CLAUDIA
GELERNTER
claudiagelernter@uol.com.br
Vinhedo, SP
(Brasil)
Os fins não
justificam os
meios
“As raposas têm
covis, e as aves
do céu têm
ninhos, mas o
Filho do homem
não tem onde
reclinar a
cabeça.” -
Jesus (Mateus,
8:20)
Uma das bênçãos
concedidas a nós
pelo Pai
Celestial, o
livre-arbítrio,
permite-nos
avaliar
caminhos,
ponderar
alternativas e
escolher o que
entendemos ser o
melhor para o
momento. Sublime
instrumento
evolutivo,
através dele
tornamo-nos
responsáveis por
nosso destino e
por toda
influência por
nós exercida no
meio que nos
envolve. É nas
tessituras das
relações que
vamos montando o
grande tapete da
vida, no qual
cada fio vai se
envolvendo a
outros fios,
dentro do divino
caminho da
construção de
nós mesmos e do
mundo que
habitamos.
Jesus, assim
como nós,
exerceu seu
livre-arbítrio,
desde antes a
sua vinda ao
plano carnal.
Programou o
local, a época
de Seu
nascimento e Sua
missão,
ensinando-nos
através de suas
escolhas o
melhor roteiro
para nossas
próprias
decisões.
Poderia ter
escolhido o
berço
intelectual da
antiga Grécia
para
enriquecer-nos
com sua
filosofia
excelsa.
Poderia, ainda,
ter optado pelo
berço rico da
pomposa Roma,
estando próximo
aos “senhores do
mundo”, que
imperavam
absolutos no
tempo antigo.
Mas não.
Preferiu a
manjedoura, numa
cidade de pouca
expressão, sob
domínio de outra
civilização, num
país árido e
descontente, em
uma época de
grandes
dificuldades em
diversos setores
da vida humana.
Diz-nos Emmanuel
que “ninguém
mais humilde que
Ele, o Divino
Governador da
Terra. Podia
eleger um
palácio para a
glória do
nascimento, mas
preferiu sem
mágoa a
manjedoura
simples. Podia
reclamar os
princípios da
cultura para o
seu ministério
de paz e
redenção;
contudo,
preferiu
pescadores
singelos para
instrumentos
sublimes do seu
verbo de luz”.
(Emmanuel, p.
43)
Através das
escolhas de
Jesus, podemos
sondar nossas
próprias
escolhas.
Foi Ele o
exemplo de
simplicidade, de
humildade, de
fé. Não buscava
destaques,
embora sua Luz
nunca tenha
passado
despercebida.
Utilizava-se da
natureza para
ensinar,
conduzindo seu
rebanho pelos
caminhos da Boa
Nova, indicando
que deveriam
guardar o
tesouro do
coração nos bens
imperecíveis do
Espírito
imortal.
Lançou ao mundo
a maior de todas
as Doutrinas,
pedindo aos
companheiros que
confiassem no
Pai amoroso,
pois que nada
lhes faltaria
pelo caminho
desértico da
divulgação
daquelas
sublimes ideias.
Com Ele
aprendemos que
todo o homem
inclinado ao Bem
é e sempre será
socorrido pelas
forças do bem,
sendo que o bem
não se alia ao
mal para seus
fins.
O Mestre não
defendeu a
utilização de
comércio na Casa
do Pai para
justificar os
gastos da Casa
material. Também
não aconselhou
que seus
seguidores
juntassem
dinheiro para
seguirem
pregando, em Seu
nome, pelo mundo
antigo. Tampouco
optou por
conchavos com os
Fariseus para
que a Boa Nova
fosse aceita.
Proclamou que o
Reino dos Céus é
para os simples,
os humildes, os
mansos.
Nós, os
espíritas da
atualidade, na
certeza de que
aqui estamos com
o objetivo maior
de fazer reviver
o Cristianismo
Primitivo,
precisamos focar
a
imprescindibilidade
da vivência dos
exemplos de
Jesus. “Os
tempos são
modernos, mas a
verdade é
única!” (Pereira,
2010). Não
podemos divulgar
a Doutrina que
abraçamos,
utilizando-nos,
para isso, de
meios
antidoutrinários,
anticristãos.
Muitos
espíritas, no
afã de
angariarem
fundos para a
manutenção das
Casas onde
atuam, com a
ideia de que
devem aumentar
as fontes para a
ajuda das
pessoas
financeiramente
carentes,
esquecem-se de
preceitos
básicos,
abraçando a
prática de
rifas, bingos,
palestras
cobradas,
congressos
gigantescos e
caros, venda de
livros não
espíritas que
trazem conceitos
estranhos ao
Espiritismo,
etc.
Como poderíamos
justificar o uso
de jogos de azar
para
soerguimento de
recursos para
manutenção de
uma Casa
Espírita?
Como poderíamos
defender a ideia
de se cobrar de
um irmão do
caminho
determinado
valor para que
ele possa
conhecer as Leis
de Deus?
Como poderíamos
admitir
personalismos
deprimentes
dentro do
Movimento,
diante dos
exemplos
deixados por
Jesus? Teria Ele
destacado algum
de seus
seguidores?
Disse-nos, ao
contrário, que
aquele que
quiser ser o
primeiro que
seja o ultimo e
que aquele que
quiser ser o
maior, que seja
o mais
humilde...
