LEONARDO
MACHADO
leomachadot@gmail.com
Recife,
PE
(Brasil)
Impermanência
Cântico
VI
Tu tens
um medo:
Acabar.
Não vês
que
acabas
todo o
dia.
Que
morres
no amor.
Na
tristeza.
Na
dúvida.
No
desejo.
Que te
renovas
todo o
dia.
No amor.
Na
tristeza.
Na
dúvida.
No
desejo.
Que és
sempre
outro.
Que és
sempre o
mesmo.
Que
morrerás
por
idades
imensas.
Até não
teres
medo de
morrer.
E então
serás
eterno.
Cecília
Meireles
(1901-1964)
A
poetisa
nos
remete à
transitoriedade
à
qual a
vida se
submete.
Aqui, a
morte
chega
para um
parente;
ali, o
adeus da
despedida
de um
ente que
se muda
de país;
alhures,
a perda
de uma
posição
levando
a uma
nova
rotina;
além, os
dias que
se
passam
trazendo
novas
incumbências;
acolá,
uma
etapa
estudantil
que se
conclui
abrindo
novas
portas e
novos
desafios...
Em tudo,
assim, a
mudança
faz um
convite
e a
música
do
existir
tende a
modificar
o seu
compasso.
A isto o
Budismo
dá o
nome de
impermanência.
Esta
ideia
explica
que tudo
aquilo
que se
conhece,
tanto no
mundo
interno,
quanto
no
externo,
encontra-se
em
constante
estado
de
mudança.
Antes,
por
exemplo,
a
matéria
era
vista
como
algo
estático
e
imutável.
Com o
avançar
da
ciência,
porém,
postulou-se
que ela
tem uma
natureza
muito
complexa,
e, além
de ser
energia
condensada,
é
constituída
por
diminutas
partículas
que se
movimentam
continuadamente,
além de
estas
terem,
particularmente,
uma
realidade
relativa.
De igual
modo, o
próprio
ato de
viver
implica
uma
modificação
incessante
no modo
de
pensar,
de ver o
mundo e
de
sentir
as
coisas.
Desta
maneira,
vive-se
em um
incessante
vir-a-ser.
O
Espiritismo,
por sua
vez, dá
grande
ênfase
neste
ponto.
Fala,
assim,
dentre
outras
coisas,
da
evolução
pela
qual
passam
os seres
e os
planetas;
bem
como, da
imprescindível
renovação
interior
das
criaturas
no
processo
de
crescimento
espiritual.
Igualmente,
observa-se
nas
palavras
de Jesus
um toque
de
transição.
O sermão
do
monte,
por
exemplo,
remetendo
às
bem-aventuranças
do hoje,
faz
vislumbrar
a
mudança
e a
sublimação
do
amanhã.
Por
isto,
ele
dissera:
“Não
acumuleis
para vós
outros
tesouros
sobre a
terra,
onde a
traça e
a
ferrugem
corroem
e onde
ladrões
escavam
e
roubam”.
É
importante,
pois,
acostumar-se
com esta
noção de
transitoriedade,
procurando
eleger
valores
mais
perenes
que
possibilitem
maior
cota de
tranquilidade
diante
das
mudanças
da
vida.