Despotismo
A mais
inviolável
das
liberdades
é a de
pensar
“A
perseguição
é o
batismo
de toda ideia
nova,
grande e justae
cresce
com o
desenvolvimento
e a
importância
da ideia.”-
Allan
Kardec
Carneiro
de
Campos,
deputado
da
Província
do Rio
de
Janeiro,
uma das
mais
eminentes
figuras
políticas
do
Primeiro
Reinado, vexilário
da
liberdade
religiosa
no
Brasil,
assim se
expressou
na
sessão
de 10 de
outubro
de 1823,
quando
da
elaboração
da
Constituição
naquele
ano:
“A
minha
consciência,
a minha
crença e
as
minhas
opiniões
são de
tal
sorte
minhas,
que a
ninguém
mais
podem
pertencer;
elas
residem
bem
acatadas
no
santuário
o mais
impenetrável
da minha
Alma,
onde nem
mesmo as
leis,
nem o
governo,
nem os
homens
podem
ter
ingerência
alguma;
só Deus
ali
penetra,
só a Ele
deve dar
estreitas
contas
dos meus
pensamentos.
O Estado
e a
religião
são
coisas
distintas
e
perfeitamente
separadas,
uma não
pode ter
ingerência
na
outra”.
O
discurso
de
Carneiro
de
Campos,
dizem as
crônicas
do
passado,
arrebatou
a
Assembleia.
Estava
ele
replicando
um
discurso
de Cairu,
seu
comprovinciano,
tendo
sido
apoiado,
também,
pelo
deputado
Vergueiro
de São
Paulo,
favorável
à
liberdade
de
cultos.
Continuou
neste
tom de
firmeza,
o
vigoroso
constituinte
baiano:
“(...)
Jesus
Cristo,
nosso
Divino
Mestre,
expressamente
declarou:
“Meu
Reino
não é
deste
mundo”;
e nós
que
estamos
aqui
reunidos
para dar
instituições
que
formem a
felicidade
temporal
dos
nossos
concidadãos
devemos
também
altamente
professar
que nada
temos
com a
religião
de cada
um”.
Logo
adiante,
discutindo
o § 3º
do
artigo
7º, que
se
referia
à
matéria
religiosa,
Carneiro
de
Campos a
bem
dizer
fechou
seu
discurso
com esta
chave de
ouro:
“(...)
Não,
senhores;
não
aberremos
das mais
depuradas
luzes do
século
em que
vivemos;
conserve-se
o
parágrafo
tal qual
se acha!
Para ser
livre,
não
basta
que a
pessoa e
os bens
do
cidadão
estejam
defendidos
e
seguros
da
opressão;
é também
necessário
que o
seu
Espírito,
desembaraçado
das
cadeias
da
tirania,
possa
seguir
em
liberdade
as
ideias
que ele
julgue
necessárias
à sua
felicidade”.
Afirma o
insuperável
Mestre
Lionês:
“De
todas as
liberdades,
a mais
inviolável
é a de
pensar,
que
abrange
a de
consciência.
Lançar
alguém
anátema
sobre os
que não
pensam
como ele
é
reclamar
para si
essa
liberdade
e
negá-la
aos
outros,
é violar
o
primeiro
mandamento
de
Jesus: a
caridade
e o amor
do
próximo.
Perseguir
os
outros,
por
motivos
de suas
crenças,
é
atentar
contra o
mais
sagrado
direito
que tem
todo
homem: o
de crer
no que
lhe
convém e
de
adorar a
Deus
como o
entenda.
Constrangê-los
a atos
exteriores
semelhantes
aos
nossos é
mostrar
que
damos
mais
valor à
forma do
que ao
fundo,
mais às
aparências,
do que à
convicção.
Nunca a
abjuração
forçada
deu a
quem
quer que
fosse a
fé;
apenas
pôde
fazer
hipócritas.
É um
abuso da
força
material,
que não
prova a
verdade.
A
verdade
é
senhora
de si:
convence
e não
persegue,
porque
não
precisa
perseguir.
Por que
se não
teria a
liberdade
de se
dizer
espírita,
como se
tem a de
se dizer
católico,
protestante,
ou
judeu,
adepto
de tal
ou qual
doutrina
filosófica,
de tal
ou qual
sistema
econômico?
Essa
crença é
falsa,
ou é
verdadeira;
se é
falsa,
cairá
por si
mesma,
visto
que o
erro não
pode
prevalecer
contra a
verdade,
quando
se faz
luz nas
inteligências.
Se é
verdadeira,
não
haverá
perseguição
que a
torne
falsa.
A
perseguição
é o
batismo
de toda
ideia
nova,
grande e
justa, e
cresce
com a
magnitude
e a
importância
da
ideia. O
furor e
o
desabrimento
dos seus
inimigos
são
proporcionais
ao temor
que ela
lhes
inspira.
Tal a
razão
por que
o
Cristianismo
foi
perseguido
outrora
e por
que o
Espiritismo
o é
hoje,
com a
diferença,
todavia,
de que
aquele o
foi
pelos
pagãos,
enquanto
o
segundo
o é por
cristãos.
Espíritas,
não vos
aflijais
com os
golpes
que vos
desfiram,
pois
eles
provam
que
estais
com a
verdade.
Se assim
não
fosse,
deixar-vos-iam
tranquilos
e não
vos
procurariam
ferir.
Constitui
uma
prova
para a
vossa
fé,
porquanto
é pela
vossa
coragem,
pela
vossa
resignação
e pela
vossa
paciência
que Deus
vos
reconhecerá
entre os
Seus
servidores
fiéis, a
cuja
contagem
ele hoje
procede,
para dar
a cada
um a
parte
que lhe
toca,
segundo
suas
obras.
A
perseguição
pouco
durará...
Aguardai
com
paciência
o romper
da
aurora,
pois que
já
rutila
no
horizonte
a
estrela d'alva”.
- KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. 129. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. XXVIII, item 51.
- KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. 129. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. XXIV, itens 13 em diante.