ANGÉLICA
REIS
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
O Espiritismo perante a
Ciência
Gabriel
Delanne
(Parte
2)
Damos continuidade nesta edição
ao
estudo do livro O
Espiritismo perante a
Ciência,
de Gabriel Delanne,
conforme
tradução da obra
francesa Le
Spiritisme devant la
science,
publicada originalmente
em Paris em 1885.
Questões preliminares
A. As transformações da
matéria obedecem a
alguma lei?
Sim. Elas se fazem em
virtude de leis
imutáveis, guiadas
pela mais inflexível
lógica. Prova disso é a
harmonia grandiosa que
caracteriza a máquina
celeste, fato que não
pode ter nascido do caos
nem ser fruto do acaso.
(O Espiritismo perante a
Ciência, Primeira Parte,
Cap. I.)
B. Que dedução se pode
tirar quando se examina
o desenvolvimento da
vida ao longo dos
períodos geológicos?
A dedução que daí
decorre é de que uma
inteligência haja
dirigido a marcha
ascendente de tudo o que
existe, para um fim que
ignoramos, mas cuja
existência é evidente. É
fácil verificar que os
seres se têm modificado
de maneira contínua, em
virtude de um plano
grandioso, à medida que
as condições da vida se
transformam na
superfície do Globo. A
que agente atribuir essa
marcha progressiva? É o
acaso que combina, com
tanto cuidado, a ação de
todos os elementos?
Seria absurdo supô-lo,
pois o acaso é uma
palavra que significa a
ausência de todo o
cálculo, de toda a
previsão.
(O Espiritismo perante a
Ciência, Primeira Parte,
Cap. I.)
C. A força e a matéria
são princípios
independentes um do
outro?
Sim. A experiência e o
raciocínio indicam que a
força não é simples
atributo da matéria; ao
contrário, o estudo dos
fatos nos leva a
considerar a força e a
matéria como princípios
independentes. A força é
a causa efetiva a que
obedecem os seres,
orgânicos ou não. A
matéria é instrumento
passivo, sobre o qual
ela se exerce.
(O Espiritismo perante a
Ciência, Primeira Parte,
Cap. I.)
Texto para leitura
35. Existem terras como
a nossa, que obedecem a
regras invariáveis, cuja
harmonia é de tal forma
grandiosa, que o
espírito, espantado e
confuso diante de tantas
maravilhas, não pode
duvidar de que uma
profunda sabedoria tenha
presidido ao seu
planejamento. Não é
preciso lembrar a um
sábio como Moleschott a
extrema complicação da
máquina celeste e a
harmonia que a
caracteriza, a
em ser fruto do acaso.ste,
qual, obviamente,
não pode ter nascido do
caos nem ser fruto do
acaso.
36. As transformações da
matéria se fazem em
virtude de leis
imutáveis, guiadas
pela mais inflexível
lógica; eis por que
acreditamos em uma
inteligência suprema,
reguladora do Universo.
37. Sabemos, como
Moleschott, que nada se
cria, que nada se perde
em nosso pequeno mundo.
A Astronomia nos ensina
que a Terra rodopia em
torno do Sol através dos
campos da extensão e
sabemos que a gravidade
retém em sua superfície
todos os corpos que a
compõem. Podemos
compreender
perfeitamente, portanto,
que ela não adquire nem
perde coisa alguma em
sua incessante carreira.
Provam-nos as novas
descobertas que todas as
substâncias se
transformam umas nas
outras, que os corpos,
estudados à luz da
química, diferem pelo
número e pela proporção
dos elementos simples
que entram em sua
composição. Nada é mais
exato e ninguém pensa em
contestar essas verdades
demonstradas.
38. Se encararmos a
multiplicidade enorme
das trocas que se
realizam entre todos os
corpos, o que mais nos
surpreende não são essas
combinações em si, mas o
maravilhoso conhecimento
das necessidades de cada
ser que elas atestam.
Nada se perde no imenso
laboratório da Natureza.
Todos os seres, por
ínfimos que nos pareçam,
têm sua utilidade para o
bom funcionamento do
conjunto da criação;
cada substância é
utilizada de forma a
produzir seu máximo de
efeito, e a “circulação
da matéria” entretém a
vida na superfície do
nosso Globo. Esse
movimento perpétuo é a
alma do mundo e, quanto
mais complicado ele é,
quanto mais variado,
tanto mais testemunha em
favor de uma ação
diretriz.
