Ônibus
174
Do
interior
do homem
velho
cumpre
tirar o
homem
novo
“Toda
vez que
a emoção
desce ao
estágio primevo,
a
sensação
sobe à
inteligência
e a
enlouquece”.
-
Joanna
de
Ângelis
Existem
vários
tipos e
graduações
de
analfabetismos...
Citemos
apenas
três
como
exemplos:
Existe o
analfabetismo
propriamente
dito,
isto é,
aquele
que
impossibilita
a
criatura
de ler e
escrever.
Existe o
analfabetismo
funcional,
no qual
a
criatura
– embora
letrada
– não
possui a
capacidade
de
interpretar
e,
consequentemente,
não
logra
aplicar,
em seu
cotidiano,
a
essência
dos
ensinamentos
lidos.
Existe o
analfabetismo
emocional,
gerador
de consequências
mais
desastrosas
do que
os dois
tipos de
analfabetismos
citados
inicialmente...
A
incontinência
emocional
tem
gerado
sofrimentos
atrozes
pelo
mundo,
entre
pessoas
de todas
as
faixas
etárias
e dos
mais
variados
níveis
sociais.
O
esfacelamento
dos
laços
familiares
nos
vórtices
alucinantes
da vida
hodierna
tem
colaborado
enormemente
para a
recrudescência
do
egoísmo
e
despautérios
de
variegado
matiz.
Tal o
que
pudemos
observar
ao
assistir
ao
filme-documentário
sobre o
trágico
episódio,
de
triste
lembrança,
com o
ônibus
da linha
174 no
Rio de
Janeiro,
anos
atrás.
Ali está
–
claramente
expresso
– o
estigma
da
negligência
social
fermentada
no caldo
comburente
da
exclusão.
Sandro,
o
protagonista
principal
e as
tensões
esparzidas
ao longo
de todo
o
episódio
chamam
bastante
a
atenção
para o
magno
problema
social
gerado
pela
ausência
dos
verdadeiros
condimentos
educacionais
e pela
desestruturação
familiar.
Não
falece
dúvida
que
qualquer
um de
nós, na
pele de
Sandro,
–
provavelmente
–
seríamos
protagonistas
das
mesmas
cenas ou
até
mesmo
piores.
Ele,
pelo
menos,
apesar
de ter
sofrido
terríveis
revezes
e dramas
existenciais,
desamor,
solidão,
violência,
descaso
da
sociedade,
uso de
drogas e
sabe
Deus
mais lá
o quê,
ainda
mostrou
germes
de
bondade
em seu
coração
e
algumas
noções
de
valores
básicos
incrustados
nos
substratos
da
consciência.
Já o
mesmo
não
podemos
dizer
com
relação
aos
policiais
que o
assassinaram
e nem
mesmo da
população
que o
queria
linchar,
quando
já se
encontrava
dominado
e
indefeso.
Pior
ainda é
o que
estamos
testemunhando,
hodiernamente,
pela
mídia,
perplexos
e
horrorizados,
ao vivo
e a
cores:
os
cruentos
quão
inomináveis
e
estarrecedores
acontecimentos
no
Oriente
Médio. O
que não
é capaz
de fazer
o ser
humano
(ser
humano?!)
por
inócuas
conquistas
políticas
e
econômicas!...
Sim,
porque,
em suma,
o que
marcou – essencialmente
– a
presença
norte-americana
nos
sanguinolentos
cenários
do
Iraque,
isto é,
o
verdadeiro
motivo,
além da
retaliação
pelo 11
de
setembro,
ancora-se
em
motivações
econômicas
(petróleo)
e
políticas
(ambição
de Bush
pela
reeleição).
Para a
conquista
dessas
metas,
os
principais
interessados
fecham
os olhos
para os
pesados
ônus,
tanto
financeiros
quanto
em vidas
humanas
estraçalhadas,
e em
horrores
mil,
humanamente
inqualificáveis...
Não
basta a
um povo
estar
tão-somente
desenvolvido
intelectual
e
tecnologicamente;
há
que se
enfatizar,
também,
o
desenvolvimento
moral.
Sem este
aqueles
provocam
desastres
como os
que
temos
presenciado
ultimamente.
Se a paz
depende
da
justiça,
conforme
o
pensamento
de
Vieira,
em
epígrafe,
como
incentivar
noções
de
justiça
nesses
povos
onde é
alto o
índice
de
beligerância?
Resposta:
pela
educação!...
“Tão
somente
pela
educação”
– já
dizia
Vinícius
- “se
pode
incutir
as
noções
de
justiça
a esses
povos,
por isso
que o
senso de
justiça,
como,
aliás,
de todas
as
virtudes,
nasce,
cresce e
frutifica
no
coração,
e não no
cérebro”.
Continuemos
com as
lúcidas
ilações
de
Vinícius:
“(...)
Educar,
formando
o
caráter,
eis o
problema
máximo
cuja
solução
o
momento
reclama.
O que se
tem
feito
até aqui
para
extinguir
de vez a
guerra,
tornando-a
impraticável?
De
prático
e
eficiente,
nada!...
Diviniza-se
a paz,
porém,
somente
nos
lábios,
nas
frases
literárias,
nos
discursos
políticos
demagógicos.
A
guerra,
com sua
goela
hiante,
devoradora
de vidas
humanas,
devastadora
impenitente
dos
campos e
cidades,
anarquizadora
por
excelência
da ordem
e do
ritmo
vital de
povos e
nações,
tanto
como a
paz,
resultam
das
consequências
inelutáveis
e fatais
da
condição
em que
se acham
estruturadas
as
organizações
político-sociais
do nosso
mundo.
