ANGÉLICA
REIS
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
O Espiritismo perante a
Ciência
Gabriel
Delanne
(Parte
14)
Damos continuidade nesta edição
ao
estudo do livro O
Espiritismo perante a
Ciência,
de Gabriel Delanne,
conforme
tradução da obra
francesa Le
Spiritisme devant la
science,
publicada originalmente
em Paris em 1885.
Questões preliminares
A.
Nos primórdios do
Espiritismo, três vultos
eminentes da América
converteram-se às ideias
espíritas. Quem são
eles?
O juiz Edmonds,
jurisconsulto eminente,
que publicou um livro em
que afirmava a realidade
das manifestações
espíritas; o professor
de química Mapes, que na
Academia Nacional dos
Estados Unidos
entregou-se a rigorosa
investigação e concluiu
pela intervenção dos
Espíritos, e o professor
Robert Hare, da
Universidade de
Pensilvânia, que estudou
cientificamente o
movimento das mesas e
consignou suas
experiências, em 1856,
num volume intitulado –
Experimental
investigations of the
spirit manifestation.
(O Espiritismo perante
a Ciência,
Terceira Parte,
Cap.
I - Provas da
imortalidade da alma
pela experiência.)
B. Como a Academia e os
jornais franceses se
referiram, naquela fase,
à doutrina e às
manifestações espíritas?
Os jornais, as revistas
científicas e a Academia
esgotaram os sarcasmos
para com a nova doutrina
e chamavam,
gratuitamente, os seus
partidários de loucos,
idiotas, impostores,
acusando-os de querer
fazer voltar o mundo aos
maus dias da superstição
da Idade Média.
(Obra citada, Terceira
Parte, Cap. I - Provas
da imortalidade da alma
pela experiência.)
C. Os cientistas
ingleses tiveram
comportamento igual ao
que se verificou na
França?
Não. Eles debruçaram-se
sobre os fenômenos e não
tiveram receio de
publicar o resultado de
suas pesquisas. William
Crookes, por exemplo,
longe de temer o
ridículo, assim
respondeu aos que o
induziam a dissimular a
fé, para não se
comprometer: “Tendo-me
assegurado da realidade
desses fatos, seria uma
covardia moral
recusar-lhes meu
testemunho, só porque
minhas precedentes
publicações foram
ridicularizadas por
críticos e pessoas que
nada conhecem do
assunto, além de cheios
de preconceitos para
verem e julgarem por si
próprios. Direi,
simplesmente, o que vi e
que me foi demonstrado
por experiências
repetidas e
fiscalizadas, e preciso
ainda que me provem não
ser razoável o esforço
por descobrir a causa
dos fenômenos
inexplicados”.
(Obra citada, Terceira
Parte, Cap. I - Provas
da imortalidade da alma
pela experiência.)
Texto para leitura
354. As meninas Fox, que
os autores das pancadas
acompanhavam de casa em
casa, acabaram
estabelecendo-se em
Rochester, cidade
importante do Estado de
Nova York, onde milhares
de pessoas vieram
visitá-las e procuraram,
em vão, descobrir se
havia alguma impostura
no caso.
355. O fanatismo
religioso irritou-se com
essas manifestações de
além-túmulo, e a família
Fox foi atormentada. A
Senhora Hardinge, que se
fez defensora do
Espiritismo na América,
conta que nas sessões
públicas dadas pelas
filhas da Sra. Fox
correram elas os maiores
perigos.
356. Nomearam-se três
comissões para examinar
os fenômenos e essas
comissões afirmaram que
a causa do ruído lhes
era desconhecida. A
última sessão pública
foi a mais tempestuosa
e, se não fora a
dedicação de um
qualquer, as pobres
meninas teriam perecido,
linchadas por uma
multidão em delírio.
357. A
nova do descobrimento se
espalhou rapidamente e
houve em toda parte
manifestações
espirituais. Um cidadão,
Isaac Post, teve a ideia
de recitar o alfabeto em
alta voz e convidar o
Espírito a indicar, por
meio de pancadas dadas
no justo momento em que
as pronunciasse, as
letras que deviam compor
as palavras que ele
quisesse ditar. Nesse
dia estava descoberta a
telegrafia espiritual.
