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Clássicos do Espiritismo
Ano 5 - N° 226 - 11 de Setembro de 2011
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)


O Espiritismo perante a Ciência

 Gabriel Delanne

(Parte 19)

Damos continuidade nesta edição ao estudo do livro O Espiritismo perante a Ciência, de Gabriel Delanne, conforme tradução da obra francesa Le Spiritisme devant la science, publicada originalmente em Paris em 1885.

Questões preliminares

A. Numa comunicação mediúnica, o nome com que o Espírito a assina é importante?

Não. Os ditados espíritas variam de elevação moral conforme o ser que os produz. O nome com que um Espírito os assina é de importância secundária; o que importa considerar são as ideias emitidas. Se o ensino é grandioso, se prega o amor de nossos semelhantes, se nos faz compreender as leis da moral, ele emana de um Espírito elevado; se a comunicação encerra ideias vulgares, enunciadas em termos impróprios, o Espírito é pouco adiantado. (O Espiritismo  perante a Ciência, Terceira Parte, Cap. III - As objeções.)

B. Qual o objetivo principal da ciência espírita?

Seu principal objetivo é demonstrar a existência da alma depois da morte. Alcançasse ela somente esse resultado, e as consequências daí decorrentes, sob o ponto de vista moral e social, seriam já consideráveis. Mas não se limitam a isso seus benefícios. Ela nos fornece informações seguras sobre a outra vida, permite-nos compreender a bondade e a justiça de Deus, dá-nos a explicação de nossa existência na Terra; numa palavra, é a ciência da alma e de seu destino. (Obra citada, Terceira Parte, Cap. III - As objeções.)

C. Que diz Delanne a respeito da reencarnação?

Segundo Delanne, a reencarnação é uma lei sem a qual não se poderia compreender a justiça de Deus. Ela é confirmada por milhares de seres, que denotam, no raciocínio e no estilo, adiantamento espiritual. Os Espíritos que não partilham essas ideias são almas atrasadas, que chegarão mais tarde à verdade. (Obra citada, Terceira Parte, Cap. III - As objeções.)

Texto para leitura

459. Entre as objeções, que nunca deixam de ser dirigidas aos espiritistas, acha-se a seguinte: – Por que, se os fenômenos que produzis são reais, não podeis obtê-los à vontade perante os incrédulos?

460. A resposta é fácil. Verificou-se, pela experiência, que para ter comunicações dos Espíritos são necessárias várias condições: 1º – é preciso um médium; 2º – é necessário que sua faculdade corresponda ao gênero de manifestação que se pede. Assim, o médium da evocação pela mesa não será o mesmo que o da escrita, como pode suceder que o médium vidente não seja auditivo.

461. Há pessoas privilegiadas, que reúnem muitas faculdades em alto grau, como Home e Slade, mas entre esses favoritos, a mediunidade não é constante; vê-se submetida a flutuações e mesmo a suspensões que lhes tiram todo o poder. De sorte que, para convencer um incrédulo, não basta sempre ter um médium; é preciso saber se ele estará em boas condições para servir de intermediário aos Espíritos. Ignoram-se, ainda, quais são as leis que dirigem essa espécie de fluxo e refluxo da mediunidade, mas cremos que é possível atribuí-las a duas causas: ou à saúde física do médium, ou aos Espíritos, que não podem ou não querem manifestar-se.

462. Pôde-se notar em médiuns poderosos, como Florence Cook, Home e Slade, depois das sessões espíritas de manifestações, um tal desperdício de forças que produzia mal-estar, desfalecimentos, e que não lhes permitia, por muito tempo, dar outras sessões. Esse estado de prostração pode ser assemelhado às intermitências que se notam na vidência dos sonâmbulos.

463. É preciso, ainda, considerar que os Espíritos são seres como nós, submetidos a leis que não lhes é possível frustrar à sua vontade, e que têm, além disso, seu livre-arbítrio, em virtude do qual não são nunca obrigados a responder à nossa chamada.

