Diz-nos Emmanuel: "O
Espiritismo, sem
Evangelho, pode alcançar
as melhores expressões
de nobreza, mas não
passará de atividade
destinada a
modificar-se ou
desaparecer, como todos
os elementos
transitórios do mundo.
E o espírita, que não
cogitou da sua
iluminação com Jesus
Cristo, pode ser um
cientista e um filósofo,
com as mais elevadas
aquisições intelectuais,
mas estará sem leme e
sem roteiro no instante
da tempestade inevitável
da provação e da
experiência, porque só o
sentimento divino da fé
pode arrebatar o homem
das preocupações
inferiores da Terra
para os caminhos
supremos dos páramos
espirituais" (O
Consolador, item 236).
Aludindo ao ensino moral
contido no Evangelho,
Allan Kardec pondera:
"Diante desse código
divino, a própria
incredulidade se curva.
É o terreno em que todos
os cultos podem
encontrar-se, a bandeira
sob a qual todos podem
abrigar-se, por mais
diferentes que sejam as
suas crenças. Porque
nunca foi objeto de
disputas religiosas,
sempre e por toda parte
provocadas pelos dogmas.
Se o discutissem, as
seitas teriam, aliás,
encontrado nele a sua
própria condenação,
porque a maioria delas
se apegou mais à parte
mística do que à parte
moral, que exige a
reforma de cada um. Para
os homens, em
particular, é uma regra
de conduta, que abrange
todas as circunstâncias
da vida privada e
pública, o princípio de
todas as relações
sociais fundadas na mais
rigorosa justiça. É,
por fim, e acima de
tudo, o caminho
infalível da felicidade
a conquistar, uma ponta
do véu erguida sobre a
vida futura" (O
Evangelho segundo o
Espiritismo, Introdução,
item I).
Diante de tais
ensinamentos, não se
concebe falar em
assistência social
espírita sem
evangelização, porquanto
ensinar a Doutrina
Espírita direcionando o
indivíduo para a prática
dos ensinos do Cristo é
favorecer-lhe o caminho
da felicidade. Existe
objetivo mais nobre do
que esse? O objetivo da
assistência social
espírita não é,
portanto, como muitos
pensam, tão-somente
saciar corpos
perecíveis, mas iluminar
consciências, formar
indivíduos saudáveis do
ponto de vista físico,
psicológico e
espiritual, fazer homens
de bem, porque "o homem
que se ilumina conquista
a ordem e a harmonia
para si mesmo" (O
Consolador, item 234).
O Serviço Social no
plano espiritual
A assistência social
espírita, que constitui,
na história do movimento
espírita brasileiro, um
dos capítulos mais
fecundos, não se limita
ao plano dos encarnados,
porque essa preocupação
é frequente também nas
províncias espirituais
adjacentes à Crosta. Diz
Lúcia Loureiro (in
"Colônias Espirituais",
pág. 43): "Nas Colônias
Espirituais, o Serviço
Social possui um vasto
campo de ação no
desenvolvimento das
atividades. Desde as
entrevistas iniciais até
o encaminhamento em
excursões para estudo e
observação. Os Espíritos
instrutores empregam
fórmulas variadas com os
recém-desencarnados a
depender de suas
características e
reações. O Amor e a
Tolerância são
fundamentais, e o
Espírito que recepciona
o que chega emprega toda
a habilidade
psicológica para que
este se sinta seguro e
aceito, apesar de suas
imperfeições. O
Espírito recepcionista
tem muita precaução nos
contatos com o
recém-desencarnado,
atentando para a sua
sensibilidade ao
comentar erros passados,
estimulando-o sem
pressão".
Lúcia Loureiro
acrescenta: "Esses
Assistentes Sociais do
Espaço integram as
Caravanas Socorristas e
são elementos preparados
para fazer a aproximação
daqueles que já se acham
em condições razoáveis
para recebimento de
socorro. Outros há que
fazem as visitas
periódicas ao
’enfermo', a fim de
estimulá-lo a elevar o
padrão vibratório, a
esclarecê-lo... Eles
acompanham os assistidos
por toda a sua estada
nas Colônias, observado
o progresso espiritual
de cada um".
