Remorso
Sílvia Serafim
Os que trazem o
coração qual se
fosse vaso de
fel no peito,
jamais devem
tomar da pena
para extravasar
amargura;
entretanto, há
feridas que,
expostas, podem
evitar a eclosão
de outras
feridas, e
aflições que,
desabafadas,
consolam os que
padecem.
Reencontrar a
vida, além da
morte, para quem
julgou o túmulo
simples
amontoado de
cinzas, dentro
da noite
indevassável do
nada, é castigo
pior que a
miséria...
É
preciso haver de
todo perdido a
razão para
despenhar-se
alguém no
extremo
desespero de
acometer a
verdade, como se
as trevas
pudessem
investir contra
a luz.
Orgulho e
cegueira! Como
não enxergar as
mãos de Deus,
nos menores
trilhos do
mundo,
amparando-nos a
alma frágil e
desafiando-nos,
com doçura, a
escalar os
íngremes e
empedrados
caminhos que
conduzem à
perfeição?!
Formei nas
fileiras dos que
se pavoneiam de
fortes, sendo
fracos, e que se
presumem justos
quando não
passam de
instrumentos da
injustiça, e
rolei no vale
fundo e sombrio
do sofrimento,
presa de meus
próprios
conflitos
interiores.
Não venho
romancear o
drama triste de
minha
peregrinação
cedo cortada
para a
multiplicação de
minhas dores.
Venho rogar aos
infelizes que
não rejeitem o
remédio
oferecido pela
consolação
religiosa e
pedir aos
grandes
infortunados,
que já não
possuem a fé,
não recusarem a
esperança no
amanhã, que é
sempre uma
surpresa capaz
de
restituir-lhes a
coragem e a
confiança.
Ninguém procure
a morte antes do
dia em que ela
mesma,
convertida em
anjo piedoso,
lhe venha trazer
alívio e
renovação.
Ela deve
constituir o
ensinamento
derradeiro na
escola da
experiência
humana.
Compete-nos
aguardá-la, com
paciência e
valor, sem o
risco de
desequilibrarmos
a nossa alma
provocando-lhe a
foice.
Perguntar-me-ão,
provavelmente,
se não existe
aqui bálsamo
para as nossas
chagas, e
compaixão divina
para as nossas
fraquezas.
Responderei que
sim, que há
medicamento para
as nossas
enfermidades e
socorro celeste
para os nossos
gemidos, mas o
nosso
agradecimento
pelos bens
recebidos
mistura-se à
vergonha pelos
males que
praticamos;
vergonha de
haver
menosprezado as
sugestões da
consciência e
enceguecido a
razão, a favor
dos interesses
pequeninos de
nosso “eu”
desvairado,
contra as
possibilidades
de aprimoramento
e elevação da
nossa
individualidade
eterna.
Agora compreendo
a imposição
fatal da lágrima
no mundo: o
sofrimento é
criação nossa,
fogueira
constante em que
buscamos
consumir os
resíduos de
nossas
imperfeições...
Ó
Deus, socorre o
entendimento das
criaturas,
favorecendo-lhes
a penetração na
realidade! Ao
toque de Teu
Amor, o homem
reconhecerá,
enfim, a
grandeza da
Lei!...
A
estrada luminosa
da evolução e da
redenção está
aberta.
Bem-aventurados
os que a
percorrerem,
aceitando o
obstáculo por
lição e a dor
por mestra,
porque no dia em
que se
despedirem da
carne terão
encontrado, em
verdade, a
grande
libertação!...
Do livro
Falando à Terra,
obra de autoria
de Espíritos
diversos,
psicografada
pelo médium
Francisco
Cândido Xavier.