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Estudando a série André Luiz
Ano 5 - N° 231 - 16 de Outubro de 2011

MARCELO BORELA DE OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)

Ação e Reação

André Luiz

(Parte 31)

Damos continuidade nesta edição ao estudo da obra Ação e Reação, de André Luiz, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier e publicada em 1957 pela Federação Espírita Brasileira.

Questões preliminares

A. Que características comuns apresentavam os desencarnados asilados na Mansão Paz?

Segundo Silas, os desencarnados asilados na Mansão constituíam grande ajun­tamento de criminosos e viciados, como ele mesmo o fora um dia. "Ali recebemos atenção e carinho, assistência e bon­dade, reeducando-nos, às vezes, por muitos anos”, explicou Silas. Para habilitar-se, porém, às tarefas do bem genuíno, é preciso purgar a condição inferior, agra­vada na culpa, visto que o conhecimento elevado, adquirido na Mansão, vale mais como teoria nobilitante, que cabe a cada um substancializar na prática correspondente, para que se incorpore, em definitivo, ao patrimônio moral do servidor. É por isso que, depois do aprendizado, são tais Espíritos novamente internados na esfera carnal, onde sofrem a aproxi­mação dos antigos comparsas, para demonstrarem aproveitamento e assi­milação do amparo recebido. (Ação e Reação, cap. 17, pp. 232 a 234.) 

B. Por que motivo eram tão dolorosas as vicissitudes enfrentadas por Leo?

O motivo estava numa anterior existência, em que Leo, também movido pela ganância, fez a um irmão algo bem parecido com o que lhe ocorreu na existência atual. (Obra citada, cap. 17, pp. 234 a 236.)

C. Leo se arrependera das maldades cometidas no passado?

Sim. Conservando no imo d'alma a lem­brança da vítima, através da percussão mental do arrependimento sobre os centros perispiríticos, enlouqueceu de dor e vagueou por vários lustros, em tenebrosas paisagens, até que, recolhido à Mansão Paz, foi convenientemente tratado para o reajuste preciso. Recuperado, as remi­niscências do crime absorviam-lhe o espírito de tal sorte que, para o retorno à marcha evolutiva normal, implorou o regresso à carne, a fim de experimentar a mesma vergonha, a mesma penúria e as mesmas provas por ele infligidas ao irmão indefeso, pacificando, assim, a consciên­cia intranquila. (Obra citada, cap. 17, pp. 236 e 237.) 

Texto para leitura 

112. A Mansão acolhe comumente criminosos e viciados - Em seu re­lato, Leo disse haver buscado, então, outros climas, tentando o tra­balho digno, mas obtivera apenas a profissão de vigia noturno, pas­sando a rondar vasto edifício comercial, amparado por um homem cari­doso, condoído de sua fome... "O frio da noite, porém – relatou ele –, encontrava-me ao desabrigo e, a breve tempo, adquiri uma febre in­sidiosa que passou a devorar-me devagarinho... Não sei quanto tempo estive, assim, chumbado a indefinível desânimo... Certa feita, caí fa­tigado sobre a poça de sangue que se me derramava da boca e criaturas piedosas me angariaram o leito em que me refugio..." André indagou-lhe sobre o irmão Henrique. Lágrimas se lhe entornaram então dos olhos e ele monologou, por dentro: "Pobre Henrique!... Não deverei, antes, lastimá-lo? Acaso, não deverá ele igualmente morrer? de que lhe terá valido a apropriação indébita se será também um dia alijado do corpo? por que me reportaria a perdão, se ele é mais infeliz que eu mesmo?" E, lembrando Jesus, disse que o Mestre "não clamou contra os amigos que o haviam lançado à humilhação e ao sofrimento". "Com que direito julgarei, assim, meu próprio irmão, se eu, alma necessitada de luz, não posso penetrar os Divinos Juízos da Providência?" A humildade do enfermo era comovente. André e Hilário estavam comovidos até às lágri­mas, e Silas explicou que Leo renascera tutelado pela Mansão, a que algumas centenas de criaturas reencarnadas permaneciam ligadas pelas raízes dos débitos a que se prendiam... O Assistente lembrou que, via de regra, os desencarnados asilados na Mansão constituíam grande ajun­tamento de criminosos e viciados... como ele mesmo o foi, um dia. "Ali – informou Silas – recebemos atenção e carinho, assistência e bon­dade, reeducando-nos, às vezes, por muitos anos... Contudo, é impe­rioso observar que, recolhendo a generosidade dos benfeitores e ins­trutores que nos garantem aquele pouso de amor, apenas acumulamos dé­bitos com a proteção imerecida, compromissos esses que precisamos res­gatar, igualmente em serviço ao próximo." Para habilitar-se, contudo, às tarefas do bem genuíno, é preciso purgar a condição inferior, agra­vada na culpa, visto que o conhecimento elevado, adquirido na Mansão, vale mais como teoria nobilitante, que cabe a cada um substancializar na prática correspondente, para que se incorpore, em definitivo, ao patrimônio moral do servidor. É por isso que, depois do aprendizado, são eles novamente internados na esfera carnal, onde sofrem a aproxi­mação dos antigos comparsas, para demonstrarem aproveitamento e assi­milação do amparo recebido. (Cap. 17, pp. 232 a 234) 

