CLÁUDIO BUENO DA SILVA
klardec@yahoo.com.br
Osasco, SP
(Brasil)
O repórter e o
médico
O repórter
pergunta ao
médico nutrólogo:
– “Como deve ser
preparado um bom
churrasco,
preservando as
qualidades
nutricionais e
organolépticas?”.
O médico
responde: –
“Autoridades em
nutrição do
mundo todo
recomendam a
ingestão
moderada de
produtos de
origem animal,
carne, leite,
ovos. Deve-se
remover a
gordura visível
do produto
animal. Deve-se
evitar a queima
excessiva da
carne, isto é,
ela não deve ser
muito queimada.
Isto porque
quando a carne
fica
‘estorricada’
formam-se
substâncias
cancerígenas”.
O repórter
faz nova
pergunta: – “O
que há de mito e
de verdade com
relação ao
consumo de carne
bovina? Carne
aumenta o mau
colesterol?”. O
médico
explicita: – “O
excesso de
proteína e de
gordura animal
contribui para o
aumento dos
níveis de
colesterol. Isto
é válido para
todo produto
animal”.
O
entrevistador
se mostra
objetivo: –
“Carne causa
câncer no
estômago?”. O
nutrólogo
não recua ante o
dever de
informar, diz: –
“Há uma
recomendação
para que se
modere a
ingestão de
produtos
animais, como se
disse acima. Há
dados indicando
que o excesso de
produto animal
pode promover a
produção de
amônia e
nitrosaminas
(substâncias
cancerígenas)
pela microbiota
intestinal”.
Pois bem:
o repórter
estava fazendo
matéria para a
Revista dos
Criadores de
Zebu, da
Associação
Brasileira dos
Criadores de
Zebu. Deveria
ter sido uma
entrevista bem
tendenciosa,
onde toda a
brasa fosse
puxada para a
sardinha, digo
carninha, da
Associação. Mas
não foi o que
aconteceu. O
médico nutrólogo
que concedeu a
entrevista é o
Dr. Ênio
Cardillo Vieira,
da Academia
Mineira de
Medicina, PhD em
Bioquímica,
professor
emérito e
titular de
Química
Fisiológica da
Universidade
Federal de Minas
Gerais (UFMG).
Antes de o bife
virar bife
Vamos ler um
interessante
depoimento,
também voltado
para a questão
do consumo de
carne:
“Fisiologicamente,
conhecemos o que
é termos um
pedaço de carne
no estômago para
digerir:
o processo é
lento, nos
sentimos lerdos,
o intestino se
torna
preguiçoso.
Acredito muito
na energia dos
alimentos e a
influência que
podemos sofrer
com ela. Antes
do bife
virar bife,
infelizmente
temos um
processo muito
cruel, doloroso,
triste. Os
animais, já no
pasto, têm uma
vida difícil.
Não é um
tratamento
suave. Ao serem
transportados,
em caminhões,
sofrem (tomam
choque para não
se sentarem,
pois a carne
pode escurecer);
antes de serem
mortos, ainda na
fila, percebem o
que ‘está se
passando’! No
momento de serem
abatidos,
escorrem
lágrimas e de
longe se escutam
os mugidos...
Nessa hora o
animal libera
hormônios de dor
e medo. E isso
vai para o
prato”.
O realista
depoimento, que
lembra bastante
o que escreveu
André Luiz sobre
o assunto, pelo
Chico Xavier, é
de Caroline
Bergerot,
escritora,
nutricionista,
especializada em
Nutrição
Clínica.
Demonstrando
moderação e bom
senso, ela
conclui: “...
cada um de nós
faz suas
escolhas, segue
seus processos.
Evidentemente
não critico a
opção de
ninguém, pois
cada um de nós
tem necessidades
e condutas de
pensamento
pessoais, mas é
importante
termos
consciência do
que estamos
ingerindo e dos
benefícios ou
malefícios que
determinados
alimentos podem
nos trazer”.
O pensamento
espírita não é
diferente.
Escala das
prioridades
Muitas pessoas
não se dispõem a
assumir o
sacrifício das
mudanças, ainda
mais quando se
trata de mexer
com hábitos
arraigados. No
caso da ingestão
de carne, alegam
que há outras
prioridades em
que pensar. É
certo, mas,
dependendo do
ângulo que se
observe, a
questão pode ser
refletida com
muito proveito e
estimular uma
modificação em
nossa vida.
O que se sabe,
com certeza, é
que todo exagero
traz
consequências.
Há muita coisa
envolvida nesse
hábito humano
que só agora,
com as graves
polêmicas
ambientais, as
pandemias
globais
periódicas, e,
por outro lado,
o avanço das
pesquisas na
área da
alimentação,
está sendo
discutido de
forma
transparente por
médicos,
pesquisadores e
ambientalistas
sérios,
compromissados
com a melhora
das condições
gerais da saúde
e com o
desenvolvimento
dos níveis de
conduta humana
minimamente
aceitáveis para
o equilíbrio da
vida planetária.
Escolha segundo
a consciência
É grande o
número de
filósofos,
pensadores,
escritores,
cientistas,
médicos,
artistas,
santos, em todos
os tempos e
lugares, que se
preocuparam com
a questão dos
animais e da
carne como
alimento humano.
Fosse um
problema
irrelevante, e
não teriam
deixado tantas
reflexões e
depoimentos.
Todos eles se
sentiram
motivados, em
algum momento de
suas vidas, a
pensar no
assunto e tomar
atitude coerente
com suas
reflexões.
A filosofia
espírita, nesse
como em todo
assunto, nada
proíbe, por
entender que o
indivíduo é
livre para
escolher segundo
sua consciência.
O Espírito
Lamennais,
filósofo e
escritor
político francês
(1782-1854),
assinou um texto
sobre a
alimentação do
homem, incluído
por Allan Kardec
na Revista
Espírita de
1863, onde
adverte que o
corpo deve ser
nutrido com a
matéria, “mas a
natureza da
matéria influi
sobre a
espessura do
corpo e, em
consequência,
sobre as
manifestações do
Espírito”.
Admite que “o
esquecimento da
carne leva mais
facilmente à
meditação e à
prece”, mas que
“pode-se ser bom
cristão e bom
Espírita e comer
a seu gosto,
desde que seja
razoável”.
A matéria é
ainda
controvertida,
como tantos
outros temas.
Mas o tempo e o
progresso do
pensamento irão
solucionando as
questões. Por
ora, não custa
nada pensarmos
no assunto.