39. A
ciência contemporânea
descobriu nossas
origens; sabemos que,
desde quando a Terra não
era mais que um
amontoado de matéria
cósmica, produziram-se
metamorfoses que a
trouxeram lentamente,
gradualmente, à época
atual. É em razão dessa
progressão evolutiva
que reconhecemos a
necessidade de uma
influência que se exerce
de maneira constante,
para conduzir os seres e
as coisas, da fase
rudimentar a estados
cada vez mais
aperfeiçoados.
40. Não se pode negar,
quando examinamos o
desenvolvimento da vida
através dos períodos
geológicos, que uma
inteligência haja
dirigido a marcha
ascendente de tudo o que
existe, para um fim que
ignoramos, mas cuja
existência é evidente. E
é fácil verificar que os
seres se têm modificado
de maneira contínua, em
virtude de um plano
grandioso, à medida que
as condições da vida se
transformam na
superfície do Globo.
41. A
que agente atribuir essa
marcha progressiva? É o
acaso que combina, com
tanto cuidado, a ação de
todos os elementos?
Seria absurdo supô-lo,
pois o acaso é uma
palavra que significa a
ausência de todo o
cálculo, de toda a
previsão. Afastada esta
hipótese, restam-nos as
leis físico-químicas de
que fala Moleschott.
42. Nunca se admitiu que
o oxigênio se combinasse
por prazer com o
hidrogênio; o azoto, o
fósforo, o carbono etc.
têm propriedades que
possuem de toda a
eternidade, é evidente;
mas não é menos verdade
que se trata de forças
cegas, que não se
dirigem em virtude de um
impulso próprio, e se
estas energias passivas
ao se aliarem produzem
resultados harmônicos,
bem coordenados, é que
elas são postas em ação
por um poder que as
domina. A Química, a
Física, a Astronomia,
explicando os fatos que
pertencem às suas
respectivas esferas, de
forma alguma atingiram a
causa primária. A
Biologia moderna também
não toca nessa causa e
não suprime Deus; ela o
vê mais longe e,
sobretudo, mais alto.
43. Examinemos, agora, a
segunda proposição de
Moleschott, que pretende
seja a força um atributo
da matéria, isto é, que
impossível seja conceber
uma sem a outra. Em sua
opinião, estudar
separadamente a força e
a matéria é uma falta de
senso, donde resulta
que, estando a energia
contida na matéria, as
forças como a alma, o
pensamento, Deus, não
são mais que
propriedades dessa
matéria. Se
demonstrarmos que tal
asserção é falsa,
estabeleceremos,
implicitamente, a
realidade da alma.
44. Para responder a um
sábio não há melhor
método que o de lhe opor
outros sábios. Diz
d'Alembert, secundando
Newton, “que um corpo
abandonado a si próprio
deve persistir
eternamente em seu
estado de movimento ou
de repouso uniforme”. Em
outras palavras: estando
um corpo em repouso, não
poderia por si mesmo
deslocar-se. Laplace
assim exprime o mesmo
pensamento. Um ponto em
repouso não pode dar a
si o movimento, pois que
não dispõe de raciocínio
que o faça mover num
sentido em vez de outro.
Solicitado por uma força
qualquer e, em seguida,
abandonado a si mesmo,
move-se constantemente
de maneira uniforme, na
direção dessa força; não
experimenta nenhuma
resistência; em todo o
tempo, sua força e sua
direção de movimento são
as mesmas. Essa
tendência da matéria
para perseverar em seu
estado de movimento e de
repouso é o que se chama
inércia. É esta a
primeira lei do
movimento dos corpos.
45. Newton, d'Alembert e
Laplace reconhecem,
pois, que a matéria é
indiferente ao movimento
e ao repouso, que só se
move quando uma força
atua sobre ela, porque,
naturalmente, é inerte.
É, portanto, uma
afirmação gratuita e sem
fundamento científico
atribuir força à
matéria. Cremos que
dificilmente podem
recusar-se o testemunho
e a competência dos três
grandes homens acima
citados. Para dar mais
peso, entretanto, à
nossa asserção, diremos
que o Cardeal Gerdil e
Euler estabeleceram, por
cálculos matemáticos, a
certeza da inércia dos
corpos.
46. Mas não só os
matemáticos trataram
dessa questão: M. H.
Martin, em seu livro
As ciências e a
filosofia,
demonstra, segundo o Sr.
Dupré, que em virtude
das leis da
termodinâmica é
necessário admitir uma
ação inicial exterior e
independente da matéria.
