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Crônicas e Artigos

Ano 5 - N° 213 - 12 de Junho de 2011

DAVILSON SILVA
davsilva.sp@gmail.com
São Paulo, SP (Brasil)
 

Um só é o vosso Mestre


O Evangelho de Mateus, capítulo 23, diz que, falando Jesus na terceira pessoa do singular, determinara que apenas Ele fosse chamado de mestre, e não os escribas e fariseus. Isso teria acontecido após uma crítica à ostentação, às falsas virtudes, ao interesse deles em sentarem-se nos primeiros lugares em banquetes, nas sinagogas, e ao modo como o povo os cumprimentava, tratando-os por mestres, nas praças públicas:

1      Então falou Jesus às multidões e aos seus discípulos (...)

8      Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos (...)

10     Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo.

Noutra tradução e edição de exemplar de bíblia, o texto está diferente, inclusive, para variar, em vez de Rabi e Mestre, grafaram Guia. No mesmo capítulo, Jesus teria concluído:

11    Mas o maior dentre vós será vosso servo.

12   Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado.

Incoerências, contradições

Procederia de Jesus tamanha incoerência? O Antigo e o Novo Testamento apresentam tantas contradições que chagam até a pôr em dúvida a infinita perfeição do Criador e a autoridade moral de Jesus, ao colocar-Lhe palavras na boca e ao se referirem a atitudes nada condizentes com Ele. Se a Bíblia consiste na “palavra de Deus”, conforme declaram, por que mexem tanto nos textos divinos?

Voltemos a Jesus. Ah! O nosso é bem diferente! O Jesus dos espíritas representa o tipo mais perfeito em saber e moralidade, o nosso Guia e Modelo, e a Sua Doutrina, a mais pura expressão das leis imutáveis. Entendemos que Cristo veio a este mundo para demonstrar isso, orientando as Almas deste planeta à guisa de lições determinadas numa ordem de sublimes conhecimentos.

Todo bom professor lecionará uma disciplina com exemplares e recursos que tornem o ensino eficaz e interessante. Como se sabe, Jesus não pôde Se valer de materiais didáticos, de equipamentos como os de hoje, tampouco de uma sala de aula e de tudo mais. Sua sala de aula era ao ar livre, na natureza, no Monte das Oliveiras, ou na residência de um amigo, ou às margens de um lago. 

Sublime didata

Nesse caso, a técnica empregada por Jesus era dotada de objetivos referentes a costumes e determinações da Sua época. Ele, sublime didata dos princípios eternos, utilizava-Se do recurso mais importante de um genuíno educador: os bons exemplos da própria conduta. Sem uso de fórmulas difíceis, Seus ensinamentos principiavam pelo conceito de humildade, tendo em vista o real sentido da espiritualização da alma humana, pela madureza do fruto da fé sob o sol do bom senso, da coerência racional.

A Sua prática compunha-se de um processo de ensino imediatamente vinculado ao exercício em certo espaço de tempo. Os temas irrompiam mediante exigências da hora. A didática de Jesus só desejava tornar livre o templo vivo do coração humano para primazia do amor e do saber. Segundo o pensamento d’Ele avançava, a importância da espiritualidade sobrepunha-se aos interesses de títulos e glórias terrenos.

O produto do pensamento de Jesus coloca-se mesmo sobre o desejo veemente do conceito de posse, de prazer e de certas prerrogativas. Ao propor o Reino de Deus nos corações, quis Jesus passar-nos a ideia de que só a iluminação íntima dá a verdadeira serenidade e a alegria desta e da “outra vida”, a “paz” não ofertada pelo mundo, a que, sôfregas e equivocadas, as gerações têm desejado.

Não exigiu nem deu a entender

Veja, ao prescindir de glórias e honrarias da existência passageira, Jesus curou cegos, surdos-mudos, epilépticos, lunáticos e enfermos de toda a sorte, e nem por isso requereu ou deu a entender que Lhe devessem testemunhos, reconhecimentos públicos; sublimes foram as lições por Ele ministradas, ao luzir o “espírito da letra da eterna tábua do Sinai, sem reclamar título de levita ou de doutor da Lei; fatos antecipados por intermédio da Sua extraordinária clarividência concretizaram-se, soube o que se passava no íntimo das pessoas, sobretudo, daqueles com quem tinha intimidade, jamais ostentando Seus poderes psíquicos; movido pelas circunstâncias de certo instante, produziu fantástica multiplicação de cinco pães e de dois peixes para nutrir mais de cinco mil pessoas, acalmou temporais, “ressuscitou” alguns, transformou água em vinho e, sem um pingo de vaidade, nunca disse em brados ou a meia voz, ou mesmo em segredo que era Deus, ou um “fazedor de milagres”. Embora dono de todos esses admiráveis atributos, Jesus em tempo nenhum planejou ser adorado como chefe de religião, tampouco conferiu sacramento, status de prepostos a sacerdotes para O adorarem em templos, muitos dos quais suntuosos, imponentes.

Ora! Tem cabimento Jesus, tão modesto, tão moderado que era, arrogar a Si o direito de unicamente Ele ser chamado de mestre?! Até agora, eu não soube de tal descabida solicitação de algum professor a seus alunos. É claro que Jesus é Mestre dos mestres, o nosso educador por excelência. Chegando em paz à manjedoura simples, o berço de improviso, principiaram ali os primeiros anos letivos da Humanidade... Se o prefeito da província romana da Judeia, o ferrenho inimigo de Herodes Antipas, Pôncio Pilatos, perguntasse antes: “és mestre?”, em vez de “és rei?” (João, 19:37), com certeza, Ele lhe responderia: “Tu o dizes”.

 

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