O grito de
cólera
Neio Lúcio
Lembra-se do
instante em que
gritou
fortemente,
antes do almoço?
Por
insignificante
questão de
vestuário, você
pronunciou
palavras feias
em voz alta,
desrespeitando a
paz doméstica.
Ah! meu filho,
quantos males
foram atraidos
por seu gesto de
cólera!...
A
Mamãe, muito
aflita, correu
para o
interior,
arrastando
atenções de toda
a casa.
Voltou-lhe a
dor-de-cabeça e
o coração tornou
a
descompassar-se.
As duas irmãs,
que cuidavam da
refeição,
dirigiram-se
precipitadamente
para o quarto, a
fim de
socorrê-la, e
duas terças
partes do almoço
ficaram
inutilizadas.
Em razão das
circunstâncias
provocadas por
sua irreflexão,
o papai, muito
contrariado, foi
compelido a
esperar mais
tempo em casa,
chegando ao
serviço com
grande atraso.
Seu chefe não
estava disposto
a tolerar-lhe a
falta e
recebeu-o com
repreensão
áspera.
Quem o visse,
erecto e digno,
a sofrer essa
pena, em virtude
da sua
leviandade,
sentiria
compaixão,
porque você não
passa de um
jovem
necessitado de
disciplina, e
ele é um homem
de bem, idoso e
correto, que já
venceu muitas
tempestades
para amparar a
família e
defendê-la.
Humilhado,
suportou as
consequências de
seu gesto
impulsivo, por
vários dias,
observado na
oficina qual se
fora um menino
vadio e
imprudente.
Os resultados de
sua gritaria
foram, porém,
mais vastos.
A
Mãezinha piorou
e o médico foi
chamado.
Medicamentos de
alto preço,
trazidos à
pressa,
impuseram
vertiginosa
subida às
despesas, e o
papai não
conseguiu pagar
todas as contas
de armazém,
farmácia e
aluguel de casa.
Durante seis
meses, toda a
sua família
lutou e
solidarizou-se
para recompor a
harmonia
quebrada,
desastradamente,
por sua ira
infantil.
Cento e oitenta
dias de
preocupações e
trabalhos
árduos,
sacrifícios e
lágrimas! Tudo
porque você,
incapaz de
compreender a
cooperação
alheia, se pôs a
berrar,
inconscientemente,
recusando a
roupa que lhe
não agradava.
Pense na lição,
meu filho, e não
a repita.
Todos estamos
unidos,
reciprocamente,
através de
laços que
procedem dos
desígnios
divinos. Ninguém
se reúne ao
acaso. Forças
superiores
impelem-nos uns
para os outros,
de modo a
aprendermos a
ciência da
felicidade, no
amor e no
respeito mútuos.
O
golpe do machado
derruba a árvore
de vez.
A
ventania destrói
um ninho de
momento para
outro.
A
ação impensada
de um homem,
todavia, é muito
pior.
O
grito de cólera
é um raio
mortífero, que
penetra o
círculo de
pessoas em que
foi pronunciado
e aí se demora,
indefinidamente,
provocando
moléstias,
dificuldades e
desgostos.
Por que não
aprende a falar
e a calar, a
benefício de
todos?
Ajude em vez de
reclamar.
A
cólera é força
infernal que nos
distancia da paz
divina.
A
própria guerra,
que extermina
milhões de
criaturas, não é
senão a ira
venenosa de
alguns homens
que se alastra,
por muito tempo,
ameaçando o
mundo inteiro.
Do cap. 26 do
livro
Alvorada Cristã,
obra de Neio
Lúcio,
psicografada
pelo médium
Francisco
Cândido Xavier.