A Revue Spirite
de 1869
Allan Kardec
(Parte
8 e final)
Concluímos nesta data o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1869. O texto condensado
do volume citado foi
aqui apresentado com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Com a desencarnação
de Kardec, quem assumiu
a presidência da
Sociedade Parisiense de
Estudos Espíritas?
Foram nomeados pela
Sociedade Parisiense de
Estudos Espíritas como
membros de sua diretoria
para o período 1869–1870
os srs. Levent, Malet,
Canaguier, Ravan,
Desliens, Delanne e
Tailleur, incumbindo a
presidência ao Sr. Malet,
que era, segundo o Sr.
Levent, o candidato de
preferência de Kardec. A
posse do novo
presidente, cujo
discurso foi transcrito
no número de maio,
ocorreu no dia 9-4-1869.
(Revue Spirite de 1869,
pp. 146 a 152.)
B. Que frase se destaca
no dólmen erguido no
túmulo de Kardec?
O dólmen, por alusão aos
antigos druidas,
compõe-se de duas pedras
de granito bruto,
erectas, encimadas por
uma terceira posta sobre
as duas primeiras. Na
face inferior da pedra
superior foi gravado o
nome Allan Kardec, com
esta epígrafe: “Todo
efeito tem uma causa;
todo efeito inteligente
tem uma causa
inteligente; a potência
da causa inteligente
está na razão da
grandeza do efeito”. Mas
foi posta ali uma frase
bem conhecida: “Nascer,
morrer, renascer ainda e
progredir sem cessar,
tal é a lei”, cuja
autoria é atribuída por
alguns aos espíritas do
interior da França.
(Obra citada, pp. 173 e
174.)
C. Os desencarnados
conservam no Espaço
suas simpatias e seus
hábitos terrenos?
Sim. Os Espíritos os
conservam, de modo que
os Espíritos dos
americanos mortos são
ainda americanos,
como os desencarnados
que viveram na França
são ainda franceses
do Espaço. Daí as
diferenças dos ensinos
obtidos em alguns
centros conforme o país
em que se situam.
(Obra citada, pág. 195.)
Texto para leitura
72. Em face da
desencarnação de Kardec,
a Sociedade Parisiense
de Estudos Espíritas
nomeou como membros de
sua diretoria para o
período 1869–1870 os
srs. Levent, Malet,
Canaguier, Ravan,
Desliens, Delanne e
Tailleur, incumbindo a
presidência ao sr. Malet,
que era, segundo o sr.
Levent, o candidato de
preferência de Kardec.
Se não houvesse ocorrido
o seu falecimento,
Kardec aceitaria
tão-somente a
presidência honorária da
Sociedade – pelo menos é
isto que foi dito aos
confrades pelo sr.
Levent. A posse do novo
presidente, cujo
discurso foi transcrito
no número de maio,
ocorreu no dia 9-4-1869.
(Págs. 146 a 152)
73. Desejando contribuir
para a realização dos
planos elaborados por
seu marido, a sra. Allan
Kardec, única
proprietária legal das
obras e da Revue
, decidiu: I – Doar
anualmente à Caixa Geral
do Espiritismo o
excedente dos lucros
provenientes da venda
dos livros espíritas e
das assinaturas da Revue
Spirite, isto é, das
operações da Livraria
Espírita. II – Colocar a
Revue à
disposição da publicação
dos artigos que a
Comissão Central julgar
úteis à causa espírita,
com a condição expressa
de serem eles
previamente sancionados
pela proprietária e a
Comissão de Redação. A
Sociedade Espírita de
Paris, em sua sessão de
16 de abril, aplaudiu
por unanimidade as
decisões da viúva.
(Págs. 152 e 153)
74. A
Revue reproduz
carta que o sr.