464. Uma queixa que vemos, muitas vezes, formular é precisamente o absurdo que há no acreditar que filósofos como Sócrates, físicos como Newton, poetas como Corneille, sejam forçados a vir palestrar com meia dúzia de basbaques, em torno de uma mesa. Seria ridículo de fato. A Doutrina Espírita ensina, pelo contrário, que os Espíritos podem responder às nossas evocações, mas que só o fazem quando julgam necessário.

465. Se os experimentadores só buscam nas práticas espíritas um divertimento pueril, poderão ficar certos de que serão vítimas de Espíritos farsistas, os quais lhes virão contar todos os disparates possíveis, e isto sob a capa dos mais ilustres nomes.

466.Em geral, ignora-se que o mundo dos Espíritos é composto dos mais diversos elementos. Assim como na Terra encontramos inteligências em todos os graus de desenvolvimento, também no mundo espiritual, que é o nosso com o corpo de menos, há individualidades de escol ao lado dos mais atrasados Espíritos. Podemos, pois, obter ditados espíritas, que variam de elevação moral conforme o ser que os produz. O nome com que um Espírito se assina é de importância secundária; o que importa considerar são as ideias emitidas. Se o ensino é grandioso, se prega o amor de nossos semelhantes, se nos faz compreender as leis da moral, ele emana de um Espírito elevado; se a comunicação encerra ideias vulgares, enunciadas em termos impróprios, o Espírito é pouco adiantado.

467. Todas essas observações foram feitas muitas vezes por Allan Kardec, nos seus livros e na revista que dirigia, mas os nossos contraditores nunca se deram ao trabalho de as ler, de sorte que somos obrigados a recapitulá-las.

468. Os observadores sérios, desejosos de saber o que há de verdade no Espiritismo, submeteram-se a todas as condições indispensáveis para o bom êxito da experiência. Longe de exigirem, desde a primeira sessão, provas convincentes, lenta, metodicamente é que se familiarizaram com todas as fases do fenômeno. Barkas esteve em expectativa 10 anos. Crookes 6, Oxon 8. Foi pelo estudo atento dos fatos, quando se habituaram às singularidades aparentes das manifestações, que procuraram as causas capazes de produzi-los; depois de reunirem grande quantidade de observações, em diferentes meios, fizeram-lhes a síntese e concluíram finalmente pela existência e intervenção dos Espíritos.

469. Continuemos o exame das críticas ao Espiritismo. Tem-se feito a seguinte pergunta: – Supondo que o Espiritismo seja uma verdade, por que os Espíritos, para se manifestarem, têm necessidade de uma mesa e de um médium?

470. Seria absurdo supor que um Espírito seja obrigado, para dar-nos instruções ou conselhos, a vir alojar-se num pé de mesa, ou de cadeira, ou de guéridon, porque se veria privado de comunicações quem não possuísse esses móveis; demais, não são eles de uma virtude especial que possa legitimar um tal poder.

471. É preciso familiarizar-nos com a vida dos Espíritos e seu modo de operar, para compreender o que se passa na tiptologia. Os Espíritos sempre existiram, pois são eles que, pela encarnação, povoam a Terra; também sempre exerceram influência no mundo visível, por manifestações físicas e inspirações dadas aos homens. Os pensamentos soprados no cérebro do encarnado não deixam traços, mas, se os invisíveis querem mostrar sua presença de maneira ostensiva, servem-se de um médium, que lhes empresta o fluido necessário, e põem em movimento o primeiro objeto que se lhes depara, mesa ou cadeira, de maneira a assinalar sua presença. A mesa não é condição indispensável do fenômeno, mas dela se servem os Espíritos, e eis tudo. Ele, o médium, é necessário, porque sem a sua ação nada pode produzir-se; mas ele é simples intermediário, muitas vezes inconsciente, e não tem outro mérito que o da docilidade.

