A. Como é possível
verificar a
existência do
perispírito nos
desencarnados?
Há dois meios para
isso. Podemos, em
primeiro lugar,
observá-lo quando se
produzem as
manifestações da
alma, pelos efeitos
que disso decorrem;
depois,
assegurar-nos de sua
existência pela
descrição feita
pelos médiuns
videntes e pelo
testemunho dos
próprios Espíritos.
(O Espiritismo
perante a Ciência,
Quarta Parte, Cap.
III – O perispírito
durante a
desencarnação – Sua
composição.)
B. O Espírito
desencarnado pode
deixar evidências
físicas de que, por
algum tempo, esteve
tangível,
materializado?
Sim. Embora
invisível e
impalpável, o
Espírito pode
manifestar sua
presença por efeitos
físicos que provam
estar materializado.
Os fatos nesse
sentido são
abundantes, como o
leitor verá lendo
esta obra.
(Obra citada, Quarta
Parte, Cap. III – O
perispírito durante
a desencarnação –
Sua composição.)
C. Embora
desencarnada, a
pessoa conserva por
algum tempo suas
crenças e seus
preconceitos?
Evidentemente.
Desencarnado, é
comum que o Espírito
leve consigo suas
crenças e seus
preconceitos. Os
fatos o comprovam.
Há Espíritos, por
exemplo, que vêm
para pedir que seu
corpo seja sepultado
em determinado lugar
ou que rezem uma
missa por eles, o
que prova que eles
se encontram em
condições idênticas
às que tinham na
Terra.
(Obra citada, Quarta
Parte, Cap. III – O
perispírito durante
a desencarnação –
Sua composição.)
Texto
para leitura
601. Há dois meios
para verificar a
existência do
perispírito nos
desencarnados.
Podemos, em primeiro
lugar, observá-lo
quando se produzem
as manifestações da
alma, como o fizemos
quanto ao duplo
fluídico do homem;
depois,
assegurar-nos de sua
existência pelos
médiuns videntes e
pelo testemunho dos
Espíritos.
602. Relata Allan
Kardec na Revue
Spirite, de
abril de 1860, um
fato de manifestação
espontânea
transmitido ao Sr.
Krotzoff, de São
Petersburgo, pelo
seu compatriota
barão Tcherkasoff,
morador em Cannes,
que lhe garantiu a
autenticidade.
Segundo o relato,
depois de ocorrerem
numa oficina da
cidade vários fatos
referentes a roupas
e objetos que
desapareciam e
depois eram
encontrados em outro
lugar, sem que, por
mais que tentassem,
fosse descoberta a
causa, apareceu
certa vez na mesa da
secretaria da
oficina uma pena e
uma folha de papel
em que estavam
escritas estas
palavras: Mande
demolir a parede em
tal lugar (era na
escada); aí
encontrará ossos
humanos que fará
sepultar em terra
santa. O dono da
oficina apanhou o
papel e correu a
avisar a polícia. No
dia seguinte,
procuraram saber
donde provinham o
papel e a pena, e
acabaram chegando a
um negociante que
tinha sua loja no
pavimento térreo, e
este reconheceu um e
outra como seus.
Interrogado a
respeito da pessoa a
quem os havia dado,
ele respondeu:
Ontem, à noite,
tinha já fechado a
porta, quando ouvi
um pequeno ruído na
corrediça da janela;
abri-a, e um homem,
cujos traços não
pude distinguir,
disse-me: – peço-lhe
que me dê tinta e
pena, que pagarei.
Tendo-lhe entregue
esses objetos, ele
me atirou uma grossa
moeda de cobre, que
vi cair no assoalho,
mas que não pude
encontrar.
Demoliu-se a parede
no local indicado e
aí acharam ossos
humanos, que foram
enterrados, e tudo
entrou em ordem, mas
jamais se pôde saber
a quem tinham
pertencido.
603. Vemos nesta
história todos os
traços distintivos
que encontraremos
nas seguintes: 1º -
o Espírito é
invisível,
impalpável, porém
manifesta uma
presença por efeitos
físicos que provam
estar materializado;
2º - pede para seu
corpo ser sepultado
em terra santa.
Vamos ver que, na
maioria dos casos, é
assim que as coisas
se passam.
604. As aparições
tangíveis são menos
raras do que se
poderia supor. Eis
uma narrada também
por Allan Kardec:
“A 14 de janeiro
último, o Senhor
Lecomte, cultivador
na comuna de Brix,
distrito de Valogne,
foi visitado por um
indivíduo, que se
disse um antigo
camarada, que com
ele havia trabalhado
no porto de
Cherburgo e cuja
morte remontava a
dois anos e meio.
Esta aparição vinha
pedir a Lecomte que
lhe mandasse rezar
uma missa. Ela
voltou a 15. Lecomte,
menos assustado,
reconheceu,
efetivamente, seu
antigo camarada,
mas, ainda
perturbado, não
soube que lhe
responder. O mesmo
sucedeu a 17 e 18 de
janeiro. A 19 lhe
disse Lecomte: Já
que desejas uma
missa, onde queres
que seja dita, e a
assistirás? – Desejo
– respondeu o
Espírito – que seja
dita na Capela do
São Salvador, nestes
8 dias, e eu aí me
acharei. E
acrescentou: – Não
te via há muito
tempo, e estou muito
longe para vir
ver-te. Dito o que,
deixou-o,
apertando-lhe a mão.
Lecomte não faltou à
promessa. A missa
foi dita a 27 de
janeiro, em S.
Salvador, e ele viu
o antigo camarada
ajoelhado nos
degraus do altar.
Desde esse dia
Lecomte não foi mais
visitado e voltou à
tranquilidade
habitual”.
605. Dissemos que,
morrendo, o Espírito
leva consigo suas
crenças e seus
preconceitos.
Provam-no as duas
histórias
precedentes, visto
que o Espírito de S.
Petersburgo pede que
seus ossos repousem
em terra santa, e o
segundo, que se
mande rezar uma
missa por ele. Não é
demais repetir que
isso é devido a
achar-se a alma,
depois da morte, em
condições idênticas
às que tinha na
Terra.
606. O Espírito
possui um corpo, o
perispírito, que lhe
parece material; ele
vai e vem, conforme
seus hábitos, e
admira-se por não
lhe responderem. Sua
situação é análoga
àquela em que nos
encontramos no
sonho. Temos
consciência de que
vivemos, praticamos
certos atos, vemos
as pessoas e os
objetos, mas tudo de
modo especial. Nunca
refletimos em nosso
estado, durante esse
tempo; sucedem-se os
acontecimentos,
neles tomamos parte,
mas, quer exista,
algumas vezes,
felicidade ou
sofrimento, e ainda
que sintamos estas
sensações, elas não
produzem em nós as
mesmas impressões da
vigília. Parece que
o raciocínio e a
sensibilidade são
desviados da
atividade normal.
607. No sonho, o
Espírito quer,
pensa, age; acha-se
em contato com
outras personagens,
conhecidas ou
desconhecidas, mas
não tira deduções
desses encontros, ou
do que vê; em uma
palavra, não goza da
plenitude de suas
faculdades. Na
morte, reproduz-se o
mesmo fenômeno. O
Espírito entra em
perturbação; ele
sabe que está vivo,
está certo de que
existe, mas ninguém
o acolhe: parentes e
amigos nunca lhe
dirigem a palavra.
Vai às ocupações
ordinárias, como
durante a vida, e
esta situação se
prolonga até que
reconheça seu
estado.
608. Tais fatos não
se produzem somente
nos homens
desprovidos de
inteligência; pode
dar-se com Espíritos
cultos, mas que ou
em nada têm ou têm
ideias falsas sobre
o futuro da alma. É
natural que o
materialista, ainda
o mais instruído,
não se julgue morto,
pois que, para ele,
morte é sinônimo de
nada. Por seu turno,
os Espíritos
religiosos que creem
firmemente no
julgamento de Deus,
no paraíso, no
inferno, se
persuadem que não
estão mortos, visto
que possuem um corpo
e nada sucede do que
esperavam.
609. Eis aqui fatos
que apoiam o nosso
raciocínio. O
primeiro está
narrado nos Anais da
Academia de Medicina
de Leipzig, foi
discutido
publicamente por
esta sábia
corporação, e
apresenta, pois,
todos os caracteres
da certeza. Em 1659
morreu em Crossen,
na Silésia, um jovem
boticário, chamado
Cristóvão Monig.
Alguns dias depois,
viram um fantasma na
farmácia. Todos
reconheceram nele
Cristóvão Monig. O
fantasma senta-se,
levanta-se, vai às
prateleiras, apanha
os potes, os
frascos, muda-os de
lugar. Examina e
prova os
medicamentos,
pesa-os, mói as
drogas com ruído,
serve as pessoas que
lhe apresentam
receitas, recebe
dinheiro e o coloca
na gaveta. Ninguém
ousa, entretanto,
dirigir-lhe a
palavra. Tendo, sem
dúvida,
ressentimentos
contra o patrão, que
estava, então,
seriamente enfermo,
faz-lhe toda a sorte
de pirraças. Um dia,
apanha uma capa, na
farmácia, abre a
porta e sai.