As tarefas auxiliares do
Serviço Social são o
socorro espiritual e a
reabilitação:
Socorro espiritual:
"Por ocasião das visitas
das Caravanas
Socorristas às zonas
inferiores, a primeira
ajuda oferecida aos
Espíritos carentes é a
sua retirada do local e
o transporte para as
instituições
hospitalares das
Colônias. Após a fase de
perturbação, os
Espíritos, ainda
exauridos, não têm
forças para se locomover
nem o senso da direção,
daí a necessidade de
transportá-los em macas,
da mesma forma que os
nossos doentes
terrestres." Essa
providência equivaleria,
em nosso meio, a dar o
peixe a quem tem fome.
Reabilitação:
"Nas Colônias, o valioso
instrumento de
reabilitação do
Espírito é o trabalho,
utilizado, também, como
terapia ocupacional. À
medida que o Espírito
convalescente se
interessa pelo serviço
da comunidade,
dedicando-se a qualquer
tarefa, ainda que a mais
simples, vai, da mesma
forma, concretizando a
sua cura. Os Espíritos
comunicantes são
unânimes quanto a essas
declarações."
Em "A Vida Além do
Véu”, o Rev. G. Vale
Owen fala dessas
atividades, e André
Luiz descreve em "Nosso
Lar" a sua própria
experiência: "Narcisa
fazia o possível por
atender prontamente à
tarefa de limpeza, mas
debalde. Grande número
deles deixava escapar a
mesma substância negra e
fétida. Foi então que,
instintivamente, me
agarrei aos petrechos
de higiene e lancei-me
ao trabalho com ardor. A
servidora parecia
contente com o auxílio
humilde do novo irmão,
ao passo que Tobias me
dispensava olhares
satisfeitos e
agradecidos. O serviço
continuou por todo o
dia, custando-se
abençoado suor, e nenhum
amigo do mundo poderia
avaliar a alegria
sublime do médico que
recomeçava a educação de
si mesmo, na enfermagem
rudimentar" ("Nosso
Lar", cap. 27, pág.
151).
Otília Gonçalves
(Espírito), em "Além
da Morte", relata:
“Aclimatada, na Terra,
aos labores humildes de
limpeza e asseio,
ofereci-me à irmã
Zélia, em dia de grande
movimento, para
contribuir de algum modo
com os deveres de
manutenção da Enfermaria
onde me encontrava,
experimentando, com a
sua aquiescência,
indizível júbilo. À
medida que era atraída
para esse serviço
singelo, estranho
revigoramento tomava
corpo dentro de mim,
entusiasmando-me e
fazendo-me esquecer as
preocupações e angústias
lancinantes que ficaram
no espírito, com a
distância colocada pela
morte”. Adrião lhe disse
então que "o trabalho é
o poderoso elixir de
longa vida que fortifica
todas as esperanças e
esponja que apaga todas
as preocupações. A alma
que labora não é colhida
pelas malhas das
tentações da dúvida e do
medo, ficando distante
do barco fraco dos
receios".
As organizações
socorristas da
erraticidade
Verifica-se, assim, que
no Além a ociosidade e a
inércia não têm lugar
para aqueles que sentem
a necessidade de
progredir. Só a
dedicação abnegada ao
bem-estar geral faz com
que se ascenda aos
Planos Superiores. Os
demais lá chegarão
também, mas apenas pela
dor.
A série "Nosso Lar",
escrita por André Luiz,
permitiu-nos conhecer
inúmeras dessas
organizações socorristas
existentes nos planos
espirituais imediatos à
Crosta da Terra, de que
fala Lúcia Loureiro:
O "Samaritanos" é uma
delas, com notável
atividade junto ao
Umbral ("Nosso Lar",
cap. 28, pág.
152).
O Posto de Socorro
vinculado à colônia
"Campo da Paz",
administrado por
Alfredo, com cerca de
500 cooperadores, é
outra ("Os
Mensageiros", cap. 15 e
16).
Em "Obreiros da Vida
Eterna" (cap. IV), André
alude à Casa
Transitória de Fabiano
e às suas congêneres
Oratório de Anatilde e
Fundação
Cristo.
No livro "No Mundo
Maior" (cap. 20)
fala-nos do Lar de
Cipriana e dos inúmeros
Postos de Socorro e
Escolas (cap. 17) que
atendem às entidades
sofredoras situadas numa
várzea de extensão
imensa localizada no
limiar das cavernas,
onde "vastos cardumes de
desventurados jaziam
chumbados ao solo, quais
aves desditosas, de asas
partidas".
Na obra "Entre a Terra e
o Céu" (cap. XI)
descreve o Lar da
Bênção, onde mais de
2.000 crianças
desencarnadas são
assistidas por mães
substitutas, a maioria à
espera de uma nova
oportunidade no plano
terrestre.
E em "Ação e Reação"
(cap. 1) André nos
apresenta a "Mansão
Paz", instituição
socorrista vinculada à
colônia Nosso Lar,
fundada há mais de três
séculos para atendimento
a entidades infelizes e
enfermas que se preparam
para nova incursão na
experiência terrestre.
Cinco pontos
fundamentais do Serviço
Social espírita
Das experiências e
relatos constantes da
série Nosso Lar, de
André Luiz, podemos
extrair os seguintes
pontos, que nos parecem
fundamentais a um
trabalho de assistência
social espírita:
1º.) A prática do
bem é mero dever:
"O Evangelho de Jesus
(disse a André aquela
que foi sua mãe terrena)
lembra-nos que há maior
alegria em dar que em
receber. (...) Dá
sempre, filho meu.
Sobretudo, jamais
esqueças dar de ti
mesmo, em tolerância
construtiva, em amor
fraternal e divina
compreensão. A prática
do bem exterior é um
ensinamento e um apelo,
para que cheguemos à
prática do bem interior.
Jesus deu mais de si,
para o engrandecimento
dos homens, que todos os
milionários da Terra
congregados no serviço,
sublime embora, da
caridade material. Não
te envergonhes de
amparar os chaguentos e
esclarecer os loucos que
penetrem as Câmaras de
Retificação (...).
Trabalha, meu filho,
fazendo o bem. Sempre
que possas, olvida o
entretenimento e busca o
serviço útil." (Nosso
Lar, cap. 36, pág. 198.)
2º.) O bem que
fazemos jamais fica
esquecido: "Nos
círculos inferiores,
meu filho (disse-lhe sua
mãe), o prato de sopa ao
faminto, o bálsamo ao
leproso, o gesto de amor
ao
desiludido, são
serviços divinos que
nunca ficarão
deslembrados na Casa de
Nosso Pai." (Idem, pág.
197.)
3º.) Não se
concebe o trabalho de
ajuda ao próximo sem o
espírito de fraternidade:
"Ainda há pouco tempo
(disse-lhe Laura, mãe de
Lísias) ouvi um grande
instrutor no Ministério
da Elevação assegurar
que, se pudesse, iria
materializar-se nos
planos carnais, a fim de
dizer aos religiosos,
em geral, que toda
caridade, para ser
divina, precisa
apoiar-se na
fraternidade." (Nosso
Lar, cap. 39, pág.
218.)
4º.) O padrão da
obra socorrista no mundo
será sempre Jesus:
"Jesus (disse-lhe
Vicente, que também fora
médico na Terra) não foi
somente o Mestre, foi
Médico também. Deixou no
mundo o padrão da cura
para o Reino de Deus.
Ele proporcionava
socorro ao corpo e
ministrava fé à alma.
Nós, porém, meu caro
André, em muitos casos
terrestres, nem sempre
aliviamos o corpo e
quase sempre matamos a
fé." (Os Mensageiros,
cap. 13, pág. 74.)
5º.) Devemos dar o
pão que alimente o
corpo, sem esquecer a
luz que ilumine o
espírito: "Nos
primórdios do
Cristianismo (disse-lhe
Irene), a maioria dos
necessitados entraria em
contacto com Jesus
através da sopa humilde
ou do teto acolhedor.
Lavando leprosos,
tratando loucos,
assistindo órfãos e
velhinhos desamparados,
os continuadores do
Cristo davam trabalho a
si próprios,
dedicavam-se aos
infelizes,
esclarecendo-lhes a
mente, e ofereciam
lições de substancial
interesse aos leigos da
fé viva. Como não
ignoram, estamos fazendo
no Espiritismo
evangélico a
recapitulação do
Cristianismo." (Obreiros
da Vida Eterna, cap.
XII, pág. 190.)
A recomendação de São
Francisco Xavier
Relata-nos Manoel
Philomeno de Miranda (in
"Tramas do Destino",
cap. 21, págs. 196 a
199, obra psicografada
por Divaldo P. Franco)
que, quando o Centro
Espírita "Francisco
Xavier", de Salvador
(BA), teve a sua
edificação planejada, o
dirigente espiritual
Natércio, profundo
admirador e discípulo de
São Francisco Xavier,
que fora na Terra
incansável propagandista
da fé cristã, tendo-a
levado ao Japão, China e
Índia, nos idos do séc.