472. Uma causa de espanto para os que conhecem pouco os princípios da Doutrina Espírita é que os Espíritos não respondem sempre quando os interrogam sobre o futuro ou quando lhes apresentam questões relativas à solução de certos problemas científicos. As perguntas que se ouvem a cada instante provam uma ignorância completa da missão dos Espíritos e do fim de suas manifestações. Todo pedido de interesse puramente pessoal, de sentimento egoístico, não recebe resposta e, se alguma aparece, provém de Espíritos farsistas, que procuram enganar-nos. Não é preciso esconder que os Espíritos sérios e adiantados são exceção, porque se assim não fosse o nosso mundo seria mais perfeito.

473. Há, no espaço, seres que cercam, que se interessam por nossa vida e procuram, frequentemente, divertir-se à nossa custa, quando percebem que a cupidez e outras vistas são os únicos móveis de um consulente. Empregam mil facécias, de que o imprudente é a vítima. Vemos com pena aqueles que no Espiritismo só buscam objetos perdidos, pedem conselhos sobre sua posição material ou procuram descobrir tesouros ocultos.

474. A ciência espírita tem um fim mais nobre, mais grandioso; seu principal objetivo é demonstrar a existência da alma depois da morte; alcançasse somente esse resultado, e as consequências daí decorrentes, sob o ponto de vista moral e social, seriam já consideráveis. Mas não se limitam a isso seus benefícios. Ela nos fornece informações seguras sobre a outra vida, permite-nos compreender a bondade e a justiça de Deus, dá-nos a explicação de nossa existência na Terra; numa palavra, é a ciência da alma e de seu destino.

475. Isto nos leva a falar das instruções que recebemos dos Espíritos Superiores, a quem chamamos guias. Eles já desvelaram a nossos olhos uma grande parte dos mistérios que encobriam o futuro além da morte, iniciando-nos nos esplendores da vida espiritual e fazendo-nos entrever as grandes leis que dirigem a evolução das coisas e dos seres a destinos mais elevados. Mas não nos podem dizer tudo, porque, então, nenhum mérito haveria de nossa parte, e como nossas aquisições espirituais devem ser o resultado de nossos esforços, não lhes é permitido revelar-nos tudo o que sabem.

476. Por outro lado, é evidente a necessidade de proporcionarem o ensino conforme o adiantamento dos homens. Que se diria de um professor que quisesse ensinar cálculo integral a uma criança de dez anos? Da mesma maneira, os Espíritos só nos podem revelar progressivamente as verdades que eles conhecem, à medida que nos tornamos mais aptos a compreendê-las.

477. Deram eles, entretanto, por comunicações, as mais altas ideias a que chegaram as deduções modernas. Allan Kardec pregava a unidade da força e da matéria, em uma época em que essas noções estavam longe de ser admitidas pela ciência oficial. Nossos guias prometem-nos para o futuro revelações ainda mais grandiosas; é por isso que, encorajados pelo que eles já nos anunciaram, esperamos, com paciência, novos descobrimentos no futuro.

478. Julgam um argumento decisivo contra os espíritas não terem os Espíritos de diferentes países a mesma opinião sobre grande número de pontos: uns admitem a reencarnação, enquanto outros a rejeitam; uns são católicos, outros sustentam o protestantismo. Parte-se daí para afirmar que as comunicações podem bem ser o reflexo do espírito dos médiuns, segundo a equação pessoal de cada um, como diz Dassier.

479. Já combatemos essa maneira de ver e mostramos que, quando a influência espiritual se exerce, são inteligências estranhas ao médium que produzem o fenômeno; demais, dizem elas ter vivido na Terra, não uma vez, mas muitas vezes. Não há razão para duvidar dessa afirmativa, tanto mais que ela corrobora um sistema filosófico da mais severa lógica. A pluralidade das existências da alma concilia todas as dificuldades que as religiões atuais não podem resolver, eis por que adotamos esta maneira de ver.

