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Ano 5 - N° 210 - 22 de Maio de 2011

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
 
Londrina, 
Paraná (Brasil)  

 

O que nos advém
 da ausência de
bom senso
 

De novo em discussão a fantasiosa ideia de que o médico
Carlos Chagas desencarnado tenha sido o autor
da conhecida série “Nosso Lar”
 

 
Há certos assuntos que, verdade seja dita, só conseguem tomar o nosso tempo e nada edificam. Um deles é essa polêmica sobre a real identidade de André Luiz.  Amigos de Chico Xavier, como o Hércio Arantes, afirmam ter o médium identificado em Carlos Chagas a pessoa de André.  Não satisfeito com o uso de um pseudônimo, episódios e fatos relacionados com sua vida e sua família teriam sido também modificados. 

Segundo relatou no livro “Nosso Lar”, André Luiz tinha filhas e um filho e falecera relativamente moço, visto que seus descendentes estavam ainda no início da adolescência. Carlos Chagas teve dois filhos, ambos já formados por ocasião de seu falecimento.  

André arrependeu-se de ter apoiado seu pai numa decisão que levou uma pessoa à miséria. Chagas ficou órfão de pai aos 4 anos.  

E assim – se aceita a informação de Hércio Arantes – vários episódios mencionados como tendo ocorrido efetivamente com André Luiz não seriam verdadeiros, como sempre se pensou, especialmente dois deles, dos mais emocionantes de sua obra, que foram seu reencontro com a esposa, casada novamente, e com o seu velho avô, um indivíduo avarento que confundia poeira com ouro em pó. 

Se fôssemos adotar para com essa suposta revelação o critério de Erasto, tão conhecido dos espíritas ("Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea"), é evidente que ela, tão deslocada da boa lógica, não passaria por crivo nenhum e morreria na própria fonte em que surgiu. (Leia sobre o assunto artigo de Jáder Sampaio publicado na edição n. 12 desta revista, que o interessado pode ver clicando neste link http://www.oconsolador.com.br/12/especial.html.) 

Desde 1941 Chico Xavier via André Luiz, futuro autor de Nosso Lar, ao lado de Emmanuel 

É, no entanto, bom que não percamos tempo com isso, porque há outros pontos – pelo menos quatro deles – que estão a nos indicar ser realmente temerário admitir, sem maior exame, que Carlos Chagas desencarnado tenha sido o autor da série Nosso Lar.

Ei-los:

1.  Nunca se viu, em lugar nenhum, declaração feita pelo próprio Chico Xavier sobre o assunto. O que existe são relatos que atribuem a ele tal declaração. O que Chico Xavier escreveu é o que Suely Caldas Schubert inseriu no seu livro Testemunhos de Chico Xavier, pág. 96 e seguintes. Em carta datada de 12/10/1946, Chico escreveu a Wantuil de Freitas que desde fins de 1941 Emmanuel vinha se dedicando aos trabalhos de André Luiz. Desde então, ele via sempre aquele cavalheiro espiritual ao lado de Emmanuel e assim decorreram quase dois anos. 

2.  O livro Nosso Lar foi concluído antes de 3 de outubro de 1943, data em que Emmanuel assinou o prefácio da obra, confirmando assim a informação posta em carta pelo médium, que disse que quase dois anos foi o tempo que decorreu entre seu primeiro contato com André (fins de 1941) e a conclusão do primeiro livro (outubro de 1943). 

3.  Carlos Justiniano Ribeiro Chagas, que faleceu no Rio de Janeiro em 8 de novembro de 1934, nasceu em 9 de julho de 1879. Tinha ele, portanto, dez anos de idade quando foi proclamada a República do Brasil e, com isso, o fim do período imperial. Ora, no livro Testemunhos de Chico Xavier, na pág. 98, Chico Xavier informou ter-se familiarizado, em pouco tempo, com André Luiz, que participava de suas preces e perdia tempo conversando com ele. Diz o médium: "Contava-me histórias interessantes e muitas vezes relacionou recordações do Segundo Império, o que me faz acreditar tenha sido ele, André Luiz, também personalidade da época referida".  É de admirar como alguém, ainda criança, de apenas dez anos de idade, pudesse ser uma personalidade de um período que se encerrou em novembro de 1889.

4.  André Luiz fora informado por Lísias ter passado mais de 8 anos no Umbral. Essa informação, como todas as demais, poderia ter sido também um dado inventado. Ele talvez nem tenha passado pelo Umbral; é isso que certamente todo mundo imagina, sobretudo quando se conhece a biografia de Carlos Chagas. Afinal, se sua história foi alterada, por que esse dado seria verdadeiro? Ocorre que essa informação foi confirmada pelo Espírito do próprio Carlos Chagas, segundo consta do livro Na Próxima Dimensão, do Espírito de Inácio Ferreira, psicografia de Carlos A. Baccelli, 1ª edição, no qual lemos, no capítulo 35, pág. 221:

“(...) Durante um bom tempo, eu também achei tudo muito diferente por aqui; inclusive, o Umbral, onde estive durante uns oito anos, me parecia mais humano... Aos poucos, porém, me habituei e, hoje, quando devo ir à Terra, confesso-lhes que, para mim, os nossos irmãos encarnados ainda vivem de maneira primitiva (...)”. (Grifamos.) 

André Luiz desfila em sua obra informações pormenorizadas sobre a 2ª Guerra Mundial 

Em face do exposto, admitindo como verdade esse dado, o Espírito de Carlos Chagas teria saído do Umbral nos últimos meses de 1942, o que não corresponde ao que Chico Xavier disse em carta a Wantuil de Freitas. Não esqueçamos que Chico disse que André era visto ao lado de Emmanuel desde fins de 1941.

Além disso, temos em sua obra informações pormenorizadas sobre a eclosão da 2ª Guerra Mundial, iniciada em 1939, relatos que teriam sido mera fantasia de alguém que, estando na mesma época no Umbral, sem contato com ninguém, não poderia ter acompanhado os mencionados acontecimentos.

Saindo do Umbral em fins de 1942, não teria sido possível a ele ter escrito as três primeiras obras atribuídas a André Luiz. Conforme Chico Xavier registrou em carta, foi-lhe preciso um prazo de preparação de quase dois anos, além do próprio tempo necessário à elaboração das obras. (Sobre o assunto sugerimos a leitura do artigo escrito por Pedro Bezerra Neto, publicado na edição n. 138 desta revista, que o leitor pode ver clicando neste link - http://www.oconsolador.com.br/ano3/138/especial.html.)

Aos que insistem em defender e divulgar tais ideias deixamos, por fim, registrado aqui um alerta.

Imaginem o que aconteceria se alguém ligado à família de Carlos Chagas viesse a público para dizer que o filme "Nosso Lar" baseia-se numa farsa; que o grande médico não teve filhas; que não deixou crianças órfãs; que sua esposa não se casou segunda vez, e que, por fim, havendo falecido em 1934 e tendo passado 8 anos no Umbral (como ele próprio disse numa das obras publicadas por Carlos A. Baccelli), não poderia ter visto e acompanhado os primeiros momentos da 2ª Guerra Mundial, iniciada, como todos sabem, em 1939. 

 

 


 

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