A. É certo dizer que
no Universo tudo é
movimento?
Sim. Tudo é movimento. Do átomo invisível ao corpo celeste perdido
no espaço, tudo é
submetido ao
movimento, tudo
gravita em uma
órbita imensa ou
infinitamente
pequena. Mantidas a
uma distância
definida, umas das
outras, em razão
mesma do movimento
que as anima, as
moléculas apresentam
relações constantes
que só perdem pela
aquisição ou
subtração de certa
quantidade de
movimento. Segundo a
rapidez das
vibrações dos átomos
as substâncias serão
em estado sólido,
líquido, gasoso ou
radiante.
(O Espiritismo
perante a Ciência,
Quarta Parte, Cap.
III – O perispírito
durante a
desencarnação – Sua
composição.)
B. Que importância
tem a vontade para
os Espíritos?
Segundo os ensinos espíritas, a vontade é uma força considerável,
por meio da qual os
Espíritos agem sobre
os fluidos. Eles
podem, por sua ação,
fazer todas as
manipulações
fluídicas que lhes
aprouver, mas para
materializar essas
criações fluídicas
eles têm necessidade
de um agente
essencial: o fluido
vital, e só o
encontram no
organismo humano.
(Obra citada, Quarta
Parte, Cap. III – O
perispírito durante
a desencarnação –
Sua composição.)
C. Podem os
Espíritos sentir
tudo o que os
encarnados sentem?
Sim. Podem sentir tudo o que percebemos: a luz, o som, os odores, e
estas sensações não
são menos reais, por
nada terem de
material; elas
possuem, mesmo, algo
de mais claro, mais
preciso e mais
sutil, porque chegam
à alma sem
intermediário e sem
passar, como entre
nós, pela série dos
sentidos, que as
esmaecem. A
faculdade de
perceber é inerente
ao Espírito; é um
atributo dos seres;
as sensações lhe
chegam de toda parte
e não de certas
partes determinadas.
(Obra citada, Quarta
Parte, Cap. III – O
perispírito durante
a desencarnação –
Sua composição.)
Texto para leitura
659. Isto posto, procuremos ver o que se passa numa materialização.
Todos os corpos são
compostos de partes
infinitamente
pequenas, chamadas
átomos. Estes átomos
que estruturam todos
os corpos não se
tocam; são colocados
uns ao lado dos
outros e agrupados
por uma força
chamada coesão;
todos os corpos da
natureza nos
aparecem, pois, como
coleções de átomos
ou de moléculas
reunidas
diversamente.
660. A matéria é
inerte, incapaz de
por si mesma entrar
em movimento; quando
se verifica um
deslocamento num
corpo, houve uma
força que o fez sair
do estado de
inércia. Pode-se
dizer, portanto, que
o movimento é a
expressão da força,
mas esta força pode
agir de diferentes
maneiras, quer
deslocando o corpo
no espaço, quer
determinando
mudanças em seu
estado molecular.
Por exemplo, se com
o dedo mantém-se uma
corda de violino
afastada da sua
posição de repouso,
as moléculas que
formam esta corda
tendem a retomar sua
primeira posição,
exercem uma pressão
sobre o dedo; há,
pois, trabalho
molecular interno;
se, ao contrário,
retira-se o dedo, a
corda põe-se em
movimento e o
trabalho molecular
que produzia a
pressão se converte
em movimentos de
transporte que se
executam de um lado
e de outro da
posição de repouso
da corda; o vaivém
se amortece
progressivamente
pela resistência do
ar e dos pontos
pelos quais as
cordas se prendem ao
violino.
661. Esta teoria estabelece, em princípio, que as qualidades dos
corpos são devidas
aos movimentos
particulares de que
são animados os
átomos ou as
moléculas de cada
substância. As
propriedades
químicas seriam
devidas a
agrupamentos
diferentes de
átomos; sem dúvida
não se pode supor
atualmente a que
espécie de
movimentos
constitutivos é
devida, por exemplo,
a diferença entre o
ouro e a prata, mas
a ideia de que é
nestes movimentos
que ela reside nem
por isso é hoje
menos universalmente
aceita.
662. Tudo é movimento. Do átomo invisível ao corpo celeste perdido
no espaço, tudo é
submetido ao
movimento, tudo
gravita em uma
órbita imensa ou
infinitamente
pequena. Mantidas a
uma distância
definida, umas das
outras, em razão
mesma do movimento
que as anima, as
moléculas apresentam
relações constantes
que só perdem pela
aquisição ou
subtração de certa
quantidade de
movimento. Segundo a
rapidez das
vibrações dos átomos
as substâncias serão
em estado sólido,
líquido, gasoso ou
radiante.
