele
instante?
Achei toda
aquela situação
profundamente
estranha. Meu
irmão Geraldo
levantou-se de
onde estava e
começou a falar
com aquela
“coisa”...
Palavras calmas,
tranquilas e a
situação
desagradável
apresentada por
meio da médium
foram
desaparecendo.
Olhei
atentamente seu
rosto e
espantei-me com
a aparência de
jovem da mesma.
Meu irmão se
dirigiu àquela
“coisa”
perguntando se
queria falar com
alguém. Aí foi o
meu maior susto.
Ouvi a voz
clara, bonita,
melodiosa de
Meimei. Ela
disse: “Rialmente
eu gostaria, mas
o meu sozinho
não vai
entender...”.
Irma de Castro
Rocha, seu
verdadeiro nome,
nunca
pronunciava a
palavra
“realmente”...
O que significa
o termo
“sozinho”?
Quando éramos
noivos eu e
Meimei lemos um
livro chinês que
se chamava “O
Momento em
Pequim”. Foi ali
que vimos que
Meimei em chinês
quer dizer:
Noivo(a)
bem-amado(a).
Então começamos
a nos chamar de
Meimei. Tanto eu
a ela, quanto
ela a mim.
Depois, com a
chegada de sua
doença, ela
começou a me
chamar de
“sozinho”, pois
dizia que eu
ficaria sozinho,
uma vez que ela
desencarnaria.
Após a primeira
reunião de que
participou,
quais foram suas
reações, uma vez
que não
acreditava em
Espíritos?
Após a reunião,
dialogando com
meu irmão, ele
aconselhou-me a
estudar O
Livro dos
Espíritos e
O Evangelho
segundo o
Espiritismo.
Seguiu seu
conselho?
Naturalmente.
Tudo aquilo era
muito estranho e
necessitava ser
esclarecido.
Como foram os
dias finais de
Meimei como
encarnada?
Durante os
últimos três
meses da sua
enfermidade, a
sua visão foi
diminuindo aos
poucos.
Dormíamos em
camas separadas.
Era-lhe habitual
orar à noite.
Dizia-me sempre:
“Vovó Antoninha
vem me buscar
para um lugar
muito
bonito...”.
Sempre achei que
ela não estava
“boa da cabeça”
por causa da
hipertensão
craniana que
veio promover a
sua cegueira. Na
noite de 1º de
outubro de 1946,
ela faleceu por
volta das 4h da
manhã. Dez dias
depois
comunicava-se
comigo naquela
reunião já
citada, na casa
do meu irmão.
E como foi seu
primeiro contato
com Chico
Xavier?
Na tarde de 22
de outubro
daquele mesmo
ano esbarrei-me
com um senhor
modestamente
trajado, usando
chapéu e
carregando uma
pasta. Ambos
caíram no chão.
Abaixei-me para
apanhá-los,
quando o homem,
sorridente,
alegre, passou a
mão no meu rosto
e me disse: “A
nossa
Princesinha está
aqui, hoje
Meimei faria 24
anos”. Fiquei
profundamente
assustado, sabia
lá o que era um
médium
clarividente?
Mentalmente
pensei que os
espíritas todos
eram uns
doidos... O
homem nunca
tinha me
visto...,
chamava-me de
Naldinho...,
falava-me de
Meimei...
Passado o susto,
o reconheci,
devido a uma
reportagem da
época publicada
pela revista
O Cruzeiro.
Era o Chico. Nós
nos esbarramos
numa rua de Belo
Horizonte. Foi
esse meu
primeiro contato
com ele. Dali
fomos para a
casa do meu
irmão Geraldo e,
por meio da
psicofonia,
Meimei se
manifestou e
dialogamos por
mais de uma
hora. Então,
iniciou-se minha
amizade com o
Chico.
Na
espiritualidade,
além do seu
conhecido
trabalho, que
mais sabe sobre
Meimei?
No livro “Entre
a Terra e o
Céu”, de autoria
de André Luiz,
no cap. 9,
título “No Lar
da Bênção”,
dirigido pela
sua avó materna
Antoninha,
Meimei
colaborava com
ela na
assistência a
crianças
desencarnadas.
No cap.10,
título “Preciosa
Conversação”,
dialogando
longamente com o
Espírito de
Clarêncio e com
André Luiz, ela
fala de suas
tarefas no plano
espiritual e
assistência às
mães que pedem
seu auxílio para
os filhos
enfermos. Quando
fiquei noivo de
minha segunda
esposa, Neuza
Tófani, Chico
contou-me que
Emmanuel lhe
dissera que
Meimei o
procurou
solicitando o
seu auxílio para
sua
reencarnação.
Ele lhe
respondeu que
como minha
esposa ela não
poderia mais
voltar, mas,
como filha,
seria possível.
Porém,
repreendeu-a
para que
deixasse de ter
ciúmes daquela
situação com
vistas a
centenas de
creches, abrigos
e centros
espíritas que
levam seu nome.
