ELY
EDISON MATOS
ely.matos@ufjf.edu.br
Juiz de Fora, MG
(Brasil)
Por
quê?
Por quê? Esta talvez
seja a pergunta mais
ouvida nos últimos dias,
em referência à tragédia
ocorrida na escola em
Realengo. Durante estes
dias ouvimos na mídia as
opiniões de
especialistas em
segurança, policiais,
educadores, cientistas
políticos, psiquiatras
forenses, políticos,
religiosos, bem como de
pessoas nas ruas e nos
ônibus. Diante de
tamanha violência, todos
nos sentimos acuados e
precisamos de
explicações.
Ninguém, no entanto,
apresenta uma resposta
que explique alguma
coisa, um mínimo que
seja. Alega-se a
necessidade de melhorar
o atendimento nos
serviços públicos de
psiquiatria, de desarmar
a população, de aumentar
a segurança nas escolas,
de dar mais atenção à
questão da violência
doméstica, de proibir a
veiculação de filmes e
vídeos violentos nos
meios de comunicação.
Mas quanto ao fato em
si, continuamos
perguntando: Por quê?
A pergunta tem um cunho
filosófico. Embora para
muitos a filosofia
esteja fora da realidade
cotidiana, o cruel
assassinato de crianças
nos obriga a pensar.
Podemos minimizar,
considerar que seja um
fato isolado, do tipo
“infelizmente isso
acontece”, ou podemos
maximizar, perguntando
sobre o próprio sentido
de nossa vida. O certo é
que este crime não
deveria ser visto com
indiferença por nenhum
de nós.
Acreditamos em Deus. Mas
por que Deus permitiu
que isso acontecesse?
Ouvimos várias vezes a
pergunta. É
contraditório que Deus,
sendo Justiça e Bondade,
permita acontecimentos
deste tipo. Ou Deus não
é como acreditamos, ou
precisamos mudar a forma
como cremos em
Deus. Queremos
acreditar, mas tudo ao
redor tem-nos ajudado a
reforçar a descrença.
A Doutrina Espírita,
reafirmando o que Jesus
já havia ensinado, nos
apresenta Deus justo e
bom. Suas leis regem o
mundo. Precisamos
aprender essas leis se
quisermos continuar
acreditando. Precisamos
compreender o sentido
mais amplo da vida,
acima da matéria e do
acaso. Precisamos
compreender a
responsabilidade
inerente a cada
pensamento, palavra ou
atitude. As Leis
Divinas, estudadas por
Allan Kardec na terceira
parte de O Livro dos
Espíritos, precisam ser
mais bem conhecidas e
divulgadas. Todas as
explicações que ouvimos
para a tragédia na
escola demonstravam
ignorância quase
completa destas leis.
Deus é soberanamente
justo e bom. São dois de
seus atributos mais
importantes. Nossa visão
limitada, principalmente
quando estamos
reencarnados, não
permite compreender essa
soberana justiça e
bondade. Achamos que
Deus é bom quando tudo
corre bem. Mas Ele
assume, para a maioria,
um papel vingativo,
punitivo, diante dos
eventos dolorosos. O
Deus que pune é o Deus
anterior a Jesus. Mesmo
entre os espíritas,
encontramos aqueles que
ainda não compreenderam
nem a noção de Pai,
ensinada por Jesus.
Quanto mais a noção
espírita de Inteligência
Suprema e Causa
Primária.
Não menosprezamos a dor
dos pais e familiares,
mesmo porque, em
circunstâncias
semelhantes, muitos de
nós já a sentimos
também. Conhecemos o
sofrimento inerente à
desencarnação de um ente
querido, principalmente
quando jovem e de forma
violenta. O papel
consolador da Doutrina
Espírita entra neste
ponto. Não podemos
reverter a situação.
Mas, compreender que há
uma causa, um porquê, um
motivo justo para que
isso ocorra, nos permite
manter nossa amizade com
Deus ao invés de nos
revoltarmos contra Ele.
Compreender que a dor
pode libertar e que cada
uma daquelas crianças
está viva, sendo
amparada e atendida
amorosamente, nos
permite estar mais
atentos à misericórdia
que precede à justiça.
Compreender que a
separação é dolorosa,
mas é breve, nos adverte
à valorização de cada
instante que passamos ao
lado dos nossos
queridos.
Estes são tempos
difíceis. A transição
planetária está em pleno
curso, e muitos
Espíritos bárbaros estão
voltando ao mundo
físico. Violentos,
indiferentes ao
progresso e ao amor,
estarão colocando em
prova os sentimentos
mais nobres que
aprendemos nos últimos
séculos.
Se os primeiros cristãos
dispunham basicamente da
fé para enfrentar suas
provas, agora dispomos
da fé e do conhecimento,
ampliados pela Doutrina
Espírita. Diante de
ocorrências como a de
Realengo, procuremos
aprender, esclarecer e
consolar. É certo que
isso não nos livrará da
surpresa e da tristeza
diante das tragédias.
Mas diminuirá nossa
dúvida, medo e revolta,
e teremos uma
compreensão melhorada do
amor de Deus.