663. Para fazer um corpo passar por esses diferentes estados,
empregamos com maior
frequência o calor,
mas não sabemos se
outros agentes têm o
mesmo poder, isto é,
se podem fazer
passar as diferentes
substâncias pelos
estados sólido,
líquido e gasoso.
664. Os Espíritos nos ensinam que a vontade é uma força
considerável, por
meio da qual eles
agem sobre os
fluidos. Eles podem,
por sua ação, fazer
todas as
manipulações
fluídicas que lhes
aprouver, mas para
materializar essas
criações fluídicas
eles têm necessidade
de um agente
essencial: o fluido
vital. Só o
encontram, capaz de
preencher as
condições
necessárias para a
materialização, no
organismo humano,
donde a presença
indispensável de um
médium.
665. Conhecido isto, como conceber que um Espírito possa primeiro
mostrar-se e, em
seguida,
materializar-se?
Para que o Espírito
se mostre é preciso
que ele extraia o
fluido vital do
organismo do
encarnado. Por meio
desse agente, ele
produz em seu
envoltório uma
alteração molecular
que o torna opaco.
Encontra-se um
efeito análogo,
posto que inverso,
quando se estudam as
propriedades de
certas substâncias,
como o hidrofânio
(1), rocha silicosa opaca, que se torna transparente quando mergulhada
na água. Dá-se o
mesmo com uma folha
de papel untada dum
corpo gorduroso. A
opacidade é devida à
reflexão da luz
sobre as diferentes
parcelas do papel;
mas a interposição
de uma substância
que impeça a
reflexão permite à
luz atravessar o
corpo e, por
consequência,
produz-se a
transparência.
666. Efeito inverso se nota com os Espíritos. Aliás, basta examinar
a condensação de um
vapor num tubo, para
compreender-se como
pode o perispírito,
sob a influência da
vontade e do fluido
vital,
materializar-se.
667. O invólucro fluídico, que reproduz, geralmente, a aparência
física que o
Espírito tinha em
sua última
encarnação, possui
todos os órgãos do
homem, de sorte que,
diminuindo o
movimento molecular
radiante desse
invólucro, ele
aparece, a
princípio, sob um
aspecto vaporoso,
como no caso da
inspetora de Riga;
depois o fluido
vital do médium se
vai acumulando no
corpo fluídico, e
lhe comunica,
momentaneamente, uma
vida fictícia, que é
tanto mais intensa
quando maior
quantidade de fluido
despende o médium. É
esta a razão pela
qual os médiuns de
materialização ficam
mergulhados em
catalepsia.
668. Pôde-se observar, nos casos narrados de desdobramento, que não
parecia necessária a
presença de um
médium. É que o
próprio encarnado
fornecia o fluido
vital indispensável,
e seu duplo tinha
uma realidade mais
ou menos tangível,
conforme a sua
abundância de
fluidos.
669. Circunstância que parece estranha é a desaparição súbita do
Espírito
materializado.
Dir-se-ia que o
perispírito, que se
materializou
lentamente, deve
repassar por fases
inversas para voltar
ao estado fluídico.
Isto, porém, se
compreende,
sabendo-se que a
água, mesmo em
estado sólido, tem
certa tensão de
vapor. Não é raro
ver-se o gelo
desaparecer, sem ter
passado pela fusão;
ele passa
bruscamente ao
estado de vapor e,
neste caso, devemos
admitir, o que já
reconhecia o
naturalista Plínio,
que houve
vaporização
imediata. Esse
fenômeno foi
estudado por Gay
Lussac e Regnault,
que operaram até 52°
abaixo de zero.
Certos corpos
sólidos, como o iodo
e a cânfora, passam
também diretamente
ao estado gasoso. É
fácil compreender
que se produz algo
semelhante na
desaparição súbita
de um Espírito
materializado.
670. Para que nossa demonstração fosse completa, seria preciso que
se pudessem fazer
experiências que
estabelecessem a
subministração do
fluido vital ao
organismo do
Espírito. Nada ainda
foi tentado com esse
objetivo e é
difícil, em vista do
pouco tempo em que
esses fenômenos são
estudados
cientificamente,
determinando-lhes
todas as leis. Mas,
seja como for,
acreditamos que
nossa teoria pode
ser aceita para
explicar os fatos e
seremos muito
felizes se esses
dados puderem servir
ao esclarecimento
dessas questões,
ainda tão pouco
conhecidas.