Como é possível
a senhora, por
uma questão
pessoal, querer
abandonar todas
as suas
responsabilidades?
Se vier alguma
consulta quanto
à minha
aprovação, será
negativa. E que
ela continuasse
se dedicando ao
trabalho que
estava
realizando na
espiritualidade.
Que pensasse nas
creches que já
estavam
espalhadas pelo
Brasil em seu
nome, nas mães
aflitas que
rogavam a ela
bênçãos para os
filhos, e ela se
resignou.
Arnaldo, é
sempre bom
falarmos sobre
reencarnação.
Li, certa vez,
que você
participou de
uma reunião com
o Chico na qual
foi revelado que
o compositor
brasileiro
Radamés Gnatali
era a
reencarnação do
compositor
italiano
Rossini. Pode
nos falar sobre
isso?
Pedro Quintão,
cunhado de
Chico, casado
com a Geralda,
telefonou-me
numa noite de
terça-feira
convidando-me
para irmos a
Pedro Leopoldo.
Estava em sua
casa seu grande
amigo Radamés
Gnatali, o
grande
compositor. Em
lá chegando,
fizemos uma
reunião com o
Chico, onde o
Espírito de
Emmanuel deu uma
bela mensagem na
qual informava
que o Radamés
era a
reencarnação de
Rossini. Radamés
e Pedro Quintão
retornaram a
Belo Horizonte
e, como
quarta-feira era
feriado,
permaneci.
Caminhando para
a casa de Chico
lembrei-me de
nossas conversas
na reunião e de
que no livro
Obras Póstumas
existem duas
mensagens de
Rossini.
Existem também
informações de
que Chico Xavier
teria sido a
encarnação de
Allan Kardec.
Contudo você tem
dito que ele foi
a reencarnação
da Srta. Japhet,
médium
contemporânea de
Kardec. Pode
comentar sobre
essa
controvérsia?
O campo da
fantasia pulula
lamentavelmente
no meio
espírita. De
Hutsepsup,
princesa
egípcia, por
volta de 3.256
a.C., até 1890
quando
desencarnou na
Espanha, em
Barcelona, todas
as reencarnações
de Chico Xavier
foram em corpos
femininos, pois
ele é um
Espírito
feminino.
Somente agora,
nesta última
existência, com
vistas às suas
responsabilidades,
ele reencarnou
como homem.
Dialogando com
Chico, falei-lhe
de uma dúvida
que era
constante em meu
pensamento.
Consta que uma
vez por mês, ou
na casa do Sr.
Roustan ou na
casa do Sr.
Japhet, Kardec
levava o
material que
seria O Livro
dos Espíritos,
e o Espírito
Verdade fazia
correções,
aconselhando sua
publicação em 18
de abril de
1857. Na casa do
Sr. Roustan,
Kardec falava
sobre a médium
(C), na do Sr.
Japhet dava o
nome todo da
médium,
Ruth-Céline
Japhet.
Chico
corrigiu-me a
expressão
Japhet, dizendo
que a pronúncia
é “Japet”! A
família era
judia.
Indaguei-lhe
quem era Ruth
Japet.
O que foi que o
Chico lhe disse?
Respondeu-me
sorrindo: “Você
está conversando
com ela...”
Assim, Chico
Xavier foi
contemporâneo de
Kardec e era a
Srta. Japhet?
Ele mesmo disse
isto a mim.
Pode nos dizer
qual foi a
verdadeira
relação entre
Kardec e a Srta.
Japhet?
A Srta. Japhet
era médium e ela
sempre colaborou
com ele, desde o
início, quando
se conheceram na
casa da senhora
Plainemaison.
Kardec
consultava os
Espíritos por
meio dela.
Donde partiu a
ideia de que
Chico Xavier
teria sido
Kardec? Quem a
postulou e em
quais bases?
De onde partiu
eu não sei, não
presto atenção
em tolices. Deve
ser de pessoas
que não conhecem
a Doutrina
Espírita e que
ficam falando
uma bobagem
destas.
Há, em sua
opinião, algo
que possa dar um
ponto final a
essa
divergência?
Em outras
entrevistas que
dou, procuro não
dar ênfase a
este assunto. Eu
não dou atenção
ao campo das
fantasias. Tudo
isto é uma
ilusão muito
grande que não
acrescenta nada
à Doutrina.
Como e qual foi
a sua
colaboração
dentro da
estrutura
literária
recebida pelo
médium Chico
Xavier?
Com a fundação
do Grupo Meimei,
graças à
gentileza do
caroável amigo
Carlos Torres
Pastorino, que
nos doou um
gravador de
rolo, foi
possível gravar
as palestras de
encerramento de
nossas reuniões
no Grupo. Assim,
Emmanuel, Teresa
de Ávila, Frei
Pedro
de Alcântara,
Dr. Camilo
Chaves e outros
facultaram-nos a
organização de
dois livros:
Instruções
Psicofônicas
e Vozes do
Grande Além.
