CHRISTINA
NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de
Janeiro,
RJ (Brasil)
O maior caso de
bullying
da história
Acho que foi na
primeira Bienal
de que
participei
lançando meus
livros
psicografados
que dei a sorte
de comparecer no
mesmo dia em que
também lá estava
o Ziraldo, de
quem sou fã
desde criança.
Eu colecionava
todos os
almanaques da
Turma do Pererê,
e ainda meu
filho mais velho
chegou a lê-los.
E como as
Bienais são uma
espécie de
paraíso na Terra
para amantes da
leitura, em
sendo convidada
pela editora
para autografar
em duas tardes,
aproveitei para
dedicar o máximo
possível do
tempo ao evento,
chegando mais
cedo, e me
deliciando pelas
muitas avenidas
agitadas onde
leitores,
editoras e
autores
compartilhavam
as novidades do
maravilhoso
universo dos
livros.
Numa das
avenidas, num
cercadinho, com
fãs infantis ou
adultos para
além dos limites
permitidos pela
segurança do
autor, lá estava
Ziraldo fazendo
o seu lançamento.
Sorridente, com
seus assessores
e amigos,
recebia alguns
leitores que
queriam
autógrafos,
posava para
algumas
fotografias. E
eu, autora
modesta, em
início de
carreira, com um
ou dois livros
publicados, lá
me detive por
breve momento,
admirando a cena,
e aproveitando
também para
registrá-la,
como todo bom
visitante, com a
máquina de meu
celular.
É bom ser
querido assim!
Indizível, esta
sensação de que
o nosso trabalho
é bem recebido
pelo público, e
que lhe presta
benefícios. Bom,
também, ser
estimado por
este mesmo
público, que
acata e se
encanta com o
produto de nossa
atividade
literária,
comentando, ou
mesmo tecendo
críticas úteis
ou favoráveis.
Hoje, um pouco
mais adiante
daquele começo,
posso dizer com
prazer que
conheço a
sensação. Porque
nada compensa
mais o autor do
que esta troca
enriquecedora
com leitores de
variadas
procedências, já
que assim também
crescemos como
pessoas.
Conhecemos uma
gama enorme de
indivíduos com
as suas origens
culturais,
idiomas,
pensamentos e
percepção de
vida, e,
consequentemente,
de nosso
trabalho. Disso
tudo, portanto,
a lição maior
extraída é a da
humildade,
perante a
grandiosa
diversidade da
vida.
Mas o que isto
tem a ver com o
mencionado no
título deste
texto - o maior
caso de bullying
da história?
Amigos, alguém,
um dia, também
colheu os louros
justos pelo seu
trabalho, que em
toda a história
de nossa
civilização
ocidental nos
compareceu como
o mais revestido
de importância,
de validade, de
luz!
Durante algum
tempo, muitos
que foram
devagar se
apercebendo do
que acontecia
acorreram a
conhecer quem
era o autor
daquelas obras
espetaculares de
que se falava em
todo canto de
uma determinada
região do mundo:
prédicas de
consolação sem
igual. Curas!
Auxílio e amor
incondicionais,
a quem quer que
o procurasse em
busca de algum
lenitivo...
Tratava-se de um
ser tão
diferente dos
demais, por
conta destas
atitudes
inéditas, das
ideias de
vanguarda que
defendia,
favorecendo
principalmente a
gente simples
daqueles tempos,
que, a partir de
certo ponto,
todavia - e ao
cair a ciência
da presença
daquele homem no
domínio de
outros, da casta
mais favorecida
da época -
começou a
incomodar!
Sim! Aquela
diferença em seu
comportamento,
todo pautado em
amor e compaixão
dos sofredores,
dos mais
simples, começou
a incomodar,
principalmente
aos poderosos
daqueles tempos!
Pois que suas
palavras e
atitudes
ensinavam a
igualdade de
todos perante a
consideração de
Deus. Ensinava
aos indivíduos
sedentos de
esperança,
vindos de todos
os recantos
daquelas terras
longínquas, que
não deveriam
depositar todo o
sentido e
objetivo da
existência nas
coisas ilusórias
e que seriam
fatalmente, mais
cedo ou mais
tarde, corroídas
por traças.