671. Essa maneira de encarar o perispírito permitir-nos-á
compreender mais
facilmente o papel
que ele goza durante
a vida do Espírito.
Vamos resumir,
segundo Allan
Kardec, o que
sabemos sobre o
assunto.
672. Tomemos a alma ao sair deste mundo e vejamos o que se passa
depois dessa
transmigração.
Extinguindo-se as
forças vitais, o
Espírito se
desprende do corpo
no momento em que
cessa a vida
orgânica; a
separação, porém,
não é brusca e
instantânea. Começa,
algumas vezes, antes
da cessação da vida,
e não é sempre
completa no instante
da morte.
673. Há entre o Espírito e o corpo um laço semimaterial que
constitui um
primeiro invólucro;
ele não se rompe
subitamente e,
enquanto subsiste, o
Espírito fica num
estado de
perturbação, que
pode ser comparado
ao que sucede ao
despertar; muitas
vezes, mesmo, ele
duvida da morte;
sente que existe e
não compreende que
possa viver sem o
corpo, de que se vê
separado. Os laços
que o unem à matéria
o tornam, mesmo,
acessível a certas
sensações físicas;
dizia um deles que
sentia os vermes lhe
roerem o corpo.
674. O Espírito só se reconhece depois de completamente livre: até
aí ele não conhece
perfeitamente a sua
situação. A duração
desse estado de
perturbação é
variável; pode ser
de algumas horas ou
de muitos anos, mas
é raro que, ao fim
de alguns dias, ele
não se reconheça,
mais ou menos bem.
Falamos das almas
chegadas já a certo
grau de adiantamento
moral, porque, entre
os selvagens, a vida
espiritual não é
suficientemente
ativa para que eles
se identifiquem com
a nova situação.
Faz-se preciso que
esses Espíritos
reencarnem
rapidamente, a fim
de apressar o
momento em que,
gozando de seu
inteiro
livre-arbítrio,
tornar-se-ão os
únicos senhores de
seus destinos.
675. É solene o momento em que o Espírito vê cessar a sua
escravidão pela
ruptura do laço que
o retém ao corpo. À
entrada no mundo dos
Espíritos ele é
acolhido por amigos
que o recebem, como
de volta de penosa
viagem. Encontra os
mortos amados, cuja
perda lhe tinha sido
cruciante pesar, e
se a travessia foi
feliz, se o tempo de
exílio foi empregado
de forma proveitosa,
é por eles
felicitado pelo
combate
corajosamente
sustentado. Aos pais
juntam-se os amigos
que ele conheceu
outrora. Começa,
então,
verdadeiramente,
para ele uma nova
existência.
676. O invólucro fluídico do Espírito constitui uma espécie de
corpo de forma
definida, limitada e
análoga à nossa. Na
Terra, a visão, a
audição, o tato
dependem de
instrumentos cuja
grosseria não nos
permite sentir as
vibrações, em número
infinito, que se
estendem além dos
limites de nossas
fracas percepções;
mas essas vibrações
existem e, para o
ser que as pode
captar e lhes
compreender a
linguagem, devem
elas ter uma voz
mais penetrante que
o majestoso murmúrio
do oceano e as
queixas misteriosas
do vento através das
florestas.
677. O Espírito sente tudo o que percebemos: a luz, o som, os
odores, e estas
sensações não são
menos reais, por
nada terem de
material; elas
possuem, mesmo, algo
de mais claro, mais
preciso e mais
sutil, porque chegam
à alma sem
intermediário e sem
passar, como entre
nós, pela série dos
sentidos, que as
esmaecem.
678. A faculdade de
perceber é inerente
ao Espírito; é um
atributo dos seres;
as sensações lhe
chegam de toda parte
e não de certas
partes determinadas.
Um deles dizia,
falando da vista: “é
uma faculdade do
Espírito e não do
corpo; vedes pelos
olhos, mas não é o
corpo que vê, é o
Espírito”.
679. Pela conformação de nossos órgãos, temos necessidade de certos
veículos para nossas
sensações; é assim
que nos é preciso a
luz para refletir os
objetos, o ar para
nos transmitir os
sons. Mas esses
veículos se tornam
inúteis, desde que
não possuímos os
intermediários que
os exigiam. O
Espírito vê, pois,
sem o socorro da
luz, ouve sem
necessidade das
vibrações do ar. Não
há, por isso,
escuridão para eles.
Temos, assim, a
chave das notáveis
propriedades dos
sonâmbulos lúcidos,
que veem e ouvem
muito além do
alcance dos sentidos
materiais. É que a
alma, desprendida,
goza de parte das
prerrogativas que
possui em estado de
desencarnação.
680. Como as sensações perpétuas e indefinidas, por mais agradáveis
que sejam, tornam-se
fatigantes, tem o
Espírito a faculdade
de suspendê-las. Ele
pode, pois, à
vontade, deixar de
ver, ouvir, sentir,
ou só sentir, ouvir
e ver o que quer.
Essa faculdade está
em razão da
superioridade do
ser, porque há
coisas que os
Espíritos inferiores
não podem evitar, o
que lhes torna a
situação penosa.
681. Essa inaptidão para compreender o que lhes está acima do
entendimento, unida
à jactância,
companheira
ordinária da
ignorância, é a
causa das teorias
absurdas que
apresentam certos
Espíritos, e que a
nós próprios
induziriam em erro
se aceitássemos sem
controle e sem
assegurarmos, pelos
meios fornecidos
pela experiência e
pelo hábito de
conversar com eles,
o grau de confiança
que merecem.
682. Há sensações que têm origem no próprio estado de nossos
órgãos; ora, as
necessidades
inerentes ao nosso
corpo não podem
existir desde que
esteja destruído o
nosso invólucro
carnal. O Espírito
não experimenta,
pois, nem a fadiga,
nem a necessidade de
repouso, nem a da
nutrição, porque não
há nenhum dispêndio
a reparar; as
enfermidades não o
afligem. Se, algumas
vezes, os médiuns
veem Espíritos
corcundas ou coxos,
é porque eles tomam
essa forma para se
fazerem melhor
reconhecidos pelas
pessoas com quem se
relacionam na Terra.
683. As necessidades do corpo acarretam deveres sociais que não têm
razão de ser para os
Espíritos; assim, as
preocupações dos
negócios, as mil
inquietações a que
nos expõe a
necessidade de
ganhar a vida, a
procura das quimeras
que nos lisonjeiam a
vaidade, os
tormentos que
criamos por
superfluidades, não
mais existem para
eles. Sorriem de
pena, vendo o
trabalho a que nos
entregamos, para
adquirir riquezas
vãs ou ridículas
frioleiras.
684. É preciso, porém, certo grau de elevação para contemplar as
coisas dessa altura.
Os Espíritos
vulgares
interessam-se,
principalmente, em
nossas lutas
materiais e nelas
tomam parte, como
podem, e incitam-nos
para o bem ou para o
mal, conforme sua
natureza boa ou
perversa.
685. Os Espíritos inferiores sofrem, mas as angústias não deixam de
ser menos dolorosas,
por nada terem de
físicas. Eles têm
todas as paixões,
todos os desejos que
os atenazavam em
vida, e é seu
castigo o não poder
satisfazê-los. É
para eles uma
verdadeira tortura,
que acreditam
perpétua, porque a
própria
inferioridade não
lhes permite ver-lhe
o termo, o que é
ainda um castigo.
686. A palavra
articulada é também
uma necessidade da
nossa organização;
os Espíritos não
precisam de sons que
lhes vão ferir os
ouvidos;
compreendem-se pela
transmissão do
pensamento, como
acontece, aqui, nos
compreendermos pelo
olhar. Os Espíritos
podem, entretanto,
produzir certos
ruídos; sabemos que
eles são capazes de
agir sobre a
matéria, e esta nos
transmite o som; é
assim que eles fazem
ouvir pancadas ou
gritos e, às vezes,
cantos no vazio do
espaço.
687. Enquanto arrastamos penosamente nosso corpo material, na
Terra, rastejando
presos ao solo, os
Espíritos,
vaporosos, etéreos,
transportam-se sem
fadiga de um lugar a
outro, transpõem
incomensuráveis
espaços, com a
rapidez do
pensamento, e
penetram em toda
parte, sem encontrar
obstáculos.(Continua no próximo
número.)
(1) Variedade de opala semitranslúcida que se torna
translúcida ou
transparente quando
imersa na água.