Meus irmãos!
Acordemos! Mais
que isso:
Confiemos! Deus
nunca nos
desampara na
causa do Bem!
Deixemos de lado
a ilusão de que
precisamos de
meios escusos
para realizar o
bem no mundo! O
próprio Mestre
nos deu as
diretrizes com
relação a estas
questões: “Também
vós não
indagueis o que
comer, o que
beber; não
estejais
inquietos. Pois
estas coisas as
nações do mundo
buscam, mas
vosso Pai
Celestial sabe
que necessitais
disto. Todavia,
buscai
primeiramente o
Reino Dele, e
estas coisas vos
serão
acrescentadas”.
(Lucas, 12: 29 a
31)
Chico Xavier,
nos primórdios
de seu
apostolado
mediúnico e
caritativo,
quando visitado
pela Benfeitora
Espiritual
Isabel de
Aragão, que lhe
pediu para que
doasse pães aos
pobres daquela
cidade, sentiu
medo. “-
Senhora, sou
pobre e nada
tenho par dar.
Que auxílio
poderei prestar
aos mais pobres
do que eu
mesmo?” . –
(...) quase
sempre não tenho
pão para mim.
Como poderei
repartir pães
com os
outros?... A
dama sorriu e
esclareceu: "Chegará
o tempo em que
você disporá de
recursos. Você
vai escrever
para as nossas
gentes
peninsulares e,
trabalhando por
Jesus, não
poderá receber
vantagem
material alguma
pelas páginas
que você
produzir, mas
vamos
providenciar
para que os
Mensageiros do
Bem lhe tragam
recursos para
iniciar a
tarefa.
Confiemos na
Bondade do
Senhor". (Neto,
1992).
Nunca lhe
faltaram os
recursos para
manter a Casa
onde realizou
abençoada tarefa
durante todos os
anos de sua
vida. Nunca
soubemos de
Chico vendendo
cartelas de
rifas, bingos ou
participando de
palestras
cobradas para
realizar seu
trabalho.
Escrevia livros
e doava seu
esforço cristão
ao bem. Defendia
a literatura
barata, o livro
simples, a
pureza
doutrinária, os
encontros à
sombra do
abacateiro.
Auxiliou
verdadeiras
multidões,
mantendo-se
dentro da
simplicidade,
sua marca
inconfundível de
trabalhador do
Cristo.
Jorge Hessen,
comentando sobre
a grave questão
das palestras
espíritas pagas,
diz-nos que “é
evidente que
essas práticas,
em nome de
Kardec, têm
fragilizado as
bases da
Doutrina dos
Espíritos,
provocando
rachaduras no
edifício
doutrinário. Há
desmesurada
distância entre
aqueles simples
bancos e
cadeiras de
madeira do Grupo
Espírita da
Prece de Uberaba
e os soberbos
hotéis que
servem de
tablado para
espetáculos de
oradores que,
absortos em suas
insânias
dinásticas,
veiculam temas
decorados
apoiados nas
suas memórias
privilegiadas”.
(Hessen, 2011)
Ponderemos que,
assim como o
saudoso Chico,
Francisco de
Assis, Gandhi,
Buda, Yvonne
Pereira, irmã
Dulce e tantos
outros exemplos
a serem
seguidos, nos
deram seu recado
de confiança e
postura do
verdadeiro filho
de Deus.
Estudemos esses
Espíritos.
Estudemos
Kardec!
Estudemos Jesus!
Deixemos de lado
as práticas
complicadas. Não
precisamos
destes caminhos
para realizarmos
o bem. O bem é
simples e puro.
Ele é confiança
e calma.
Auxiliemos com o
recurso de que
dispomos. Sempre
que for o
momento de o
trabalhador
sincero e atento
agir, o campo
lhe será
apresentado.
Trabalhemos
confiantes,
exercitando
nosso
livre-arbítrio
com sabedoria,
com sensatez.
Pois, assim como
nos alerta o
confrade Jorge
Hessen, “menos
pesa na
consciência o
epíteto de
puritanos do que
de vendilhões
das coisas
santas!”
(Hessen, 2011)
Referências
bibliográficas:
CRISTIANO, E./
Yvonne Pereira;
A Pena e o
Trovão; A
Importância do
Conhecimento
Espírita, p. 46;
Campinas, SP,
Ed. Allan
Kardec, 2010.
HESSEN, J.
Puritanos ou
Vendilhões? Eis
a questão!
Artigo
disponível em
blog, através do
link
http://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.com/2011/05/puritanos-ou-vendilhoes-eis-grave.html,
acessado 16 de
maio de 2011.
LUCAS, 12: 29 a
31. O Novo
Testamento,
tradução do
grego para o
português por
Haroldo Dutra,
Ed. CEI,
Brasília, DF,
2010
MATEUS, 8:20. O
Novo Testamento,
tradução do
grego para o
português por
Haroldo Dutra,
Ed. CEI,
Brasília, DF,
2010
NETO, G. L.;
Chico Xavier -
Mandato de Amor,
Ed. União
Espírita
Mineira, 1992.
XAVIER, C. F.
Antologia
Mediúnica do
Natal; Humildade
Celeste, pelo
Espírito
Emmanuel, Ed.
FEB, Brasília,
DF, 4ª edição,
1998.