Dizia-lhes que
deveriam dar a
César o que a
César pertencia,
e a Deus o que
era de Deus,
apontando a
inutilidade de
investirem
demasiado e
exclusivamente
nas coisas deste
mundo - que esta
postura,
portanto, fosse
deixada aos que
dela se nutriam
e que por ela se
orientavam, pois
aos mortos
deve ser
entregue o
enterro dos
mortos. A
Vida viva, que
repousa na
qualidade de
nossas atitudes,
contudo, deveria
ser almejada por
todos que já se
viam fartos e
exaustos destas
miragens
enganosas!
Vinde a mim
todos os que
estais cansados
e oprimidos,
pois eu os
aliviarei... –
Mateus, 11;
28-30.
Pois a diferença
incomensurável
existente entre
estas anotações
e o que, ao
contrário, era
defendido e
realizado pelo
farisaísmo míope
da época, sob o
peso do
constrangimento
romano, começou
a incomodar
demais. Quem,
pois, era aquele
homem que se
atrevia a fazer
apologia de um
segundo Reino
dentro de um
reino
institucionalizado
já existente?!
Conveniente às
autoridades,
sentindo-se
ameaçadas pela
popularidade sem
precedentes de
Jesus,
considerar as
coisas assim!
Aquilo seria o
pretexto
perfeito para se
agir, para se
abrir fogo - e
logo!
Quem, portanto,
era aquele homem
que se atrevia a
se declarar o
Messias?! Que
alegava direitos
a um reino,
vindo ameaçar o
poder
estabelecido, as
representatividades
consolidadas do
próprio
imperador
romano?!
Alguma coisa
deveria ser
feita, e rápido.
Ou aquele homem
enigmático,
incompreensível,
que só respondia
com solene e
altivo silêncio
às perguntas
insidiosas que
lhe lançaram no
interrogatório
infamante,
acabaria por
acossar o povo a
algum levante
contra o
governo, que,
dada as
proporções
supostas, seria
difícil de se
debelar!
Criara-se,
assim, o ardil
para o maior
caso de bullying
- de
perseguição
insidiosa e
execução por
tortura - já
havido em toda a
história da
humanidade!
Todavia, meus
amigos, qual foi
a atitude do
Cristo, frente a
estas infâmias?
Revidou à altura?!
Desceu da
indescritível
altitude
espiritual de
que já era
portador para se
nivelar aos seus
algozes, com
ataques físicos
ou verbais de
quaisquer ordens?!
Sim - outrora,
nalguns
instantes,
frente aos
fariseus
hipócritas que
buscavam
distorcer
intencionalmente
o sentido de
seus
apontamentos,
indicara-os com
firmeza como
sepulcros
caiados, cheios
de podridão por
dentro -, guias
cegos, que nem
entram no Reino
dos Céus, nem
permitem que
outros entrem,
em distorcendo a
visão e
entendimento do
povo para o
verdadeiro
sentido das
coisas de Deus.
Todavia, não
agiu assim no
momento do
testemunho.
Porque, ali, não
se tratava de
defender a
autenticidade
daquelas
verdades com
palavras diante
da multidão -
tratava-se de
defender a
Verdade com a
atitude
definitiva, que
viria validar,
com silêncio,
sofrimento e
sangue, que o
que distancia o
anjo do homem
vulgar é,
sobretudo, a
firmeza
eventualmente
muda, porém
sólida, do
exemplo!
Deste exemplo
que, até os dias
de hoje, mais de
dois mil anos
depois, se
revalida, a cada
dia, quando,
diante da
fenomenologia
social tida como
inédita e
rebatizada de
bullying,
vamos
dolorosamente
resgatando a
conclusão de que
nada se
modificará nos
panoramas
sociais do mundo
enquanto não
prevalecer em
mentes, em
corações, o
entendimento de
que nossas
atitudes perante
o próximo devem
ser pautadas, em
nosso próprio
benefício,
quanto para o
bem de todo o
planeta, em
compreensão e
amor!
E não há outro
caminho!...