Atravessa as ruas
sem olhar para
ninguém, entra em
casa de muitas
pessoas de suas
relações,
contempla-as um
instante, sem
proferir palavra, e
retira-se.
Encontrando no
cemitério uma
criada, diz-lhe:
Vai à casa do teu
patrão e cava no
quarto térreo; aí
encontrarás um
tesouro inestimável.
A pobre rapariga,
espantada, perdeu os
sentidos e caiu. Ele
se abaixa e a
apanha, mas lhe
deixa um sinal, por
muito tempo visível.
Voltando à casa e
apesar de muito
assustada, ela conta
o que lhe sucedeu.
Cava-se no lugar
designado e
descobre-se, num
velho pote, uma bela
hematita. Sabe-se
que os alquimistas
atribuem a essa
pedra propriedades
ocultas.
610. Tendo o ruído
desses prodígios
chegado aos ouvidos
da princesa
Elisabeth Charlotte,
ordenou ela que se
exumasse o corpo de
Monig. Pensavam
tratar-se de um
vampiro, mas só
encontraram um
cadáver em
putrefação bem
adiantada.
Aconselharam, então,
ao boticário que se
desfizesse de todos
os objetos que
pertenceram a Monig.
O espectro não mais
apareceu a partir
desse momento.
611. Aqui, o estado
de que falamos é bem
caracterizado. A
alma do aprendiz
volta e se entrega
às ocupações
habituais; é o que
acontece muitas
vezes; mas a
raridade dessas
aparições se
explica, porque nem
sempre se apresentam
as condições
necessárias à
materialização do
perispírito. Veremos
daqui a pouco quais
são estas condições.
612. Tomemos a
Dassier outro caso
em que a
individualidade
póstuma é também
muito acentuada. O
autor deve a
narrativa à
gentileza do Sr.
Augé, antigo
preceptor em
Sentenac, Ariège,
paróquia do padre
Peytou:
“Sentenac-de-Sérou,
8 de maio de 1879.
Senhor:
Pediste para contar,
a fim de serem
discutidos
cientificamente, os
fatos sobre as
almas, geralmente
admitidos pelas
pessoas mais
conceituadas de
Sentenac, e que
estejam cercados de
tudo que os possa
tornar
incontestáveis. Vou
citar tais como se
produziram e os
referem testemunhas
dignas de fé.
Primeiro
– Quando, há cerca
de 45 anos, morreu o
cura de Sentenac,
Peytou, ouvia-se,
todas as noites, a
partir do anoitecer,
alguém mover as
cadeiras nos
aposentos do
presbitério,
passear, abrir e
fechar uma caixa de
rapé, e produzir-se
o ruído de quem toma
uma pitada. O fato,
que se reproduziu
por muito tempo,
foi, como acontece
sempre, logo
admitido pelos mais
simples e mais
medrosos. Os que
queriam parecer o
que me permitireis
chamar os Espíritos
fortes da comuna,
não lhe quiseram dar
nenhuma fé.
Contentavam-se em
rir dos que pareciam
ou, melhor dizendo,
estavam persuadidos
de que o Sr. Peytou,
o cura morto,
aparecia.
Antonio Eycheinne,
falecido há 5 anos,
e Batista Galy, que
ainda vive, os dois
únicos indivíduos um
tanto instruídos do
lugar e, portanto,
os mais incrédulos,
quiseram
certificar-se por si
mesmos se todos os
ruídos noturnos que
– dizia-se –
ouviam-se no
presbitério, tinham
algum fundamento ou
se eram somente o
efeito de
imaginações fracas,
que muito facilmente
se assustam. Uma
noite, armados com
um fuzil e um
machado, resolveram
ficar na casa
presbiterial,
decididos, se
ouvissem alguma
coisa, a saber se
eram vivos ou mortos
os que faziam o
ruído.
Instalaram-se na
cozinha, perto de um
bom lume, e
começaram a
conversar sobre a
simplicidade dos
habitantes,
declarando que não
ouviam nada, e
poderiam
perfeitamente
repousar no colchão
de palha, que
tiveram o cuidado de
levar. Foi quando,
no quarto, em cima,
perceberam um ruído,
depois cadeiras que
se moviam e alguém
que caminhava,
depois descia as
escadas, e
dirigia-se para a
cozinha. Eles se
levantaram.
Eycheinne vai até à
porta, com o machado
na mão, pronto a
ferir quem ousasse
entrar, enquanto
Galy prepara a
espingarda.
Aquele que parecia
caminhar, chegado em
frente à porta da
cozinha, toma uma
pitada, isto é, os
nossos homens
ouviram o ruído que
se faz ao tomar uma
pitada, e, em lugar
de abrir a porta da
cozinha, o fantasma
foi para o salão,
onde parecia
passear.
Eycheinne e Galy,
sempre armados, saem
da cozinha, passam
para o salão e não
veem absolutamente
nada. Sobem aos
quartos, percorrem a
casa toda,
perscrutam todos os
cantos e acham tudo
em seus lugares.
Eycheinne, que era o
mais incrédulo,
disse, então, ao
companheiro:
– Amigo, não são os
vivos que fazem o
barulho, são
realmente os mortos;
é o cura Peytou; o
que ouvimos foi seu
andar e sua maneira
de tomar pitadas.
Podemos dormir
tranquilos.
Segundo
– Maria Calvet,
criada de Ferré,
sucessor de Peytou,
mulher tão corajosa
quanto existir
pudesse, que não se
deixava impressionar
por coisa alguma e
em nada que se lhe
contasse acreditava,
que sem temor teria
dormido numa igreja,
como se diz
vulgarmente de uma
mulher que não tem
medo; esta criada,
digo, limpava certa
tarde, ao cair da
noite, no corredor
do celeiro, os
utensílios da
cozinha. Ferré, seu
patrão, que tinha
ido visitar o cura
Desplas, seu
vizinho, não devia
voltar naquele
momento. Enquanto
Calvet limpava os
utensílios, um padre
passou diante dela,
sem lhe dirigir a
palavra.
– Ó! o senhor não me
faz medo senhor Cura
– disse ela –, eu
não sou tão tola
para acreditar que o
Senhor Peytou possa
voltar.
Vendo que o padre, a
quem tomava pelo
patrão, havia
passado sem lhe
dizer nada, Maria
Calvet levanta a
cabeça, vira-se e
não vê ninguém.
Começou, então, a
assustar-se, desceu
rapidamente a
procurar os
vizinhos, para
dizer-lhes o que lhe
sucedera e pedir à
mulher de Galy que
viesse dormir com
ela.
Terceiro
– Ana Maurette,
esposa de Raymond
Ferraud, ainda viva,
dirigia-se ao morro,
ao amanhecer, para
buscar, com seu
burro, uma carga de
lenha. Passando
diante do jardim
presbiterial, vê um
padre, que passeava
na alameda, com um
breviário na mão.
Quando lhe ia dizer
‘Bom dia, senhor
padre, levantou-se
muito cedo’, o
padre voltou-se e
continuou a ler o
breviário.
Não o querendo
interromper, a
mulher retomou seu
caminho, sem que lhe
viesse à ideia
pensamento de almas.
Ao voltar do morro,
com o burro
carregado de lenha,
encontrou o cura de
Sentenac diante da
igreja.
– Levantou-se hoje
muito cedo, Sr. Cura
– disse ela – pensei
que ia fazer uma
viagem, pois, ao
passar, vi-o rezando
no jardim. – Não,
boa mulher –
respondeu o vigário
–, não há muito que
saí da cama, e acabo
de dizer missa.
– Então – replicou a
mulher, tomada de
medo – quem era esse
padre que lia o
breviário, ao
amanhecer, na aleia
do jardim, e
voltou-se no momento
em que eu lhe ia
dirigir a palavra?
Foi bom que eu
acreditasse que era
o senhor. Teria
morrido de medo se
pudesse pensar que
era o cura, que já
não existe. Meu
Deus! Eu não teria
mais coragem pata
voltar de manhã.
Eis aí, senhor, três
fatos, que não são o
produto de uma
imaginação fraca e
assustada, e duvido
que a Ciência possa
explicá-los. Serão
os mortos? Não o
afirmarei, mas há aí
alguma coisa que não
é natural.
Seu, muito dedicado.
J. AUGÉ.”
613. Todas as
circunstâncias desta
narrativa mostram a
personalidade
póstuma do cura
Peytou, continuando
no outro mundo a
vida terrestre. Ele
anda de um lado para
outro no seu
apartamento,
passeia, lendo o
breviário; é, pois,
impossível negar a
persistência da
individualidade
nestas condições.(Continua no próximo
número.)