Guilbert, presidente da
Sociedade Espírita de
Rouen, enviou no dia
14-4-1869 à Sociedade
Espírita de Paris. Na
missiva, os confrades de
Rouen deram uma mostra
do seu apreço pelo
trabalho realizado em
Paris, contribuindo com
mil francos para a Caixa
Geral do Espiritismo,
que, segundo eles,
necessitaria do concurso
moral e material de
todos os espíritas.
(Págs. 153 e 154)
75. O número de maio de
1869 se encerra com a
transcrição de uma
comunicação recebida do
Espírito de Allan Kardec
em abril de 1869 na
Sociedade Espírita de
Paris e três avisos. O
primeiro diz respeito à
Livraria Espírita, cujo
catálogo das obras ali
expostas seria enviado a
todas as pessoas que o
pedissem. O segundo
comunica que foram
inúmeros os testemunhos
de simpatia recebidos
pela sra. Allan Kardec
das várias partes da
França e do estrangeiro,
em razão do passamento
do Codificador do
Espiritismo. A sra.
Amélie Boudet aproveitou
a oportunidade para
agradecer e expressar a
todos seus sentimentos
de reconhecimento. O
derradeiro aviso reitera
a informação já
divulgada na edição de
abril de que o
escritório de
assinaturas e expedição
da Revue Spirite fora
transferido para a sede
da Livraria Espírita, na
rua de Lille, no
7, onde funcionava
também a Sociedade
Parisiense de Estudos
Espíritas. (Págs. 154
a 157)
76. Na edição de junho
de 1869, além do artigo
intitulado “O caminho da
vida”, escrito por
Kardec, mais tarde
incluído no livro
Obras Póstumas (11a.
edição da editora da
FEB, págs. 170 a 175), a
Revue transcreve
outra comunicação
recebida do Espírito de
Allan Kardec e duas
notas relacionadas com o
Codificador. (Págs.
159 a 176)
77. A
primeira trata do dólmen
que vários integrantes
da Sociedade Espírita de
Paris e outros confrades
decidiram erguer no
túmulo de Kardec, para
que ficasse consagrado
por um monumento
imperecível o lugar onde
repousariam os seus
restos mortais. O
monumento, por alusão
aos antigos druidas, se
comporia de duas pedras
de granito bruto,
erectas, encimadas por
uma terceira posta sobre
as duas primeiras. Na
face inferior da pedra
superior seria gravado o
nome Allan Kardec, com
esta epígrafe: “Todo
efeito tem uma causa;
todo efeito inteligente
tem uma causa
inteligente; a potência
da causa inteligente
está na razão da
grandeza do efeito”.
(N.R.: O dólmen foi
afinal erguido e tem
sido visitado por muita
gente no cemitério
Père-Lachaise, em Paris;
contudo, além da frase
citada, posta na parte
central do monumento,
figura na pedra superior
uma frase bem conhecida:
“Nascer, morrer,
renascer ainda e
progredir sem cessar,
tal é a lei”, cuja
autoria é atribuída por
alguns aos espíritas do
interior da França.)
(Págs. 173 e 174)
78. A
segunda nota evoca a
ideia de Kardec a
respeito de um museu
onde fossem reunidos as
primeiras obras de arte
espírita, os trabalhos
mediúnicos mais notáveis
e os retratos dos
adeptos mais devotados,
para informar ao público
que seis dos quadros
citados pelo Codificador
poderiam – até que fosse
adquirido um local
apropriado – ser
apreciados na residência
da sra. Allan Kardec,
todas as quartas-feiras,
das 14 às 16 horas. Seu
autor, o sr. Monvoisin,
tinha ainda em suas mãos
os dois outros quadros
referidos por Kardec e
que ele havia
generosamente doado para
integrar o acervo do
citado Museu. (Págs.
174 a 176)
79. Embora nada tenha a
ver com os trabalhos da
lavra de Kardec, é digna
de registro a nota
publicada pela Revue
em outubro de 1869
sobre o surgimento do
primeiro jornal espírita
do Brasil, “O Echo
d’Além Túmulo”, fundado
e dirigido por Luiz
Olympio Telles de
Menezes, em Salvador-BA.