XVI, recorreu ao fiel
Apóstolo de Jesus,
suplicando seu
patrocínio espiritual
para a Casa que seria
erguida. Recebido pelo
Mensageiro do Senhor,
Natércio expôs-lhe o
programa que objetivava
realizar. Sua grande
meta era incrementar
entre os homens o ardor
da fé e a pureza dos
princípios morais,
conforme as regras
simples dos "seguidores
do Caminho", sem os
atavios do dogmatismo,
da aparência e dos
formalismos.
Terminado seu relato, o
instrutor recebeu o aval
do insigne Missionário,
com uma condição: que se
preservasse ali o
Evangelho em suas linhas
puras e simples, num
clima de austeridade moral
e serviços iluminativos
disciplinados, com os
resultantes dispositivos
para a caridade nas
suas múltiplas
expressões, tendo-se,
porém, em vista que os
socorros materiais seriam
decorrência natural do
serviço espiritual,
prioritário, imediato, e
não os preferenciais...
"Não deveriam
esquecer-se de que a
maior carência ainda é a
do pão de luz da
consolação moral, que o
Livro da Vida propicia
fartamente..."
Comentando o episódio,
assevera Manoel
Philomeno de Miranda
(obra citada, págs. 198
e 199):
"Pensa-se muito em
estômagos a saciar,
corpos a cobrir,
doenças a curar... Sem
menosprezar-lhes a
urgência, o Consolador
tem por meta primacial o
espírito, o ser em sua
realidade imortal, donde
procedem todas as
conjunturas e situações,
que se exteriorizam
pelo corpo e mediante os
contingentes humanos,
sociais, terrenos,
portanto...
"A assistência social no
Espiritismo é valiosa,
no entanto, se precatem
os `trabalhadores da
última hora'
contra os excessos, a
fim de que a exaustão
com os labores externos
não exaura as forças do
entusiasmo nem derrube
as fortalezas da fé, ao
peso da extenuação e do
desencanto nos serviços
de fora.
"Evangelizar, instruir,
guiar, colocando o
azeite na lâmpada do
coração, para que a
claridade do espírito
luza na noite do
sofrimento, são tarefas
urgentes, basilares na
reconstrução do
Cristianismo."
Não basta dar o pão que
alimente apenas o corpo
É por isso que Joanna de
Ângelis nos propõe (in
"Dimensões da Verdade",
pág. 123):
"A caridade tem regime
de urgência, mas também
o esclarecimento ao seu
lado tem tarefa
prioritária, funcionando
como combustível de
sustentação.
"Pão ao esfaimado como
dever imediato, e luz do
ensino espírita, para
que a angústia da fome
seja dirimida pelo
serviço dignificante.
"Tecidos ao corpo
entanguido como
tarefa inadiável; no
entanto, orientação
espírita para agasalhar
a alma na esperança,
livrando-a, em
definitivo, do frio.
"Medicamento ao corpo
doente como recurso
urgente; todavia,
diretriz espírita para
que o espírito
compreenda as razões
profundas da dor e possa
revitalizar-se.
"Socorro ao aflito nos
braços do desespero como
obrigação irresistível;
mas roteiro espírita
para que o conhecimento
o liberte de toda treva
e agitação.
"Amparo ao órfão, no
próprio lar, como lição
viva de amor; porém,
conduta espírita diante
dele, como linha de
segurança para o seu
engrandecimento.
"Assistência à mulher
viúva e auxílio à
miséria como impositivo
da ação cristã; todavia,
oferta da Doutrina
Espírita a fim de que a
revolução da verdade
conceda luz e vida, para
que novos enganos sejam
evitados, libertando as
mentes das ligações
poderosas com o mal.”
E a nobre mártir do
Cristianismo nascente,
hoje orientadora
espiritual do trabalho
de Divaldo P. Franco,
arremata (obra citada,
pág. 50):
"Nem Espiritismo sem
assistência social, nem
assistência social sem
Espiritismo, para nós
espiritistas encarnados
e desencarnados. E
guardemos a certeza de
que, ao lado da
assistência material que
possamos doar, a
assistência moral e
espiritual deve ter
primazia."