LEONARDO
MACHADO
leomachadot@gmail.com
Recife,
PE
(Brasil)
Capacidade
de amar
Naquela
noite,
na sala
de uma
emergência
médica,
o jovem
estudante
aprendia
a arte
da
medicina.
Depois
de
atender
alguns
pacientes
com
quadros
psiquiátricos descompensados,
chegou a
vez de
uma
senhora
que
muito
lhe
chamou
atenção.
Vestida
com
roupas
extravagantes
e
transparecendo
uma
sexualidade
exacerbada,
ela
adentrou
o
consultório
cantando
de modo
bem
estridente
e
caricatural,
ao mesmo
tempo em
que era
acompanhada
por uma
irmã e a
filha
mais
velha.
Porém, a
certa
altura
do
atendimento,
estafada,
a irmã
falou
enfaticamente
com a
sobrinha,
referindo-se
à
transtornada
mulher – eu
não
aguento
mais,
não!
Agora
que você
completou
dezoito
anos,
vai
passar a
cuidar
também
dela.
Foram
tomadas
todas as
condutas
diagnósticas
e
terapêuticas
adequadas
ao caso
e,
depois
disso, o
futuro
esculápio,
procurando
entender
melhor o
enquadramento
familiar,
indagou
à jovem
moça - há
quanto
tempo
tua mãe
tem esta
doença?.
Fez-se
um
silêncio
breve,
e,
parecendo
ter
passado
por uma
retrospectiva
de vida,
a menina
respondeu
– faz
tanto
tempo
que eu
nem me
lembro,
“desde
que eu
me
entendo
por
gente
ela é
assim”.
Não
houve,
contudo,
tempo
para ela
terminar
a frase.
Automaticamente,
as
lágrimas
rolaram
em seu
rosto de
modo
convulsivo.
Um
silêncio
dominou
o
ambiente
e, até
mesmo a
paciente,
diminuindo
o estado
de
agitação
em que
se
encontrava,
deixou-se
emocionar...
A fala
de
Jesus,
indicando
que o
maior
dos
mandamentos
seria o
de amar
ao
próximo
como a
si
mesmo,
bem como
a Deus
acima de
tudo, é
de uma
veracidade
singular.
Para se
amar o
Criador,
que
é ainda
um
grande
desconhecido,
é necessário
amar a
sua
criação,
sobretudo
a mais
encantadora,
que é o
ser
humano,
o
próximo,
portanto.
Entretanto,
para se
amar o
outro,
imprescindível
é se
amar.
Sem o
autoamor,
não se
dispõe
de
matéria-prima
para
amar o
semelhante,
muito
menos o
desigual.
Somente
se
consegue
doar
abundantemente
aquilo
que se
possui
em
abundância.
É por
isso que
pessoas
muito
rígidas
consigo
tendem a
ser
inflexíveis
nas
relações
diárias;
aqueles
que não
conseguem
se
perdoar
de modo
algum
passam a
ser
rancorosos
em
demasia
com os
outros;
e muitos
que se
culpam e
se
torturam
mentalmente,
muitas
vezes,
são
implacáveis
com o
próximo.
Nesta
perspectiva,
observa-se
que,
até mesmo
o amor
de mãe,
considerado
quase
sempre
como o
que
há de
mais
divino,
não
consegue
ser
adequadamente
demonstrado
em
situações
de
intensa
dor,
insatisfação
e vazio
pessoais.
Em
reiteradas
ocasiões,
assim,
os
filhos
são
convidados
pela
vida,
desde
tenra
idade, a
inverterem
os
papéis
e, ao
invés de
receberem
mimos,
passarem
a ser
cuidadores
dos
pais.
Em tais
circunstâncias,
pode-se
optar
pelas
vitimização,
revolta
ou
mágoa;
ou,
então,
tentar
se
preencher
de um
saudável
autoamor,
espalhando
luzes
pela
existência.
Certamente,
esta
segunda
via é
mais
difícil
porque
faz um
convite
à
transcendência,
ou seja,
ao
indivíduo
ir além
do que
se acha
capaz;
no
entanto,
seguramente,
é o que
conduz à
paz e à
saúde
duradouras.
Para
tanto,
não
há uma
receita
única
infalível;
antes,
cada um
deve
encontrar
seu
próprio
caminho,
agregando
ajudas
nos
saudáveis
ramos da
sabedoria
humana.