Na edição de dezembro do
mesmo ano, a Revue
enaltece a
iniciativa e a coragem
dos responsáveis pelo
periódico, como se pode
ver no trecho seguinte:
“O Echo d’Além Túmulo
aparece seis vezes por
ano, em cadernos de 56
páginas in-4o.,
sob a direção do Sr.
Luiz Olympio Telles de
Menezes, ao qual nos
apressamos imediatamente
a endereçar vivas
felicitações, pela
iniciativa corajosa de
que nos dá prova. É
necessário, com efeito,
uma grande coragem, a
coragem da opinião, para
lançar num país
refratário como o Brasil
um órgão destinado a
popularizar os nossos
ensinamentos". O autor
dessa nota jamais
imaginou que o Brasil,
tão refratário ao
Espiritismo em 1869, se
tornaria no século
seguinte o maior país
espírita do mundo.
(Págs. 199 e 200)
80. São sete as
comunicações
transmitidas por Allan
Kardec (Espírito) que
figuram na Revue Spirite
de 1869. A 1a.
comunicação ocorreu em
abril de 1869 (págs.
154 a 156). A 2a.
mensagem, psicografada a
30-4-1869, diz que o
exemplo é o mais
poderoso agente de
propagação (págs. 179
e 180). A 3a.
foi transmitida em
20-6-1869 e tem por
título “A regeneração”
(págs. 191 e 192).
A 4a.,
datada de 14-9-1869,
intitula-se “O
Espiritismo e a
literatura
contemporânea” (págs.
192 a 194). A 5a.,
intitulada “O
Espiritismo e o
espiritualismo”, foi
recebida também em
14-9-1869, na casa de
Anne Blackwell (págs.
194 e 195). A 6a.
comunicação, dada a
21-9-1869, tem por
título “Os aniversários”
(págs. 195 a 197).
A 7a. e
última, recebida em
novembro de 1869, trata
do tema “Os desertores”,
mesmo assunto que Kardec
desenvolveu quando
encarnado em um artigo
que integra o livro
“Obras Póstumas”
(págs. 197 a 199).
81. Das sete mensagens
atribuídas ao Espírito
de Allan Kardec
extraímos, de forma
resumida, os conceitos e
observações que se
seguem: I – Não
basta querer hoje,
amanhã, depois de
amanhã: para ser digno
da Doutrina é preciso
querer sempre. A vontade
que age por impulsos não
é mais vontade: é
capricho no bem; mas
quando a vontade se
exerce com a calma que
nada perturba, com a
perseverança que nada
detém, eis aí a
verdadeira vontade,
inquebrantável em sua
ação, frutuosa em seus
resultados (pág. 155).
II – Sede
confiantes em vossas
forças: elas produzirão
grandes efeitos se as
empregardes com
prudência; sede
confiantes na força da
ideia que vos une, pois
ela é indestrutível.
Pode-se ativar ou
retardar o seu
desenvolvimento, mas é
impossível detê-la
(pág. 155). III
– Nossos trabalhos como
Espíritos são muito mais
extensos do que podeis
supor e os instrumentos
de nossos pensamentos
nem sempre estão
disponíveis (pág.
179). IV – O
que vos aconselho antes
de mais nada é a
tolerância, a afeição, a
simpatia de uns para com
os outros e também para
os incrédulos (pág.
180). V – As
brochuras, os jornais,
os livros, as
publicações de toda a
espécie são meios
poderosos de introduzir
a luz por toda a parte,
mas o mais seguro, o
mais íntimo e o mais
acessível a todos é o
exemplo da caridade, a
doçura e o amor (pág.
