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Crônicas e Artigos

Ano 5 - N° 213 - 12 de Junho de 2011

APARECIDO FERREIRA DE SOUZA
cidofsouza@ibest.com.br
Curitiba, PR (Brasil)

A incongruência e a consequência

“Os Judeus estudavam minuciosamente a Lei antiga que está no
velho testamento. Os Cristãos estudam a lei nova que está no Novo
 testamento, os Espíritas, que são os cristãos renascidos da água e do
espírito, devem estudar as obras de Kardec.”
(1)
(Miguel Vives - O espírita perante a doutrina.)
                                           

Observando as necessidades das  casas espíritas e o esforço desenvolvido em favor do estudo da Doutrina pela Federação Espírita Brasileira e suas federativas estaduais, ainda assim nos deparamos com a falta de unidade de princípio no entendimento dos postulados espíritas, cuja ação Amélie Gabriela Boudet nos legou oportunamente através de Pierre Gaetan Leymarie em Obras Póstumas, assinalando que um dos fatores capazes de retardar a propagação da doutrina seria a interpretação divergente. E o Espírito de Verdade assinala que todas as verdades se encontram no Cristianismo, e que os erros que nele se enraizaram são de origem humana. (2)

Nascidas das ideias pessoais e absolutistas, formadas pelas antigas religiões do passado em que estagiamos, ou empenhados em ligar seus nomes a coisas novas, surgem as ideias e ganham corpo, sejam pela incapacidade de interpretação ou entendimento, abrem-se as fendas e fecham teorias absurdas, conspurcando aquilo que deveria ser um dever de todos os espíritas: preservar e manter a pureza e a clareza doutrinária.

O saldo desta falta de entendimento respinga nas casas espíritas em forma de música, seja  no “vinde a mim as criancinhas, porque delas é o reino dos céus”, na oração improvisada, afirmando-nos que fomos criados à imagem e à semelhança do Criador, que Deus é Espírito, que somos Espíritos eternos e gerados por Deus, ou reverenciando os anjos com asas nas salas de evangelização.

No entanto, sabemos perfeitamente que a claridade com que alguns veem  a doutrina não é a mesma que todos enxergam, mesmo porque temos a lente proporcional ao grau de entendimento que é facultado pela vivência evangélica, em consequência da maturidade moral.

Sabemos ainda que o Espiritismo não veio impor suas ideias ou exterminar as outras crenças, mas trabalhar por transformá-las, elevando as concepções antigas para o clarão das verdades imortalistas, esclarecendo o erro religioso onde quer que ele se encontre, revelando a luz em cada  ato e ensinamento, e transformando cada um de nós em operários da regeneração do templo do Senhor.

Mas como constituir grupos de estudos com adeptos esclarecidos, se somos os semeadores da divergência doutrinária? Como buscar a união se somos objetos de fragmentação? Como empregar a audição a palestrantes despreparados, cujo conteúdo é mal versado.

Se a doutrina é nobre, seus estudos devem ser elevados a título de nobreza, tratados com o mesmo interesse com que seu codificador nos legou, deixando-se abater pelo corpo para vivificar o espírito de sua obra.

A boa semente já foi lançada e merece o devotamento do bom lavrador, tanto quanto o ensino exige recinto para o magistério, a cultura reclama a sua publicação, a arte pede a representação, da mesma forma o Espiritismo não dispensa as obras que possam expor a sua grandeza e atingir seu objetivo que é a transformação da humanidade.

Qualificando-se a boa semente, não devemos admitir que qualquer obra dita espírita possa frequentar o recinto de nossas casas, especialmente aquelas que contrariam os princípios básicos do Espiritismo. Se isso acontecer, estamos deixando que o joio se misture ao bom grão, com a iminência de uma futura colheita prejudicada.

Nossos cuidados devem ser redobrados, principalmente em uma época em que o brilho das ideias se destaca diante da opacidade moral, em que ávidos personalistas buscam novidades nos sistemas exclusivistas, dizendo que Kardec está superado para fazer carreira literária no Espiritismo à custa da ignorância do neófito.

Mesmo sendo uma doutrina de liberdade, o espírita é livre para agir e pensar. Convém, porém, não esquecer que a liberdade que tem não lhe dá licença para agir e pensar em nome da codificação, não sendo legal, nem moralmente conveniente, a elucidação particular. (3)

Estudar as obras básicas do Espiritismo, eis a necessidade imperiosa de todos nós, o que não deve ser postergado, e não somente ler, mas analisar, entender, refletir e ponderar, estudando as perguntas e as respostas do codificador, buscando o entendimento no sentido científico, filosófico e religioso, transmitindo com segurança aquilo que temos como verdade até os dias que se chamam hoje.  

 

Referências:  

(1) O Tesouro dos Espíritas, in O espírita perante a Doutrina, de Miguel Vives.

(2) O Evangelho segundo Espiritismo, cap. VI,  item 5.

(3) À Luz do Espiritismo, in Advertência fraternal, de Vianna de Carvalho, psicografado por Divaldo Franco.
 



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita