MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Ação e Reação
André Luiz
(Parte
31)
Damos continuidade nesta edição
ao
estudo da obra
Ação e Reação,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1957 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Que características
comuns apresentavam os
desencarnados asilados
na Mansão Paz?
Segundo Silas, os
desencarnados asilados
na Mansão constituíam
grande ajuntamento de
criminosos e viciados,
como ele mesmo o fora um
dia. "Ali recebemos
atenção e carinho,
assistência e bondade,
reeducando-nos, às
vezes, por muitos anos”,
explicou Silas. Para
habilitar-se, porém, às
tarefas do bem genuíno,
é preciso purgar a
condição inferior,
agravada na culpa,
visto que o conhecimento
elevado, adquirido na
Mansão, vale mais como
teoria nobilitante, que
cabe a cada um
substancializar na
prática correspondente,
para que se incorpore,
em definitivo, ao
patrimônio moral do
servidor. É por isso
que, depois do
aprendizado, são tais
Espíritos novamente
internados na esfera
carnal, onde sofrem a
aproximação dos antigos
comparsas, para
demonstrarem
aproveitamento e
assimilação do amparo
recebido.
(Ação e Reação, cap. 17,
pp. 232 a 234.)
B. Por que motivo eram
tão dolorosas as
vicissitudes enfrentadas
por Leo?
O motivo estava numa
anterior existência, em
que Leo, também movido
pela ganância, fez a um
irmão algo bem parecido
com o que lhe ocorreu na
existência atual.
(Obra citada, cap. 17,
pp. 234 a 236.)
C. Leo se arrependera
das maldades cometidas
no passado?
Sim. Conservando no imo
d'alma a lembrança da
vítima, através da
percussão mental do
arrependimento sobre os
centros perispiríticos,
enlouqueceu de dor e
vagueou por vários
lustros, em tenebrosas
paisagens, até que,
recolhido à Mansão Paz,
foi convenientemente
tratado para o reajuste
preciso. Recuperado, as
reminiscências do crime
absorviam-lhe o espírito
de tal sorte que, para o
retorno à marcha
evolutiva normal,
implorou o regresso à
carne, a fim de
experimentar a mesma
vergonha, a mesma
penúria e as mesmas
provas por ele
infligidas ao irmão
indefeso, pacificando,
assim, a consciência
intranquila.
(Obra citada, cap. 17,
pp. 236 e 237.)
Texto para leitura
112. A
Mansão acolhe comumente
criminosos e viciados
- Em seu relato, Leo
disse haver buscado,
então, outros climas,
tentando o trabalho
digno, mas obtivera
apenas a profissão de
vigia noturno, passando
a rondar vasto edifício
comercial, amparado por
um homem caridoso,
condoído de sua fome...
"O frio da noite, porém
– relatou ele –,
encontrava-me ao
desabrigo e, a breve
tempo, adquiri uma febre
insidiosa que passou a
devorar-me devagarinho...
Não sei quanto tempo
estive, assim, chumbado
a indefinível
desânimo... Certa feita,
caí fatigado sobre a
poça de sangue que se me
derramava da boca e
criaturas piedosas me
angariaram o leito em
que me refugio..." André
indagou-lhe sobre o
irmão Henrique. Lágrimas
se lhe entornaram então
dos olhos e ele
monologou, por dentro:
"Pobre Henrique!... Não
deverei, antes,
lastimá-lo? Acaso, não
deverá ele igualmente
morrer? de que lhe terá
valido a apropriação
indébita se será também
um dia alijado do corpo?
por que me reportaria a
perdão, se ele é mais
infeliz que eu mesmo?"
E, lembrando Jesus,
disse que o Mestre "não
clamou contra os amigos
que o haviam lançado à
humilhação e ao
sofrimento". "Com que
direito julgarei, assim,
meu próprio irmão, se
eu, alma necessitada de
luz, não posso penetrar
os Divinos Juízos da
Providência?" A
humildade do enfermo era
comovente. André e
Hilário estavam
comovidos até às
lágrimas, e Silas
explicou que Leo
renascera tutelado pela
Mansão, a que algumas
centenas de criaturas
reencarnadas permaneciam
ligadas pelas raízes dos
débitos a que se
prendiam... O Assistente
lembrou que, via de
regra, os desencarnados
asilados na Mansão
constituíam grande
ajuntamento de
criminosos e viciados...
como ele mesmo o foi, um
dia. "Ali – informou
Silas – recebemos
atenção e carinho,
assistência e bondade,
reeducando-nos, às
vezes, por muitos
anos... Contudo, é
imperioso observar que,
recolhendo a
generosidade dos
benfeitores e
instrutores que nos
garantem aquele pouso de
amor, apenas acumulamos
débitos com a proteção
imerecida, compromissos
esses que precisamos
resgatar, igualmente em
serviço ao próximo."
Para habilitar-se,
contudo, às tarefas do
bem genuíno, é preciso
purgar a condição
inferior, agravada na
culpa, visto que o
conhecimento elevado,
adquirido na Mansão,
vale mais como teoria
nobilitante, que cabe a
cada um substancializar
na prática
correspondente, para que
se incorpore, em
definitivo, ao
patrimônio moral do
servidor. É por isso
que, depois do
aprendizado, são eles
novamente internados na
esfera carnal, onde
sofrem a aproximação
dos antigos comparsas,
para demonstrarem
aproveitamento e
assimilação do amparo
recebido. (Cap. 17, pp.
232 a 234)
113. Um caso de
débito expirante –
Hilário, que ardia de
curiosidade, perguntou
a Silas: "Em que ponto
será lícito considerar a
presente desencarnação
de Leo como débito
expirante?" Para
responder à questão,
Silas recapitulou, em
ligeiras palavras, as
peripécias que motivaram
o sofrimento de Leo na
presente existência: "Em
princípios do século
passado, era ele filho
de abastados fidalgos
citadinos que,
desencarnados muito
cedo, lhe confiaram o
próprio irmão doente, o
jovem Fernando, cuja
existência fora marcada
por incurável idiotia.
Ernesto, no entanto –
pois era esse o nome de
nosso Leo, na existência
última –, tão logo se
viu sem a presença dos
genitores, deu-se pressa
em alijar o irmão do seu
convívio, cioso do
governo total sobre a
avantajada fortuna de
que ambos se faziam
herdeiros. Além disso,
moço habituado aos
saraus do seu tempo,
estimava as recepções
esmeradas, nas quais o
palacete da família
descerrava as portas
brasonadas às relações
elegantes, e, orgulhoso
da paisagem doméstica,
envergonhava-se de
ombrear com o irmão, por
ele proibido de
comparecer aos seus
ágapes sociais". Tendo
em vista que Fernando
não lhe atendia às
ordens, por ser incapaz
de compreendê-las,
Ernesto o aprisionou em
uma prisão gradeada, ao
fundo da casa, onde
Fernando passou a viver
engaiolado, qual se fora
um animal. (Cap. 17, pp.
234 a 236)
114. O passado de Leo
- Enquanto Fernando
vivia engaiolado em sua
própria casa, Ernesto –
o mesmo Leo de agora –,
já casado, dava largas
aos caprichos da mulher,
em extensas viagens de
recreio, nas quais
desperdiçava seus bens
em jogatinas e
extravagâncias. Após
algum tempo, esgotado
nas finanças de que
podia dispor, apenas
conseguiria
reequilibrar-se com a
morte do irmão
retardado, que dava,
porém, mostras de
grande fortaleza física,
não obstante certa
bronquite crônica que
muito o incomodava.
Observando-lhe o
desequilíbrio
respiratório, Ernesto
planejou levá-lo a
moléstia mais grave, no
intuito de remetê-lo
mais cedo à sepultura.
Para isso, recomendou
aos servos que
libertassem o irmão,
todas as noites, num
grande pátio, de modo
que Fernando repousasse
ao relento. Este
denotou, contudo, grande
resistência e, embora
sofresse consecutivas
crises, exposto à
intempérie, superou
durante quase dois anos
a provação a que fora
submetido. Nesse tempo,
a situação financeira de
Ernesto tornou-se
insustentável e somente
o quinhão pertencente a
Fernando – entregue aos
cuidados de velhos
amigos, conforme vontade
paterna – podia
remediá-la. Ernesto não
teve dúvidas: certa
noite liberou dois
escravos delinquentes,
algemados em sua casa,
sob a condição de se
exilarem em terras
distantes e, após vê-los
partir, buscou o leito
do irmão, enterrando-lhe
um punhal no peito
inerme... Na manhã
seguinte, ante o choro
dos servos que lhe
mostravam o cadáver,
fê-los admitir que os
fujões teriam sido os
autores do crime e
entrou na posse dos bens
do irmão, com plena
aprovação da justiça
terrena. Foi assim que,
apesar de regalada
existência na carne, ao
aportar no além-túmulo,
atravessou extensa faixa
de expiações, embora
Fernando houvesse
esquecido suas ofensas.
Vergastado pelos
remorsos, Ernesto entrou
em comunhão com
impassíveis agentes da
sombra, que o fizeram
presa de inomináveis
torturas, por se recusar
a segui-los nas práticas
infernais. Conservando
no imo d'alma a
lembrança da vítima,
através da percussão
mental do arrependimento
sobre os centros
perispiríticos,
enlouqueceu de dor e
vagueou por vários
lustros, em tenebrosas
paisagens, até que,
recolhido à Mansão Paz,
foi convenientemente
tratado para o reajuste
preciso. Recuperado, as
reminiscências do crime
absorviam-lhe o espírito
de tal sorte que, para o
retorno à marcha
evolutiva normal,
implorou o regresso à
carne, a fim de
experimentar a mesma
vergonha, a mesma
penúria e as mesmas
provas por ele
infligidas ao irmão
indefeso, pacificando,
assim, a consciência
intranquila. (Cap. 17,
pp. 236 e 237)
(Continua no próximo
número.)