Carta de pai
(J. R.)
Meu filho.
Compreendemos,
sim.
Atiramos-te cedo
à luta sem
considerar-te a
mentalidade em
reformulação.
Quantas vezes
tua mãe e eu te
entregamos a
mãos mercenárias
e quase sempre
irresponsáveis,
quando
despontavas do
berço, à vista
dos imperativos
de
relacionamento
social!
Noutras
ocasiões, assim
procedíamos de
modo a
desfrutarmos
sozinhos as
horas feriadas
que nos
surgissem, a
título de
refazimento ou
distração. E, em
regressando a
casa, nunca te
perguntamos pelo
que viste ou
ouviste, a fim
de
estabelecermos
contigo um
diálogo adequado
para que se te
pacificasse o
espírito
inquieto à
frente da vida.
Enviamos-te à
escola, no
entanto, para
falar a verdade,
não
expressávamos
interesse
permanente por
teu currículo de
lições. E quando
nos apresentavas
certos assuntos
colhidos
involuntariamente
à margem do
ensino,
frequentemente
dávamos de
ombros,
julgando-te a
conversação
demasiado
infantil,
afastando-nos
sob pretexto de
serviço urgente.
Largamos-te às
impressões
alheias, nem
sempre as mais
construtivas, de
maneira a nos
encasularmos no
ócio doméstico.
Quiseste
associar-nos às
tuas companhias
e leituras,
caminhadas e
afetos, mas, via
de regra,
recusamos-te o
convite, com a
desculpa de
fazer dinheiro
ou mobilizar
providências
para
sustentar-te,
qual se fosses
um peso em nossa
economia ao
invés de
abençoada luz do
nosso amor.
Distanciamo-nos
de ti e
deixamos-te a
sós,
impensadamente é
verdade.
Achávamo-nos
como que
anestesiados
pela obsessão de
ganho para
excessivo
reconforto,
incapazes de
oferecer-te
cobertura nos
domínios do
coração. A
morte,
entretanto
apareceu quando
nem havíamos
começado a
pensar
convenientemente
na vida, a
transferir-nos
de plano, e hoje
vemos-te em
perigo,
espiritualmente
desprotegido,
cansado,
desiludido,
enredado em
desequilíbrio e
doença.
Somente agora
reconhecemos o
quanto te
amamos,
unicamente agora
notamos que não
teremos futuro
sem ti.
E
porque nada
conseguimos
realizar de bom
sem amor, ante a
necessidade de
nossa
reintegração nos
interesses e
aspirações uns
dos outros,
abeiramo-nos com
humildade do
caminho em que
segues hoje, tão
longe de nós,
para dizer-te
simplesmente:
–
Considera o
nosso engano e
perdoa-nos, meu
filho!…
Do cap. 12 do
livro
Astronautas do
Além, obra
de Francisco
Cândido Xavier,
J. Herculano
Pires e
Espíritos
diversos.