Quando Chico foi
de mudança para
Uberaba,
entreguei-lhe
cerca de 30
mensagens
devidamente
organizadas para
uma nova obra.
Essas páginas
infelizmente se
perderam e não
foi possível
organizar um
terceiro livro.
Quando Chico
Xavier se mudou
para Uberaba,
como foi sua
participação
dentro do
trabalho que ele
desenvolveu a
partir daquela
cidade?
Ia lá somente
para visitá-lo.
Arnaldo, algo
nos intrigou
bastante ao ver,
na TV Globo, a
minissérie Chico
Xavier. A
minissérie
mostrou dois
“Chicos” bem
diferentes. O
primeiro,
representado por
Ângelo Antônio,
é uma pessoa
muito simples,
que se veste mal
e tem um
comportamento
humilde, como
imaginamos que o
Chico tivesse. O
outro,
representado
pelo ator Nelson
Xavier, é uma
pessoa
aparentemente
vaidosa,
preocupada com
seu visual e até
mesmo um pouco
"arrogante". É
inconcebível que
tenha ocorrido
tal mudança.
Dentro de sua
convivência com
o Chico, o que
você pode nos
dizer sobre o
que foi mostrado
na minissérie?
O filme e a
minissérie não
foram feitos por
espíritas. O
Chico era de uma
pobreza
impressionante,
e Maria João de
Deus, sua mãe,
era negra e
todos os filhos
que ela teve
eram de morenos
para mulatos. No
filme apresentam
uma pessoa
clarinha. Outra
coisa no
primeiro momento
do filme:
mostram ruas
altas e baixas.
Pedro Leopoldo é
uma cidade
plana. Nelson
Xavier apresenta
um Chico mais
importante,
quando na
verdade era o
contrário. Vejam
a cópia do
famoso “Pinga
Fogo” e verão a
veracidade do
que digo. No
nosso meio há de
tudo o que se
queira
imaginar...
Apesar de tudo
isso, em sua
opinião o filme
foi importante
para o Movimento
Espírita?
Sim. Muitas
pessoas estão
procurando os
Centros
Espíritas para
se informarem. É
preciso que os
espíritas
estudem mais
para ajudar a
quem procura os
fundamentos do
Espiritismo.
No filme “Nosso
Lar”, Emmanuel é
apresentado como
morador daquela
colônia.
Concorda com
isto?
Não. Isto é uma
adaptação do
livro, isso que
se chama de
licença poética.
Emmanuel
simplesmente fez
a apresentação
do livro
Nosso Lar,
bem como dos
demais.
Como você vê o
movimento
espírita na
atualidade? Que
projeções
percebe para o
futuro do
Espiritismo no
Brasil?
Vejo que o
Espiritismo
caminha, mesmo
às vezes
dependendo de
muitos espíritas
vagarosos ou
ensimesmados.
Seu futuro é o
do
esclarecimento
da Humanidade
quanto à
realidade do ser
imortal que
todos somos. Os
espíritas
precisam
difundir mais
O Livro dos
Espíritos.
Poucos estudam
essa obra, que é
principal dentre
todas as obras
espíritas.
Em sua opinião,
como devemos
estudar Kardec?
Qual a melhor
didática?
Para o iniciante
em Doutrina,
aconselham-se os
livros O que
é o Espiritismo
e O
Principiante
Espírita, o
que lhe dará
embasamento para
o estudo
constante e
permanente de
O Livro dos
Espíritos,
O Evangelho
segundo o
Espiritismo,
O Livro dos
Médiuns,
O Céu e o
Inferno e
A Gênese.
Digo também que
não se deve
confundir
Espiritismo com
Mediunidade.
Espiritismo é um
corpo
doutrinário e
Mediunidade é
uma ferramenta
de comunicação
psíquica entre
os seres. Falo
sempre isto
quando sou
convidado a
fazer
palestras.
Pode nos deixar
uma palavra
sobre Chico
Xavier e Meimei?
Foram as pessoas
que me educaram
na Doutrina
Espírita. Devo
muito a ambos e
sou muito grato
por isso.
Agradecemos
imensamente pela
gentileza de nos
ter recebido e
pedimos que nos
deixe suas
considerações
finais.
Tenho hoje 88
anos de idade,
trabalho na
União Espírita
Mineira nas
reuniões
públicas de
segunda-feira,
em que faço um
estudo metódico
de O Livro
dos Espíritos,
e às
quartas-feiras
coordeno as
reuniões
mediúnicas de
desobsessão, com
dez médiuns
psicofônicos.
Isto me felicita
a alma. Vamos
trabalhar pela
divulgação do
Espiritismo.
Jesus no-lo
ofereceu. Vamos
auxiliar a quem
nos pede ajuda.
Nós recebemos
muito todos os
dias.
Nota do Autor:
Clique em
http://vimeo.com/9098617
para ver a
palestra “Chico,
Diálogos e
Recordações”
proferida em
9/10/2009, em
que Arnaldo
Rocha fala sobre
o saudoso médium
Chico Xavier.