480. A reencarnação é uma lei sem a qual não se poderia compreender a justiça de Deus. Ela é confirmada por milhares de seres, que denotam, no raciocínio e no estilo, adiantamento espiritual. Devemos, pois, concluir, que os Espíritos que não partilham essas ideias são almas atrasadas, que chegarão mais tarde à verdade. Na Terra, mesmo em país civilizado, como o nosso, poucos homens conhecem os ensinos da ciência. Se nos colocarmos na via pública, detivermos vinte transeuntes e nos pusermos a examinar-lhes os conhecimentos, dezoito, pelo menos – poderíamos apostar – seriam incapazes de dar esclarecimentos exatos sobre as diferentes funções da digestão. E haverá fenômeno mais habitual e mais frequente que este? Ora, se a multidão é tão pouco instruída sobre o que mais lhe importaria saber, com mais forte razão descuidará dos complicados problemas de que depende a vida espiritual.

481. O mundo dos Espíritos é absolutamente igual ao nosso e por isso não nos devemos espantar das divergências nas comunicações. Longe de aceitar todas as ideias que nos chegam pelo canal dos médiuns, convém passar pelo crivo da razão as teorias que nos apresentam, e rejeitar, sem hesitação, as que não estão em perfeito acordo com a lógica.

482. Deus colocou em nós este archote divino, que nada deve extinguir, e é um sagrado direito crer tão-só naquilo que compreendemos nitidamente. Eis por que o Espiritismo, tão bem resumido nas obras de Kardec, responde às aspirações de nossa época, e daí sua rápida propagação no mundo.

483. Um escritor positivista, Dassier, teve a pretensão de libertar o homem do que ele chama “as enervantes alucinações do Espiritismo”. Depois de tanta promessa, esperávamos uma refutação em regra de todos os argumentos espíritas, mas nos achamos em face de uma reedição disfarçada de velhos agravos: charlatanismo, superstição, etc. Dassier, entretanto, dá um passo à frente: consente em crer que é uma realidade o que chamamos perispírito; denomina-o duplo fluídico, personalidade póstuma ou mesmeriana, e lhe atribui os mais extensos poderes.

484. Esse autor reuniu documentos notáveis que provam que o homem é duplo e que, em certas circunstâncias, se pode produzir uma separação entre os dois princípios que o compõem. Voltaremos mais particularmente a este estudo nos capítulos seguintes. Assinalemos somente, aqui, o processo de Dassier que, combatendo nossas doutrinas, reconhece, entretanto, a exatidão dos fatos afirmados por Allan Kardec e a boa-fé dos médiuns. Ele crê explicar tudo pela hipótese da transmissão do pensamento e da sobrevivência temporária da individualidade. Segundo ele, no momento da morte, a força vital não fica aniquilada; o que formava o duplo fluídico pode viver ainda algum tempo, mas se vai dividindo e desagregando à medida que os elementos que o constituem vão juntar-se aos seus similares na Natureza.

485. Para refutar esta doutrina, basta dizer que temos milhares de comunicações que nos afirmam o contrário. Aliás, o autor se limita a expor sua maneira de ver, sem dar-se ao incômodo de fornecer provas. Lançou mão, apenas, em seu proveito, de parte das teorias teosóficas, que admitem, também, que os homens não têm todos, no mesmo grau, a possibilidade de atingir a imortalidade.

486. Todos esses sistemas provam o progresso em relação ao materialismo puro, mas não podem satisfazer àqueles que não se limitam a noções vagas e que exigem dados positivos onde assentem suas convicções. Procuraram assemelhar o médium escrevente a um sonâmbulo lúcido. Sabe-se, com efeito, que o magnetizador pode, em certos casos, fazer com que o paciente execute os movimentos nos quais ele pensa, sem ser obrigado a enunciar, oralmente, sua vontade. Não se pode estabelecer qualquer analogia entre esse fato e a mediunidade.

487. Nas experiências espíritas o médium não dorme e o evocador é, muitas vezes, ignorante das práticas magnéticas. O pensamento do consultante não poderia, pois, produzir os efeitos verdadeiramente notáveis que se observam. Além disso, o médium mecânico pode sustentar uma conversa, enquanto sua mão escreve automaticamente, estando ele intelectualmente em estado normal. Não é possível comparar esse estado com o sonambulismo natural ou provocado. (Continua no próximo número.)

 

 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita