Grilhões Partidos
Manoel Philomeno de
Miranda
(Parte
6)
Continuamos a apresentar
o
estudo do livro
Grilhões Partidos,
de Manoel Philomeno de
Miranda, obra
psicografada por Divaldo
P. Franco e publicada
inicialmente no
ano de 1974.
Questões preliminares
A. Que comportamento
tiveram os pais de Ester
ao serem visitados por
Rosângela?
O pai de Ester,
refratário a tudo o que
Rosângela disse,
tratou-a com extrema
agressividade,
chamando-a de atrevida e
petulante e desancando
as práticas espíritas,
como se fossem atos de
magia negra, macumba e
superstição. E, por fim,
ameaçou-a de expulsão da
Casa de Saúde em que a
jovem trabalhava e
ganhava seu sustento.
(Grilhões Partidos, cap.
5, pp. 55 a 58.)
B. Como explicar a
reação dos pais de
Ester?
O Coronel Santamaria era
um homem temperamental.
Com a enfermidade de
Ester, a amargura
solapou-lhe as alegrias
e o azedume contumaz
transviou-o para as
rotas de surda revolta
contra tudo e todos, por
ignorar os móveis
legítimos da aflição e
como resolvê-los. Os
fatos ocorridos naquela
manhã podiam ser assim
explicados: o orgulho é
cruel inimigo do homem,
porquanto,
envenenando-o, cega-o
totalmente. Além disso,
graças à psicosfera de
felonia que cultivava, o
Coronel passou a
sintonizar com outras
mentes amotinadas que
lhe cercavam o lar, em
plano concorde com o
perseguidor de Ester,
planejando alcançá-lo
mais duramente.
(Obra citada, cap. 6,
pp. 59 a 62.)
C. Que ensinamentos
podemos tirar da
mensagem que o Dr.
Bezerra de Menezes
transmitiu no culto
evangélico do lar
valendo-se da
mediunidade de
Rosângela?
Inicialmente Dr. Bezerra
disse que é preciso
ensinar com o exemplo,
que edifica, e avançar
com as mãos enriquecidas
pelas obras, através do
que atestaremos a
excelência de nossos
propósitos. "O Evangelho
é o nosso zênite de amor
e o nosso nadir de
mensuramentos. Quem se
exalta, inicia a
trajetória para baixo;
aquele que se glorifica,
entorpece-se na
ilusão... Todavia, o que
avança infatigável,
ignorado, mas servindo,
humilhado, no entanto
valoroso, perseguido,
porém imperturbável,
transformando os
sentimentos numa concha
afortunada de amor,
logrará o elevado
cometimento do êxito
real." No final da
mensagem, ele disse:
"Avisados de que nossa
luta seria entre as
forças em litígio: o
bem e o mal
– eis-nos na liça. A
refrega é nosso leito de
repouso, a dificuldade,
o desafio que nos chega
e a dor, nossa
condecoração". "Cada
realização enobrecida
constitui título de
ventura e todo receio
mais sombra na treva dos
problemas. As
alternativas são servir
sem desfalecimento e
confiar sem
tergiversação. Jesus
fará o que nos não seja
possível realizar."
(Obra citada, cap. 6,
pp. 62 a 66.)
D. A reclamação feita
pelo pai de Ester ao
diretor da Casa de Saúde
teve alguma
consequência?
Sim. O diretor da Casa
de Saúde ficou irritado
com a reclamação que lhe
fora feita pelo pai de
Ester. Rosângela,
convidada a comparecer à
sala da diretoria, foi
rispidamente tratada
pelo médico, que lhe
perguntou: "Como se
atreve transformar esta
Casa num deplorável
sítio de práticas
ignominiosas,
nigromânticas?" E
disse-lhe que ela fora
acusada de práticas de
magia ao lado da
filha do senhor Coronel.
Que tinha a dizer diante
disso? Rosângela
respondeu-lhe que a
acusação era falsa e,
portanto, injusta.
Seguiu-se então breve
diálogo em que a
rispidez do médico foi
respondida com firmeza
delicada pela
funcionária, mas ela
não foi demitida.
(Obra citada, cap. 7,
pp. 67 a 71.)
Texto para leitura
34. Agressões ao
Espiritismo - O
Coronel interceptou-a,
azedo. Mas a jovem
continuou: "Ouvi-me
primeiro. A morte não
elimina a vida; antes a
dilata. Mudam-se as
aparências, no curso de
uma única realidade:
viver! Assim, com a
morte do ser físico não
cessam as impressões do
ser espiritual, conforme
asseguram todas as
religiões, do que
decorre um natural
intercâmbio, incessante,
entre os que sobrevivem
ao túmulo e aqueles que
ainda não o
atravessaram. Retornam,
felizes ou
desventurados, os que
foram conduzidos ao
país da morte, seja
pelo veemente desejo de
ajudar os afetos da
retaguarda, adverti-los
e confortá-los, com eles
mantendo agradável
comunhão; seja vitimados
pelo sofrimento com que
se surpreenderam,
buscando ajuda e, muitas
vezes, perturbando; seja
dominados pelas paixões
inditosas de que não se
conseguiram libertar,
perseguindo, destilando
ódios, obsidiando, em
incessante conúbio..."
O Coronel,
interrompendo-a, quase
violento, disse que
aquilo era bruxaria:
"Aqui somos
tradicionalmente
religiosos e detestamos
essas práticas vulgares
de fetichismo que,
desgraçadamente,
empestam, nestes dias, a
nossa Sociedade...
Rogo-lhe o favor de
mudar o curso da
conversação. Aliás,
creio que já não temos o
que conversar".
Rosângela ficou lívida,
enquanto o pai de Ester
estava rubro de ódio.
Sob o verniz social
agasalham-se muitos
estados de ferocidade.
Ele então lhe perguntou,
áspero, qual era a sua
religião. "Espírita,
senhor!", respondeu-lhe
a visitante. "Desde
quando o Espiritismo é
religião?", replicou o
genitor da enferma.
"Desde os primórdios",
informou Rosângela. O
Coronel passou então a
agredi-la moralmente,
chamando-a de atrevida e
petulante e desancando
as práticas espíritas,
como se fossem atos de
magia negra, macumba e
superstição. (Cap. 5,
pp. 55 e 56)
35. Ameaças como
prêmio - A jovem
estava perplexa, porém
lúcida e, sem se abater
com as agressões
recebidas, disse-lhe,
com firmeza, mas
delicadamente:
"Excelência, aqui venho
propondo-me servir com
humildade e
desinteresse. A minha
confissão religiosa não
tem ligação com a minha
modesta função
hospitalar, senão para
impor-me a conduta
cristã, que ensina
misericórdia em relação
aos infelizes: estejam
nas camadas do
infortúnio social ou no
acume da ilusão
econômica. No santuário
espiritista, que
frequento, o alvo
redentor é Jesus, a
estrada a percorrer
chama-se caridade,
seguindo sob o sol da fé
viva e a força do amor
fraternal. Venho a este
lar em missão de paz e
dele sairei pacificada,
sem embargo, expulsa, o
que muito lamento, não
por mim, que reconheço a
minha própria
desvalia... O vaso
modesto não poucas vezes
mata a sede, oferta o
medicamento salvador,
retém o perfume, atende
a misteres relevantes,
enquanto preciosas taças
de cristal lapidado
adornam, mortas,
empoeiradas, móveis
luxuosos e inúteis..." O
Coronel e sua esposa
ouviam-na, incomodados
pela argumentação
superior, e Rosângela,
após mais algumas
considerações,
disse-lhes que, apesar
de tudo, continuaria a
velar por Ester. "Nunca
mais!", esbravejou o
senhor Coronel.
"Providenciarei para que
não volte a vê-la, caso
não resolva exigir a
sua expulsão daquele
Frenocômio". Rosângela
pediu-lhes licença e
retirou-se, mas, quando
andava pela Avenida
Atlântica, o vento e a
maresia, aspirados em
longos haustos pela
jovem, despertaram-na,
e só então ela se deu
conta dos acontecimentos
ocorridos, sendo
visitada pelos receios e
as lágrimas. Rosângela
fora o instrumento
indireto dos Bons
Espíritos, que tentavam,
assim, interferir e
ajudar no grave sucesso
da subjugação de Ester.
(Cap. 5, pp. 56 a 58)
36. É essencial a
fé autêntica - O
episódio acontecido no
lar do Coronel traz-nos
à lembrança o seguinte
ensinamento consignado
em "O Evangelho segundo
o Espiritismo" (cap. XX,
item 4): "Ide e pregai!
Convosco estão os
Espíritos elevados.
Certamente falareis a
criaturas que não
quererão escutar a voz
de Deus, porque essa voz
as exorta
incessantemente à
abnegação. Pregareis o
desinteresse aos avaros,
a abstinência aos
dissolutos, a mansidão
aos tiranos domésticos,
como aos déspotas!
Palavras perdidas, eu o
sei, mas não importa.
Faz-se mister regueis
com os vossos suores o
terreno onde tendes que
semear, porquanto ele
não frutificará e não
produzirá senão sob os
reiterados golpes da
enxada e da charrua
evangélicas. Ide e
pregai!" O Coronel
Santamaria era um homem
temperamental. Com a
enfermidade de Ester, a
amargura solapou-lhe as
alegrias e o azedume
contumaz transviou-o
para as rotas de surda
revolta contra tudo e
todos, reagindo em
volta, por ignorar os
móveis legítimos da
aflição e como
resolvê-los. Tornara-se
arredio, fechando ainda
mais o círculo de
amizades e somente
saindo de raro em raro,
o que mais aflitiva lhe
tornava a conjuntura.
Embora frequentasse uma
igreja religiosa, não
possuía fé verdadeira.
Habituara-se tão só ao
mecanismo dos rituais e,
como não houvera antes
experimentado o travo
das lágrimas, não se
exercitara na comunhão
com Deus, nem chegara a
cultivar colóquios com o
Mundo Espiritual. Certo,
nos primeiros dias de
desesperação ante a
tragédia, recorrera à
Divindade, guindado
porém à falsa posição de
impositor, sem os
lauréis do humilde
requerente que confia.
Era natural que se
desesperasse. A oração
vazia de expressão
espiritual não
conseguira leni-lo: não
passava de palavras sem
tônica de amor, nem fé.
(Cap. 6, pp. 59 e 60)
37. Um lar
realmente cristão
- Os fatos ocorridos
naquela manhã podiam ser
assim explicados: o
orgulho é cruel inimigo
do homem, porquanto,
envenenando-o, cega-o
totalmente. Além disso,
graças à psicosfera de
felonia que cultivava, o
Coronel passou a
sintonizar com outras
mentes amotinadas que
lhe cercavam o lar, em
plano concorde com o
perseguidor de Ester,
planejando alcançá-lo
mais duramente.
Rosângela,
representando o auxílio
divino indireto, fora
expulsa dali pelos
vingadores
desencarnados, que
sabiam de seus
propósitos elevados. O
certo é que o Coronel
Santamaria, ferido na
insensatez do orgulho
desmedido e fortemente
conduzido pelos
adversários
desencarnados com quem
sintonizava, foi
queixar-se à direção do
Hospital sobre o
procedimento de
Rosângela, exigindo que
ela não voltasse a ter
qualquer contato com a
filha. Enquanto isso,
Rosângela se refazia ao
contato com seus
benfeitores encarnados,
em cuja residência, aos
domingos, realizavam-se
os estudos do Evangelho,
com amigos e familiares.
O Dr. Gilvan de
Albuquerque, que já
ultrapassara os 50 anos,
era pediatra próspero e
dona Matilde, sua
esposa, era exemplo de
abnegação cristã,
tornando-se o seu
domicílio núcleo de
recolhimento espiritual,
em que Mensageiros da
Luz encontravam
vibrações superiores
para o ministério a que
se afervoravam, no
socorro aos sofredores
dos dois planos da vida.
Pais de uma filha única,
Márcia, esta deu-lhes
com seu casamento uma
linda menina: Carmen
Sílvia. Residiam todos
na mesma casa, a pedido
do Dr. Gilvan. Rosângela
viera até aquele lar
para pajear a criança.
Como fazia quase dois
meses que Márcia e o
marido tinham ido para
um curso de
especialização nos
Estados Unidos, e a
criança houvesse seguido
com eles, Rosângela
pudera empregar-se, por
interferência do médico,
na Casa de Saúde,
continuando, porém, a
residir com os antigos
patrões, na condição
agora de membro da
família, que ela lograra
por sua abnegação e
demais dotes de
espírito. Estudando e
praticando metodicamente
o Espiritismo, a família
apurara a sensibilidade
moral e psíquica,
entesourando valores
inapreciáveis com que se
dispunha ao nobre labor
do bem. Os deveres
espirituais eram
desenvolvidos em clima
de severidade e
otimismo, gozando de
primazia em qualquer
circunstância. Os
chamados vícios sociais
foram dali expulsos e as
conversações edificantes
e as leituras seletas
constituíam serões que
restauravam as forças,
revigorando o espírito
após os afazeres do
cotidiano. (Cap. 6, pp.
60 a 62)
38. O culto
evangélico no lar
- O Espiritismo naquele
domicílio tornado
santuário constituía
lídima ventura,
caracterizando uma
típica família cristã.
O culto evangélico do
lar, como consequência
natural, se fazia
realizar entre gáudios e
esperanças. Música suave
predispunha os
assistentes, antes da
reunião, ao recolhimento
e à oração. O grupo
constituía-se de doze a
quinze pessoas e às 20h
iniciava-se a reunião,
sob a direção do Dr.
Gilvan. Naquele domingo,
dona Matilde abriu o
Evangelho no capítulo
XX, item 5, que,
examinando a temática
"Os trabalhadores da
última hora", tinha por
subtítulo "Os obreiros
do Senhor":
"Aproxima-se o tempo em
que se cumprirão as
coisas anunciadas para a
transformação da
Humanidade. Ditosos
serão os que houverem
trabalhado no campo do
Senhor, com desinteresse
e sem outro móvel, senão
a caridade! Seus dias de
trabalho serão pagos
pelo cêntuplo do que
tiverem esperado.
Ditosos os que hajam
dito a seus irmãos:
Trabalhemos juntos e
unamos os nossos
esforços, a fim de que o
Senhor, ao chegar,
encontre acabada a obra,
porquanto o Senhor lhes
dirá: Vinde a mim, vós
que sois bons
servidores, vós que
soubestes impor silêncio
às vossas rivalidades e
às vossas discórdias, a
fim de que daí não
viesse dano para a
obra!" A mensagem,
assinada pelo Espírito
de Verdade, foi o tema
central dos comentários
e estudos da noite. O
grupo todo participou
dando suas opiniões e,
no final dos trabalhos,
sentiu-se no ambiente
uma vibração diferente,
porque amado Benfeitor
ali comparecera, para
instruí-los e
orientá-los. Tratava-se
do amorável Instrutor
Adolfo Bezerra de
Menezes, que, valendo-se
da faculdade mediúnica
de Rosângela,
apresentou-se em suave
manifestação psicofônica.
(Cap. 6, pp. 62 a 64)
39. A
mensagem de Bezerra de
Menezes
- Após a saudação
repassada de ternura, o
querido Instrutor
comentou o ensino
evangélico "Ide e
pregai", explicando ser
preciso ensinar com o
exemplo, que edifica, e
avançar com as mãos
enriquecidas pelas
obras, através do que
atestaremos a
excelência de nossos
propósitos. "O Evangelho
é o nosso zênite de amor
e o nosso nadir de
mensuramentos. Quem se
exalta, inicia a
trajetória para baixo;
aquele que se glorifica,
entorpece-se na
ilusão... Todavia, o que
avança infatigável,
ignorado, mas servindo,
humilhado, no entanto
valoroso, perseguido,
porém imperturbável,
transformando os
sentimentos numa concha
afortunada de amor,
logrará o elevado
cometimento do êxito
real", asseverou doutor
Bezerra. E o elevado
Mensageiro advertiu que
viriam ainda muitas
dores e provações, por
ser isso o que
merecemos. "Provaremos
amargos testemunhos",
afirmou o iluminado
Espírito. "Estes nos
serão os preços à honra
e à glória de servir.
Ninguém alcança as
cumeadas da paz sem os
estertores no vale das
lutas. Indispensável
perseverar e insistir."
Na sequência de sua
mensagem, Bezerra de
Menezes lembrou que nos
comprometemos a
restaurar a primitiva
pureza cristã entre os
homens, vivendo de
maneira condizente com
os ensinos evangélicos.
Temos, para isso,
recebido auxílios de
toda sorte; não nos têm
sido regateados
socorros. Conhecemos de
perto a miséria e a dor,
mas sabemos também o
paladar da esperança e o
aroma dos júbilos. "Que
mais aguardamos?",
indagou o Benfeitor
Espiritual. "Avisados de
que nossa luta seria
entre as forças em
litígio: o bem e
o mal – eis-nos
na liça. A refrega é
nosso leito de repouso,
a dificuldade, o
desafio que nos chega e
a dor, nossa
condecoração." No fim de
sua mensagem, ele
lembrou que,
mergulhando-se a mente e
as preocupações nas
águas lustrais do
Evangelho e as mãos no
trabalho, não haverá
ensejo para o desânimo
ou a acomodação. "Cada
realização enobrecida
constitui título de
ventura e todo receio
mais sombra na treva dos
problemas. As
alternativas são servir
sem desfalecimento e
confiar sem
tergiversação. Jesus
fará o que nos não seja
possível realizar."
(Cap. 6, pp. 64 a 66)
40. O diretor do
Hospital interpela
Rosângela -
Abrindo este capítulo,
Philomeno transcreve
dois ensinamentos
extraídos d' O Livro dos
Espíritos: "459.
Influem os Espíritos em
nossos pensamentos e em
nossos atos? – Muito
mais do que imaginais.
Influem a tal ponto, que
de ordinário são eles
que vos dirigem" e
"465. Com que fim os
Espíritos imperfeitos
nos induzem ao mal? –
Para que sofrais como
eles sofrem". O
diretor da Casa de Saúde
ficara irritado com a
reclamação que lhe fora
feita pelo pai de Ester.
Rosângela, convidada a
comparecer à sala da
diretoria, foi
rispidamente tratada
pelo médico, que,
fuzilante, lhe
perguntou: "Como se
atreve transformar esta
Casa num deplorável
sítio de práticas
ignominiosas,
nigromânticas?" E
disse-lhe que ela fora
acusada de práticas de
magia ao lado da
filha do senhor Coronel.
Que tinha a dizer diante
disso? Rosângela
respondeu-lhe que a
acusação era falsa e,
portanto, injusta.
Seguiu-se então breve
diálogo em que a
rispidez do médico era
respondida com firmeza
delicada pela
funcionária. Ele
indagou-lhe, a certo
trecho, se ela era
metida em Espiritismo,
"filiada a esse círculo
de loucos desnaturados".
Sua resposta foi
lapidar: "O doutor está
equivocado. Sou
espiritista, sim, aliás,
com imensa honra, o que
é perfeitamente
permitido pelas leis do
país, constituindo uma
admirável filosofia de
vida e religião
consoladora. Quanto à
alegação de que o
Espiritismo é um `círculo
de loucos',
desejava indagar ao
senhor diretor qual a
religião que professam
os internados nesta
Casa? Não me consta que
a jovem Ester jamais
houvesse frequentado
uma Casa Espírita, o
que, talvez, se
ocorresse, lhe teria
evitado a tragédia em
que sucumbe, a pouco e
pouco". O diretor,
ouvindo isso, chamou-a
de desequilibrada e
atrevida, mas Rosângela
não se intimidou:
"Desculpe, doutor. Sou
convicta da fé que
esposo e minha conduta é
irrepreensível. Se os
meus serviços não servem
a este Nosocômio, não
há porque transformá-los
em problema; porém, não
me cabe silenciar diante
da acusação
improcedente. Confio em
Deus e sei que o senhor
é portador de excelentes
dotes do sentimento, do
caráter e da razão".
(Cap. 7, pp. 67 a 69)
41. O diálogo com
o médico - As
palavras de Rosângela
pareciam ter concorrido
para desenovelar o
médico dos fluidos
deletérios que o
envolviam. Homem
judicioso e dedicado,
que aplicava a
psicoterapia do sorriso
e do bom-humor junto a
funcionários, colegas e
enfermos, ele sentou-se
e asserenou os ânimos.
Naquela manhã, tivera
singular aborrecimento
em seu lar, que
aumentara com a visita
do Coronel. Não era
religioso, o que exibia
com orgulho, mas era
cortês e gentil. Com o
ânimo normalizado, livre
das influências das
entidades infelizes que
torturavam Ester, ele
pediu a Rosângela desse
sua versão do caso. Ela
então lhe disse, com
toda a franqueza, que,
após observar Ester
demoradamente, levando
em conta as lições do
Espiritismo, no capítulo
das obsessões,
resolvera, com permissão
do Dr. Gilvan de
Albuquerque, seu
benfeitor, visitar o
senhor Coronel, no
intuito de ajudar no
tratamento da filha,
sugerindo-lhe a
terapêutica espírita,
simultaneamente à que
vinha sendo tentada no
Frenocômio. Ele, porém,
nem chegou a ouvi-la.
Qual seria essa
terapêutica? –
perguntou o médico, algo
zombeteiro. "Frequência,
dele e da senhora, a uma
Sociedade Espírita,
ajudando a filha com
Orações, e, a
posteriori, com
labores desobsessivos",
ela respondeu. O diretor
fez ironias, mas a jovem
afirmou-lhe, sem receio,
que muitos pacientes
desenganados, portadores
de diagnose depressiva,
esquizofrênica,
recuperaram a lucidez,
ante os seus olhos, por
serem, realmente,
obsessos em trânsito
provacional. Como o
psiquiatra insistisse na
sua visão míope dos
problemas mentais, ateu
que era, Rosângela
aproveitou o ensejo para
lembrar-lhe que até há
pouco os partidários da
Escola Fisiológica
agrediam rudemente os
profitentes da Escola
Psicológica. "Não vão
longe – disse ela – os
dias em que Pasteur,
Broca, Hughlings Jackson
e outros eram tidos por
loucos, inclusive o
eminente Pinel... Sábios
e cientistas de todas as
épocas não se puderam
libertar da alcunha,
pois é muito mais fácil
atacar o que se ignora
do que estudá-lo,
azucrinar os
trabalhadores, do que
erguer-se do comodismo,
a fim de
ultrapassá-los..." E
concluiu: "Não, o
doutor, com sua licença,
não está bem informado.
As caóticas opiniões que
lhe chegaram são
defeituosas, resultado
do preconceito e da
má-vontade". Quando a
jovem saiu, o
médico-diretor, surpreso
com o que ouvira,
mergulhou em graves
meditações. Afinal, eram
lógicas as palavras da
jovem e pontificadas por
muita vivacidade. Dava a
impressão de possuir
cultura... (Cap. 7, pp.
69 a 71)(Continua no próximo
número.)