358. Pouco tempo depois,
os próprios batedores
indicaram novo modo de
comunicação. Bastava,
simplesmente, se
reunirem as pessoas em
torno de uma mesa, porem
as mãos em cima, e a
mesa, levantando-se,
enquanto se soletrasse o
alfabeto, daria uma
pancada no justo momento
que se pronunciasse cada
uma das letras que o
Espírito quisesse
designar. Este processo,
apesar de muito lento,
produziu excelentes
resultados, e foi assim
que apareceram as mesas
girantes e falantes.
359. É preciso dizer que
a mesa não se limitava a
levantar-se num pé, para
responder às perguntas
que lhe faziam:
agitava-se em todos os
sentidos, girava sob os
dedos dos
experimentadores,
algumas vezes se elevava
no ar, sem que se
pudesse ver a força que
a mantinha assim
suspensa. Outras vezes,
as respostas eram dadas
por estalos, que se
ouviam no interior da
madeira.
360. A
par dos levianos, que
viviam a interrogar os
Espíritos sobre a pessoa
mais amorosa da
sociedade ou sobre um
objeto perdido, pessoas
sérias, sábias,
pensadores, em vista do
ruído que se fazia em
torno desses fenômenos,
resolveram estudá-los
cientificamente, a fim
de premunirem seus
concidadãos contra o que
chamavam de loucura
contagiosa.
361. Em 1856, o juiz
Edmonds, jurisconsulto
eminente, que gozava
incontestável autoridade
no Novo Mundo, publicou
um livro em que afirmava
a realidade dessas
surpreendentes
manifestações. Mapes,
professor de química, na
Academia Nacional dos
Estados Unidos,
entregou-se a rigorosa
investigação e concluiu
pela intervenção dos
Espíritos. O que
produziu, porém, o maior
efeito foi a conversão
às novas ideias de
Robert Hare, célebre
professor da
Universidade de
Pensilvânia, que estudou
cientificamente o
movimento das mesas e
consignou suas
experiências, em 1856,
num volume intitulado –
Experimental
investigations of the
spirit manifestation.
362. Empenhou-se, desde
então, a batalha entre
incrédulos e crentes.
Escritores, sábios,
oradores, eclesiásticos
lançaram-se na peleja, e
para dar uma ideia do
desenvolvimento da
polêmica, basta lembrar
que, já em 1854, uma
petição, assinada por
15.000 nomes, tinha sido
apresentada ao
Congresso, solicitando
que se nomeasse uma
comissão, a fim de
estudar o
neo-espiritualismo (é
este o nome que, na
América, se dá ao
Espiritismo). O pedido
foi repelido pela
Assembleia, mas estava
dado o impulso; surgiram
sociedades que fundaram
periódicos e neles
continuou a guerra
contra os incrédulos.
363. Enquanto esses
fatos se produziam no
Novo Mundo, a velha
Europa não ficava
inativa. As mesas
girantes tornaram-se uma
interessante atualidade
e nos anos de 1852 e
1853 muitos, em França,
se ocuparam em fazê-las
girar. Em todas as
classes sociais só se
falava dessa novidade;
fazia-se a todos essa
pergunta sacramental: já
fez girarem as mesas?
Depois, como tudo que é
moda, após o momento de
interesse, as mesas
deixaram de ocupar a
atenção e tratou-se de
outros assuntos.
364. Aquela mania teve,
entretanto, um resultado
importante, o de fazer
muitas pessoas
refletirem sobre a
possibilidade da relação
entre mortos e vivos.
Pela leitura se
descobriu que aquilo que
se chama a crença no
sobrenatural era tão
antiga como o Globo. A
história de Urbano
Grandier e das
religiosas de Loudun,
dos tremedores das
Cevenas, dos
convulsionários
jansenistas provava que
muitos fatos históricos
mereciam ser
esclarecidos, e, para
citar apenas os mais
célebres, o demônio de
Sócrates e as vozes de
Joana d'Arc, que a
levaram a salvar a
França, são ainda
mistérios para os
sábios.
365. A
narrativa da possessão
de Louviers, a história
dos iluminados
martinistas, dos
swedenborguenses, das
estigmatizadas do Tirol
e, há apenas 50 anos, a
do padre Gassner e da
vidente de Prevorst
conduziram os homens
sérios a examinar os
fenômenos novos.
