“Não temos,
pois, outro
objetivo que não
seja demonstrar
a nossa
necessidade de
estudo metódico
da obra de Kardec, não só
para lhe
penetrarmos a
essência
redentora, como
também para que
lhe estendamos a
grandeza em
novas facetas do
pensamento, na
convicção de que
outros
companheiros de
tarefa
comparecerão à
liça,
suprindo-nos as
deficiências
naturais, com
estudos mais
altos dos temas
renovadores
trazidos ao
mundo pelo
apóstolo de
Lião.” –
Emmanuel
[1]
Nosso propósito
Pensando no
trabalho do
venerando
apóstolo da
mediunidade com
Jesus, Francisco
de Paula Cândido
Xavier, me
proponho a
escrever sobre
alguns textos de
Emmanuel, um
pequeno recorte
do vasto
conjunto de
escritos desse
Benfeitor
Espiritual,
nessa parceria
interexistencial,
e sua proposição
em nos
nortearmos nos
ensinos de Jesus
e de Allan
Kardec, Espírito
de escol cujo
conjunto de sua
obra ilumina
nossa jornada
rumo a saberes e
valores
superiores, em
favor de nossa
felicidade.
Objetivo, nessa
breve e limitada
análise,
juntar-me ao
coro de vozes
dos que têm em
Chico Xavier um
exemplo de
cristão espírita
fiel aos
postulados
abraçados, cuja
rede de
solidariedade
estabelecida por
sua atividade
junto aos
necessitados de
toda ordem, como
médium e homem
de bem, não só
emociona, mas
inspira planos
de ação
transformadora
no mundo.
Para tanto, irei
apoiar minha
escrita em
alguns textos
das obras de
Emmanuel que
parecem fazer um
estudo de parte
das obras
fundamentais do
Espiritismo:
“Religião dos
Espíritos”;
“Seara dos
Médiuns”; “O
Espírito de
Verdade” (com
outros irmãos
desencarnados);
“Justiça Divina”
e “O
Consolador”,
todas editadas
pela Federação
Espírita
Brasileira.
Apreendo das
obras de
Emmanuel sua
postura de
difusor do ideal
doutrinário
sempre reverente
ao mestre
lionês,
convidando-nos a
todos ao estudo
e à prática do
Espiritismo, sem
desejar formar
escola ou
séquitos de
seguidores, mas
com a meta de
levar o leitor,
num trabalho
educativo de
alto relevo, na
direção da
vereda essencial
do saber
espírita que,
nunca é demais
recordar, está
na produção
kardeciana –
veja-se, para
ilustrar o que
digo, a epígrafe
que utilizo para
abertura desse
artigo.
Sobre obras
complementares
Convencionou-se
chamar, em nosso
movimento
espírita, de
obras
complementares
aquelas escritas
após Kardec,
pressupondo-se
que, de alguma
forma,
acrescentariam
algo novo na
Revelação
Espírita. Do meu
ponto de vista
temos, de modo
geral, uma
leitura
equivocada desta
questão,
produzindo uma
concepção de
senso comum
que se
generaliza pela
ausência de
criticidade,
herança
religiosa
ancestral que,
inclusive,
compreende mal
os mecanismos de
progressividade
científica da
Doutrina
Espírita,
imaginando que
toda e qualquer
revelação
mediúnica
poderia ser
entendida como
atualizadora do
Espiritismo em
suas bases.
A única vez que
Kardec usa a
expressão
obras
complementares,
diferente do que
o senso comum
fala, ele está
se referindo
às obras
diversas a
respeito do
Espiritismo
,
ou seja, aos
trabalhos
literários e
artísticos
(respectivamente,
livros, poesias,
músicas, desenho
e fotografia)
que sucederam ao
que é
fundamental. Ele
faz isso no
último opúsculo
que lançou, em
forma de
catálogo,
objetivando
nortear a
organização do
que se poderia
entender por
biblioteca
espírita, capaz
de reunir quase
tudo que se
referisse à
temática em
questão.