Aliás, é fácil a
convicção, raciocinando
de acordo com o método
positivo, de que o
testemunho dos sentidos
não pode fazer-nos ver a
força como um atributo
da matéria; ao
contrário, verificamos
pela experiência
cotidiana que um corpo
fica inerte e
permanecerá eternamente
na mesma posição se nada
lhe vier dar o
movimento. Uma pedra,
que lançarmos,
permanece, depois de sua
queda, no estado em que
se achava quando a força
que a animava cessou de
atuar. Uma bola não
rolará sem o primeiro
impulso que lhe
determine o
deslocamento. Sendo o
Universo o conjunto dos
corpos pode-se dizer do
conjunto da criação o
que se diz de cada corpo
em particular, e se o
Universo está em
movimento, é impossível
achar que a causa desse
movimento esteja nele
próprio.
47. Vê-se, pois, que
Moleschott não foi feliz
na escolha de suas
afirmações. Erige como
verdade os pontos mais
contestáveis; não é,
pois, de surpreender
que, partindo de dados
tão falsos, chegue a
conclusões absolutamente
errôneas. O estudo
imparcial dos fatos nos
leva, em verdade, a
encarar o mundo como
formado de dois
princípios independentes
um do outro: a força e a
matéria. E é preciso,
além disso, observar que
a força é a causa
efetiva a que obedecem
os seres, orgânicos ou
não. Todas as forças,
portanto, designadas sob
os nomes de Deus, alma,
vontade, têm uma
existência real fora da
matéria e esta nada mais
é do que instrumento
passivo, sobre o qual
elas se exercem.
48. Continuando a
análise do livro de
Moleschott, ver-se-á que
em suas apreciações
sobre o homem ele não
mostra mais perspicácia
do que em seu estudo
sobre a Natureza. O
grande argumento que ele
oferece como prova de
convicção é o mesmo que
o dos materialistas em
geral. Consiste em dizer
que é o cérebro que
segrega o pensamento.
49. Os materialistas se
encontram em face desse
problema: o homem pensa;
o pensamento não tem
nenhuma das qualidades
da matéria; é invisível,
não tem forma, nem peso,
nem cor;
entretanto,existe. É
preciso, pois, por se
mostrarem coerentes, que
o façam provir da
matéria. Mas é grande a
dificuldade para
explicar como uma coisa
material, o cérebro,
pode engendrar uma ação
imaterial, o pensamento.
Vemos, então, desfilarem
os sofismas, com o
auxílio dos quais nossos
adversários dão a
aparência de um
arrazoado.
50. Que o cérebro é
necessário à
manifestação do
pensamento, os filósofos
gregos já o sabiam, mas
não caíam, por isso, no
erro dos céticos de
hoje, pois eles
estabeleceram a
distinção entre a causa
e o instrumento que
serve para produzir o
efeito.
51. Certos
fisiologistas, como
Cabanis, não encaram o
assunto dessa maneira.
Diz ele: “Vemos as
impressões chegarem ao
cérebro por intermédio
dos nervos; elas se
acham, então, isoladas e
sem coerência. O órgão
entra em ação, age sobre
as impressões e as
reenvia metamorfoseadas
em ideias, que se
manifestam,
exteriormente, pela
linguagem da fisionomia
ou do gesto, pelos
sinais da palavra ou da
escrita. Concluímos, com
a mesma segurança, que o
cérebro digere, de
alguma sorte, estas
impressões; que ele faz,
organicamente, a
secreção do pensamento”.
52. Tal doutrina tão bem
se implantou no espírito
dos materialistas que,
segundo Carl Vogt, os
pensamentos têm com o
cérebro quase “a mesma
relação que a bílis com
o fígado ou a urina com
os rins”.
53. Moleschott, seguindo
nessa linha de
pensamento, diz a seu
turno, variando um pouco
a argumentação: “O
pensamento não é mais
que um fluido, como o
calor ou o som; é um
movimento, uma
transformação da matéria
cerebral; a atividade do
cérebro é uma
propriedade do cérebro,
tão necessária como a
força, por toda parte
inerente à matéria, de
que é caráter essencial
e inalienável. É tão
impossível que o cérebro
intacto não pense, como
é impossível seja o
pensamento ligado a
outra matéria que não o
cérebro”.