Comparou-se o Espírito
de Hydesville ao que
revolucionou o
presbitério de Cydeville
e uma teoria geral
nasceu do exame de todos
esses fatos. Ela está
exposta nas obras de
Allan Kardec.
366. As mesmas cóleras
que acompanharam as
manifestações
espirituais na América
renovaram-se em França.
Os jornais, as revistas
científicas e as
Academias esgotaram os
sarcasmos para com a
nova doutrina. Chamavam,
gratuitamente, os seus
partidários de loucos,
idiotas, impostores.
Acusavam-nos de querer
fazer voltar o mundo aos
maus dias da superstição
da Idade Média;
pedia-se, mesmo, aos
tribunais, que
impedissem a exploração
vergonhosa da
credulidade pública. Os
padres trovejavam do
alto do púlpito contra
os fenômenos
espiritistas, que eles
diziam ser obra do
diabo. Enfim, como
remate, um bispo em
Barcelona mandou queimar
em praça pública as
obras de Allan Kardec,
por contaminadas de
feitiçaria!
367. É preciso uma
doutrina como a nossa,
que brilha por sua
simplicidade e sua
lógica, para conduzir os
Espíritos às grandes
verdades que se chamam
Deus e a alma. Nossa
filosofia, em sua forma
primitiva, sintetiza as
crenças mais elevadas
dos pensadores, mas ela
tem a mais por si o
fato, que se impõe por
si mesmo, como o Sol, o
rei do dia. Mas é dever
nosso afastar de nossas
experiências qualquer
suspeita. Indispensável
é que procuremos
destruir as prevenções e
mostrar como são falsas,
mesquinhas e
incompletas, comparadas
às nossas, as
explicações aventadas
para os fenômenos
espíritas.
368. Na França a opinião
pública habituou-se a
confiar inteiramente em
algumas sumidades
literárias ou
científicas, quanto aos
seus julgamentos sobre
os homens e as coisas,
de sorte que, se essas
notabilidades têm
qualquer interesse em
enterrar uma questão, a
maior parte do público
as acompanha e faz-se o
silêncio, o vazio em
torno das matérias em
litígio. É para
protestar contra esse
ostracismo que
reproduzimos as
afirmativas de sábios da
Grã-Bretanha; ver-se-á
quanto esses homens
íntegros pouco se
inquietaram do que se
diria e com que
honestidade enérgica
proclamaram sua opinião,
solidamente baseada nos
fatos.
369. Comecemos por citar
as memoráveis palavras
pronunciadas por William
Thompson, no discurso
inaugural, lido em 1871,
na Associação Britânica
de Edimburgo: “A Ciência
é obrigada, pela eterna
lei da honra, a encarar
de face, e sem temor,
qualquer problema que
lhe seja francamente
apresentado”.
370. Tal sentimento é
partilhado por grande
número de homens de
ciência. À frente deles,
William Crookes, químico
eminente, a quem se deve
o descobrimento do tálio
e que, em Westminster,
demonstrou a existência
de um quarto estado da
matéria, que chamou,
segundo Faraday, de
matéria radiante.
371. Esse químico
ilustre, esse físico de
gênio, Crookes, submeteu
a estudo as
manifestações espíritas,
não com ideias
preconcebidas, mas com o
desejo firme de
instruir-se e de só
apoiar o seu julgamento
na evidência.
372. Disse ele: “Em
presença de semelhantes
fenômenos, os passos do
observador devem ser
guiados por uma
inteligência tão fria e
pouco apaixonada, quanto
os instrumentos de que
faz uso. Tendo a
satisfação de
compreender que está na
trilha de uma verdade
nova, esse único
objetivo deve animá-lo a
prosseguir, sem
considerar se os fatos
que se lhe apresentam
são naturalmente
possíveis ou não”.
373. Com tais ideias,
começou ele seus estudos
sobre o Espiritismo;
duraram perto de 10 anos
e foram publicados com o
título Recherches sur
les phénomènes du
Spiritualisme,
traduzido do inglês por
J. Alidel. Nesse livro,
ele declara lealmente os
resultados do seu
inquérito, tal como se
lhe apresentaram; não
contente do testemunho
dos sentidos, construiu
instrumentos delicados,
que medem
matematicamente as ações
espirituais.