Enquanto
estas
forem
inócuas,
prevalecendo
a força
contra o
direito,
e a
impostura
contra a
verdade,
haverá
guerras
e
convulsões
sangrentas.
O preço
da paz é
a
justiça,
aquela
justiça,
porém,
da qual
disse o
Mestre
de
Nazaré
aos Seus
discípulos:
‘Se a
vossa
justiça
não for
superior
à dos
escribas
e
fariseus,
não
entrareis
no Reino
de
Deus’.
Sem
ela,
nunca
sairemos
das
garras
aduncas
e
ferozes,
das
guerras
periódicas
desencadeadas
em
determinadas
regiões
do
planeta,
evoluindo
para as
grandes
conflagrações,
como as
que
temos
ultimamente.
A
solução
para tão
horripilante
situação
encontra-se
nas
seguintes
estrofes
do
imortal
vate
lusitano,
Guerra
Junqueiro:
‘Acendem-se
na rua,
à noite,
os
candeeiros;
/Coloca-se
um
gendarme
à porta
dos
banqueiros;
/A
polícia
fareja
os becos
e as
vielas;
/Dobram-se
as
precauções,
dobram-se
as
sentinelas;
/E
apesar
disto
tudo há
feras
pela
rua; /O
vício
não
acaba, o
roubo
continua,
/E é
cada vez
maior a
criminalidade.
/Pois
bem;
iluminai
por
dentro a
sociedade:
/Ponde o
trabalho
e a
honra
onde
estiver
a
esmola;
/Uni o
amor ao
berço e
uni o
berço à
escola.
/Acendei
uma luz
em cada
coração’.
Tal é o
remédio
apontado
pelo
grande
pensador,
para
debelar
o crime
e
moralizar
a
sociedade.
Realmente,
não
existe
outra
panaceia
capaz de
conjurar
os
vetustos
e
renitentes
males
sociais,
senão
essa.
Tudo o
mais são
paliativos,
são
recursos
efêmeros
cujo
efeito
consiste
em adiar
as
crises
da
enfermidade
moral de
que
padecem
os
homens.
E,
assim,
de
delonga
em
delonga,
de
adiamento
em
adiamento,
as
doenças
do
Espírito
se
radicam
e se
agravam
zombando
do
curandeirismo
irracional
e
inócuo,
contra
elas
aplicado”.
Vinícius
continua
oferecendo
a
receita
para a
reversão
dos
desesperadores
e
quadros
de
miséria
moral:
“(...) A
nossa
sociedade
é uma
enferma
entregue
nas mãos
de
curandeiros
charlatões
que se
preocupam
em
combater
sintomas,
visando
com isso
impressionar
a doente
cujo
estado
se
agrava
continuamente...
Todas as
perturbações
sociais,
de
caráter
nacional
ou
internacional,
são
fenômenos
acidentais,
revelando
um
estado
mórbido
geral e
permanente
que
ainda
não foi
focalizado
pelos
bisonhos
terapeutas
que
rodeiam
o leito
da
extenuada
enferma.
A
moléstia,
no
entanto,
vai se
definindo
cada dia
com mais
evidência:
Trata-se
de
hanseníase
da alma
assinalada
na
insensibilidade
moral
que
caracteriza
o homem
deste
século.
Eduque-se
o
sentimento,
cultive-se
a
ciência
do bem
que é a
ciência
do
coração,
e
ver-se-á
a
moléstia
decrescer,
e a
enferma
entrar
em
franca
convalescença...
Urge dar
essa
orientação
ao
problema
educacional.
A
Humanidade
precisa
ser
reformada.
Do
interior
do homem
velho
cumpre
tirar o
homem
novo, a
nova
mentalidade
cujo
objetivo
será
desenvolver
o amor
na razão
direta
do
combate
às
multiformes
modalidades
em que o
egoísmo
se
desdobra.
A
renovação
do
caráter
depende
da
renovação
dos
métodos
e
processos
educativos”.
Joanna
de
Ângelis
complementa1:
“(...)
Todos
estamos
destinados
à
imarcescível
glória
do Bem,
que
triunfará,
embora a
demorada
presença
do mal
que
elaboramos
em nós
mesmos
para o
suplício
que
preferimos.
Por
maior
que seja
esse
período
de
dominação
negativa,
cessará
ao
impositivo
da
evolução
que
jamais
será
detida.
Conveniente
utilizar-se,
desde
logo,
dos
antídotos
poderosos
para as
paixões
que
desgovernam
os
homens e
a época,
e de que
nos dão
excelentes
provas a
química
do amor
e a
dinâmica
da
caridade
de que o
Cristo
Se fez
paradigma
por
excelência...
Pequenos
esforços
somam
resultados
expressivos;
migalhas
reunidas
formam
volume
respeitável;
átomos
agregados
constituem
forças
atuantes
e vivas:
Pequeno
esforço
contra a
ira, uma
migalha
de
caridade
logo
mais, um
átomo de
amor que
se
dilata,
e será
formado
o
condicionamento
para as
arrancadas
exitosas
contra
as
grandes
paixões
aniquilantes
que
devem
ser
incessantemente
combatidas.
Um
pensamento
feliz,
uma
palavra
cortês,
um
aperto
de mão,
e
desabrocham
os
pródromos
das
paixões
pela
fraternidade
e pelo
Mundo
Melhor
que
desde já
está
sendo
construído
pelos
lutadores
autênticos
do
Cristo,
espalhados
em todos
os
campos
de
atividade
na
Terra,
esperando
pela
contribuição
da boa
vontade
de cada
um de
nós”.