ALOÍSIO SILVA
aloisioprofessor@gmail.com
Guarapari, ES
(Brasil)
O amor incondicional
Cerca de dez por
cento da humanidade
é composta por
homossexuais. Isto
quer dizer que em um
grupo de dez
pessoas, pelo menos
uma é homossexual.
Isso é perceptível
nos mais diversos
ambientes:
escolares,
profissionais e
também em todos os
segmentos da
sociedade e em todas
as culturas, embora
entendendo que, por
motivos diferentes,
ainda se insiste em
discriminar pessoas
que têm padrão de
comportamento
diverso da maioria,
seja por questão
religiosa, familiar
ou outra situação
qualquer.
A homossexualidade
não deveria
constituir problema,
assim como não se
constitui para a
heterossexualidade.
O que é
verdadeiramente
problema é o
desconhecimento que
temos a respeito do
assunto, o que, por
vezes, somos levados
a desenvolver e
fortalecer
preconceitos que
ferem a dignidade do
nosso semelhante.
A questão começa
quando alguns
entendem que a
atração por pessoas
do mesmo sexo é
antinatural e o
problema toma outro
vulto quando
imaginamos que só
acontece com a
família do vizinho,
do colega de
trabalho etc. É
muito importante que
nos preparemos para
esta situação,
porque nossos
filhos, netos,
sobrinhos, amigos,
caso entrem num
conflito de
identidade como
esse, procurarão as
pessoas em quem mais
confiam para
confidenciar seus
conflitos, entre
eles, os de ordem
sexual, em vez de
buscar o diálogo com
a própria família.
Mas como
confidenciar alguma
coisa tão íntima num
ambiente que
demonstra
preconceito o tempo
todo?
Uma amiga certa
feita me
confidenciou:
“fiquei apavorada
quando meu filho
disse que só sentia
atração por homens.
Meu marido quis
expulsar o próprio
filho de casa, mas
não permiti. Parei
de falar com meu
filho durante quinze
dias, porém, nesse
período, eu vivia
chorando pelos
cantos da minha
casa. Tenho o hábito
de mexer nas
mochilas dos meus
filhos para
investigar se não
estão usando drogas,
se há alguma coisa
diferente, até que,
numa manhã, quando
meu filho saiu para
a faculdade, fui
arrumar o seu quarto
e resolvi investigar
a mochila dele.
Imagine a minha
surpresa ao
encontrar um bilhete
endereçado a mim e
ao pai, pedindo-nos
perdão e se
despedindo. Meu
coração ficou
apertado, não sabia
se ele havia ido
embora ou se iria
cometer suicídio,
mas ambas as opções
me deixaram
apavorada. Como
conversar com ele
sobre a
homossexualidade, eu
que tenho três
filhas, sendo ele
meu único filho? Eu
não aceitava a
condição de ter um
filho gay. No
entanto, diante da
possibilidade de
perdê-lo, tive de
repensar as minhas
atitudes e (pré)conceitos.
Então optei por
apoiá-lo e
orientá-lo na
sexualidade,
dizendo-lhe que o
importante era viver
com dignidade e
honradez; que não
fosse promíscuo,
pois isso lhe traria
consequências
terríveis, como
doenças sexualmente
transmissíveis, AIDS
etc.; que fosse
discreto, como
qualquer pessoa deve
ser em seus
relacionamentos
íntimos, a fim de
não “afrontar” os
outros, para não ser
motivo de deboche
coletivo; que fosse
fiel a si mesmo e ao
companheiro que
escolhesse para
compartilhar a vida;
que se lembrasse da
incondicionalidade
do meu amor por
ele”.
Continuei ouvindo a
minha amiga que
finalizou a sua
fala, dizendo-me que
o filho hoje está
com vinte e oito
anos, tem namorado,
trabalha como
gerente de uma
empresa
multinacional, onde
é respeitado pela
competência e ética.
Também é coordenador
de evangelização de
jovens numa
instituição Espírita
que frequenta, onde
é admirado e
respeitado tanto
pelos jovens
evangelizandos, como
pelos pais destes.
Muito sábia a
atitude da minha
amiga ao acolher o
filho da forma como
o fez. Ninguém
escolhe a orientação
sexual que terá,
assim como ser alto,
baixo, negro,
branco, limitado
intelectualmente
etc. Simplesmente é
o que se é por
motivos mais
profundos do que
podemos discutir
neste pequeno
espaço.
Vamos entender esta
questão estudando O
Livro dos Espíritos,
questão número
200. A pergunta de
Allan Kardec: Têm
sexo os Espíritos?
Resposta dos
Espíritos
superiores: --
Não como o
entendeis, porque os
sexos dependem da
constituição
orgânica. Há entre
eles amor e
simpatia, mas
baseados na
afinidade de
sentimentos.
Continua o
codificador na
questão 201: O
Espírito que animou
o corpo de um homem
pode animar o de uma
mulher, numa nova
existência, e
vice-versa? A
resposta dos
Espíritos é de forma
direta, não deixando
meios-termos: --
Sim, pois são os
mesmos Espíritos que
animam os homens e
as mulheres.
Fechando a questão,
Kardec pergunta na
questão
202: Quando somos
Espíritos,
preferimos encarnar
num corpo de homem
ou de mulher? Os
Espíritos
superiores, então,
lhe respondem: --
Isso pouco importa
ao Espírito; depende
das provas que ele
tiver de sofrer.
Imagine um Espírito
que reencarnou
dezenas, centenas de
vezes em um corpo e
em função das novas
provas tenha que
reencarnar em um
corpo organicamente
diferente daquele a
que está acostumado?
Daí advirá a
homossexualidade, ou
seja, um processo
natural na evolução
do espírito humano.
Veja a observação de
Allan Kardec:
Os Espíritos
encarnam-se homens
ou mulheres, porque
não têm sexo. Como
devem progredir em
tudo, cada sexo,
como cada posição
social, oferece-lhes
provas e deveres
especiais e novas
ocasiões de adquirir
experiências. Aquele
que fosse sempre
homem só saberia o
que sabem os homens.
(O LIVRO DOS
ESPÍRITOS - LIVRO 2,
CAP. 4 - SEXO NOS
ESPÍRITOS.)
Jesus Cristo, para
não servir de base
dos preconceitos nem
de bandeira para
lutas, não foi nem
heterossexual nem
homossexual, foi
casto, demonstrando
ser feminino quando
acolheu a mulher
adúltera, e
masculino quando
expulsou os
vendilhões do
templo. É necessário
que estejamos
abertos para
refletir e aceitar o
outro com suas
circunstâncias,
porque é nisso que
reside o Amor
Incondicional. “Meus
discípulos serão
reconhecidos por
muito se amarem”,
disse Jesus. Esse é
o sentimento que nos
ensina o respeito
por todas as
criaturas e nos
deixa preparados
para viver com
maturidade,
equilíbrio e
harmonia. Uma música
linda de Oswaldo
Montenegro diz
assim: “quando a
gente ama,
simplesmente
ama...”. Isto é amor
incondicional.