374. Longe de temer o
ridículo, Crookes assim
responde aos que o
induziam a dissimular a
fé, para não se
comprometer: “Tendo-me
assegurado da realidade
desses fatos, seria uma
covardia moral
recusar-lhes meu
testemunho, só porque
minhas precedentes
publicações foram
ridicularizadas por
críticos e pessoas que
nada conhecem do
assunto, além de cheios
de preconceitos para
verem e julgarem por si
próprios. Direi,
simplesmente, o que vi e
que me foi demonstrado
por experiências
repetidas e
fiscalizadas, e preciso
ainda que me provem não
ser razoável o esforço
por descobrir a causa
dos fenômenos
inexplicados”.
375. Poder-se-ia
acreditar que Crookes
foi uma brilhante
exceção; seria erro
grosseiro supô-lo, e se
afirmação de tal homem é
inestimável para a nossa
causa, ainda é ela
aumentada, consolidada
pela de outros sábios
que se deram ao trabalho
de estudar o
Espiritismo.
376. Citaremos, em
primeiro lugar, Cromwell
Varley, engenheiro chefe
das companhias de
telegrafia internacional
e transatlântica,
inventor do condensador
elétrico. É ainda um
físico, cuja assertiva
não é menos nítida que a
de Crookes. Ele fez
experiências em sua
casa, com as mais
rigorosas condições de
fiscalização, e sua
convicção é absoluta.
Numa de suas cartas, ele
escreveu: “Não fazemos
mais do que estudar o
que foi objeto das
pesquisas dos filósofos,
há dois mil anos; se uma
pessoa bem versada no
conhecimento do grego e
do latim, ao mesmo tempo
a par dos fenômenos que,
em tão grande escala, se
produzem, desde 1848,
quisesse traduzir
cuidadosamente a escrita
daqueles grandes homens,
o Mundo logo saberia que
tudo o que se passa
agora é nova edição de
velha face da história;
estudada por espíritos
ousados, chegou ela a um
grau que diz bem alto do
crédito desses velhos
sábios clarividentes,
porque se elevaram acima
dos acanhados
preconceitos do século
e, ao que parece,
estudaram o assunto em
proporções, que, sob
vários aspectos,
ultrapassam, de muito,
nossos conhecimentos
atuais”.
377. Outro sábio,
célebre naturalista, que
descobriu, ao mesmo
tempo em que Darwin, a
lei de seleção, Alfred
Russel Wallace, faz
também profissão de fé
espírita, em carta
dirigida ao Times,
que nós relataremos ao
expor os fatos sobre os
quais se baseia nossa
convicção. Narremos
somente em que condições
ele foi levado a
ocupar-se com as
manifestações dos
Espíritos.
378. Existe em Londres,
independentemente da
Sociedade Real, que é a
Academia de Inglaterra,
um grêmio de sábios – a
Sociedade Dialética;
conta ela homens
notáveis como Thomas H.
Huxley, Sir John Lubbock,
Henry Lewes e outros.
379. Esta sociedade
resolveu, em 1869,
estudar os pretendidos
fenômenos espíritas, a
fim de esclarecer o
público. Nomeou-se uma
comissão de 30 membros
e, 18 meses depois,
apresentou ela o seu
relatório, inteiramente
favorável às
manifestações espíritas.
Segundo o hábito, a
Sociedade, vendo suas
ideias desmentidas pelos
fatos, recusou imprimir
as conclusões dos seus
comissários. Assim,
também a Academia de
Medicina repeliu o
trabalho de Husson sobre
o magnetismo animal, o
que prova que as
corporações sábias são
as mesmas em todos os
países; elas se compõem
de ilustres
mediocridades, que
empenam, aterrorizadas,
diante de todas as
novidades.
380. Quando uma
novidade, como o
Espiritismo, se
manifesta de maneira
anormal e força a
atenção pública, pela
singularidade dos seus
processos, logo se eleva
um clamor de reprovação
e procura-se sufocar
oficialmente as teorias
que tiveram a
irreverência de
produzir-se fora dos
laboratórios diplomados
desses senhores.
381. Felizmente, para
honra do gênero humano,
encontram-se ainda
homens que não recuam
diante da verdade e
Wallace é desse número.
Membro da junta de
investigação, pôde
observar uma série de
fatos que o convenceram,
e publicou um livro,
Miracle and modern
Spiritualism, onde
suas experiências são
relatadas por extenso.
(Continua no próximo
número.)