DAVILSON SILVA
davsilva.sp@gmail.com
São Paulo, SP (Brasil)
Um só é o vosso Mestre
O Evangelho de Mateus,
capítulo 23, diz que,
falando Jesus na
terceira pessoa do
singular, determinara
que apenas Ele fosse
chamado de mestre, e não
os escribas e fariseus.
Isso teria acontecido
após uma crítica à
ostentação, às falsas
virtudes, ao interesse
deles em sentarem-se nos
primeiros lugares em
banquetes, nas
sinagogas, e ao modo
como o povo os
cumprimentava,
tratando-os por mestres,
nas praças públicas:
1
Então falou Jesus às
multidões e aos seus
discípulos (...)
8
Vós, porém, não queirais
ser chamados Rabi,
porque um só é o vosso
Mestre, a saber, o
Cristo, e todos vós sois
irmãos (...)
10
Nem vos chameis mestres,
porque um só é o vosso
Mestre, que é o Cristo.
Noutra tradução e edição
de exemplar de bíblia, o
texto está diferente,
inclusive, para variar,
em vez de Rabi e
Mestre, grafaram
Guia. No mesmo
capítulo, Jesus teria
concluído:
11
Mas o maior dentre vós
será vosso servo.
12
Quem a si mesmo se
exaltar será humilhado;
e quem a si mesmo se
humilhar será exaltado.
Incoerências,
contradições
Procederia de Jesus
tamanha incoerência? O
Antigo e o Novo
Testamento apresentam
tantas contradições que
chagam até a pôr em
dúvida a infinita
perfeição do Criador e a
autoridade moral de
Jesus, ao colocar-Lhe
palavras na boca e ao se
referirem a atitudes
nada condizentes com
Ele. Se a Bíblia
consiste na “palavra de
Deus”, conforme
declaram, por que mexem
tanto nos textos
divinos?
Voltemos a Jesus. Ah! O
nosso é bem diferente! O
Jesus dos espíritas
representa o tipo mais
perfeito em saber e
moralidade, o nosso Guia
e Modelo, e a Sua
Doutrina, a mais pura
expressão das leis
imutáveis. Entendemos
que Cristo veio a este
mundo para demonstrar
isso, orientando as
Almas deste planeta à
guisa de lições
determinadas numa ordem
de sublimes
conhecimentos.
Todo
bom professor lecionará
uma disciplina com
exemplares e recursos
que tornem o ensino
eficaz e interessante.
Como se sabe, Jesus não
pôde Se valer de
materiais didáticos, de
equipamentos como os de
hoje, tampouco de uma
sala de aula e de tudo
mais. Sua sala de aula
era ao ar livre, na
natureza, no Monte das
Oliveiras, ou na
residência de um amigo,
ou às margens de um
lago.
Sublime didata
Nesse caso, a técnica
empregada por Jesus era
dotada de objetivos
referentes a costumes e
determinações da Sua
época. Ele, sublime
didata dos princípios
eternos, utilizava-Se do
recurso mais importante
de um genuíno educador:
os bons exemplos da
própria conduta. Sem uso
de fórmulas difíceis,
Seus ensinamentos
principiavam pelo
conceito de humildade,
tendo em vista o real
sentido da
espiritualização da alma
humana, pela madureza do
fruto da fé sob o sol do
bom senso, da coerência
racional.
A Sua prática
compunha-se de um
processo de ensino
imediatamente vinculado
ao exercício em certo
espaço de tempo. Os
temas irrompiam mediante
exigências da hora. A
didática de Jesus só
desejava tornar livre o
templo vivo do coração
humano para primazia do
amor e do saber. Segundo
o pensamento d’Ele
avançava, a importância
da espiritualidade
sobrepunha-se aos
interesses de títulos e
glórias terrenos.
O produto do pensamento
de Jesus coloca-se mesmo
sobre o desejo veemente
do conceito de posse, de
prazer e de certas
prerrogativas. Ao propor
o Reino de Deus nos
corações, quis Jesus
passar-nos a ideia de
que só a iluminação
íntima dá a verdadeira
serenidade e a alegria
desta e da “outra vida”,
a “paz” não ofertada
pelo mundo, a que,
sôfregas e equivocadas,
as gerações têm
desejado.
Não exigiu nem deu a
entender
Veja, ao prescindir de
glórias e honrarias da
existência passageira,
Jesus curou cegos,
surdos-mudos,
epilépticos, lunáticos e
enfermos de toda a
sorte, e nem por isso
requereu ou deu a
entender que Lhe
devessem testemunhos,
reconhecimentos
públicos; sublimes foram
as lições por Ele
ministradas, ao luzir o
“espírito da letra”
da eterna tábua do
Sinai, sem reclamar
título de levita ou de
doutor da Lei; fatos
antecipados por
intermédio da Sua
extraordinária
clarividência
concretizaram-se, soube
o que se passava no
íntimo das pessoas,
sobretudo, daqueles com
quem tinha intimidade,
jamais ostentando Seus
poderes psíquicos;
movido pelas
circunstâncias de certo
instante, produziu
fantástica multiplicação
de cinco pães e de dois
peixes para nutrir mais
de cinco mil pessoas,
acalmou temporais,
“ressuscitou” alguns,
transformou água em
vinho e, sem um pingo de
vaidade, nunca disse em
brados ou a meia voz, ou
mesmo em segredo que era
Deus, ou um “fazedor de
milagres”. Embora dono
de todos esses
admiráveis atributos,
Jesus em tempo nenhum
planejou ser adorado
como chefe de religião,
tampouco conferiu
sacramento, status de
prepostos a sacerdotes
para O adorarem em
templos, muitos dos
quais suntuosos,
imponentes.
Ora! Tem cabimento
Jesus, tão modesto, tão
moderado que era,
arrogar a Si o direito
de unicamente Ele ser
chamado de mestre?! Até
agora, eu não soube de
tal descabida
solicitação de algum
professor a seus alunos.
É claro que Jesus é
Mestre dos mestres, o
nosso educador por
excelência. Chegando em
paz à manjedoura
simples, o berço de
improviso, principiaram
ali os primeiros anos
letivos da Humanidade...
Se o prefeito da
província romana da
Judeia, o ferrenho
inimigo de Herodes
Antipas, Pôncio Pilatos,
perguntasse antes: “és
mestre?”, em vez de “és
rei?” (João, 19:37), com
certeza, Ele lhe
responderia: “Tu o
dizes”.
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