180). VI – As
Humanidades são todas
chamadas a se unirem e a
se identificarem na
perfeição, pois todas
partem da ignorância e
da inconsciência de si
mesmas e avançam
indefinidamente para um
mesmo objetivo: Deus,
para atingirem a
felicidade suprema pelo
conhecimento do amor
(pág. 191). VII
– Tal como a terra, que
se modifica pela cultura
e pelos tratos que
recebe, e ainda pelos
cataclismos periódicos
que sobre ela se abatem,
as Humanidades se
transformam e progridem
pelo estudo perseverante
e pela permuta de
pensamentos; mas os
cataclismos morais que
regenerem o pensamento
são necessários para
determinar a aceitação
de certas verdades
(pág. 191). VIII
– É necessária uma
conjugação imensa de
esforços para que novos
princípios sejam
aceitos. Assim também,
para avançar, o homem
tem de quebrar as
cadeias que o prendem ao
pelourinho do passado
através do hábito, da
rotina e dos
preconceitos (págs.
191 e 192). IX
– Na Terra, o passado e
o futuro são os dois
braços de uma alavanca
que tem no presente o
seu ponto de apoio.
Enquanto a rotina e os
preconceitos dominam, o
passado está no apogeu.
Quando a luz se faz, a
alavanca se move e o
passado que já escurecia
desaparece, para dar
lugar ao futuro que
alvorece (pág. 192).
X – O Espiritismo
é, de sua própria
natureza, modesto e
pouco rumoroso. Existe
pelo poder da verdade e
não pelo barulho feito
em seu redor por
adversários e
partidários (págs.
192 e 193). XI
– Utopia ou sonho de uma
imaginação desordenada,
após um breve sucesso
ele teria desaparecido
sob a conspiração do
silêncio, ou do
ridículo, que, segundo
se pretende, tudo
aniquila em França. Mas
o silêncio só destrói as
obras sem consistência e
o ridículo só mata o que
é mortal (pág. 193).
XII – Alguém é
materialista, católico
ou livre-pensador por
sua vontade ou sua
convicção, mas basta
existir para ser
espírita ou estar
sujeito ao Espiritismo.
Pensar, refletir, viver
são realmente atos
espíritas, e isto
prontamente se justifica
após alguns minutos de
exame por aqueles que
admitem uma alma, um
corpo e um intermediário
entre essa alma e esse
corpo (pág. 193).
XIII – Admitir
esses três princípios
constitutivos do ser
humano é admitir uma das
bases fundamentais da
Doutrina, é ser espírita
ou pelo menos ter um
ponto de contato com o
Espiritismo, uma crença
comum com os espíritas
(pág. 193).
XIV – Os Espíritos
conservam no Espaço suas
simpatias e seus hábitos
terrenos. Os Espíritos
dos americanos mortos
são ainda americanos,
como os desencarnados
que viveram na França
são ainda franceses
do Espaço. Daí as
diferenças dos ensinos
em alguns centros
(pág. 195). XV
– (Dirigindo-se a
Anne Blackwell)
Traduzi as minhas obras!
Só se conhecem na
América os argumentos
contra a reencarnação.
Quando as demonstrações
em favor desse princípio
ali se tornarem
populares, o Espiritismo
e o Espiritualismo não
tardarão a se confundir
e se tornarão, por sua
fusão, na Filosofia
natural adotada por
todos (pág. 195).
XVI – A glória
dos conquistadores se
extingue com a fumaça do
sangue que eles
derramaram, com o
esquecimento das
lágrimas que fizeram
correr. A dos
regeneradores aumenta
sem cessar, porque o
espírito humano,
engrandecendo-se,
recolhe as folhas
esparsas em que estão
inscritos os atos
gloriosos desses homens
de bem (pág. 197).
XVII – Se é justo
censurar os que tentaram
explorar o Espiritismo
ou desnaturá-lo, quanto
mais culpáveis são os
que, não contentes de
abandoná-lo, se puserem
a combatê-lo! É
sobretudo para os
desertores dessa
categoria que precisamos
apelar à misericórdia
divina (pág. 198).
- Fim -