54. Segundo ele,
qualquer alteração do
pensamento modifica o
cérebro, e qualquer dano
a esse órgão suprime o
pensamento no todo ou em
parte. Afirma ele:
“Sabemos, por
experiência, que a
abundância excessiva do
líquido
céfalo-raquidiano produz
o estupor; a apoplexia é
seguida do aniquilamento
da consciência; a
inflamação do cérebro
provoca o delírio; a
síncope, que diminui o
movimento do sangue para
o cérebro, provoca a
perda do conhecimento; a
afluência do sangue
venoso para o cérebro
produz a alucinação e a
vertigem; uma completa
idiotia é o efeito
necessário, inevitável,
da degenerescência dos
dois hemisférios
cerebrais; enfim, toda
excitação nervosa na
periferia do corpo só
desperta uma sensação
consciente no momento em
que repercute no
cérebro”.
55. Toda a argumentação
de Moleschott consiste
em dizer que, com órgãos
sãos, os atos
intelectuais se exercem
facilmente; ao
contrário, se o cérebro
adoece, a alma não pode
mais se servir dele, e
as faculdades reaparecem
quando as causas que o
alteravam cessam de
agir. É sempre a
história do piano. Se
uma das cordas chega a
quebrar-se, será
impossível fazer vibrar
a nota que lhe
corresponde;
substitua-se a corda e
imediatamente o som
voltará a produzir-se.
Mas, quando fosse
demonstrado que o
pensamento é sempre a
resultante do estado do
cérebro, não bastaria
isso para afirmar-se que
o encéfalo produz o
pensamento. Quando
muito, daí se poderiam
induzir as relações
íntimas existentes entre
ambos, pois não está
ainda provado que a
integridade do cérebro
seja indispensável à
produção dos fenômenos
espirituais.
56. Afirma Longet, cuja
competência em
fisiologia é
unanimemente
reconhecida: “Nunca se
negou a solidariedade
dos órgãos sãos com uma
inteligência sã –
mens sana in corpore
sano; mas essa
dependência tão natural
não é de tal forma
absoluta que se não
encontrem numerosos
exemplos do contrário;
veem-se débeis crianças
assombrar pela
precocidade da
inteligência e extensão
do espírito; velhos
decrépitos, já vizinhos
da tumba, conservar
intactos os julgamentos,
a memória, o fogo do
gênio, o ardor da
coragem”.
57. Segundo Longet, a
loucura é acompanhada,
muitas vezes, de uma
lesão apreciável dos
centros nervosos, mas há
casos em que Esquirol e
os autores mais
conscienciosos afirmaram
não haver encontrado
nenhum vestígio de
alteração no cérebro, o
que mostra que suas
conclusões não são
inteiramente a favor de
Moleschott e que não é
possível afirmar que o
pensamento esteja sempre
em harmonia com a
integridade do cérebro;
logo, ele não é
produzido pelo cérebro.
58. Outra tese do sábio
holandês atribui o
pensamento a uma
vibração da matéria
cerebral. Seria essa
teoria mais justa que as
precedentes? Desde logo
esbarramos numa
dificuldade: é difícil
compreender como uma
sensação gera uma ideia.
A sensação é uma
impressão produzida nos
nervos sensitivos por um
abalo externo; este
determina um movimento
ondulatório que se
propaga até o cérebro
pelas fibras nervosas.
Lá chegado, esse
movimento faz vibrar as
células. Mas como pode o
movimento mecânico das
células determinar uma
ideia? Como compreender
que esse abalo seja
percebido pelo ser
pensante?
59. As células nervosas
não são, por si mesmas,
inteligentes; o
movimento vibratório é
simples ação material.
Como pode o pensamento
nascer desse abalo das
células nervosas? Foi o
que se esqueceram de
ensinar-nos.
60. Os espiritualistas,
por sua vez, interpretam
os fatos dizendo que há
em nós uma
individualidade
intelectual, que é
advertida por essa
vibração de que uma ação
foi exercida sobre o
corpo, e é quando a alma
tem consciência desse
movimento vibratório que
nós experimentamos a
percepção.
61. O fenômeno tão comum
da distração mostra que
tudo se passa assim.
Quando trabalhamos num
aposento, não acontece
frequentemente ficarmos
insensíveis ao
tiquetaque de um
relógio? Não sucede,
mesmo, ficarmos
insensíveis às horas que
batem? Por que não as
ouvimos? As vibrações,
produzidas pelo som
impressionaram nosso
ouvido, propagaram-se
através do organismo até
o cérebro, mas, estando
a alma preocupada por
outros pensamentos, não
pôde transformar a
sensação em percepção,
de sorte que não tivemos
consciência dos ruídos
produzidos pelo relógio.
Esse simples fato
demonstra, de maneira
concludente, a
existência da alma. (Continua
no próximo número.)