113. Um caso de débito expirante – Hilário, que ardia de curiosi­dade, perguntou a Silas: "Em que ponto será lícito considerar a pre­sente desencarnação de Leo como débito expirante?" Para responder à questão, Silas recapitulou, em ligeiras palavras, as peripécias que motivaram o sofrimento de Leo na presente existência: "Em princípios do século passado, era ele filho de abastados fidalgos citadinos que, desencarnados muito cedo, lhe confiaram o próprio irmão doente, o jo­vem Fernando, cuja existência fora marcada por incurável idiotia. Er­nesto, no entanto – pois era esse o nome de nosso Leo, na existência última –, tão logo se viu sem a presença dos genitores, deu-se pressa em alijar o irmão do seu convívio, cioso do governo total sobre a avantajada fortuna de que ambos se faziam herdeiros. Além disso, moço habituado aos saraus do seu tempo, estimava as recepções esmeradas, nas quais o palacete da família descerrava as portas brasonadas às re­lações elegantes, e, orgulhoso da paisagem doméstica, envergonhava-se de ombrear com o irmão, por ele proibido de comparecer aos seus ágapes sociais". Tendo em vista que Fernando não lhe atendia às ordens, por ser incapaz de compreendê-las, Ernesto o aprisionou em uma prisão grade­ada, ao fundo da casa, onde Fernando passou a viver engaiolado, qual se fora um animal. (Cap. 17, pp. 234 a 236) 

114. O passado de Leo - Enquanto Fernando vivia engaiolado em sua própria casa, Ernesto – o mesmo Leo de agora –, já casado, dava lar­gas aos caprichos da mulher, em extensas viagens de recreio, nas quais desperdiçava seus bens em jogatinas e extravagâncias. Após algum tempo, esgotado nas finanças de que podia dispor, apenas conseguiria reequilibrar-se com a morte do irmão retardado, que dava, porém, mos­tras de grande fortaleza física, não obstante certa bronquite crônica que muito o incomodava. Observando-lhe o desequilíbrio respiratório, Ernesto planejou levá-lo a moléstia mais grave, no intuito de remetê-lo mais cedo à sepultura. Para isso, recomendou aos servos que liber­tassem o irmão, todas as noites, num grande pátio, de modo que Fer­nando repousasse ao relento. Este denotou, contudo, grande resistên­cia e, embora sofresse consecutivas crises, exposto à intempérie, su­perou durante quase dois anos a provação a que fora submetido. Nesse tempo, a situação financeira de Ernesto tornou-se insustentável e so­mente o quinhão pertencente a Fernando – entregue aos cuidados de velhos amigos, conforme vontade paterna – podia remediá-la. Ernesto não teve dúvidas: certa noite liberou dois escravos delinquentes, al­gemados em sua casa, sob a condição de se exilarem em terras distantes e, após vê-los partir, buscou o leito do irmão, enterrando-lhe um pu­nhal no peito inerme... Na manhã seguinte, ante o choro dos servos que lhe mostravam o cadáver, fê-los admitir que os fujões teriam sido os autores do crime e entrou na posse dos bens do irmão, com plena apro­vação da justiça terrena. Foi assim que, apesar de regalada existência na carne, ao aportar no além-túmulo, atravessou extensa faixa de ex­piações, embora Fernando houvesse esquecido suas ofensas. Vergastado pelos remorsos, Ernesto entrou em comunhão com impassíveis agentes da sombra, que o fizeram presa de inomináveis torturas, por se recusar a segui-los nas práticas infernais. Conservando no imo d'alma a lem­brança da vítima, através da percussão mental do arrependimento sobre os centros perispiríticos, enlouqueceu de dor e vagueou por vários lustros, em tenebrosas paisagens, até que, recolhido à Mansão Paz, foi convenientemente tratado para o reajuste preciso. Recuperado, as remi­niscências do crime absorviam-lhe o espírito de tal sorte que, para o retorno à marcha evolutiva normal, implorou o regresso à carne, a fim de experimentar a mesma vergonha, a mesma penúria e as mesmas provas por ele infligidas ao irmão indefeso, pacificando, assim, a consciên­cia intranquila. (Cap. 17, pp. 236 e 237) (Continua no próximo número.)



 


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