“A segunda
parte do
catálogo ainda é
subdividida em
quatro partes:
uma parte geral
contendo 35
obras, uma
sessão de poesia
com três
títulos, outra
de música
contendo quatro
e a sessão
desenho contendo
sete trabalhos
dentre eles um
retrato de Allan
Kardec, uma
fotografia e um
cartão-retrato.”
[3]
É bom lembrar
que essas obras
diversas jamais
substituiriam os
conceitos
primeiros
confirmados como
verdades
estabelecidas a
não ser que suas
conclusões
obedecessem
rigorosamente os
critérios
epistemológicos
da Ciência
Espírita,
fundados pelo
Prof. Rivail.
Assim, quando se
fala das obras
psicografadas
pelo missionário
da mediunidade
com Jesus, que
foi Chico
Xavier, como
livros
complementares,
deve-se entender
no sentido
apresentado no
Catálogo
Racional
quanto ao seu
lugar ante a
Doutrina
Espírita: como
obras que
sucederam as de
Kardec, sem
ignorar seu
valor educativo
e de
desdobramento
elucidativo
prático e
filosófico, nem
mais e nem menos
do que isso,
permitam-me
esclarecer.
Espiritismo
revivendo o
Cristianismo
Para Emmanuel,
a nossa
responsabilidade
é o Espiritismo
revivendo o
Cristianismo, ou
seja, cabe-nos
materializarmos
os ensinamentos
do Mestre da
Cruz em nossas
vidas, a serviço
do aprimoramento
da Humanidade já
em fase de
instituir a era
de regeneração.
Ao fazer um
apontamento
sobre a tradição
histórica do
cristianismo dos
homens –
atrelado ao
espírito da
intolerância e
ao sectarismo
político – e seu
afastamento do
pensamento do
Cristo, Emmanuel
não deixa de
manifestar a sua
crítica e nos
convidar, na sua
palavra aos
espíritas, à
restauração da
paz e do diálogo
entre os homens,
inspirando, para
quem tiver
ouvidos de
ouvir, o
profícuo diálogo
inter-religioso
na práxis da
fraternidade.
Do mesmo modo,
não podemos
deixar que o
trato com a
fenomenologia
espírita opacize
o que há de
essencial no
Espiritismo que
é a sua
filosofia
radicalmente
sintonizada com
o Evangelho do
Cristo, sob o
risco de nos
escravizarmos a
delírios
aparentemente
intelectuais e,
ao mesmo tempo,
paralisantes
quanto às nobres
realizações que
denotam
fidelidade aos
compromissos
assumidos.
Noutro texto da
mesma obra
supracitada o
ex-senador
romano que
encontrara
Jesus, há mais
de dois mil
anos, afirma não
ignorar a
pedagogicidade
das diferentes
religiosidades,
entretanto
ressalta algo
que os adeptos
do Espiritismo
não podemos
olvidar que é a
abertura da
Doutrina ao
livre exame,
emancipado das
algemas do
dogmatismo,
contemplando as
exigências da
racionalidade,
frente a frente.
Iluminando mente
e coração com os
saberes e
valores morais
do Espiritismo,
realizemo-lo num
processo de
autêntica
cristianização
pessoal,
entendida como
identificação
com os ensinos
superiores de
Jesus Cristo, a
fim de que a
convivência com
o Consolador nos
seja proveitosa.
Universidade de
Redenção
Meditando sobre
o valor do
conhecimento
espírita para o
adepto, o
Benfeitor
Emmanuel
recorda-nos de
que é preciso
fixarmos na vida
prática seus
ensinamentos e,
no campo das
atividades
profissionais,
honrar o
trabalho com o
selo de nossa
fé, pois,
“toda ação no
bem precisa
ultrapassar o
dever para que o
ato de servir se
converta em
amor”.
[5]
Ademais,
exulta-nos à
identificação da
verdadeira
riqueza desse
conhecimento
superior que
recolhemos nas
lides
doutrinárias,
cuja consciência
demonstramos
pelo trabalho, a
fim de que não
nos atiremos em
qualquer forma
de
deslumbramento
que, como
sabemos através
dos estudos
sobre obsessão
que foram
legados por
Allan Kardec,
podemos adentrar
em processos
terríveis de
fascinação e,
por
consequência, de
inutilidade na
seara.
Noutra mensagem,
pela mediunidade
de Chico Xavier,
esse Espírito
luminar
estabelece três
fases distintas,
em sequência, de
apropriação da
ideia espírita.
São elas: de
aviso, chegada e
entendimento.
A fase de aviso
se refere a um
período de
mediunidade
intensamente
ativa, entre os
precursores do
moderno
espiritualismo,
alertando aos
reencarnados na
Terra quanto à
efetividade da
vida espiritual.
No período
inaugurado pela
atuação
mediúnica das
irmãs Fox,
encontramos
assinalada a
fase de chegada.
Os Espíritos
detalham
orquestradamente
sua condição
post mortem
mediante o
concurso
mediúnico
daqueles que, da
falange
espiritual dos
servidores da
Causa da
Verdade, estavam
domiciliados na
carne.
Ao mesmo tempo,
o fenômeno
mediúnico e
inteligente
provocava a
percepção e
convidava à
investigação
científica uma
série de
renomados
pesquisadores
europeus, como
acabou por
acontecer com o
eminente
pedagogo Rivail.
Contudo, na
linha de
raciocínio de
Emmanuel, nós
outros estamos
experimentando,
no que toca a
essas fases do
Espiritismo, um
período que
deveria ser
demarcado pelo
entendimento, ou
seja, em que
soubéssemos
tornar concreta
a fraternidade e
distribuir o
socorro moral em
prol das
inteligências
que, como nós,
jornadeiam em
provas e
expiações no
proscênio
terrestre.
Para isso, é
preciso
esclarecer o
povo quanto ao
que ensina e
pretende o
Espiritismo,
resgatando os
saberes
promovidos por
Jesus, dentro de
uma programação
por Ele mesmo
estabelecida
para os
partícipes de
seu aprisco. E,
nesse sentido,
conforme as
palavras do
autor em estudo,
a Doutrina
Espírita é
universidade de
redenção
para quem
aprende
ensinando a
ensinar, tanto
quanto, para
aquele que
ensina e aprende
ao ensinar, como
sabemos.
O que buscamos?
Propondo
determinada
meditação sobre
texto do
Evangelho que
reflete uma
pergunta feita
por Jesus aos
discípulos
quanto ao que
procuravam,
o Espírito
Emmanuel
leva-nos ao
exercício da
mesma questão em
nosso contexto
de servidores da
Doutrina
Espírita na
atualidade.
O que almejamos
da tarefa a que
nos dedicamos?
Nos diferentes
setores e
atividades do
centro e do
movimento
espírita em que
atuamos, o que
queremos do que
fazemos? Enfim,
que resultados
queremos chegar
em prol de nossa
evolução e, ao
mesmo tempo, da
obra a que nos
dedicamos,
recordando,
porém, que essa
empreitada está
sob a direção do
Cristo?
Para o acurado
entendimento e
construção de
lúcida resposta
ao Divino
Mestre, é
preciso analisar
o que fazemos,
observar nossa
fala, meditar
profundamente
auscultando
nossas mais
ocultas
aspirações e
identificar a
resposta que
somos capazes de
dar ao Grande
Educador.
Seguir Jesus no
Espiritismo é
viver seu
apostolado,
servindo e
cooperando
corajosamente na
construção de um
mundo melhor e,
para tanto, o
espírito de
serviço deve ser
uma constante na
tarefa espírita.
Como palmilhamos
na atual
existência por
experiências de
reajuste com a
Divina Lei e
laboramos no
movimento
espírita muito
mais por
abençoada
necessidade
educativa de nós
mesmos, e por
concessão da
Providência, do
que por valor
pessoal, é
oportuno que
estejamos
atentos se
estamos
aprendendo a
servir,
libertando-nos
dos
condicionamentos
inferiores
acalentados por
posturas
religiosas nada
esclarecidas do
ontem,
promotoras de
disputas
políticas,
intolerância e
descaminhos
morais.
Hoje o destaque
há de ser dado à
Doutrina
Espírita, não
aos egos
vaidosos e às
posições
mundanas
transitórias,
fazendo luzir o
Evangelho do
Mestre em sua
essência e
materializando-o
em nós pelo
trabalho
orientado no
excelso bem.
Afinal, “A
chefia durável
pertence aos que
se ausentam de
si mesmos,
buscando os
semelhantes para
servi-los...”,
já afirmava
Emmanuel.
Ante a tarefa
espírita
Bafejados pela
misericórdia do
Alto recebemos
na presente
reencarnação a
instrução
espiritista,
alguns desde o
berço e outros
em fases
diversas da vida
corporal,
todavia, o que
importa dizer é
que como
Espíritos,
desencarnados ou
renascidos no
corpo biológico,
trazemos
possibilidades
infindas de
evolução, sendo
capazes de
sermos úteis ao
porfiarmos pelo
bem da
coletividade em
que nos
inserimos.
Colaborar nas
hostes do
Espiritismo,
para Espíritos
calcetas como
nós outros, é
uma máxima
honra. Portanto,
não é lícito nos
colocarmos à
margem do
serviço que
compete realizar
e, nem tampouco,
nos situarmos
como trânsfugas
do dever,
condenando-nos à
opção pela
inutilidade,
como se
estivéssemos a
passeio na
Terra.
Segundo
Emmanuel,
independente dos
rótulos
passageiros e
das
considerações de
terceiros,
importa mesmo é
“fazer o bem que
se deve fazer”[10]
aproveitando o
tempo que não
volta para trás,
pois, um dia que
seja sem nobres
realizações é
um tesouro
perdido que
não há maneira
de resgatar na
esteira das
horas.
O labor
espírita, seja
em qualquer
campo de ação
que nos
situemos, deve
honrar o
propósito do
Espiritismo na
Terra em
conformidade com
seus
fundamentos. E,
sobre essa
questão, a obra
O Consolador
destaca que
a missão do
Espiritismo não
é destruir
outras crenças e
nem se situar no
terreno dos
efêmeros
triunfos
materiais, mas
cabendo-lhe
elucidar quando
a crença está
equivocada e
calcada em
concepções
distorcidas da
realidade
espiritual e, ao
mesmo tempo,
revelar a sua
proposta ética
mediante sua
Filosofia e pela
práxis do
espiritista
sincero que, por
sua vez,
“representa o
operário da
regeneração do
Templo do
Senhor, onde os
homens se
agrupam em
vários
departamentos,
ante altares
diversos, mas
onde existe um
só Mestre, que é
Jesus-Cristo.”
Sem qualquer
impostura de
ânsia hegemônica
no átrio das
diferentes
manifestações de
espiritualidade,
o espiritista
deve focar sua
atenção muito
mais em sua
iluminação
pessoal do que
no intuito de
converter os
outros, até
porque, a crença
no Espiritismo é
uma questão de
convicção
alicerçada na fé
raciocinada e
não de mera
adesão.
Recordemos com
Kardec que "O
Espiritismo é
uma doutrina
moral que
fortalece os
sentimentos
religiosos em
geral, e se
aplica a todas
as religiões; é
de todas, e não
pertence a
nenhuma em
particular. Por
isso não
aconselha
ninguém que mude
de religião.
(...)”[12]
A tarefa no
Espiritismo
exige
engajamento
esclarecido,
paixão e razão,
compromisso e
trabalho junto
às almas
sofredoras,
dentro das
diretrizes de
Jesus, sem
descurar de que
a maior
propaganda que
se pode fazer da
Doutrina que
professamos é a
identificação de
nosso agir com
os seus
postulados
ditados pelos
sempre vivos.
[1]
Religião
dos
Espíritos
-
introdução.
Catálogo
racional:
obras
para se
fundar
uma
biblioteca
espírita.
CARVALHO,
Larissa
Camacho
&
LOUSADA,
Vinícius
Lima.
Uma
história
do livro
e de
todos os
livros:
catálogo
racional
- obras
para se
fundar
uma
biblioteca
espírita
(1869).
Anais do
IX
CIEHLA,
UFRJ,
2009.
Revista
Espírita,
fevereiro
de 1862
-
Resposta
dirigida
aos
Espíritas
Lionenses
por
ocasião
do
Ano-Novo.