MARCUS
VINICIUS DE AZEVEDO
BRAGA
acervobraga@gmail.com
Guará II, Distrito
Federal (Brasil)
Lucidez
e genialidade
Em 9.12.68, o cantor e
compositor Chico Buarque
– ao se defrontar com a
polêmica pelo fato de
ele fazer samba, o que
seria para a época um
ritmo ultrapassado, em
relação às inovações,
como o movimento da
Tropicália – escreveu um
artigo no periódico “Última
hora”, que termina
com uma frase de sua
autoria que se tornou
consagrada, sintetizando
o seu pensamento sobre a
questão: nem toda
loucura é genial, como
nem toda lucidez é
velha.
Passados mais de 40
anos, a genialidade e a
lucidez desta frase nos
remetem ao assunto desse
artigo, visando ao
público jovem. De onde
vem essa ideia de que
por sermos jovens temos
que fazer loucuras?
Parece-nos que existe
uma cota, um número
mínimo e máximo de
loucuras e inconsequências que
devemos efetuar na nossa
juventude, para que esta
seja vivida em
plenitude... Pois quando
ficarmos velhos e
caretas, teremos que
desempenhar aqueles
papéis chatos e sérios,
tendo que encarar o
batente como
cordeirinhos. Uma grande
tentativa de
compensação, então!
Ora, crer nisso dentro
do contexto da realidade
espírita é ignorar a
finalidade de nossa
passagem pelo Planeta
Terra e as questões
ligadas à nossa evolução
espiritual no momento da
juventude. Ah, é bem
verdade, quando jovens
temos o nosso processo
de autoafirmação, de
construção da nossa
identidade no contexto
social, de busca de
caminhos. E isso nos
demanda uma certa dose,
diria até natural, de
contestação. Mas, daí,
para vivermos uma
ciranda de loucuras...,
muito distante.
Digo isso, pois vejo as
consequências funestas
dessa ideia nos
noticiários e no
cotidiano. Vários jovens
ferindo-se ou perdendo a
vida nos famosos
“rachas” com automóveis,
nas guerras de
“gangues”, no uso e
abuso de álcool e de
drogas ilícitas, nos
esportes de altíssimo
risco sem supervisão
profissional, entre
outras loucuras geniais.
Toda essa aventura, essa
loucura que inunda as
veias de adrenalina,
traz em si uma dose de
risco que nos permite
qualificá-las como
situações que beiram o
suicídio. Ninguém
enxerga a genialidade de
descobrir novos
conhecimentos, ajudar ao
próximo, lutar pelas
questões sociais,
engajar-se na causa
ecológica. Vemos o novo
e genial apenas nas
loucuras!
Seria prudência uma
coisa dos mais velhos?
Seria se preocupar com a
sua integridade física
uma caretice? Lucidez é
monótona? Genial é se
arriscar e acabar com a
sua vida? Esses
questionamentos são
interessantes para a
mente juvenil, por vezes
seduzida por essas
ideias, como quem busca
sorver a vida em um
único gole.
A vida como Espírito
encarnado tem suas
riquezas e suas dores,
nos seus vários
momentos. Na infância e
na madureza, na
adolescência e na
velhice, cada época tem
seus frutos e seus
dissabores. A vida é
isso, essa trajetória,
esse caminho cujas
preocupações oscilam
entre o passado, o
presente e o futuro.
Entre o individual e o
coletivo. Não podemos
esquecer o que fomos,
nem desprezar o que
queremos ser. Porém, o
presente é a hora de
fazer e acontecer.
Na espiritualidade,
bilhões de Espíritos se
amontoam na busca da
oportunidade da
reencarnação, na ânsia
de aprender a amar, de
resgatar as suas dívidas
e de crescer, nos
ditames da Lei maior. O
que pensam esses
Espíritos quando veem a
vida sendo desperdiçada
assim? Será que eles
acham isso tudo genial?